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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

ILOGICIDADES DA FÉ

O casal, ambos com pouco mais de 70 anos, foi infectado com o Sarscov-2. Os filhos levaram o casal ao Pronto Socorro, o casal foi medicado e voltou para casa. No outro dia voltaram, marido e esposa foram internados.
Como eram inscritos em alguns grupos de WhatsApp onde compartilhavam coisas relacionadas à fé (tais como memes de versículos bíblicos, mensagens de pregadores famosos, música gospel), uma das filhas avisou nos grupos que a mãe e o pai foram hospitalizados. A coisa começou a ferver com gente dizendo estar orando. Começaram a chover jargões religiosos de cunho motivacional: “Deus está no controle”, “mesmo no vale da morte Ele está conosco”, “tudo podemos em Deus”, “praga nenhuma alcança quem tem fé”, “tudo o que dois ou três concordarem em pedir em Meu Nome, será concedido”, e uma infinidade de outras frases de mesmo sentido: “quem crê tá livre do mal.”
Diariamente, a filha municiava os grupos com informações sobre a saúde dos pais. Repetiam-se os ícones de mão juntas (em sinal de oração), carinhas tristes e outras mais. Os jargões se repetiam.
O quadro de saúde de ambos se deteriorou e a mãe veio a óbito. Nos grupos de WhatsApp proliferaram as mensagens de luto, todas clássicas: “Deus a chamou”, “agora ela está melhor que nós”, “Ela era um anjo aqui na terra e Deus a chamou ao Seu lado”, etc. Nenhuma palavra sobre o fato de que as muitas orações não tenham sido respondidas, nem sobre a falácia dos jargões motivacionais.
O pai continuava internado, UTI, prona, intubação, sedação. A cada dia, a filha postava notícias sobre ele. Os jargões se repetiam. Parece que ninguém se dava conta de que eles não funcionaram com a mãe.
Uns dez dias depois, o pai apresentou quadro de leve melhora e saiu da UTI. Houve celebração: “Deus ouviu nossas preces” era o mais comum. “Vamos orar forte pela saúde dele que Deus vai nos dar a vitória”. No dia ele teve alta, houve uma explosão de “Glórias”, “Aleluias”, “louvado seja Deus”, “nossas orações foram ouvidas” e coisas parecidas.
Uma das participantes escreveu algo mais ou menos assim: “O Fulano é um guerreiro, Deus deu a ele a vitória sobre esta enfermidade. Nós oramos juntos em uma batalha de oração, vencemos e agora celebramos a vitória da fé”.
Ninguém se perguntou: se ele é um guerreiro porque teve alta hospitalar, significa que a esposa era fraca? A fé do marido é maior que a da esposa, por isto ele foi curado e ela morreu? As orações feitas pelo marido foram mais fortes que as que foram feitas pela esposa? Em que medida a oração muda os planos de Deus para a vida de uma pessoa? O pai era mais importante para a saúde emocional dos filhos que a presença da mãe?
Perguntar não é pecado. Se analiso as atitudes da fé neste caso específico não sou herege. Não tenho resposta para as questões que eu mesmo levanto, mas de uma coisa sei: há uma fé enfermiça nos arraiais da religiosidade. Também não quero dizer que a fé mais racional seja mais fé que outra. Entendo e aceito que a fé tem forte componente emocional e certo nível de crença no impossível, o que, pode ser, em alguns casos, sinal de certa irracionalidade. O que critico é a banalização da fé via jargões motivacionais sem sentido, sem prática comprovada e sem análise avaliativa das vezes em que foi empregado e o resultado que produziu.
Como pastor que lida com expressões de fé cotidianamente, muitas vezes me perguntei em que falhava ao ver que muitas das minhas ovelhas eram verdadeiros bonsais: ficam velhas e não cresciam. Pareciam maduras, mas era ingênuas e infantis. Tenho para comigo que o método educacional mais usado nas igrejas, notadamente as denominadas evangélicas, é o da pregação. Pesquisas por mim feitas e por alguns de meus colegas, constatam que a maioria não se lembra na segundo qual foi o sermão do domingo.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

O MEDO E A FÉ


Segue texto enviado por Maria Luiza Rücket, autora do livro "Capelania hospitalar e ética do cuidado", amiga, que me autorizou a fazer pequenas edições no exto para que o mesmo coubesse no espaço desta coluna.
“Um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo, prostrou-se aos pés de Jesus, pois sua filha estava à beira da morte. Com insistência, suplicou que Jesus impusesse as mãos sobre a menina, para que ela fosse salva e continuasse viva. Jesus o acompanhou, mas enquanto caminhavam veio a notícia de que a menina havia morrido. Jesus então falou ao pai: “Não temas, crê somente” (Marcos 5,36).
Jesus contrapõe a fé ao temor: o medo deve ser vencido pela fé.
O medo é uma força atuante. O médico francês Frederic Leboyer, que se notabilizou com o livro Nascer sorrindo, constatou que o medo nos acompanha do nascimento à morte. Reflexões já foram elaboradas a respeito de medo, temor, angústia, ansiedade, preocupação. Essas emoções negativas causam malefícios à saúde e às relações interpessoais.
Até uma determinada intensidade, o medo pode nos ajudar a evitar certos perigos. Ele se torna em profilaxia para não nos expormos a riscos desnecessários. Mas, nós não temos o controle sobre essa dosagem do medo e ele se torna uma força muito poderosa e prejudicial em nossa vida.
Nos dias atuais despontou mais um tipo de temor: é o medo do anonimato. Para se diferenciarem das demais, as pessoas recorrem cada vez mais às tatuagens e às técnicas de modelar o corpo. Mesmo sabendo dos riscos, muitas pessoas recorrem ao implante de silicone industrial. Recorre-se a uma enormidade de recursos para se tornar diferenciado. O risco é grande, mas o medo do anonimato fala mais alto.
É desse temor nocivo e até patológico que Deus quer nos libertar. A exortação de não temer perpassa a Bíblia toda – desde Gênesis 15,1 até Apocalipse 1,17.
Em nossa existência, nos defrontamos com duas forças poderosas: o medo e a fé. O medo tem dominado muitas vidas, causando infelicidade e desgraça. Mas a fé é mais forte do que o medo. E somente a fé pode vencer o medo. A declaração de Jesus mostra isso.
Como devemos proceder para substituir o medo pela fé?
Para o salmista, fé é sinônimo de confiança. O salmista confiava na intervenção de Deus, capaz de socorrer em meio às angústias e perigos. Também Jesus interpelava as pessoas apontando para a confiança. Para acontecer a cura, a pessoa precisa se posicionar. Portanto, a confiança em Deus é uma força mais poderosa do que o temor – diante de doenças, do anonimato, da calúnia, da desonra, da morte.
Precisamos sempre, de novo, redimensionar a nossa fé. Muitas pessoas entendem a fé como sendo a adesão a um conjunto de doutrinas. E a fé torna-se sinônimo de “acreditar”. Esforçam-se para acreditar, mesmo percebendo que a realidade não cabe dentro dessa doutrina. Mas, com essa insistência, continuam com medo, muito medo. Inclusive com o medo de que a doutrina venha a ser ameaçada pelo ateísmo.
A confiança é diferente, pois ela resulta do reconhecimento de que nós não temos o controle dos acontecimentos. Portanto, só nos resta entregar a nossa existência ao poder que controla toda a realidade. Confiança é entrega. Ela precisa ser exercitada diante de cada circunstância que se apresenta.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A HERESIA DO PERGUNTAR

O modelo vigente nas igrejas por séculos é o da cátedra, onde há uma confissão de fé, aceita pela denominação como expressão final e definitiva das crenças e ensinamentos exarados nas Escrituras, ensinados domingo após domingo pelo catedrático (pregador). O pregador, no uso da palavra não interrompida e nunca questionada no momento em que é proferida, deve ser a repetição para consolidação dos ensinamentos confessionais.
O problema com este tipo de religiosidade é que o líder não pode pensar, não pode fazer teologia, porque a sua já está feita e consolidada na Confissão de Fé de sua denominação. Se ousa dizer algo fora do que preceitua o receituário doutrinal, será inquirido, processado eclesiasticamente poderá ser disciplinado por um período de suspensão ou afastamento definitivo. Eu passei por isto, juntamente com alguns outros colegas.
Ousamos pensar e criticar algo e fomos acusados por uma mente fundamentalista, quem, treinado na letra da lei, só via obediência e jamais podia aceitar o questionamento. Para estas confessionalidades, a pergunta inquisitiva e exploratória de novas possibilidades é pecado. Perguntar arguindo o estabelecido é pecado sem perdão. É atentar contra a sacralidade de um Manual Doutrinário que, não importa quando foi estabelecido, nem as circunstâncias históricas em que tal se deu, aceitam que as formulações ali contidas têm a aura da infalibilidade. Um amigo foi fazer um curso de teologia contemporânea dado por uma pessoa recém-chegada com o título de ThD (Doctor in Theology). Ele começou na patrística, foi até Calvino e terminou seu curso. Meu amigo o questionou sobre os teólogos contemporâneos e ele disse que, depois de Calvino, não houveram mais teólogos.
Falar o novo, pensar o diferente, perguntar sobre o estabelecido é garantia de ser rotulado como herege. Herege não é um título que alguém se dê a si mesmo. Encontrar-se-ão milhares dos que se afirmam ortodoxos, conservadores, fieis à Palavra, fundamentalistas. Mas alguém que, sem estar sendo irônico, se caracterize como herege, é algo raro, incomum mesmo. Herege é sempre o outro. Dizer que o outro é herege é um ato de exercício de um pretenso poder de julgar quem é quem e quem está certo ou errado. Neste processo muitos foram sacrificados pelos donos do poder eclesiástico, tanto nas inquisições, como nos tribunais eclesiásticos das igrejas não-católicas.
Se perguntar criticamente sobre a fé e a confissão é ser herege, devo admitir que o sou. Por estar em uma denominação, talvez a única no mundo, que se afirma como não-credal (não temos um credo) e não-confessional (não temos uma confissão de fé), não há lugar para ser herege no seio dela. Nela não há quem tenha a autoridade de dizer: “você está errado”. O máximo que podemos é discordar, dizendo: “eu não penso como você”. Posso até dar as razões pelas quais creio diferente, mas sem acusar ou discutir opiniões.
No seio desta denominação, por isto, se pratica a hermenêutica comunitária, onde todos podem e devem participar da interpretação do texto estudado naquele momento. É no exercício de todos os dons presentes na comunidade que se dá a interpretação consensual. Nela o perguntar é virtude, o discordar é maturidade, o afirmar o que se pensa é essencial.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

FÉ? O QUE É ISTO?

Há enorme quantidade de gente que, perguntada sobre o que é a fé, não hesitariam em responder com a afirmação constante no livro dos Hebreus: “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11:1). No entanto, a definição acima traz dificuldades intrínsecas, uma vez que só se aplica às coisas que se esperam e às que se não veem. Interpretada a definição literalmente, não há fé nas coisas passadas e nem nas que se veem.
Se ela só se aplica ao que se espera, como ter fé no Jesus histórico que veio e que é fato do passado? Como crer nos relatos bíblicos da libertação do povo de Deus do Egito, nas pragas, na passagem do Mar Vermelho e outras narrativas do passado? Se são passado, já não são alvo de espera e se não o são, não são objeto da fé.
Como fica a narrativa de Tomé que precisou ver para crer? “Se eu não vir o sinal dos cravos nas suas mãos, e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei” (Jo 20:27).
Se olharmos para o Antigo Testamento e para as narrativas de fé que ali se encontram, vamos perceber que não há nele um manual de crenças, ou um compêndio de teologia conceitual. Antes, pelo contrário, vamos encontrar uma coletânea de narrativas de fé de que Deus estava agindo na história a favor do seu povo. Parece mais uma página de um diário de fé nos atos de Deus. Criam no Deus da história que faz dela o seu palco revelacional. Deixar de ver nas minúcias dos atos históricos concretos o agir de Deus é cegar-se à revelação.
Pasma-me que os púlpitos e os cânticos em moda nos templos pouco ou nada façam desta leitura do agir de Deus na história hoje. Parece que as prédicas ensinam um Deus que morreu no passado, ou em um Deus catatônico que deixou de agir e está paralisado. Ficou mudo no dia em que, sábios teólogos concluíram quais os livros que fazem parte do cânon e depois disto proibiram Deus de continuar falando e se revelando.
Olham para o passado para encontrar histórias bonitas de como Deus agiu, mas são cegos para o presente e para os atos de Deus na história brasileira, latino americana e mundial do ano de 2016. O Deus mudo e catatônico das modernas pregações se limita a curar enfermos, expulsar demônios e dar prosperidade aos bispos de igrejas gananciosas.
Deus encolheu. Foi exuberante no passado, mas perdeu seu brilho e vigência no século da tecnologia. Como discípulos devemos viver das glórias do passado, ir aos templos que são museus a contar histórias antigas, preservar a memória de um povo, e acreditar que um dia a glória será restabelecida na mesma Jerusalém de antanho. Ele fazia milagres e hoje ... bem .... hoje ... é diferente.
Mais que pregadores, deveriam ser “leitores da história”. Como disse o Karl Barth, um bom pregador é o que tem a Bíblia em uma mão e o jornal na outra. Um iluminando o outro. O jornal trazendo luzes para a leitura bíblica e a Bíblia iluminando o entendimento dos acontecimentos atuais.
Um Deus fora da história é marionete nas mãos de pregadores analfabetos e inescrupulosos.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 13 de julho de 2016

A FÉ TEMPLARIA

Vivemos há séculos com a vinculação estreita entre o templo e o culto, ao ponto de, para muitos, não haver culto sem ser realizado no templo. As reuniões cúlticas fora dos templos recebem nomes outros, mas não o de culto.
Esta herança a devemos à religiosidade do antigo Israel onde, com a construção do tabernáculo e depois do templo, se associou de tal forma as duas coisas que passou a fazer parte do DNA das religiões. O mesmo se pode dizer do islamismo, onde as mesquitas são elementos centrais na vida religiosa e há a preeminência de uma sobre as demais: Meca. O mesmo se aplica ao catolicismo, com a centralidade da Basílica de São Pedro na cidade do Vaticano.
Há, contudo, algumas considerações que devem ser feitas quando isto ocorre. Não se imagina um santuário sem sacerdotes ou uma casta de gente dedicada ao serviço religioso. Por serem os “mediadores” entre a divindade e os humanos, estes recebem alta consideração e respeito por parte dos adoradores. A palavra por eles proferida, a instrução por eles dada, o ensino por eles ministrado, passam a ter a chancela da superioridade, da infalibilidade, da inquestionabilidade. O que falam, fazem ou ensinam estão acima de qualquer suspeita. As suas mensagens são Vox Dei.
Esta concepção dos “dedicados ao serviço religioso” (seja lá qual o título que se queira a eles dar) facilita o surgimento de uma verticalização: Deus-sacerdote/bispo/apóstolo/pastor-povo. O Supremo se comunica com os fiéis pela intermediação de “vocacionados”. Estes, por gozar desta reverência e funcionalidade, não raro, assume ares de ditador espiritual e deixam o seu lado narcísico aflorar. Colocam fotos suas nas fachadas dos templos, sonham em ter um horário na televisão para serem vistos por milhares, querem ouvir sua voz na rádio. Sua visão teológica (quando as tem, o que é raro), suas doutrinas (quando não são coleção de podes e não-podes, o que é o mais comum), sua administração (quase sempre egóica), produz um ditador que invade a vida das pessoas e, para espanto, até os mesmo os quartos de casal, ditando o permitido e o pecado.
Porque vivem de manter e incrementar seu poder, fabricam leis e multiplicam pecados, produzindo o sentimento de culpa em massa. Passam a ter prazer quase orgásmico em ver os fiéis se sentirem pecadores, indignos, merecedores do castigo divino. Oferecem assim seus préstamos de mediadores da benção e da graça, sempre aliado à contribuição do dízimo e das “ofertas de amor”. Empreendem programas mirabolantes, alugam horários televisivos a peso de ouro e, quando chega a hora de pagar a conta, ao invés de reconhecerem que exageram no sonho, responsabilizam os fiéis pela manutenção de suas megalomanias narcísicas.
Para manter o poder e dar asas ao narciso, os fiéis precisam ir ao templo. Se em Israel todo judeu devia ir ao templo uma vez ao ano, se o muçulmano deve ir a Meca uma vez na vida, nos modernos templos-gazofilácio os fiéis devem ir tantas vezes quantos os dias da semana. Prestam a reverência ao ditador/espiritual, pedem orações, recebem a benção e, infalivelmente, são constrangidos a deixar a “ben$ão para o $ustento da obra do $enhor”.
Sem o templo não há culto, sem o templo não há “vocacionados”, sem o templo não há salvação. Quanto maior for o templo, mais benção há. Por isto, os narcisos/ditadores/arrecadadores, precisam construir seus palácios: o templo de Salomão, o Santuário para quinze mil pessoas, o maior templo do mundo, a Casa de Deus. Fora do templo não há fé, milagre ou livramento.
Todos ao templo é o lema. Quanto maior o templo, mais bonito você está na fita e mais gratificado está o ditador/arrecadador.
A religiosidade não-institucional, não mediatizada, de pequenos grupos caseiros não é expressão de culto e fé. É subversão. Sem guru não há edificação.

Chegamos ao tempo em que o Espírito Santo pode ser aposentado!
Marcos Inhauser

quinta-feira, 21 de junho de 2012

ESPIRITUALIDADE DISTORCIDA OU FÉ?


Preocupa-me o conceito de “fé” nos dias e no contexto em que é usado nos dias de hoje no Brasil.. Ela é ensinada fé como virtude mágica, varinha de condão, um “abra cadabra gospel” que produz coisas mirabolantes. Recuso-me a aceitar a fé infantil e estúpida de um pastor que segurava serpentes para provar a veracidade de um verso da Bíblia. Valeu para ele o dito popular: “Se quiseres, confia na pata do coelho: mas lembra-se de que ela não deu sorte ao coelho.”
Recuso-me a aceitar a fé como palavra de ordem que sai de lábios jactanciosos dizendo o que deve Deus fazer. Quando as ações de Deus forem sugestionadas ou dirigidas pelos humanos, ele terá deixado de ser Deus.
Recuso-me a crer que fé é o que faz com que as massas supervalorizem a autoflagelação e o sacrifício, em detrimento da graça pela qual fomos atraídos a Cristo. Ora, se a fé exigisse sacrifícios, a graça não seria graça. Então o que é fé? Fé é crer cega e dependentemente de Deus, mesmo que isso pareça um atentado à sanidade.
Conta-se que numa grande cidade, numa avenida sem nenhum semáforo, um pai procurava atravessar segurando a mão da filha de sete anos. Depois de alguns minutos de indecisão e de espera, o pai alcançou o outro lado da avenida tendo sempre a filha à mão. Ao se encontrar do outro lado, a menina exclamou: “Aquele edifício tem 10 andares. Eu os contei direitinho!” Porque confiava no pai, a menina não tinha visto o perigo da rua e dos carros. Quem confia no Senhor, fica em paz! Isso é fé. Esta é a definição de Hebreus 11:1 “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.” Não vejo Deus, mas confio absolutamente que, em sua soberania, ele sempre terá o melhor para mim. Não vejo o futuro, mas creio em quem está à frente: Jesus. Fé expressa em forma de confiança absoluta, de esperança imortal, de serenidade em meio às tempestades.
Analisando a religiosidade tupiniquim vejo mais crendices do que fé real e inabalável. Certa vez, três amigos encontraram-se após muitos anos de separação. Contando suas experiências, um deles disse: “Sou um homem muito infeliz. Perdi todo o dinheiro que possuía. Não tenho mais nada”. O outro disse: “É difícil a sua situação, mas não é tão triste quanto a minha. Perdi minha esposa e meus dois filhos. Oh! Se pudesse dar tudo o que você perdeu para tornar a vê-los!” O terceiro amigo disse: “A infelicidade de vocês é pequena comparada à minha. Um de vocês perdeu o dinheiro, que pode ser recobrado. O outro perdeu os queridos, porém, espera encontrá-los no céu. Mas eu perdi o que de mais precioso existe sobre a terra: perdi a fé”. (Rev. Marcos Kopeska, editado para que caiba neste espaço).