Isaías
sonhou com algo que até hoje encanta a muitos e serve de lema para muitas
ações: “Vinde, e subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus
de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas;
porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor. E ele julgará
entre as nações, e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas
espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará
espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra.” (is 2:4,5)
O sonho do profeta é algo revolucionário. Quando os
meninos tiverem leite e teto; os pobres tiverem educação decente nas escolas;
quando os professores tiverem condições de ensino com recursos pedagógicos;
quando o ser humano for respeitado e honrado, a paz poderá reinar. As roças
produzirão o grão, as mães criarão filhos que poderão brincar nas ruas, os
políticos serão pessoas honradas e de bem, o governo terá a população e seu
bem-estar como prioridade.
Não será a paz da ausência da luta, do conflito, da violência,
porque, ainda que estes deixem de existir por algum tempo, não necessariamente
haverá paz. A trégua não é paz. É uma suspensão da violência. A paz deve passar
pelo repouso sem preocupações; pelo sono sem sobressaltos; pelo caminhar livre
e inocente não se preocupando com quem caminha ao lado; pelo deixar o filho
sair para brincar sem ter que dizer “tome cuidado”, “não aceite nada de
estranhos”.
É a paz da convivência em uma ordem estabelecida pela
verdade, justiça, amor, liberdade e perdão. Não é paz dos santos porque esta
nunca poderá acontecer entre pecadores, mas a paz que se estabelece nas
relações fraternas, de tolerância e perdão. É a paz que vence o egoísmo, a
jactância, a arrogância.
A paz, tal como é apresentada pelos ensinos bíblicos, é a
manifestação da graça de Deus, é ingrediente essencial da esperança que se dá
nas pequenas coisas, nas micro relações, nos pequenos gestos, no plantar da
semente de mostarda para que se transforme em grande árvore.
Sementes de paz que vão sendo plantadas como o foi a
equipe de hockey no gelo que uniu as duas Coreias, algo inimaginável há alguns
meses. Foi a iniciativa de Obama de se levantar, durante o funeral de Mandela,
e se dirigir a Raul Castro para apertar-lhe a mão, gesto que trouxe muitas
consequências, inclusive de reatamento das relações diplomáticas rompidas há
décadas entre os dois países.
Ela é graça de Deus, mas também deve ser compromisso
humano. Cada um de nós tem o desejo da paz e nossos atos devem ser no sentido de
construir reações de paz com as pessoas ao nosso redor. Perguntas fáceis como
“o que eu vou dizer produz paz ou raiva?”, “o que vou fazer ajuda a construir
ou é para destruir?”, “trago solução ou problema?” “as últimas coisas que fiz
estava pensando em mim e no meu bem-estar ou estava pensando em ser benefício
para os outros?” Podem ser pequenas coisas, mas que ajudarão na construção da
paz.
Quando a paz reinar, já não mais haverá lugar para as
armas de morte e instruções para matar. Não haverá necessidade de polícia, nem
de exército. As armas serão transformadas em arados e em brinquedos. A
indústria das armas desaparecerá e em seu lugar aparecerão centros de lazer e
diversão, onde crianças, jovens e velhos viverão intensamente os prazeres da
vivência comunitária. As reuniões de condomínio serão tempo de festa e não de
atritos.
Marcos Inhauser