Os Reformadores tiveram a
visão direcionada ao passado. Estavam interessados em descobrir no Novo
Testamento as origens do cristianismo, influenciados pelo Humanismo Renascentista
que acreditava que a verdade estava nas origens.
Como resultado, os
reformadores estavam interessados no estudo do grego e do hebraico, deixando
de lado o latim que era a língua oficial da Igreja Católica.
Ao procurar as línguas
originais para a verdade do Novo Testamento, eles deixaram de lado a tradução
oficial e normativa da Vulgata, tradução feita pelo monge Jerônimo, e que foi
criticado por muitos por não ser fiel aos originais.
Este retorno ao passado
implicou um grande risco para a Igreja Católica, porque o cristianismo, nas
suas origens, não validava a estrutura, a pompa e muito do que a Igreja tinha e
fazia.
O perigo era real. Além dos
Reformadores clássicos (Lutero, Calvino e Zwinglio), houve a Reforma Radical
promovida pelos anabatistas, que levou as reivindicações da Reforma às últimas consequências.
Para entender isto há que se
lembrar que a teologia não é feita apenas pelo confronto do calvinismo versus o
arianismo, do misticismo versus racionalismo, do liberalismo versus neo-ortodoxia.
Ela não é uma discussão para dentro de si mesma, mas diálogo com o contexto, o que
envolve o histórico, o cultural, o filosófico, o econômico, o social, o
político, etc. Ela é uma resposta às questões em que o mundo vive. A teologia
reformada é um pensamento, reflexão, meditação, escrita em diálogo teológico
com o mundo que abandonou o paradigma cristão.
O século XVI teve grandes
luminares, como Cortes, Carlos V, Pizarro, Copérnico, Lutero, Da Vinci,
Maquiavel, Erasmus, Bacon, Galileu, Loyola, Knox, Calvino, Cervantes e tantos
outros. Muitas mudanças e transformações que eles promoveram causaram impactos
nas mentes dos europeus e uma delas foi o cristianismo do Renascimento. Havia
uma contração econômica, as monarquias inglesas e francesas estavam em processo
de deterioração, o sistema feudal tornava-se obsoleto e o uso do papel permitia
que a memória fosse mantida indefinidamente.
Foi um período de
crescimento populacional, da revolução impressa, do aumento do capitalismo, da reforma
e contrarreforma, dos estados nacionais, etc. Vários modelos de desenvolvimento
e economia foram desenvolvidos
Na política, os reis
ganharam o poder com alianças e casamentos arranjados politicamente.
Além disto, não se pode
falar de uma só Europa no século XVI. Havia várias. Quase toda a população da
Europa Central, Sul e Ocidental vivia em comunidades rurais. A Europa Central e
Oriental foi mais opressiva e feudal do que o resto do continente. Na Europa
Central e Oriental, as condições eram críticas para a maioria da população
camponesa, porque as leis davam direitos para retirar os bens dos camponeses. Na
Inglaterra, a população rural aumentou seu grau de liberdade, o que deu origem
ao proletariado rural.
Muitos tumultos e revoltas
foram a marca do século.
O pensamento dogmático da
Idade Média, do tomismo e seus universais, cedeu a um renascimento em
literatura, direito, matemática e outras ciências.
A ruptura da perspectiva
religiosa e a diversificação do conhecimento geraram incertezas e mudanças.
Houve uma troca entre
crenças autênticas, preconceitos e avaliações com interesses pessoais ou
grupais. Em termos religiosos, a tolerância e a liberdade de crença seguiram
caminhos diferentes.
Não há dúvida de que, em 31 de outubro de 1517, abriu
um debate hermenêutico, soteriológico, eclesiológico e ético. A interpretação
correta da Bíblia, a suficiência das Escrituras, a graça, a relação da Igreja
com o Estado e o estilo de vida do clero eram fundamentais.
Uma nova ordem se estabelecia e a liberdade ganhava
espaço na religião, na sociedade e no pensamento.
Marcos Inhauser