Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

UM ATO DE CONSTRUÇÃO COLETIVA


Dos mais variados espectros teológicos (presbiterianos de vários matizes, batistas de várias denominações, pentecostais, anabatistas e episcopais), de diversas correntes políticas (esquerda, centro esquerda, centro, centro direita e alguns que são rotulados como de direita), incluindo democratas, republicanos, monarquista, semianárquico, se reuniram, muitos sem mesmo se conhecer, para juntos pensar a realidade brasileira e produzir algo que refletisse o evangelho e os valores do Reino Deus.
Depois de mais de três mil mensagens trocadas, muita reflexão, contribuições as mais diversas, foi-se afunilando a redação e se chegou à Carta Pastoral à Nação Brasileira (disponível no https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=cartapastoral2018). Houve uma preocupação com a biblicidade das afirmativas, que não fosse academicamente teológica, mas acessível ao povo, de caráter essencialmente pastoral.
Lançada com uma centena de assinaturas e aberta para que, quem quisesse, também a assinasse, para surpresa dos redatores, em pouco tempo o número dos subscritores, entre os quais me incluo, cresceu exponencialmente.
Creio que, por vez primeira no Brasil, se produziu algo a partir da contribuição e colaboração coletiva. A Carta é um trabalho de muitas mãos e nenhum dono, nenhuma face, mas pretende ser as muitas faces de todos as que a subscreveram.
Seria ingenuidade da parte dos que a escreveram pensar que não haveria reação. Uma delas veio de quem se pretende e se arvora como porta-voz das igrejas evangélicas. Com suas malafalas, por não ter como criticar o conteúdo, passou a criticar os que a subscreveram, afirmando se tratar de esquerdopatas, termo generalizado para todos os que dissentem ao que o histriônico pensa.
Houve quem afirmou que o documento se tratava de algo para trazer de volta um determinado partido ao poder. A resposta que lhe foi dada é que, se atuar em favor dos pobres, viúvas e estrangeiros, isto é valor do Reino, ensinado por Jesus. Se isto é ser de esquerda, ele era esquerdista. Outro, na arrogância de ter mais de 200.00 seguidores no Face (quem me garante que não são seguidores impulsionados, estratégia muito comum), se arvorava mais fiel representante dos evangélicos que a meia dúzia que assinou (2.488 subscrições no momento em que escrevo esta coluna).
O que mais me chama a atenção destes pretensos porta-vozes dos evangélicos, enciumados com o surgimento de algo que teve repercussão na mídia e que não passou pela “benção” destas estrelas midiáticas, é que não criticam o conteúdo (será que porque é criticar a Bíblia), se preocupam em descobrir o redator da Carta, como se fosse fruto de uma única mão. Acostumados a serem os donos da verdade e únicos a dizer o que os outros devem pensar, não creem na possibilidade de haver algo que seja uma construção coletiva. Incorrem no grave erro de abandonar o conteúdo porque escrito por quem não gostam. Se quem escreveu é de direita, centro ou esquerda e isto não é seu perfil ideológico, não vão perder tempo lendo porque deve ser ruim.
Acabo de receber uma pesquisa do Ibope (fonte por mim conferida) que afirma que rejeição da parte dos evangélicos ao líder saltou de 32% a 41%, que o segundo saltou 26% a 33% (entre 11/09 e 24/09). Seria isto um indicativo de que os religiosos, sejam católicos, evangélicos ou outras religiões, estão tomando consciência de que a eleição busca um presidente para o Brasil e não um pastor para uma nação, que se quer seja uma democracia e não uma teocracia comandado por um “iluminado”.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

TEXTO MAGNO DO EVANGELHO

Filho de protestantes, fui criado na tradição calvinista, estudei teologia em seminário arminiano, fiz complementação em seminário calvinista. Tinha meus pruridos com algumas questões que me ensinavam sobre os reformadores, especialmente o conceito de guerra justa e a justificação da violência. Vários anos mais tarde, entrei em contato com o Anabatismo, ramo pertencente à Reforma Radical (e por, isto, também reformado).
Nele via uma nova abordagem para as questões que me intrigavam e enumero algumas delas. O Antigo Testamento apresenta a guerra como sendo, muitas vezes, promovida por Deus. Daí que algumas guerras eram chamadas de santas. Há uma condescendência com a violência e o menosprezo da mulher e da criança como seres humanos. Além desta aparente divinização da guerra, há o uso da violência da parte de Deus no castigo do seu povo. Estas abordagens me faziam pensar e, por mais que tentasse, não encontrava respostas.
Ao ler os Anabatistas e tomar conhecimento de sua história (ainda que não haja unanimidade entre eles), fui tomando conhecimento de algumas posições que me chamaram a atenção e mudaram minha forma de ver as coisas.
A primeira delas é a centralidade dos evangelhos e de Jesus Cristo. Há uma certa hierarquia nas Escrituras: as palavras proferidas por Jesus estão acima de todas as outras. Em seguida o que se conta sobre Jesus. Os demais trechos da Bíblia são palavra de Deus na medida em que se harmonizam com Jesus e o que Ele disse e ensinou. A fundamentação para isto está no fato de ser Jesus a “Palavra de Deus encarnada”, a “expressão exata do ser de Deus”, ao ponto de ser “Um com o Pai”. Esta hierarquia toma como Palavra de Deus, no caso do Antigo Testamento, aquilo que concorda com os evangelhos. O que não concorda pode ser texto de consolação, de instrução ou de informação de como foram ou eram feitas as coisas. Perdem assim o caráter normativo, assumindo o instrutivo.
Neste contexto, ganha relevância o Sermão do Monte, proferido por Jesus e que é tomado por muitos Anabatistas como texto magno para a vida cristã.
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus (fora estão os orgulhosos, prepotentes e assemelhados)   
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados (fora estão os que fazem chorar, que provocam lágrimas pela imposição da injustiça e da violência).   
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra (fora estão os violentos, os agressores, o que promovem a violência, a guerra, que negam a virtude do diálogo)   
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos (fora estão os que fazem injustiça, concedem habeas corpus a torto e a direito)   
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. (fora estão os que massacram o próximo ou tiram proveito dele em uma situação de dificuldade)   
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus (fora os que tem agenda oculta, caixa dois, negam desconhecer o que praticaram, mentem, os cara-de-pau, os pinóquios políticos).   
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus (fora os promotores da violência, do armamento, das guerras, da vingança, das fake News).   
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus fora os que estão perseguindo em nome da justiça e os que se julgam perseguidos porque a eles se aplica a justiça).
Sei que vou levar pedrada por causa deste texto. Termino com a última: Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa.   
Marcos Inhauser

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

O MEDO E A FÉ


Segue texto enviado por Maria Luiza Rücket, autora do livro "Capelania hospitalar e ética do cuidado", amiga, que me autorizou a fazer pequenas edições no exto para que o mesmo coubesse no espaço desta coluna.
“Um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo, prostrou-se aos pés de Jesus, pois sua filha estava à beira da morte. Com insistência, suplicou que Jesus impusesse as mãos sobre a menina, para que ela fosse salva e continuasse viva. Jesus o acompanhou, mas enquanto caminhavam veio a notícia de que a menina havia morrido. Jesus então falou ao pai: “Não temas, crê somente” (Marcos 5,36).
Jesus contrapõe a fé ao temor: o medo deve ser vencido pela fé.
O medo é uma força atuante. O médico francês Frederic Leboyer, que se notabilizou com o livro Nascer sorrindo, constatou que o medo nos acompanha do nascimento à morte. Reflexões já foram elaboradas a respeito de medo, temor, angústia, ansiedade, preocupação. Essas emoções negativas causam malefícios à saúde e às relações interpessoais.
Até uma determinada intensidade, o medo pode nos ajudar a evitar certos perigos. Ele se torna em profilaxia para não nos expormos a riscos desnecessários. Mas, nós não temos o controle sobre essa dosagem do medo e ele se torna uma força muito poderosa e prejudicial em nossa vida.
Nos dias atuais despontou mais um tipo de temor: é o medo do anonimato. Para se diferenciarem das demais, as pessoas recorrem cada vez mais às tatuagens e às técnicas de modelar o corpo. Mesmo sabendo dos riscos, muitas pessoas recorrem ao implante de silicone industrial. Recorre-se a uma enormidade de recursos para se tornar diferenciado. O risco é grande, mas o medo do anonimato fala mais alto.
É desse temor nocivo e até patológico que Deus quer nos libertar. A exortação de não temer perpassa a Bíblia toda – desde Gênesis 15,1 até Apocalipse 1,17.
Em nossa existência, nos defrontamos com duas forças poderosas: o medo e a fé. O medo tem dominado muitas vidas, causando infelicidade e desgraça. Mas a fé é mais forte do que o medo. E somente a fé pode vencer o medo. A declaração de Jesus mostra isso.
Como devemos proceder para substituir o medo pela fé?
Para o salmista, fé é sinônimo de confiança. O salmista confiava na intervenção de Deus, capaz de socorrer em meio às angústias e perigos. Também Jesus interpelava as pessoas apontando para a confiança. Para acontecer a cura, a pessoa precisa se posicionar. Portanto, a confiança em Deus é uma força mais poderosa do que o temor – diante de doenças, do anonimato, da calúnia, da desonra, da morte.
Precisamos sempre, de novo, redimensionar a nossa fé. Muitas pessoas entendem a fé como sendo a adesão a um conjunto de doutrinas. E a fé torna-se sinônimo de “acreditar”. Esforçam-se para acreditar, mesmo percebendo que a realidade não cabe dentro dessa doutrina. Mas, com essa insistência, continuam com medo, muito medo. Inclusive com o medo de que a doutrina venha a ser ameaçada pelo ateísmo.
A confiança é diferente, pois ela resulta do reconhecimento de que nós não temos o controle dos acontecimentos. Portanto, só nos resta entregar a nossa existência ao poder que controla toda a realidade. Confiança é entrega. Ela precisa ser exercitada diante de cada circunstância que se apresenta.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

VIRANDO CINZAS


Todos ficamos estarrecidos com o incêndio do Museu Nacional e ainda mais indignados porque a tragédia havia sido anunciada por várias fontes. No que pesem os alertas dos responsáveis e de outras pessoas que se preocupavam com o Museu e tudo o que nele havia, encontraram ouvidos moucos. Tão moucos que nenhum ministro compareceu às cerimônias de comemoração dos duzentos anos do Museu. Deu no que deu: virou cinza!
Há algum tempo, os governantes brasileiros, nos níveis municipal, estadual e federal, seja no executivo, no legislativo ou no Judiciário, têm revelado a sua incúria e incapacidade de gerir a coisa pública. São especialistas em fabricar cinzas.
A Petrobras por pouco não virou cinza. Mas parte dela foi queimada pelos gestores corruptos, nomeados pelos partidos políticos para dar espaço à bandidagem e para encher as borras dos partidos. A Eletrobras foi levada à cinza pelos gestores indicados pelos políticos. Agora estão vendendo na bacia das almas as cinzas do que outrora fora a maior empresa de energia do Brasil. E a Eletronuclear não teve caminho diferente, ainda que as cinzas não estejam à venda.
O SUS virou cinza nas mãos dos últimos governos. O povo vai para o SUS, o político é badalado nos hospitais de primeira grandeza e manda a conta para que o erário pague. A Educação virou cinza nãos mãos de alguns professores sindicalistas, que mais sabem promover greve que dar boas e decentes aulas. A totalidade está no forno de cremação dos salários indignos e da falta de condições para uma boa educação.
O PIB previsto em prosa e verso para 2018 virou cinza. O Real está virando cinza na hora de fazer o câmbio. O Congresso Nacional, com tendências piromaníacas, ateia fogo no orçamento, aprovando medidas esdrúxulas, sem a devida provisão de recurso. O Executivo compra a impunidade do presidente a peso de ouro, dando milhões a parlamentares fisiológicos e contingenciando verbas de educação, investimentos, saúde, etc. O judiciário, o poder com os mais altos salários da República, se concede um aumento abusivo de quase 17%, mesmo sabendo da grave crise que o país atravessa. O Orçamento virou cinza!
O Temer ascendeu ao cargo todo chamuscado pelo processo. Todos o viam com graves queimaduras, mas ele insistia em dizer que estava tudo bem e que iria se recuperar e recuperar as finanças do Brasil, bem assim a taxa de emprego. O que se vê é um presidente qual frango em forno de padaria, girando para todo lado e se queimando por inteiro. Com as temperaturas mais elevadas pelas duas denúncias, virou cinza. Pela primeira vez temos um ex-presidente no exercício. Os seus asseclas estão virando cinza a cada delação premiada. Lá estão as cinzas do Padilha, Moreira Franco e outros. Com a aberração da cinza falante: o Marun, o rei das patacoadas.
A Reforma da previdência, mais uma vez, virou cinza. Assim também as reformas política e tributária.
Neste cenário tem a cinza que está na caixa em Curitiba e que insiste que está viva! Tem cinza prometendo armar o país, desfazer todas as privatizações, cortar a jornada de trabalho e manter o mesmo salário, etc. No forno das propostas eleitorais, há de tudo, mas, ao final, é cinza.
Somos o país da quarta-feira de Cinzas, dia de arrependimento pelas maluquices cometidas no período anterior. Não há arrependimento nas cinzas dos brasileiros. Mesmo condenado a dezena de anos, ainda afirmam que são inocentes e vítimas de perseguição política. A Festa dos Guardanapos foi montagem fotográfica da imprensa marrom!
Valha-me Deus!
Marcos Inhauser