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quarta-feira, 24 de junho de 2015

COM SAUDADES DELE

Eu o conheci solteiro. Meses depois ele se casou e participei daquele casamento cantando no coral. A esposa dele era a regente. Um ano e pouco depois eu me casei e nossas famílias se tornaram muito amigas. Nossos filhos eram amigos e só não cresceram juntos porque eu me mudei para o interior e eles ficaram em São Paulo. Qualquer coisa era motivo para nos reunirmos. A bem da verdade, nós íamos mais vezes à casa deles do que eles vinham à nossa.
Reunir as famílias era um evento. Era uma eucaristia. Comida repartida, orações feitas, cânticos entoados e muita, mas muita risada. Ele era um especialista em fazer trocadilhos com as palavras e em fazer humor com coisas triviais.
Eu fui seminarista na igreja onde ele era membro e ocupava cargos. Sempre admirei nele a capacidade de separar a nossa amizade da sua função de presbítero e tesoureiro. Na política eclesiástica que dominava a denominação naqueles tempos, eu estava na oposição e ele na situação e isto nunca foi empecilho na nossa amizade, ainda que, sabia de gente que perdeu amizades por causa daquela disputa interna. A nossa se fortaleceu pelo respeito dele para comigo e pelo respeito que com ele aprendi a ter por ele.
Extremamente ético, certa feita deixou um emprego por não concordar com certas práticas. Ficou um tempo desempregado, justamente logo depois que comprou a sua casa. Eu o vi comendo o pão amargo de um desemprego prolongado.
Seu filho mais velho tornou-se médico. Um dia, à mesa jantando em família, diante de um fato, o filho disse: precisamos ver isto com urgência. No outro dia o levou para exames e descobriu-se um câncer agressivo que o levou à mesa de cirurgia e retirou dele parte do intestino.
Nesta fase, recebo uma ligação da família de que o Adilson queria conversar comigo e se podiam vir no sábado para visitar a mim e minha família. Entramos em uma sala reservada, e ele me disse: “vim para agradecer pela amizade e para despedir-me de você”. Fiquei perplexo.
Eu tinha duas alternativas: ou tentava dizer que ele estava enganado e que se restabeleceria ou aceitaria sua palavra. Decidi pela segunda: “você nunca mentiu para mim e não acho que está mentindo agora. Vou acreditar em você.” Foi uma longa conversa entre dois homens que aprenderam a se amar e se respeitar como homens. Oramos juntos agradecendo a Deus pela nossa amizade e pela amizade de nossos filhos. Alguns meses depois ele faleceu.
Há mais de um mês recebi um e-mail do seu filho médico, recordando o dia em, que, em uma Veraneio que chamávamos de Jabiraca (que um médico me havia emprestado quando perdi meu carro por causa de um seminarista), fomos ao estádio assistir a um jogo de futebol. Foi uma farra. Dois pais que eram de “deixar a rédea solta” e seis filhos, três homens e três mulheres extasiados com a oportunidade. O e-mail mexeu comigo e não consegui responder. A saudade dele bateu em mim e travei.
Para escrever estas linhas, as lágrimas correm, mesmo depois deste tempo todo. A saudade dele dói em mim. Quanto mais deve doer no Marco Aurélio, Maristela e Márcio Henrique e na sua esposa, Marycleme. Ao Adilson, quem foi um amigo mais chegado que um irmão, a minha gratidão pela amizade.
Marcos Inhauser

GUITARRAS E MAPAS

Recebi o seguinte artigo de um amigo, Abimael Cereda Júnior, que editei e o publico aqui, por apresentar algo que nunca havia pensado.
“Não importa o estilo musical que você gosta de ouvir, consumir ou apreciar. Com certeza você já prestou atenção em um guitarrista de blues. Poderíamos ficar horas discutindo – e alguns até brigando – para chegar a nenhum consenso sobre qual seria o melhor do mundo.
Mas, neste momento, pense naqueles guitarristas que, ao tocarem, estão mais que transferindo energia aos dedos e palheta. Artistas que, ao criarem uma música ou interpretarem uma canção, vão além da execução de notas dispostas na partitura; pessoas que utilizam o ‘instrumento’, ‘cabos’ e ‘amplificador’ não como simples equipamentos, mas como extensão do corpo para realizar algo que organicamente não se tem. Chamamos isto de técnica.
B.B. King não nasceu com cordas nos braços ou amplificador no corpo, mas transformou madeira, metais e eletroeletrônicos em extensão física, para além de sua mente e alma: e a chama de Lucille. Coloca em cada nota e bend não só a urgência desta no lugar certo, no momento correto. Sente, analisa e interpreta e utiliza a caixa de ferramentas disponível em seu cérebro.
Você pode entrar em um site, comprar uma guitarra, pedais, amplificador, guias de aprendizado, um ‘jogo’ interativo para o videogame, acessar vídeos na Internet ou mesmo comprar revistas e sair tocando sua música ou riff preferidos; aprenderá técnicas, acordes, dinâmica e tempo. Mas quando e como você atingirá o nível de interpretação daquele que brinca com os sons e, de repente, está criando novidades?
Quando se criam mapas, seja para o cálculo do melhor caminho para a loja mais próxima, para auxílio dos gestores públicos na definição da aplicação de recursos ou para a denúncia sobre um problema em seu bairro estamos utilizando técnicas de Análise Espacial e o mesmo fenômeno dos guitarristas ocorre.
Você pode adquirir o melhor hardware disponível no mercado (desktops, notebooks, smartwatchs); pode adotar mais que um software e uma Plataforma Tecnológica que permite a utilização de técnicas e métodos para coletar, armazenar, modelar, analisar e compartilhar seu problema de negócio – desde a localização dos seus clientes, cálculos de risco ambiental, proposição da criação de uma nova escola; contudo, a componente principal continua sendo o músico
Poderíamos abolir o termo ‘usuário’ e usar ‘cidadão’. Afinal, mapas pressupõem a representação – mesmo que ilustrativa em algumas situações – do Território, vivendo o Lugar.
Temos urgência por respostas territoriais “no local certo, no momento certo”. A utilização da Inteligência Geográfica – integração da Geografia e Tecnologia – pode trazer estas respostas, assim como um guitarrista constrói a melodia pela continuidade de suas notas e, desta construção, a transformação. E, um mapa, vale mais que mil imagens e tabelas.
Ferramentas tecnológicas são aplicadas à Ciência Geográfica desde seu início. Antes a extensão que precisávamos eram bússolas (e alguns pássaros já nascem com ela), barbantes, criação de projeções para planificação, nanquim e tantos outros instrumentos. Hoje, podemos empoderar toda a sociedade como construtora do seu Espaço pelo uso da Inteligência Geográfica.
E então? Tocar é somente técnico? Não. Analisar o Espaço Geográfico utilizando extensões tecnológicas? Muito menos. B.B. King ao interpretar o que talvez seja uma de suas músicas mais conhecidas – Thrill Is Gone – desvela uma nova história a cada show. Que possamos revelar e construir um novo mundo, em plena transformação, que vive em uma relação dicotômica de estabilidade dinâmica. Construamos o Novo!


quarta-feira, 10 de junho de 2015

ESSA É A MIRANDA!

Brasileira, filha de chineses e vivendo agora na China, eu a conheci em Beijing. Estávamos visitando nossa filha e a acompanhamos à sua loja. Cansado de ouvir tantas mulheres conversando, tinha me desligado do entorno. A certa altura ouvi um papo animado em português. Era minha filha, minha esposa e mais alguém que não reconheci a voz. Fui ver quem era e assim a conheci.
Entrei na conversa e soube que ela vive há quase 10 anos em Beijing. Casada com um alemão, já rodou pelo mundo. Quando estávamos em um aniversário, alguns dias mais tarde, e todos falavam inglês e eu minha esposa já estávamos sufocados de tanto ouvir e falar um idioma que não é o nosso. Chega a Miranda e aí a conversa ficou entre nós três. Soube que foi criada em Igreja Batista, pais severos. No dizer dela, “começou a viver quando saiu de casa e foi para a faculdade”. Trocamos experiências, mas algo começou a me chamar a atenção: a preocupação dela com os estrangeiros, especialmente os brasileiros que vivem na China. Ela está envolvida com uma associação de brasileiros  (Brapeq) e é quem, de certa forma, carrega as coisas nas costas. Seu ministério é promover eventos para que os brasileiros possam se reunir, se conhecer e estreitar os laços de amizade. Os almoços e eventos organizados pelo Brapeq são, de certa maneira, a única maneira com que muitos brasileiros que moram quase toda uma vida fora do Brasil, de manter as tradições, falar sua língua e sentir saudades juntos.  Ela se dispõe a pegar suas próprias coisas, quando necessário, abrir sua casa para eventos e passar horas organizando e preparando almoços e jantares, simplesmente pelo prazer de ver a comunidade brasileira se reunir e celebrar sua brasileiridade. Ela está envolvida nisto até o pescoço e o faz como ministério e vocação.
No meio da conversa falamos sobre ser graça e benção na vida dos outros. Há muito tempo não encontrava alguém que tivesse noção prática da graça de Deus como ela. Não havia nela teologia, conceitos, mas prática.
Durante a festa, minha esposa mencionou o quanto a Miranda estava linda e que tinha adorado sua blusa.  No dia seguinte, quando chegamos em casa, havia uma sacola com um bilhete.  Era a mesma blusa que minha esposa tinha admirado no dia seguinte.  Quando perguntei à minha filha porque ela havia enviado tal presente, a sua resposta foi simples: essa é a Miranda!
Alguns dias mais tarde, em outro evento, tinha a certeza de que ela também estaria. Não veio. Perguntei à minha filha por ela e fui informado de algo que me emocionou: a Miranda estava fazendo uma festa de aniversário para uma pessoa que nunca tinha tido uma festa bem feita. Ela se dispôs a pegar as suas coisas (cristais, taças e talheres), levar à casa da pessoa e fazer para ela o que nunca tinha recebido. A minha filha completou: essa é a Miranda!
Há muitas pessoas que fazem o que devem fazer, no entanto, há poucas que fazem aquilo que ninguém quer ou se atreve a fazer. Não fazem para aparecer, serem elogiadas, reconhecidas ou aduladas.  Fazem, pelo prazer de ajudar e trazer um pouco de felicidade aqueles ao seu redor. Fazem porque são canais da graça de Deus.

Essa é a Miranda!!!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 3 de junho de 2015

DO LIMÃO, LIMONADA

A frase é lugar comum e clichê. Sei disto. Mas não achei outra agora que melhor expressasse o que quero compartilhar.
Quem me lê sabe que já critiquei muitas vezes os conservadores. O amanhã deles é o ontem. Padecem de sonhos e de impulso criativo. O melhor seria que tudo continuasse da mesma forma eternamente. Veem o mundo como se fosse um imenso congelador onde as coisas estão para serem preservadas.
Por outro lado, há os que buscam a novidade a toda hora e em todo lugar. Nada mais emocionalmente desestabilizador que ter tudo sempre diferente a cada vez. Se cada vez que eu entrasse em casa, tudo estivesse em novos lugares, a minha vida seria um inferno. Isto me faz lembrar de um sonho que tive em um determinado momento de minha vida onde muitas mudanças estavam ocorrendo. Nele eu estava em uma cidade muito bem conhecida por mim, mas os quarteirões rodavam sobre seu próprio eixo, de tempos em tempos, e eu ficava perdido sem saber em qual rua estava e para onde deveria seguir para chegar onde queria.
Assim, há um nível saudável entre o preservar e o mudar. Se o eterno preservar é quase-morte, o sempre-renovar é loucura.
Somos abalados diariamente por mudanças, situações, eventos, perdas, tensões, trombadas (reais e metafóricas), pelo aleatório, pela incerteza, etc. Diante de tais imponderáveis temos duas possibilidades: ou resistimos ou nos flexibilizamos. Há, então, três possibilidades: sair dos fatos pior do que se entrou, sair dos fatos igual ou sair dele melhor. O conceito de resiliência vem desta capacidade de enfrentar estas adversidades e sair adiante.
Salvo melhor juízo, tenho para comigo que a resiliência me habilita a enfrentar os fatos que me abalam de tal maneira que saia deles incólume. Seria a opção de sair igual, como se o que me aconteceu não me tenha derrubado.
Tenho para comigo que as vicissitudes da vida não são para me deixar igual, mas para me mudar e me fazer melhor. Quem não aprende e melhora com os caminhos da vida é imbecil. Daí porque haver o ditado: “a sabedoria vem com as cãs” (cabelos brancos). E porque os solavancos da vida amadurecem, porque as novidades me fazem pensar e reposicionar, porque os percalços me passam lições que a escola não me ensina, tenho por eles uma certa predileção. Não que goste de sofrer. A rotina para mim é sofrimento. Gosto do novo, do desafio, da crítica, da controvérsia. Penso melhor sob pressão.
Daí, talvez, porque esteja com esta coluna há quinze anos. Ela me obriga a pensar, a produzir, a diagnosticar. Recebo e-mails me espinafrando. Certas críticas são elogio porque vindas de quem não sabe ler e entender o que leu. Um deles, que vivia me esculhambando, lia o que não escrevi e dizia que disse o que nem me passou pela cabeça. Outras vem de gente que pensa, que discorda, que apresenta argumentos, que me manda um tratado de mais de 40 páginas sobre Michel Foucault porque não gostou que o citei e como o citei.
A novidade tem o risco implícito. Se é novo posso não saber direito, posso errar ao fazer, talvez tenha que repetir muitas vezes até dominar. Assim são certos programas de computador: mudam a cada pouco e a gente tem que reaprender a usar. O conhecido não precisa de receita: sabe-se de memória. A possibilidade de erro é reduzida ao mínimo. Cozinhar arroz e feijão dificilmente eu erro. Agora, fazer um prato novo com temperos recém conhecidos é outra história.

Por isto digo: “viva a mudança”. No duplo sentido: saudando e desfrutando, fazendo do limão uma limonada!
Marcos Inhauser

ENVELHECER EM COMUNIDADE

Tenho para comigo que um dos grandes erros do cristianismo foi trocar a experiência e vivência com uma pessoa (Cristo) pela adesão a um código de verdades. O que deveria ser uma experiência diária se transforma em uma ideologia religiosa onde a discussão ganha vitamina por querelas doutrinárias, cada qual defendendo o seu ponto de vista.
A vida cristã é mais que a adesão a um determinado conjunto de verdades. É a vivência constante e diária do amor ao próximo nas suas necessidades, no agir motivado pelo amor em direção a quem necessita de amparo, colo, ouvido, sentido de pertencimento, reconhecimento. A igreja deve ser formada por cristãos comprometidos com Cristo e com o próximo, beneficiando-os pelo exercício dos dons dados por Deus.
À igreja não basta promover e realizar cultos, ter momentos de adoração, súplicas, confissão, mensagens. Ela não se plenifica no ministério de um pastor ou sacerdote. Não é o número dos congregantes que transforma a reunião em igreja, a plateia em congregação. O mais importante elemento na vida da comunidade é a comunhão dos seus membros. Uma igreja deixa de ser igreja quando há alguém dentro dela que não se sabe o nome, não se conhece as suas lutas e problemas. Os membros da comunidade vêm trazendo suas dores e perguntas e é na comunhão que possibilita o compartilhar, o abrir o coração, que se tem respostas de fé para cada uma das necessidades.
Nos aglomerados religiosos, nas mega-igrejas, ninguém conhece ninguém. Se alguma resposta é dada a algum dos problemas específicos que este ou aquela tem, é por acaso. Nas pequenas comunidades, nos pequenos grupos há pertencimento. Cada um dos que participa percebe sua importância para a comunidade porque percebe o cuidado dos demais para consigo e, ao mesmo tempo, pode ser de ajuda aos outros. A vida vivida em comunidade se torna, pois, significativa no duplo sentido: sou ajudado a significar a minha vida e ajudo aos demais a significar as suas.
Há a metáfora da família que se usa para descrever a comunidade dos cristãos. Ela mostra que na igreja deve haver a relação fraterna, igualitária, respeitosa, onde o amor incondicional deve ser a tônica. Na igreja, as barreiras de cor, gênero, idade são transpostas. As crianças vivem em companhia com os jovens e anciãos. Negros, pardos, brancos e amarelos juntos podem ter comunhão. Há na convivência da diversidade que a igreja propicia, uma riqueza ímpar porque possibilita a troca de ensinamentos vindos das mais variadas fontes. A criança e o jovem aprendem do velho e este é levado a pensar na sua experiência e reformular seus conceitos à luz do momento atual, porque para isto é desafiado pelos mais novos a quem ama. Os mais novos têm as respostas às suas inquietações dadas pelos mais velhos porque estes já passaram pelos caminhos que agora aqueles estão passando.
O envelhecer solitário é dramático e traumático. O envelhecer em comunidade e em família é abençoador. Ter uma comunidade onde se possa envelhecer e ao mesmo tempo, sentir-se amado e útil, é cereja no bolo da vida. 
Marcos Inhauser

INTERNET OU INTRANET?

Acabo de voltar da China onde fiquei por duas semanas. Já havia estado lá outras vezes. Fui acreditando que de lá poderia fazer algumas coisas via internet, tal como bancos, e-mails, ler notícias, ligar via Skype para falar com familiares no Brasil. Eu já sabia das dificuldades que poderia enfrentar, mas, confesso, me surpreendi com as que enfrentei desta vez, muito maiores que da última vez, onde um VPN resolvia as questões de acesso internacional.
Se você quiser usar a internet para acessar sites chinês, trocar mensagens, ler e-mails ou ler notícia chinesas, não há problemas. Nunca fiz isto por causa da barreira do idioma, mas com quem trabalhei mais de perto e me relacionei, dizem que não enfrentam problema algum com a navegação.
Quando tentei acessar sites de notícias brasileiros, ler meus e-mails, ver minha conta bancária, começava o suplício. Tudo que não tivesse terminação ".cn" ficava rodando e rodando e depois dava a mensagem de que se esgotou o tempo de conexão. Tentar acessar o Facebook era impossível. Fazer pesquisas no Google também. A alternativa que mais funcionava era usar o "bing.com".
Quando tentava usar o VPN, às vezes conseguia uma conexão e acessar algo fora da China, tal como notícias ou Skype. Depois de um tempo, a conexão caía e era impossível reconectar. Parece que, quando detectavam o uso do VPN eles bloqueavam a conexão.
Há gente oferecendo VPNs exclusivos para romper as barreiras da internet na China, mas a informação que tenho é que não entregam com regularidade o que prometem. É uma briga de criar novidades e esperar algum tempo para que a porta se feche.
Pesquisando sobre o assunto se descobre que estas restrições começaram depois de uma série de reportagens de jornalismo investigativo que mostraram o dinheiro que dirigentes do Partido tem/tinham em contas fora da China. Os números rodavam em torno de US$ 160 bi e envolviam altas autoridades. Os resultados desta investigação foram vários: um deles foi a barreira imposta ao acesso dos chineses aos sites internacionais de notícias. Outro foi uma onda de prisões de ministros e altas autoridades do partido, com vários sentenciados à morte ou prisão perpétua.
Há quem diga também que há temor das autoridades chinesas com a replicação na China dos movimentos populares havidos no mundo árabe e Egito, onde as redes sociais foram usadas para alavancar apoios e protestos. Impedir o acesso a estas redes sociais que tem suas sedes fora do alcance das autoridades chinesas foi uma das formas. Por não querer se submeter aos ditames desta regulação o Google "brigou" feio e preferiu não ceder e por isto está barrado.
Há estudos e gente da área que tem dito que a China estaria utilizando uma nova técnica, o "grande canhão", para atacar sites. Isto permite colocar sites fora de serviço, usando o conceito da "Great Firewall", o nome dado ao sistema de supervisão e censura da internet de Beijing, segundo relatório do Citizen Lab da Universidade de Toronto.
"O 'grande canhão' não é apenas uma extensão da 'Grande Muralha', mas trata-se de uma técnica de ataque diferente que desvia o tráfego" em direção ou a partir de um endereço IP pessoal, acrescentam os universitários, que foram acompanhados nesta investigação pela Universidade da Califórnia e de Princeton.
Por ele a China coloca fora de funcionamento "sites espelho" que oferecem conteúdo bloqueado pela internet chinesa, como o New York Times.
Os investigadores do Citizen Lab dizem que encontraram "provas irrefutáveis de que o governo utiliza o "grande canhão", algo negado pelo governo chinês. 
Assim, a China tem uma intranet (net interna). Quem quiser internet, vai ter que aprender a driblar muito para poder marcar um gol.
Marcos Inhauser

O DESODORANTE DEVERIA SER OBRIGATÓRIO

É a terceira vez que passo pelo aeroporto de Dubai. Já estive em muitos outros, alguns considerados os maiores do mundo (Chicago, Nova York, Atlanta, Frankfurt, etc.). Todos eles têm suas caraterísticas e seu jeitão de ser.
O que me chama a atenção no de Dubai é que, como em nenhum outro, se dá a confluência de culturas e raças em profusão. Sendo um hubble que liga Oriente e Ocidente, que traz passageiros do norte e do sul, Dubai é um cadinho de gente das mais diversas religiões, vestimentas, cabelos, modos e línguas.
Passar algumas horas neste aeroporto é menos cansativo que passar em Frankfurt, por exemplo. Para quem gosta de ver e analisar pessoas, Dubai é um prato cheio por causa do desfile de cores, cabelos, penteados, chinelos, sapatos, famílias e, pasmem, cheiros.
Desta vez tive a experiência de cruzar algumas vezes com um grupo de homens, todos vestidos com os mesmos trajes (não iguais, mas semelhantes), vindos de uma mesma etnia e região, e todos (acredito) sem nunca ter usado na vida um desodorante. Era uma nuvem de cecê vencido por onde andavam. O cheiro era tão forte que eu, que não tenho um olfato dos mais apurados, me senti enjoado com a fedentina.
Fiquei a imaginar como seria voar no mesmo avião ou ao lado deles, como já me tocou certa vez com dois casais de alpinistas que embarcaram no Equador de regresso à Europa. Desta vez escapei!
Mas o fato me levou a pensar um monte de coisas. Lembrei-me de haver lido há algum tempo os comentários em um blog que tratava de perfume, uma mulher que havia escrito que preferia um homem menos inteligente e perfumado a um gênio fedido. Neste quesito, ao que parece, o Einstein era Nobel da Fedentina. Não gostava de tomar banho e escovar os dentes, a acreditar-se em um dos seus biógrafos.
Já escrevi aqui sobre o Palácio de Versalhes e a inexistência de banheiros e como fediam os que ali moravam. Os escravos a abanar constantemente os reis e rainhas eram, na verdade, espantadores de mosquitos, atraídos pelo mau cheiro exalado pelas eminências. Há ainda a história de Bonaparte que escreveu um recado à sua amada, pedindo que não se banhasse porque ele voltaria em um mês e a queria o mais pronto possível e com todo o seu cheiro de mulher! Talvez por isto que foram os franceses que se aperfeiçoaram na arte de fazer perfumes.
Há uma nacionalidade que nunca vi nenhum indivíduo escovar o dente. Nos aeroportos deste país, quando escovo os meus, tenho impressão que ficam com nojo. Dão banho nas crianças na pia da cozinha, mas escovar os dentes na pia do banheiro de um aeroporto é asqueroso.
No entanto, nos dias atuais, onde já se inventou o sabonete, a pasta de dente, o desodorante e o perfume, deveria ser item básico e obrigatório para a convivência social o banho, a escovação dos dentes e o uso desodorante.
Tenho absoluta certeza de que não há Bonapartes hoje em dia e o nariz da quase totalidade agradeceria!
Marcos Inhauser