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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

PASSADO COM TECNOLOGIA


Frase corriqueira, especialmente entre os da terceira idade, é que hoje em dia coisas já não são tão boas como eram antigamente. Muitos há que querem voltar ao passado, acreditando que nos idos tempos as coisas eram mais simples, mais puras, mais honestas, mais isto, mais aquilo.
Ocorre que os defensores da superioridade do passado querem o retorno sem abrir mão das facilidades do presente. Pergunte a um destes saudosistas se abririam mão dos remédios que o tempo presente oferece (especialmente os anestésicos), se deixariam de usar o fogão a gás, o chuveiro elétrico, o micro-ondas ou a televisão a cores. Pergunte a eles se estariam dispostos a abrir mão do carro, do telefone, do celular, dos e-mails, das cirurgias laparoscópicas, do frango limpo, da geladeira, freezer e outros aparatos da modernidade.
Lembro-me de uma senhora, membro da igreja que pastoreei, que vivia criticando porque estávamos usando o microfone, sistema de som, retroprojetor, piano, bateria e guitarras nos cultos. Ela encaminhou uma reclamação por escrito para a Diretoria, que me pediu que fosse à sua residência para conversar e negociar algumas coisas com ela. Ao chegar à sua casa ela começou a desfilar o rosário dizendo que o “mundo estava entrando na igreja”, que eu, como pastor, estava permitindo que as portas do inferno entrassem igreja adentro. De onde eu estava sentado via parte de sua cozinha com fogão a gás, micro-ondas, geladeira. Na sala havia um bom equipamento de som e uma televisão que eu não tinha em minha casa. Perguntei a ela pela sua saúde e ela agradeceu a Deus pelos médicos e remédios que eles tinham receitado. Assegurei-me que eram de última geração. Ao final eu propus a ela: a senhora abre mão de todas as modernidades que há na casa da senhora, volta a usar o fogão a lenha e eu retiro da igreja o que a senhora achar que é modernidade.
Não preciso dizer qual foi a reação da senhora.
Outra constante tem sido os que querem recriar coisas do passado. Estes dias vi um comercial de regravação das músicas da Jovem Guarda, com a músicas que hoje soam cafona. Eu não compraria e acho que muitos também não o fariam porque não é possível recriar o clima que produziu o movimento. Há os que querem modelos gerenciais que não mais se coadunam com nossos dias. Querem modelos educacionais baseados na decoreba, em um mundo caracterizado pela experimentação e descoberta. Querem o banco de outrora, mas o querem com os caixas eletrônicos e os extratos online.
O passado só é possível com as coisas do passado. Querer o passado com as coisas do presente é anacronismo.
Marcos Inhauser

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

“DESAFASTADOS”


Meu sogro tinha seus neologismos e um deles era este: “desafastado”.
Lembrei disto quando li a pesquisa feita pelo Grupo Barna sobre as razões para o afastamento de jovens das igrejas.
Qual a razão pela qual mais da metade dos jovens cristãos abandona a igreja? A maioria deles vê a igreja como lugar pouco amigável e cheio de julgamento. Eles alegam que a Igreja é superprotetora e exclusivista.
A juventude de hoje possui acesso a ideias e visões de mundo como nenhuma outra geração teve. Eles se sentem amadurecidos para decidir e escolher o que lhes convêm e não estão dispostos a ser tutorados neste processo.
Para muitos deles, esta tutela é sufocante porque baseada no medo e na aversão ao risco. 25% deles dizem "os cristãos demonizam tudo o que está fora da igreja, e que esta ignora os problemas do mundo real. Gastam energia falando mal de filmes, internet e certos tipos de lazer, mas não combatem as injustiças sociais.
A segunda razão é que a igreja oferece uma experiência cristã superficial:  algo falta na sua experiência com a igreja. "A igreja é chata" (31%); 25% disseram que "a fé não é relevante para a carreira profissional";  24% acham "a Bíblia não é ensinada com clareza"; 20% disseram que "Deus parece ausente da minha experiência de Igreja".
A terceira razão é que a igreja é antagônica à ciência.  Sentem a tensão entre cristianismo e ciência. As percepções mais comuns nesta área são "Os cristãos sabem todas as respostas"(35%); 34% sentem que "as igrejas estão em descompasso com o mundo científico; 25% abraçam a ideia de que "o cristianismo é anticiência".
A quarta razão é que a igreja é trata o sexo é de maneira errada. Tendo acesso à pornografia digital e vivendo em uma cultura de hiper-sexualidade, os adolescentes cristãos estão lutando em como viver vidas significativas em termos de sexo e sexualidade. Um estresse para muitos é como viver de acordo com as expectativas da Igreja (castidade e pureza sexual), especialmente porque casamento agora é adiado bem mais tarde. 17% disseram que "cometeram erros e são julgados pela igreja por causa deles; 40% disseram que "os ensinamentos da Igreja sobre a sexualidade e controle de natalidade estão desatualizados.
O resultado da pesquisa foi publicado no livro “You Lost Me: Why Young Christians are Leaving Church and Rethinking Faith” [Por que os jovens cristãos estão abandonando a Igreja e repensando a fé], de David Kinnaman, que envolveu entrevistas com 1.296 jovens (norte-americanos) que são ou já foram membros de igrejas.
Parece que a igreja não se apercebeu que estamos em pleno séc. XXI, que revoluções culturais, políticas e sociais aconteceram e que não se pode estar repetindo modelos do século XVI. O mundo mudou de maneira significativa, como acesso cada vez maior a todo tipo de informação, teologias e ideologias, o que faz crescer o ceticismo quanto a figuras de autoridade, incluindo o cristianismo e a Bíblia.
Marcos Inhauser


CRIANÇAS TERCEIRIZADAS


Celebra-se hoje o Dia das Crianças, invenção mais ou menos recente. No Brasil foi "inventado" por um político, o deputado federal Galdino do Valle Filho, quem teve a idéia de criar um dia em homenagem às crianças, isto na década de 1920, o que foi oficializado por Arthur Bernardes no dia 5 de novembro de 1924. No entanto, foi somente em 1960, quando a fábrica de Brinquedos Estrela fez uma promoção conjunta com a Johnson & Johnson para lançar a "Semana do Bebê Robusto" e aumentar suas vendas, é que a data passou a ser comemorada. A estratégia deu certo e se perpetuou e o comércio agradece.
Alguns países também comemoram o Dia das Crianças em datas diferentes. Na Índia, a data é  15 de novembro. Em Portugal e Moçambique, ela acontece no dia 1º de junho. No dia 5 de maio é a vez das crianças da China e do Japão. Muitos países comemoram o Dia das Crianças em 20 de novembro, já que a ONU reconhece esse como o Dia Universal das Crianças, data em que também é comemorada a aprovação da Declaração dos Direitos das Crianças.
Philippe Ariès, em seu livro “História da Criança e do Adolescente”, revela que na Antiguidade a criança não era tomada em conta socialmente. Tal se dava porque as famílias costumavam ter muitos filhos e não havia porque comemorar algo tão comum. Com a diminuição da taxa de natalidade, famílias passaram a ter um ou dois filhos e perceberam a necessidade de celebrar este evento, fazendo comemorações de aniversário e tirando fotos em quantidade, na tentativa de “congelar” algo que era raro.
Ele também aponta para o fato de que, na antiguidade não muito distante, as pessoas tinham em suas casas retratos dos avós ou pais, porque alguém que chegasse a uma idade avançada era raridade, haja vista o baixo nível de expectativa de vida.
O que me preocupa nos tempos que vivemos é que, se na antiguidade a criança não era tomada em conta pela quantidade delas, se depois se passou a celebrar os aniversários e a arrumar datas festivas para presentear as crianças, tem-se também um crescente processo de terceirização da formação e educação dos filhos. Cada vez mais há menos pais e mães dispostos ou com tempo para criar seus filhos. Cada vez mais há gente sendo contratada para “amar os filhos no lugar dos pais”, para ensinar valores e colocar disciplina.
O que se pode ter disto é um processo de massificação, onde a individualidade formada no contato único da relação pai/filho, mãe/filho passa a ser moldada no padrão comportamental imposto por um regulamento/metodologia escolar comum a todos os demais que participam do mesmo grupo.
Marcos Inhauser

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A FARSA GIRATÓRIA


O recente episódio de um “segurança” (estou sendo irônico) do Bradesco que matou um cliente porque este foi questioná-lo sobre o fato de o haver barrado na porta giratória no dia anterior, é a crônica de uma tragédia anunciada.
No dia 13/02/2008 escrevi neste espaço sobre a “Humilhação Giratória”, onde dava exemplos concretos e pessoais de situações em que comprovei que as portas giratórias de muitos bancos são uma farsa. Aconteceu de novo comigo nesta segunda-feira.
Tal como faço há mais de 10 anos, fui à agência do Bradesco no Jardim do Trevo. Vestido com uma bermuda e chinelo, somente com a chave do carro à mão e um relógio no pulso, fui barrado pela “giratória”, devidamente acionada pela “otoridade”. Fiquei indignado, mas coloquei a chave na caixa e novamente fui barrado. Não havendo nada mais que pudesse “ser detectado”, a “otoridade” me liberou. Conversei com o funcionário sobre um problema com o caixa eletrônico e fui orientado a voltar ao caixa. Assim procedi e em menos de cinco minutos tentei regressar ao interior, tendo sido novamente barrado. Indignado, fiquei parado, travando a porta até que um funcionário viesse me atender. Ele me perguntou se era cliente do banco, disse que sim e ao passar pela porta, novamente fui barrado. Ele pediu à “otoridade” que me liberasse. Fui pedir explicações a um funcionário graduado da agência que me disse que as chaves foram detectadas. Eu lhe perguntei por que nunca me pararam antes, se ao menos três vezes por semana entro na mesma agência com a chave no bolso. Ele olhou para o meu pulso e disse que era por causa do relógio. Argumentei que entrava com o mesmo relógio e chave há anos. As explicações foram simplistas e simplórias.
Na mesma agência já entrei com celular e Ipod no bolso da calça, sem que os mesmos tenham sido detectados. Quando, por mais de uma vez, para fazer testes, fiquei com o celular na mão, fui barrado. E isto sempre na mesma agência. Já tentei entrar com o case do meu RayBan na cintura e me barraram, mas o RayBan no bolso da camisa ou sendo usado não é detectado.
Disse e digo. Afirmei e reafirmo. Em muitas das agências bancárias não existe detector de metal. O que existem são umas “otoridades” com a arma do controle remoto na mão, fazendo a seleção visual dos agraciados e castigados. Notem como eles sempre estão com a mão no bolso ou dentro do colete. São eles os “detectores de metais”.
No dia 8/12/2010 escrevi aqui, ao comentar a diferença das agências bancárias do Brasil e da República Dominicana: “Não havia a maldita porta giratória, mentira de detecção de metais existente na grande maioria das agências, que se trava segundo a vontade de um mal treinado segurança. Na verdade as portas giratórias detectam negros e mulheres, quase sem exceção parados e depenados de seus pertences antes que possam entrar.”
Só tenho uma explicação para o que aconteceu ontem: houve uma detecção de bermuda, chinelo e óculos escuro.
Marcos Inhauser