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quarta-feira, 3 de junho de 2015

DO LIMÃO, LIMONADA

A frase é lugar comum e clichê. Sei disto. Mas não achei outra agora que melhor expressasse o que quero compartilhar.
Quem me lê sabe que já critiquei muitas vezes os conservadores. O amanhã deles é o ontem. Padecem de sonhos e de impulso criativo. O melhor seria que tudo continuasse da mesma forma eternamente. Veem o mundo como se fosse um imenso congelador onde as coisas estão para serem preservadas.
Por outro lado, há os que buscam a novidade a toda hora e em todo lugar. Nada mais emocionalmente desestabilizador que ter tudo sempre diferente a cada vez. Se cada vez que eu entrasse em casa, tudo estivesse em novos lugares, a minha vida seria um inferno. Isto me faz lembrar de um sonho que tive em um determinado momento de minha vida onde muitas mudanças estavam ocorrendo. Nele eu estava em uma cidade muito bem conhecida por mim, mas os quarteirões rodavam sobre seu próprio eixo, de tempos em tempos, e eu ficava perdido sem saber em qual rua estava e para onde deveria seguir para chegar onde queria.
Assim, há um nível saudável entre o preservar e o mudar. Se o eterno preservar é quase-morte, o sempre-renovar é loucura.
Somos abalados diariamente por mudanças, situações, eventos, perdas, tensões, trombadas (reais e metafóricas), pelo aleatório, pela incerteza, etc. Diante de tais imponderáveis temos duas possibilidades: ou resistimos ou nos flexibilizamos. Há, então, três possibilidades: sair dos fatos pior do que se entrou, sair dos fatos igual ou sair dele melhor. O conceito de resiliência vem desta capacidade de enfrentar estas adversidades e sair adiante.
Salvo melhor juízo, tenho para comigo que a resiliência me habilita a enfrentar os fatos que me abalam de tal maneira que saia deles incólume. Seria a opção de sair igual, como se o que me aconteceu não me tenha derrubado.
Tenho para comigo que as vicissitudes da vida não são para me deixar igual, mas para me mudar e me fazer melhor. Quem não aprende e melhora com os caminhos da vida é imbecil. Daí porque haver o ditado: “a sabedoria vem com as cãs” (cabelos brancos). E porque os solavancos da vida amadurecem, porque as novidades me fazem pensar e reposicionar, porque os percalços me passam lições que a escola não me ensina, tenho por eles uma certa predileção. Não que goste de sofrer. A rotina para mim é sofrimento. Gosto do novo, do desafio, da crítica, da controvérsia. Penso melhor sob pressão.
Daí, talvez, porque esteja com esta coluna há quinze anos. Ela me obriga a pensar, a produzir, a diagnosticar. Recebo e-mails me espinafrando. Certas críticas são elogio porque vindas de quem não sabe ler e entender o que leu. Um deles, que vivia me esculhambando, lia o que não escrevi e dizia que disse o que nem me passou pela cabeça. Outras vem de gente que pensa, que discorda, que apresenta argumentos, que me manda um tratado de mais de 40 páginas sobre Michel Foucault porque não gostou que o citei e como o citei.
A novidade tem o risco implícito. Se é novo posso não saber direito, posso errar ao fazer, talvez tenha que repetir muitas vezes até dominar. Assim são certos programas de computador: mudam a cada pouco e a gente tem que reaprender a usar. O conhecido não precisa de receita: sabe-se de memória. A possibilidade de erro é reduzida ao mínimo. Cozinhar arroz e feijão dificilmente eu erro. Agora, fazer um prato novo com temperos recém conhecidos é outra história.

Por isto digo: “viva a mudança”. No duplo sentido: saudando e desfrutando, fazendo do limão uma limonada!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

SOU O BEM SUPREMO

Wolfhart Pannenberg, teólogo alemão, afirmou certa feita algo que outros já haviam dito com outras palavras “todos os movimentos revolucionários se tornam, de repente, conservadores, assim que fazem a revolução. Então, a estrutura estabelecida de poder se identifica muito facilmente com o bem supremo”. Traduzindo: quando os revolucionários chegam ao poder, a aura de messianismo e superioridade sobe à cabeça.
Lembrei disto nestes dias em que o Maduro (que maduro só é no nome), andou fazendo mais algumas trapalhadas, seguindo as pegadas do mestre Chávez. Mas neste saco também se pode enfiar a Cristina Kirchner e o Evo Morales.
Mas, a bem da verdade, o que me chamou mesmo a atenção foi o discurso atravessado da represidente, dizendo que a culpa da corrupção na Petrobrás é do FHC, porque, se tivessem investigado a coisa no início, a santidade dos nomeados do PT na PTrobrás não teria acontecido.
É melhor ouvir isto que ser surdo. Assim como prefiro ouvir o Maduro acusando os EUA do desabastecimento na Venezuela e de financiar a oposição que pede comida, e a Cristina suicidando o promotor antes de qualquer laudo pericial.
Na visão dos petralhas, eles são santos e o que fazem o fazem para o bem do povo, ainda que o povo não tenha visto centavos da dinheirama locupletada na estatal e em outras maracutaias. O projeto de governo do PT é o bem maior, um dogma político inquestionável e quem ousa falar contra é ameaçado com o “controle social da mídia”.
Neste contexto de “revolucionários” que se tornaram o bem supremo, a função profética da denúncia nunca é bem vista. Os ex-revolucionários agora conservadores têm a tendência em achar que nada deve ser mudado porque o que fizeram e fazem é o bem supremo. Exemplo disto é a dificuldade da represidente em destituir o Mantega e a Graça Foster, em negociar com o Eduardo Cunha e em flexibilizar o valor do reajuste do Imposto de Renda. Ela sabe o que é certo e bom para o governo e para o povo.
Os revolucionários autênticos têm a tendência em ser excelentes em diagnósticos e fracos em propostas. Parecem máquina de RX. Só dizem onde está o problema, mas as soluções são anêmicas. Estes também não gostam da função profética por explicitar a carência que têm em propor soluções.
A função profética trabalha na dialética da crítica e da ação, com o objetivo de ser fiel ao Reino de Deus. Se o profeta tende à crítica ou à ação, ele peca por ser conservador (ação engessada) ou de progressismo (crítica exagerada). No entanto, tanto um como outro se atordoam quando a voz profética diz que o “rei está nu”, que isto não é o que estão dizendo que é, que os revolucionários se transformaram em deuses promotores do bem supremo, que as propostas do progressismo são inviáveis. Não é para menos que os profetas devem ser mortos. Eles perturbam a direita e a esquerda.
Os pregadores de certezas detestam os profetas, porque lançam perguntas e questionam a segurança medíocre que passam à plateia. Os sacerdotes institucionais se arrepiam diante do profeta porque os desmascara como usurpadores do povo, movidos pela ganância e pelo engodo de que podem abençoar porque são mediadores entre Deus e os homens, tendo assim um status superior.
Fecho esta reflexão com uma citação do Alvin Gouldner: “a velha sociedade se mantém através de teorias e ideologias que estabelecem sua hegemonia sobre as mentes humanas, as quais, por isto mesmo, se submetem a ela voluntariamente, sem cruzar os dedos”.

Talvez seja aqui que se entende o comportamento passivo da sociedade brasileira.
Marcos Inhauser

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A QUESTÃO DA VIDA

Trago viva a lembrança vivida em minha infância. Minha avó materna e um tio viviam com a gente e em casa havia um fogão à lenha, centro da vida familiar. Certo dia apareceu a possibilidade de trocar o velho fogão por outro a gás. As conversas à mesa, na hora da janta (naquele se tempo ainda se jantava!) era acalorada com meu pai defendendo a novidade e os outros reticentes ou contrários. Lembro-me que um dos argumentos brandidos era que o café já não mais estaria à disposição sempre quente, pois não haveria fogo para mantê-lo aquecido.

Outro argumento era de que o feijão feito no fogão moderno não tinha o mesmo gosto do feito em fogão à lenha (até hoje ouço este argumento e não consigo entender, confesso, porque se é o calor que cozinha, qual a diferença ente os calores?).

Quando olho para trás, percebo que a questão não deveria ser se deviam ou não trocar, mas quando deveriam fazê-lo. Há mudanças que vem para ficar e não aceitá-las é ficar fora do mundo. Assim foi com a imprensa, quando muitos a acusaram de poder disseminar mentiras, imoralidades, etc. Foi assim com o cinema, a televisão, o telefone e o celular. Não é uma questão de saber se deviam ou não aceitar, mas quando deviam adotar as novidades.

A mesma questão vale para o computador e a internet. Muitos foram (e ainda são) críticos severos da modernidade, acusando tudo o que de mal está acontecendo com os filhos e casamentos. Mas parece que os críticos de então e de agora se esqueceram e se esquecem de olhar quanta coisa simplificou com as novidades. Minha avó não mais precisou rachar lenha, nós os netos não mais precisamos recolher a madeira, não mais havia panela pretejada para lavar. O café quente foi solucionado com a garrafa térmica que veio logo depois e não mais se tomou café requentado.

De igual maneira, os críticos da modernidade da internet se esquecem que ela é que possibilita uma série de comodidades. O banco online, os endereços à mão, a localização de amigos, o conversar com o mundo, o ter dados e informações na ponta dos dedos, são poucas das muitas coisas que mudou para melhor.

Toda mudança implica em riscos, em ajustes, em dores de parto até que a coisa venha à luz. Criticar a gravidez sem olhar o fruto por vir é burrice. Não há novidade, avanço, sem algumas dores.

Marcos Inhauser