Acordei dias destes lembrando dele. Eu
o conheci há mais de 35 anos. Mais velho que eu uns 25 ou trinta anos, era
membro de uma igreja da mesma denominação que eu. Ele era de estatura baixa, do
tipo de pessoa que nasceu ligado em 220. Falante, com alto grau de extroversão,
trabalhava em uma grande empresa “fazendo os serviços de rua”, que era como ele
definia seu trabalho. Eu era pastor na cidade e o encontrava ao com
regularidade na agência do Banco do Brasil. A cada encontro ele vinha me
perguntar algo e afirmava: “é o fim-do-mundo, pastor”.
Esta sua obsessão pelos temas
apocalípticos rendeu-lhe a alcunha de “Joãozinho fim-do-mundo” e como tal era
conhecido na cidade. Eu nunca soube de onde surgiu esta sua obsessão/compulsão.
O certo é que o tema o fascinava. Tinha um conhecimento superficial do
Apocalipse, tratava-o e interpretava-o ao sabor dos fatos e cada novo evento de
alguma relevância, tanto no cenário nacional como internacional, ele via como
“sinal do fim dos tempos”.
Lembro-me da primeira vez.
A eleição presidencial dos Estados
Unidos de 1980 disputada entre o presidente democrata em
exercício, Jimmy Carter, e seu adversário republicano, Ronald Reagan, com
a crise dos reféns no Irã de pano de fundo. Para ele era sinal dos tempos
que um “evangélico” (Jimmy Carter) tivesse perdido por causa do fiasco no
resgate dos reféns que estavam em um país islâmico.
Relembrando-me dele e suas questões
apocalíticas, imaginei que hoje ele viria com a afirmação: “é o fim-do-mundo,
pastor. O que está acontecendo no Brasil é o fim-do-mundo. Neste apocalipse que
estamos vivendo, quem seriam as duas testemunhas apocalíticas? E os cavaleiros?
O que seriam as trombetas?”
Como era de seu estilo, as perguntas
eram retóricas. Vinham acompanhadas das respostas que, na sua livre
interpretação, se permitia fazer. Acho que diria que as duas testemunhas são o
juiz Moro e o procurador Janot, ou o Teori, que as trombetas que anunciam
desgraças são dos delatores premiados, que os líderes do Senado e Câmara são os
cavaleiros do Apocalipse, todos trazendo desgraças ao país. Talvez se atrevesse
a, considerando certas menções a dias de penúria, fixar a data para a queda
definitiva da Dilma. Fiquei pensando em quem ele colocaria como Anti-Cristo e
achei que ele tascaria o título ao Cunha. A Besta, com seu temível 666, poderia
ir para o Temer, o Lula ou o Renan. Também poderiam ser contemplados com o
título o Léo Pinheiro ou o Marcelo Odebrecht. Com certeza diria, por causa da
sua visão pré-milenista pré tribulacionista, com toda a ênfase que pudesse:
“estamos na grande tribulação, pastor”.
Na manhã desta terça fiquei a pensar
como ele harmonizaria suas livre interpretações com a nomeação da ex-deputada
Fátima Pelaes para a Secretaria da Mulheres, no que pese ter contra si graves
denúncias de desvio de verba; das citações escabrosas quanto ao ex e atual
ministro do Turismo, o Henrique Eduardo Alves e, principalmente, com a notícia
de que o Janot pediu a prisão do Jucá, do Renan e a prisão domiciliar do
Sarney. Talvez ele visse o princípio do fim.
De uma coisa tenho que concordar com o
bordão do Joãozinho Fim-do-Mundo: é o fim-do-mundo! Não na sua literalidade,
mas na interpretação alegórica de ser algo que nunca se pensou que a coisa
pudesse chegar a tal nível de descalabro.
É o fim-do-mundo!
Marcos Inhauser