A frase é lugar comum e clichê. Sei disto. Mas não achei outra agora
que melhor expressasse o que quero compartilhar.
Quem me lê sabe que já critiquei muitas vezes os conservadores. O
amanhã deles é o ontem. Padecem de sonhos e de impulso criativo. O melhor seria
que tudo continuasse da mesma forma eternamente. Veem o mundo como se fosse um
imenso congelador onde as coisas estão para serem preservadas.
Por outro lado, há os que buscam a novidade a toda hora e em todo
lugar. Nada mais emocionalmente desestabilizador que ter tudo sempre diferente
a cada vez. Se cada vez que eu entrasse em casa, tudo estivesse em novos
lugares, a minha vida seria um inferno. Isto me faz lembrar de um sonho que
tive em um determinado momento de minha vida onde muitas mudanças estavam
ocorrendo. Nele eu estava em uma cidade muito bem conhecida por mim, mas os
quarteirões rodavam sobre seu próprio eixo, de tempos em tempos, e eu ficava
perdido sem saber em qual rua estava e para onde deveria seguir para chegar
onde queria.
Assim, há um nível saudável entre o preservar e o mudar. Se o eterno
preservar é quase-morte, o sempre-renovar é loucura.
Somos abalados diariamente por mudanças, situações, eventos, perdas,
tensões, trombadas (reais e metafóricas), pelo aleatório, pela incerteza, etc.
Diante de tais imponderáveis temos duas possibilidades: ou resistimos ou nos
flexibilizamos. Há, então, três possibilidades: sair dos fatos pior do que se
entrou, sair dos fatos igual ou sair dele melhor. O conceito de resiliência vem
desta capacidade de enfrentar estas adversidades e sair adiante.
Salvo melhor juízo, tenho para comigo que a resiliência me habilita
a enfrentar os fatos que me abalam de tal maneira que saia deles incólume.
Seria a opção de sair igual, como se o que me aconteceu não me tenha derrubado.
Tenho para comigo que as vicissitudes da vida não são para me deixar
igual, mas para me mudar e me fazer melhor. Quem não aprende e melhora com os
caminhos da vida é imbecil. Daí porque haver o ditado: “a sabedoria vem com as
cãs” (cabelos brancos). E porque os solavancos da vida amadurecem, porque as
novidades me fazem pensar e reposicionar, porque os percalços me passam lições
que a escola não me ensina, tenho por eles uma certa predileção. Não que goste
de sofrer. A rotina para mim é sofrimento. Gosto do novo, do desafio, da
crítica, da controvérsia. Penso melhor sob pressão.
Daí, talvez, porque esteja com esta coluna há quinze anos. Ela me obriga
a pensar, a produzir, a diagnosticar. Recebo e-mails me espinafrando. Certas
críticas são elogio porque vindas de quem não sabe ler e entender o que leu. Um
deles, que vivia me esculhambando, lia o que não escrevi e dizia que disse o que
nem me passou pela cabeça. Outras vem de gente que pensa, que discorda, que
apresenta argumentos, que me manda um tratado de mais de 40 páginas sobre
Michel Foucault porque não gostou que o citei e como o citei.
A novidade tem o risco implícito. Se é novo posso não saber direito,
posso errar ao fazer, talvez tenha que repetir muitas vezes até dominar. Assim
são certos programas de computador: mudam a cada pouco e a gente tem que
reaprender a usar. O conhecido não precisa de receita: sabe-se de memória. A
possibilidade de erro é reduzida ao mínimo. Cozinhar arroz e feijão
dificilmente eu erro. Agora, fazer um prato novo com temperos recém conhecidos
é outra história.
Por isto digo: “viva a mudança”. No duplo sentido: saudando e
desfrutando, fazendo do limão uma limonada!
Marcos Inhauser
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