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quarta-feira, 11 de abril de 2018

OS HORRORES DA GUERRA

Para mim é inadmissível que a guerra ainda seja a primeira solução proposta por um bando de gente, fardada ou não. Diante de qualquer problema internacional eles se eriçam com a possibilidade de enviar e comandar tropas para “solucionar os problemas”.
O país que mais usa deste expediente é os Estados Unidos, que nunca teve uma batalha de guerra internacional em solo pátrio. Sempre fizeram a guerra na casa dos outros. Se não me falha a memória só Pearl Harbor e o ataque às Torres Gêmeas foram em solo americano, dois eventos até hoje amargado pelos gringos como afronta. Participaram da Segunda Guerra Mundial lutando em solo Europeu e Japonês, fizeram a guerra no Vietnan, no Iraque, na Líbia, no Afeganistão, estão agora na Síria e “prontos para enfrentar o ditador norte coreano”.
Quando penso nas pessoas que veem na guerra a saída para problemas, penso que, ou elas não têm coração ou elas são patologicamente insensíveis aos horrores que a guerra traz. A quantidade de gente morta, de crianças órfãs, a fome, as doenças, o custo social, a destruição, o custo astronômico, são variáveis que parece que não são pesadas pelos promotores da guerra. Gasta-se mais para matar que para salvar vidas, para destruir que para construir hospitais e escolas.
O mesmo penso dos fabricantes e comerciantes de armas. Como podem dormir um sono reparador sabendo que o que fazem destrói vidas, acaba com sonhos, com casamentos, com vidas promissoras? Mesmo depois dos muitos eventos de atiradores que escolheram escolas para sair atirando e matando gente, vem o Trump propor que se dê um adicional no salário para os professores que levarem suas armas à sala de aula. O Kim Jon-Un prefere deixar a população passando fome para ter misseis e bomba atômica. Gasta milhares para ter a tropas desfilando nas ruas, para satisfação pessoal e demonstração de poderio, mas não dá ao povo o que ele precisa.
Pasma-me que a igreja cristã tenha se valido deste instrumento para fazer valer seus propósitos. As muitas guerras promovidas pela Igreja, especialmente as Cruzadas, deveriam ter ensinado aos cristãos que toda guerra é pecado. Mas, ao invés de condená-la, os Reformadores clássicos viam a possibilidade de uma “guerra justa”. Onde há justiça na guerra? É justiça dar ao melhor armado a vitória e ao menos aquinhoada a derrota? É justiça abandonar o mais alto grau de possibilidades que é a comunicação e a negociação, para se rebaixar ao mais baixo nível de humanidade, igualada ao animalesco?
Com certeza virão sobre mim os que alegarão que a Bíblia fala do Deus dos Exércitos, que Ele mesmo mandou o povo à guerra e que a usou para expulsar os habitantes da terra que seria dos eleitos. Aos defensores do título Deus dos Exércitos sugiro que estudem hermeneutas mais sérios, que conhecem com profundidade o texto hebraico e suas implicações socais e culturais para saber que título tem sua conotação ideológica nas traduções feitas. Para os defensores das “guerras santas” sugiro que cotejem os relatos de guerra com as promessas de paz que há, propostas pelo mesmo Deus dos Exércitos. Como pode prometer paz quem faz a guerra? Ou a paz é mentira ou o título está errado.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 4 de abril de 2018

DUAS MANIFESTAÇÕES E UMA CONTROVÉRSIA


Nesta semana o STF recebeu duas manifestações, cada qual com milhares de assinaturas, que exemplificam a insegurança jurídica que estamos vivendo. Com a iluminação de uma vela que tenho para estes assuntos, entendo que o STF criou este imbróglio, seja pela inépcia da presidente, seja pela falta de liderança dela no exercício do cargo, seja pelos egos que se insuflaram, vitaminados pelas câmeras de televisão e audiência que o assunto implica, seja pela presença de figuras exóticas a compor o STF.
Causa-me espanto que a presidente, a mesma que tergiversou em seu voto de desempate sobre a necessidade de aprovação do Congresso para o afastamento de deputado ou senador, voto tão transversal que foi preciso que o decano o explicasse e o proferisse, venha agora, a público, pedir serenidade. Isto ela deve pedir aos ministros Gilmar e Barroso, para dizer o mínimo.
As duas manifestações (abaixo-assinados) tem origens distintas. Uma vem dos juízes procuradores e pessoal relacionado ao combate à corrupção. Eles pedem que o entendimento prolatado em três ocasiões, seja mantido, qual seja, prisão com sentença em segunda instância. O argumento é que, sendo a decisão de um colegiado, em grau recursal, ainda que se possa entrar com recursos posteriores, deve exigir o início do cumprimento da pena. Se só houvessem Zé Manés nesta condição, tenham certeza de que a coisa já estaria decidida. liquidada e a cadeia habitada com os sentenciados em segunda instância.
A segunda manifestação é uma, cujo móvel, é a reserva de mercado. Assinada por advogados, regiamente pagos para defender ad eternun os figurões da República (ou alguém que acredita em Papai Noel, também acredita que os Batochio, Maris, Zanin, Kakai e outros trabalham pró-bono?), eles se manifestam para continuar com a “boquinha”. Fechada a esperança de escapar da cadeia com os intermináveis recursos (muitos dos quais repetitivos, ao estilo Zanin), perdem a chance de continuar mamando indefinidamente. É uma manifestação pela “reserva de mercado”. Prisão em segunda instância é menos trabalho para a classe especializada em protelar sentenças.
O pedido deles é manter uma jabuticabeira. A quase totalidade dos países prende em segunda instância. O José Maria Marin foi preso antes mesmo que a sentença tivesse sido proferida. O juri o encontrou culpado, ele foi preso e só depois a sentença foi dada. No Brasil dos recursos, o Maluf ficou décadas se esfalfando com o dinheiro desviado e agora foi para casa, em prisão domiciliar, na mansão que construiu com nosso dinheiro. O mesmo fizeram com o Piciani, com o Sergio Machado, o Eike e tantos outros. Perde-se a conta dos processos que, em função dos recursos, se extinguiram.
Parece que a mulher que simboliza a Justiça e que tem um véu nos seus olhos, (assim está na estátua à frente do STF), derrubou o véu. Se ela era cega para aplicar a lei a quem quer que fosse, os ministros deste STF arrancaram-lhe a venda e, dependendo do figurão a ser julgado/condenado, a sentença se acomoda ao sabor das conveniências. Se amigos do Temer, são soltos com celeridade. Se amigos do Gilmar, recebem HC. Se ex-presidente, fura-se a fila de 4900 HCs e se coloca como prioridade.
Com um STF destes quem precisa de justiça? Ou melhor: que pode acreditar na justiça?
Marcos Inhauser


quarta-feira, 28 de março de 2018

COELET POLÍTICO

Ainda que muitos acreditem que tenha sido Salomão quem o escreveu, gente séria nos estudos do AT não cravam esta autoria, preferindo chamá-lo de Coelet (Pregador). Com certeza era alguém já experiente na vida (talvez bastante avançado em dias), atento aos fatos e deles tirando lições para a vida. Tinha uma visão um tanto quanto pessimista. Estudando-o com certa profundidade, cheguei à conclusão que há uma espiritualidade na depressão.
No seu escrito há alguns refrães que dão a tônica das suas reflexões: “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, “nada há que seja novo debaixo do sol”, “tudo é vaidade e desejo vão”, “proveito nenhum há debaixo do sol”. Estes refrães parecem indicar uma pessoa fatalista, acomodada, depressiva, cansada da vida.
Já tive momentos na vida em que me identifiquei com o Coelet. Estou em uma fase em que, outra vez, encontro nele guarida para meus pensamentos e reflexões.
Olhando à minha volta, constato que tudo é vaidade. Assisti a sessão do STF que discutiu por horas se iria aceitar discutir e que acabou não decidindo o mérito. Antes, pelo contrário, ministros regiamente pagos, se ausentam porque tem uma passagem marcada e, com isto, suspendem uma decisão que a nação ansiosa e justamente aguardava. Mais, o que vi na sessão foi um desfile de egos, cada qual querendo mostrar suas credenciais acadêmicas. A pantomima começou com o advogado de defesa que recitou um trecho de autor francês, fazendo-o na língua original. Os demais, meio que se sentindo inferiorizados, também sacaram de sua alforja o que sabiam de francês ou latim para não ficar por baixo.
Os votos dos ministros são peças retóricas para ficar mais tempo à frente das câmeras, porque o ego/narcísico assim exige. É um rosário de jurisdiquês, de elucubrações, para que os leigos não entendam e achem que eles sabem o que estão fazendo por causa do linguajar hermético.
Nada de novo sob a luz do sol. As querelas são as mesmas, as tensões internas também, as tratativas de excelência e iminência são usadas até quando se ofendem. Eles mudam de opinião qual biruta de aeroporto, ao sabor dos ventos e das conveniências.
Quando se pensava que a Lava Jato era um sinal de esperança no universo da justiça brasileira, eis que o STF faz uma hermenêutica da conveniência. Quando aluno de direito aprendi que juiz não lê a capa do processo porque deve julgar sem considerar os envolvidos, não importando quem fosse, porque todos devem ser tratados igualmente perante a lei. Não é o que vejo no STF. Lá o cliente e os advogados do cliente pesam, e muito, na prolatação da sentença.
Nada de novo sob a luz do sol. Se fosse o Mané da Silva, seu HC estaria na fila dos 4900 e sua liberdade não sairia nem depois de cumprir a sentença. Mas como é Lula da Silva, a coisa é diferente, assim como foi diferente para o Barata (rei do ônibus, amigo do Gilmar), o Abdelmassih (solto pelo Gilmar, que depois fugiu do país), o Cacciola (solto pelo Gilmar, que depois foi viver regiamente na Itália), o Eike Batista (solto pelo Gilmar que está solto jantando caviar), e outras tantas sentenças ilógicas e inacreditáveis que o Marco Aurélio, Toffoli e Lewandovsky têm dado.
“Vi ainda debaixo do sol que no lugar da retidão estava a impiedade; e que no lugar da justiça estava a impiedade” (3:16). É como sinto, vejo e porque me desanimo.
Só Jesus na causa!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 21 de março de 2018

A VERDADE LIBERTA


A máxima proferida por Jesus de que "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" é essencial para os dias que estamos vivendo. Diferentemente do que dizem intérpretes afoitos e pregadores mal alfabetizados, o texto se refere a qualquer verdade e não somente à verdade do Evangelho.
Esta diferenciação se faz necessária e importante porque a mentira escraviza. Uma mentira produz a segunda mentira, gerando um círculo vicioso e de escravidão em que o restabelecimento da verdade é a única forma de romper a escravidão.
Qualquer verdade é libertadora. Por mais difícil e cara que a verdade seja, o preço dela é menor que o preço da mentira.
Quem viveu em cidades pequenas antes do advento da internet, quem viveu em círculos fechados, tinha que lidar constantemente com os boatos e as fofocas. As fofocas eram o prato diário das conversas e haviam pessoas especializadas em criar e difundir fofocas. Até nome tinham: fofoqueiras ou candinhas.
No mais das vezes, estas pessoas ficavam à espreita de vizinhos ou conhecidos e interpretavam malevolamente qualquer sinal que viam: podia ser um carro que parasse na frente da casa, o horário que chegava ou que saia, quem visitava, quando compravam alguma coisa e o caminhão vinha entregar, a reforma que faziam, ou a filha que estava engordando.
Muitas vezes, reputações ilibadas eram atiradas na lama de onde era quase impossível sair. Muitas destas pessoas mudaram de cidade para salvar-se do estigma que sobre elas as fofocas colocaram.
Os tempos mudaram. As candinhas modernas estão à espreita nas redes sociais e na internet. Tal como nas pequenas cidades, não há a preocupação de se verificar a veracidade das informações repassadas e cada qual aumenta a sua versão, coloca o seu tempero e acrescenta fatos e dados à invencione.
Exemplos modernos de fofoca existem aos milhares. O FBI está investigando o uso destas fofocas para influenciar a eleição presidencial, gerando notícias falsas dirigidas à opositora na eleição e facilitando a eleição do Trump.
Sabe-se hoje que as duas ou três últimas eleições presidenciais brasileiras também tiveram este expediente. Busca-se acabar com as fake news nas próximas eleições. Tarefa inglória e impossível. O máximo vai se conseguir minimizar os prejuízos, nunca erradicar a fofoca.
O exemplo mais gritante é a recente onda de notícias relacionadas à morte e às atividades e vida particular da vereadora Marielle. Há pessoas que parecem justificar o assassinato alegando fraudulentamente que a assassinada teria ligações com o narcotráfico, ou que teria sido engravidada aos 16 anos, ou que teria sido esposa de um traficante. Levando a lógica às últimas consequências, qualquer mulher grávida aos 16 ou que tenha se casado com alguém posteriormente considerado bandido, pode ser morta porque o seu assassinato está justificado.
No universo das fofocas virtuais o que assusta é que um ex-coronel, hoje deputado e uma atual desembargadora tenham publicado notícias mentirosas. É verdade que vieram a público se desculpar da insensatez de veicular o que não haviam checado. É inadmissível que pessoas com estes cargos cometam tais equívocos. Recebo todos os dias uma quantidade de e-mails, links de vídeos, propostas de pauta de agenda para publicação que não me dão segurança de que sejam verdade. Já recebi sobre a renúncia do Temer, sobre a morte do Lula, sobre a vinculação do tráfico na biografia de várias pessoas. Ainda que as pessoas que me enviaram tenham sido por mim ou por outras pessoas alertadas para a disseminação de notícias falsas, parece que fazem ouvidos moucos e, no afã de serem curtidos, continuam a espalhar fofocas.
Mais do que nunca é necessário que a verdade seja estabelecida. Estamos vivendo em uma sociedade recheada pela mentira, disseminada pelos incautos com pessoas feridas ou tombadas pelas calúnias. Há poucos dias um pai foi inocentado da acusação de abuso sexual pelas próprias filhas que supostamente, teriam sido abusadas. Elas alegavam que foram pressionadas e forçadas pela mãe a denunciar o pai. 
Emblemático na história noticiosa brasileira são os casos da Escola Base e do ex-deputado que se sentiu destruído pelas inverdades e escreveu um livro sobre o assassinato de reputações. 
Credibilidade é coisa rara na sociedade atual. O que vale é receber curtidas e visualizações nas redes sociais, não importa como obtê-las. Ainda que os mecanismos de busca, os provedores, os sites de relacionamento e as redes sociais estejam buscando diminuir o número de notícias falsas, não podemos deixar de dizer que cada um deve assumir um compromisso com a verdade.
Se há violência armada, há violência verbalizada e fofocada. A verdade pede espaço neste universo.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de março de 2018

QUAL O GANHO?

Na teoria sistêmica das relações há uma pergunta que se faz com frequência e que norteia e ajuda a diagnosticar situações aparentemente incongruentes: qual o ganho que a pessoa tem em se manter na atual situação?
Ela explica porque certos filhos são pacientes sintomáticos, pois, por mais dolorosa que possa parecer a situação aos que de fora a veem, o filho tem um ganho com seu comportamento, pois ele lhe garante a atenção dos pais ou, em caso de separação, lhe dá a satisfação de ver os pais conversando ou, até mesmo, estando juntos para tratar dos problemas do filho. Há filhos que aprontam porque isto lhes dá a garantia da atenção dos pais, ou, pasmem, a surra, única forma de ter um contato físico da parte deles.
Esta pergunta eu a tenho eito em relação ao Temer. Qual o ganho que ele teve em manter a indicação da Cristiane Brasil, contra tudo e todos? O que ele ganhou com tal insistência? A mesma pergunta eu a fiz com a indicação do Segóvia para a Polícia Federal, indo contra o Ministro da Justiça, a corporação e a opinião pública. O ganho teria sido agradar o Sarney? Só isto? O que mais havia na história?
Mais evidente fica a motivação para a intervenção no Rio de Janeiro. O ganho é a mudança do foco, saindo da reforma da previdência para uma questão de certo consenso nacional? Qual o ganho real que está por trás disto? Um aumento de popularidade? Uma possível candidatura à reeleição?
Qual o ganho do Jungman em deixar o Ministério da Defesa, mais tranquilo, e aceitar a bucha da intervenção e do Ministério da Segurança Pública?
Qual o ganho do Gilmar Mendes em soltar meio mundo? Qual o ganho do Barroso em quebrar o sigilo fiscal e bancário do Temer? Qual o ganho da Carmen Lúcia em antecipar a agenda do STF para os meses de março e abril, não abrindo espaços para uma nova rodada de discursos longos, tedioso, eivados de narcisismo, para debater o que, por duas vezes, já foi decidido?
Por que manter o Pezão como governador, no que pese as sentenças que tem, a incompetência administrativa comprovada? Por que não se cassou os direitos políticos da Dilma no impeachment, tal qual preceitua a Constituição? Qual o ganho do Marco Aurélio em ser sempre do contra? Só aparecer na mídia? Qual o ganho que está por trás da lentidão nos processos do Padilha, Moreira Franco, Renan, Jucá, Maia, Eunício e outros mais?
Mas esta pergunta muitas vezes é acompanhada de outra: qual o custo? No caso específico do Segóvia, porque o Temer teve que atropelar os procedimentos e dar de presente ao defenestrado delegado um assento na diplomacia, com o régio salário de R$50.000,00? Por que a saída dele custou tão caro para o Temer e para o país? Que segredos ou favores o Temer está pagando ao dar-lhe a função na embaixada da Itália? O que o Gilmar Mendes ganhou em defender com unhas e dentes o mandato do Temer no julgamento de improbidade e abuso do poder econômico da Chapa Dilma-Temer?
Há mais perguntas que respostas. Mas, espero, o tempo trará as respostas às perguntas.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 7 de março de 2018

SEREIAS “TEOLÓGICAS”

Diz a mitologia grega que as sereias eram três filhas de Aqueló e Calíope: Parténope, Leucósia e Lígea, nomes com a ideia de candura, brancura e harmonia. Com o rapto de Prosérpina, elas foram à terra de Apolo, pediram aos deuses que lhes dessem asas para que fossem procurar a jovem por toda a terra. Passaram a habitar os rochedos sobre as margens do mar, entre a ilha de Capri e a costa de Itália. Elas viveriam enquanto pudessem deter os navegantes na sua viagem, presos ao encanto dos seus cantos. Marinheiros que se detivessem por causa dos seus cantos se chocariam contra as pedras. A costa estava branca com os ossos daqueles que haviam sucumbido.
Ulisses, em viagem adiante do ponto em que as sereias estavam, foi advertido por Circe. Tapou com cera os ouvidos, bem assim o de todos os seus marinheiros, e se amarrou a um mastro. Também proibiu que o soltassem por causa do canto das sereias. Quando o ouviu, deu ordem para que o soltassem, o que não fizeram. As sereias, não podendo deter Ulisses, precipitaram-se no mar.
O mito é atual e serve para entender porque muitas igrejas, sérias ou aventureiras, vivem se encantando com os cantos das sereias dos modismos religiosos. Já tenho alguns quilômetros na estrada e vi as mais variadas coisas que “encantaram e fascinaram” pastores e líderes incautos, assim como também vi muitos deles se esborracharem nas pedras, enchendo as costas de projetos malfadados.
Lá nos “pratrazmente” houve o modismo do batismo do Espírito Santo e a glossolalia. Fórmulas, métodos e regras haviam para os mais variados gostos, com ou sem jejum, dando a certeza do batismo e do dom de línguas. Vi muito mais mistificação que realidade. Conheço diversos exemplos de navios naufragados ou rompidos ao meio, com a tripulação de cada qual se acusando de falta de espiritualidade.
Quanta “igreja” abriu embalada por sonhos mirabolantes e fechou! Há poucos dias soube de um que pediu ajuda a uma senhora para alugar um salão enorme para abrir uma igreja. Ele mal sabe cuidar da sua vida e da suas finanças, mas estava embalado pelo sonho do gigantismo.
Depois veio a oração no monte, o jejum no monte, o graveto incandescente, o dente de ouro, o cuspe santo, a benção do riso, o G12, os grupos familiares, os grupos caseiros, os grupos por afinidade, a igreja em células, as vigílias de 24 horas, as maratonas de leitura bíblica, a teologia da prosperidade, da libertação, o puritanismo, o neo-calvinismo, a neo-ortodoxia, as bênçãos de Melquisedec, Arão, Abrão, etc.
Vejo estas coisas como ondas que encantam aos surfistas religiosos: pegam cada uma delas e buscam fazer o máximo de manobras e piruetas para ter o aplauso da plateia.
Falta-lhes o conselho de Circe a Ulisses: amarre-se ao mastro e não se deixe encantar pelo canto destas sereias que prometem o milagre da quantidade de gente nos cultos, do aumento da arrecadação, do programa na rádio ou televisão, da fama.
O mastro para se amarrar já existe há séculos. Não só a Bíblia, mas a interpretação dela feita por reconhecidos e sérios estudiosos, que contam com o respaldo de milhares de pessoas e igrejas sérias ao redor do mundo. Não são as novidades ou os achismos que vão dar nova vida às igrejas. Não são os modelos e métodos de gente que, agora, acha que descobriu a Pedra do Santo Graal e que vão colocar mais gente nos templos. São cantos de sereia! Coisa que fascina e que leva à tragédia.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

O SONHO DO PROFETA

Isaías sonhou com algo que até hoje encanta a muitos e serve de lema para muitas ações: “Vinde, e subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor. E ele julgará entre as nações, e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra.” (is 2:4,5)
O sonho do profeta é algo revolucionário. Quando os meninos tiverem leite e teto; os pobres tiverem educação decente nas escolas; quando os professores tiverem condições de ensino com recursos pedagógicos; quando o ser humano for respeitado e honrado, a paz poderá reinar. As roças produzirão o grão, as mães criarão filhos que poderão brincar nas ruas, os políticos serão pessoas honradas e de bem, o governo terá a população e seu bem-estar como prioridade.
Não será a paz da ausência da luta, do conflito, da violência, porque, ainda que estes deixem de existir por algum tempo, não necessariamente haverá paz. A trégua não é paz. É uma suspensão da violência. A paz deve passar pelo repouso sem preocupações; pelo sono sem sobressaltos; pelo caminhar livre e inocente não se preocupando com quem caminha ao lado; pelo deixar o filho sair para brincar sem ter que dizer “tome cuidado”, “não aceite nada de estranhos”.
É a paz da convivência em uma ordem estabelecida pela verdade, justiça, amor, liberdade e perdão. Não é paz dos santos porque esta nunca poderá acontecer entre pecadores, mas a paz que se estabelece nas relações fraternas, de tolerância e perdão. É a paz que vence o egoísmo, a jactância, a arrogância.
A paz, tal como é apresentada pelos ensinos bíblicos, é a manifestação da graça de Deus, é ingrediente essencial da esperança que se dá nas pequenas coisas, nas micro relações, nos pequenos gestos, no plantar da semente de mostarda para que se transforme em grande árvore.
Sementes de paz que vão sendo plantadas como o foi a equipe de hockey no gelo que uniu as duas Coreias, algo inimaginável há alguns meses. Foi a iniciativa de Obama de se levantar, durante o funeral de Mandela, e se dirigir a Raul Castro para apertar-lhe a mão, gesto que trouxe muitas consequências, inclusive de reatamento das relações diplomáticas rompidas há décadas entre os dois países.
Ela é graça de Deus, mas também deve ser compromisso humano. Cada um de nós tem o desejo da paz e nossos atos devem ser no sentido de construir reações de paz com as pessoas ao nosso redor. Perguntas fáceis como “o que eu vou dizer produz paz ou raiva?”, “o que vou fazer ajuda a construir ou é para destruir?”, “trago solução ou problema?” “as últimas coisas que fiz estava pensando em mim e no meu bem-estar ou estava pensando em ser benefício para os outros?” Podem ser pequenas coisas, mas que ajudarão na construção da paz.
Quando a paz reinar, já não mais haverá lugar para as armas de morte e instruções para matar. Não haverá necessidade de polícia, nem de exército. As armas serão transformadas em arados e em brinquedos. A indústria das armas desaparecerá e em seu lugar aparecerão centros de lazer e diversão, onde crianças, jovens e velhos viverão intensamente os prazeres da vivência comunitária. As reuniões de condomínio serão tempo de festa e não de atritos.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

MÁXIMAS NÃO OBSERVADAS

Na política (e também no mundo corporativo) há a máxima de que não se nomeia quem não se pode, depois, demitir. Este foi o erro do Lula ao nomear o José Alencar, vice-presidente, como ministro das Forças Armadas. Ele teve a sorte de que nada de esquisito ou fora do eixo aconteceu e não se viu na saia justa de ter que removê-lo.
O mesmo se deu com a Rosinha Mateus ao nomear o marido, ex-governador, como Secretário da Segurança Pública do Rio. Deu no que deu. Um desastre e nada de solução efetiva. Muita pirotecnia, pouca realização. O mesmo ocorre agora com o Temer que nomeou o Segóvia como Diretor da Polícia Federal. O Segóvia subiu no salto alto, já na primeira declaração pública falou abobrinha e se agora se consolidou como abobrinhologista na entrevista que deu à Reuters. Indicado pelo Sarney (ele tinha um agradecimento ao Segóvia pelo trabalho de obstrução às investigações quando era investigado), foi nomeado sem consultar e à revelia do Ministro da Justiça. Agora está aí o abacaxi para ser descascado.
Nesta mesma linha de raciocínio está a malfadada nomeação do Lula como ministro pela então presidente, quem, caso a nomeação tivesse se consumado, teria um ministro politicamente maior que ela. Seria um absurdo. Graças a Deus, fomos liberados desta excrecência.
Tenho para comigo que o Padilha e o Moreira Franco se enquadram no mesmo quadro. O Temer não tem cacife político para demiti-los, seja pela “gratidão”, seja pelas inúmeras acusações que tem que responder e que os dois o blindam. No mesmo raciocínio está a nomeação do nunca empossada Ministra do Trabalho, cuja folha corrida é maior que a biografia para ocupar a pasta.
Como desgraça pouca é bobagem e os sucessivos erros e recuos são a marca registrado do governo (??) Temer, depois de ver a Reforma da Previdência ir água abaixo (nunca entendi qual o ganho que o Temer tinha/teria em aprovar tal legislação), vem ele oferecer uma solução para os problemas que há décadas aflige o Rio. Joga o Exército na fogueira, nomeia um general como “semi-interventor”, deixa o Pezão no governo, anuncia a intervenção, mas ainda não tem planos, não sabe quanto vai custar, nem como tais operações se darão. É uma operação caída de paraquedas.
Se o Exército resolvesse em algo, alguma coisa teria mudado no Rio desde que vem atuando na cidade. Que nada! O roubo de carga continua solto, os confrontos entre as fações têm feito vítimas civis, muitas delas crianças, o tráfico rola solto, os arrastões continuam e o saque em plena área nobre acontece.
Eu me pergunto: e o serviço de inteligência serve para que? Não conseguiram descobrir onde o segundo homem da facção paulista estava? Não sabem por onde e quem está por trás do tráfico de armas? Apreenderam alguns fuzis no Rio há um ano, mas foi fruto de denúncia anônima. Pegaram dois caminhões carregados com cigarro contrabandeado, também com denúncia anônima. Será a inteligência policial brasileira a que funciona por denúncia anônima?
A solução da intervenção é irreversível para o Temer. Diferentemente do que costuma fazer, nesta não dá para voltar atrás. OU assume de vez, ou se ferra. Acho que vai se ferrar porque o homem não tem pulsos (e isto está demonstrado nos inúmeros recuos que já deu) para aguentar o tranco.
Marcos Inhauser



quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

FESTIVAL DA MESMICE

Eu tentei! E o fiz várias vezes. Confesso que não consegui gastar muito tempo vendo televisão nestes dias de Carnaval. Mesmo para ler ou ver o jornal foi problemático.
Há um abuso na quantidade de notícias parecidas e sem importância nos destaques das coberturas. Coisas como: “fulana comeu um cachorro quente”, “é maravilhoso estar aqui”, “gastei dois carros nesta fantasia”, “aqui estão as celebridades....”, “como você se sentiu desfilando pela ...”.
Dias destes, com a televisão ligada e tentando me interessar pelo que apresentavam, cochilei e, quando acordei, pensei que não tinha dormido ou que a imagem tinha congelado. Era a mesma imagem. Comecei a prestar atenção. Estavam passando algo do Bloco Tal na Tijuca, aí o narrador/apresentador dizia: “agora vamos ver como estão as coisas no Recife” e a coisa era igual. Mudava a cor da roupa, a música era igual, o bando de gente com lata de cerveja na mão, levantando as mãos e “sambando”. Mudava a cidade, o apresentador, mas as frases descritivas do que se via eram as mesmas, numa enxurrada de obviedades.
Tentei, por várias vezes, ao longo dos últimos anos, ver os desfiles das escolas de samba. Ou sou um analfabeto completo ou não vejo diferenças entre uma ou outra. É verdade que os carros alegóricos são diferentes, mas, para mim, a música dos sambas-enredo é parecidíssima. Parecem ter a mesma toada, a mesma melodia e a mesma cansativa e repetitiva interpretação. São 65 a 75 minutos com a mesma música que se caracteriza pela repetição dos bordões.
Além do mais, ficar pendurado na TV para ouvir comentarista esportivo e apresentadora de beldades apresentando o que posso ver, falando óbvio e se embasbacando quando a Tuiuti fez a crítica à legislação trabalhista e ao presidente vampiro, para mim é perda de tempo. Parece que a escola não passou pela avenida dado o mutismo que imperou, com falas prá lá de óbvias. Ler o que está escrito e que eu podia ler, é me xingar de analfabeto.
Não fosse o destempero do Segóvia com a entrevista em que antecipou o não-indiciamento do Temer e as repercussões do fato, o final de semana teria sido terrível. Não haveria o que ler e pensar neste fim-de-semana prolongado. O diretor-geral da PF, o indicado pelo Sarney, nomeado no atropelo pelo Temer, sem a anuência do Ministro da Justiça, sob quem deve trabalhar, veio a público pagar a fatura da sua nomeação. Em fato que nunca antes ocorreu, o Segóvia antecipou o resultado de uma investigação que não é dele, de um delegado que é um desafeto seu, de algo ainda inconcluso. Deu no que deu.
Veio a público com a mesmice: culpa da imprensa que disse o que ele não disse, que o que disse não é o que foi dito, que .... blá... blá... blá. Neste episódio a celeridade do Ministro Barroso e pedir explicações e em ordenar o “fecha a boca” se contrapõe à demora do STF em julgar o que se espera há anos. Recordista em processos inconclusos o STF deve explicações sérias e honestas por que o Renan, Jucá, Sarney, Maia, Padilha, Franco e outros, ainda não foram julgados.

Se o Carnaval suspende a vida nacional por alguns dias, se tudo parece ser cor-de-rosa nestes dias (ao menos para os carnavalescos), o Segóvia entrou no ritmo de jogar confetes no Temer e suspender o inferno criminal que o mesmo vive. A coisa melou. Ainda bem!
Marcos Inhauser

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

SILÊNCIO LUCRATIVO

Acabei de ler a notícia do UOL de que as empresas de transporte de valores não informam os valores roubados em seus carros-fortes. Nunca vi também um banco vindo a público e afirmando que foram levados tantos mil reais. Pensar nos centavos é utopia.
Como pode um carro de transporte de valores ser roubado e a empresa não ter condições de dizer o quanto foi roubado? Não têm eles controle sobre a quantia que carregam? Não assinam um documento de recebimento de valores na hora que os pegam no comércio ou nos bancos? Custa fazer a soma o cálculo e dar cifras exatas?
Não sabem os bancos o quanto de dinheiro havia no caixa eletrônico explodido? Que controle eles tem sobre os valores que guardam se, a cada assalto ou roubo, a notícia vem com a sempre presente afirmação: “os valores roubados não foram informados”.
Conheço uma pessoa que foi contratada para trabalhar no setor de controle de fraudes de um dos grandes bancos, isto lá no final dos anos 70. Era a época em que começavam a ser utilizados os primeiros cartões magnéticos que possibilitavam retirar dinheiro no caixa. Esta pessoa, que estava encarregada de descobrir as fraudes, percebeu que o que acontecia era algo que só se explicava se alguém de dentro do banco estivesse fazendo a falcatrua. Juntou as evidências e foi a seu chefe, mostro o que havia coletado, o que estes dados indicavam e pedia autorização para seguir adiante na investigação, uma vez que se tratava de coisa interna corporis.
Para surpresa, sua, dois dias depois foi demitido. A tentar saber a razão teve a resposta clássica dos modelos hierárquicos: “ordem superior”. Ele saiu de lá com a certeza de que a coisa era fabricada pelo próprio banco para acobertar alguma coisa, ou para diminuir o lucro fiscal ou para abastecer algum caixa dois.
Desde então tenho minhas barbas de molho. Acho que a não publicação dos números, a não cobrança da polícia em saber com exatidão os valores roubados, tem alguma coisa que cheira lona queimada.
Porque o Palocci não teve, até agora, a sua delação premiada homologada? Nas entrelinhas das notícias, li que ele estava disposto a relatar o papel dos bancos no propinoduto. Como pode ter acontecido o que aconteceu e não ter um só banco envolvido até agora? O banco do mensalão teve seus dirigentes penalizados, mas o banco mesmo passou incólume. Será que o setor que mais liberdade teve para atuar, que ganhou fortunas cobrando o que quer de taxas e juros, não irrigou campanhas políticas? Por que, toda vez que se fala em fiscalizar mais profundamente o setor, vem a lenga-lenga do risco sistêmico?
Como podem a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil ter diretores envolvidos em esquemas, ao ponto de, sob pressão o governo ter demitido quatro deles, e nenhum dos bancos privados ter algo a “contribuir”?
Quem está por trás das transportadoras de valores? Alguém já leu, alguma informação dando conta quem são, quanto cobram pelo transporte, quanto pagam de seguro, se vale a pena transportar todo este dinheiro, quem paga a conta destes brucutus de ar-condicionado rodando ruas e estradas?
Há algo de podre nesta salada de negócios. É daquelas coisas que você cheira que há algo fedendo em casa, e vai para todos os cantos buscando descobrir onde está. Às vezes, a melhor coisa e esperar para que a apodreça de vez, para então eliminar. Outras, pela persistência, se logra eliminar com o trabalho investigativo correto.
Marcos Inhauser