Eu o conheci solteiro. Meses depois ele se casou e
participei daquele casamento cantando no coral. A esposa dele era a regente. Um
ano e pouco depois eu me casei e nossas famílias se tornaram muito amigas.
Nossos filhos eram amigos e só não cresceram juntos porque eu me mudei para o
interior e eles ficaram em São Paulo. Qualquer coisa era motivo para nos
reunirmos. A bem da verdade, nós íamos mais vezes à casa deles do que eles
vinham à nossa.
Reunir as famílias era um evento. Era uma eucaristia. Comida
repartida, orações feitas, cânticos entoados e muita, mas muita risada. Ele era
um especialista em fazer trocadilhos com as palavras e em fazer humor com
coisas triviais.
Eu fui seminarista na igreja onde ele era membro e ocupava
cargos. Sempre admirei nele a capacidade de separar a nossa amizade da sua
função de presbítero e tesoureiro. Na política eclesiástica que dominava a denominação
naqueles tempos, eu estava na oposição e ele na situação e isto nunca foi empecilho
na nossa amizade, ainda que, sabia de gente que perdeu amizades por causa
daquela disputa interna. A nossa se fortaleceu pelo respeito dele para comigo e
pelo respeito que com ele aprendi a ter por ele.
Extremamente ético, certa feita deixou um emprego por não
concordar com certas práticas. Ficou um tempo desempregado, justamente logo
depois que comprou a sua casa. Eu o vi comendo o pão amargo de um desemprego
prolongado.
Seu filho mais velho tornou-se médico. Um dia, à mesa jantando
em família, diante de um fato, o filho disse: precisamos ver isto com urgência.
No outro dia o levou para exames e descobriu-se um câncer agressivo que o levou
à mesa de cirurgia e retirou dele parte do intestino.
Nesta fase, recebo uma ligação da família de que o Adilson
queria conversar comigo e se podiam vir no sábado para visitar a mim e minha
família. Entramos em uma sala reservada, e ele me disse: “vim para agradecer
pela amizade e para despedir-me de você”. Fiquei perplexo.
Eu tinha duas alternativas: ou tentava dizer que ele estava
enganado e que se restabeleceria ou aceitaria sua palavra. Decidi pela segunda:
“você nunca mentiu para mim e não acho que está mentindo agora. Vou acreditar
em você.” Foi uma longa conversa entre dois homens que aprenderam a se amar e
se respeitar como homens. Oramos juntos agradecendo a Deus pela nossa amizade e
pela amizade de nossos filhos. Alguns meses depois ele faleceu.
Há mais de um mês recebi um e-mail do seu filho médico,
recordando o dia em, que, em uma Veraneio que chamávamos de Jabiraca (que um
médico me havia emprestado quando perdi meu carro por causa de um seminarista),
fomos ao estádio assistir a um jogo de futebol. Foi uma farra. Dois pais que
eram de “deixar a rédea solta” e seis filhos, três homens e três mulheres
extasiados com a oportunidade. O e-mail mexeu comigo e não consegui responder.
A saudade dele bateu em mim e travei.
Para escrever estas linhas, as lágrimas correm, mesmo depois
deste tempo todo. A saudade dele dói em mim. Quanto mais deve doer no Marco Aurélio,
Maristela e Márcio Henrique e na sua esposa, Marycleme. Ao Adilson, quem foi um
amigo mais chegado que um irmão, a minha gratidão pela amizade.
Marcos Inhauser
Nenhum comentário:
Postar um comentário