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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

OS SAGRADOS TRABALHO E DESCANSO

Se o trabalho é um direito, o descanso também o é. Vivemos tempos em que o trabalho tem sido escasso em muitas partes, onde taxas de desemprego são altas, como ocorre na Europa, especialmente na Grécia, Espanha e Portugal. O desemprego dos jovens é ainda mais alto, o que impede a realização pessoal, mata os sonhos e cria frustrações.
O Estado reconhece o trabalho como fonte de riqueza, como direito e dever social. Ele deve promover as condições que eliminem a pobreza e assegurem por igual aos habitantes a oportunidade de uma ocupação.
Na relação de trabalho fica proibida qualquer condição que impeça o exercício dos direitos trabalhadores, que desconheça ou rebaixe sua dignidade. O trabalho obrigatório (sem o consentimento do trabalhador) caracteriza-se como trabalho escravo e deve ser condenado.
Depois que inventaram o notebook e o celular, o trabalhado passou a ser de tempo integral. Não são poucos os que vivem conectados, fazendo extensas jornadas, algumas delas feitas sem o consentimento do trabalhador. Há muitos que, trabalhando como escravos, o fazem pensando na promoção que poderá vir caso se mostrem comprometidos.
Aliado a isto está a globalização que permite e requer contatos com todas as partes do mundo. Quem tem que se contatar com a China ou Coréia, não poucas vezes, tem que fazê-lo de madrugada.
Se trabalhar é necessário, o repouso também o é. A instituição de um descanso depois de seis dias de trabalho é algo milenar. Esse descanso é algo tão divino e necessário, que a Bíblia afirma que o próprio Deus descansou. Ele, na Bíblia, estava determinado não só para os seres humanos, mas também para toda a criação (os animais e os campos). O dia de descanso, mais que uma questão religiosa e cúltica, é uma questão de justiça social e de valorização da vida e do trabalho.
Levíticos determina que durante seis anos semear-se-ia a terra e se recolheria seu fruto. Mas durante o sétimo ano, se deixaria descansar, sem cultivar, para que comessem os pobres, as viúvas e os órfãos. Idêntico procedimento teria com o vinhedo e as oliveiras. Aqui se trabalha o conceito do descanso para a terra e para o ser humano. Entendo que no sistema capitalista, se aperfeiçoou a exploração de tal maneira que temos, em alguns setores, o descanso que é aproveitado para outra atividade como forma de se aumentar a renda.
O descanso vem como tempo de contemplação da obra realizada. Trabalhar, produzir, sem poder olhar e gozar do que se produziu, é escravidão. Trabalhar sem ter sábado é morrer. Trabalhar sem descansar é morte. O trabalho tem limites. O gozar a vida é parte do próprio viver."
Quem paralisa o trabalho e descansa, participa do ser e do atuar de Deus. Negar-se ao trabalho, ao menos em um dia, é corresponder ao criador. E "se Deus é por nós, quem será contra nós" (Rm 8.31). Quem, pois, obedece aos babilônicos, quem ceda às pressões e trabalha o sábado, abandona a Javeh. Assume a idolatria. Aqui, trabalho nos dias sábados e idolatria são sinônimos, como o veremos mais adiante com uma precisão maior.

É o descanso para as mãos, para o corpo. É espaço no qual caem as cadeias. 
Marcos Inhauser

SÓ NA BENÇA!!!

Há não muitos dias fui a um supermercado da periferia, pois precisa de dois itens para levar ao grupo de estudo. Acerquei-me à banca de frutas para pegar alguns limões e ouvi o seguinte diálogo:
Boa tarde irmã!
— Oh! irmão. Boa tarde. Como vai o irmão?
— Tô na bença. Só na bença. E a irmã?
— Eu também. Bença pura!
— A irmã ainda congrega naquela igreja?
— Sim irmão, mas tô pensando em ir prá outra igreja.
— Por que, irmã?
— O “obrero” de lá é muito pidão. Todo dia pedindo dinheiro prá alguma coisa. É prá pagar a luz, a água, a gasolina, o aluguel, o “pograma” de rádio. Se a gente for dar “toda veis” que ele pede, a gente passava fome. Não ia sobrar prá nada!
— Tem “obrero” que só pensa no “dinheiro”.
Demorei para me afastar porque a senhora me impedia o acesso aos limões e eu estava interessado na conversa. Depois de mais algumas perguntas e respostas, ele perguntou:
— A irmã tem notícia do irmão Antonio? Nunca mais soube nada dele.
— Não, não tenho sabido de nada. E o irmão sabe do irmão Geraldo que andava com ele? Ele também sumiu. Fiquei sabendo que ele foi mandado embora do trabalho. Ele tinha muito tempo de empresa.
— Pois é, irmã. O Geraldo foi mandado embora, pegou uma bolada e decidiu abrir um ministério só prá ele. Alugou um salão, abriu uma igreja e a coisa tá indo bem.
— Verdade irmão?
— Ele tá com o ministério dele não faz um ano. Ele já conseguiu comprar uma casa prá ele, só com o trabalho na igreja. Ele montou uma loja de CDs evangélicos na igreja, vende Bíblias, adesivos de geladeira.
— O irmão Geraldo é um homem espiritual, de oração. Ele fala “bunito” e prega só na Bíblia. Deus tá abençoando ele!
— É verdade irmã! Mas tem gente que tá fazendo muito dinheiro sendo pastor.
— O da minha igreja já deve estar rico, ao menos pelo que ele pede e o povo dá. Só que ele não mostra o que tem. É sabido! Anda com o mesmo carrinho velho, mora na mesma casa. De repente a riqueza aparece!
— Tenho que ir, irmã! Fica na bença!
— O irmão também. Vai na bença. Um dia vou lá ver o ministério do irmão Geraldo. Capaz até de mudar prá igreja dele.
Não preciso fazer comentários. A conversa é autoexplicativa e revela o grau de comercialização que a fé se transformou em segmentos bem identificados.
Foi-se o tempo em que igreja era coisa séria, dirigida por gente capacitada, formada em teologia sob a supervisão de um tutor, período experiencial e só então era ordenado.
 Marcos Inhauser

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

UM FILHO EXEMPLAR

Filho de um casal que, assim como tantos outros, teve seus problemas financeiros e de relacionamento, ele tinha tudo para ter uma adolescência rebelde e ser um filho problema. Mas desde cedo mostrou que tinha objetivos para a sua vida e os perseguiu.
Alistou-se na Aeronáutica pois queria fazer a carreira militar e ser piloto. Assim fez e assim aconteceu. Seus pais se separaram e ele sempre teve um carinho muito grande pelos dois. Por causa da carreira militar, mudou-se muitas vezes. Casou-se, teve uma filha.
A mãe não tinha uma casa para morar e ele e a esposa decidiram ajudá-la na construção de uma. Mais tarde, para que a mesma pudesse ter uma renda para sua aposentadoria, eles a ajudaram a construir dois pequenos apartamentos para aluguel.
Seu pai foi morar no extremo oeste do país. Quando soube que ele estava doente, saiu de sua base e foi para lá. Havia problemas para que ele recebesse atendimento médico, providenciou para que fosse atendido da melhor maneira possível. Ficou com ele alguns dias. Dias depois o pai faleceu e novamente foi para lá para ter certeza de que teria um sepultamento digno.
Quando tiveram a filha, o casal decidiu que adotaria um filho. Fizeram a inscrição na lista de adoção e ficaram na fila de espera. Nada de chamarem.
Estavam morando no extremo sul do país e foram removidos para o norte. Um dia, tocou o telefone e era o pessoal do sul dizendo que tinham uma criança para ser adotada. O coração deles saltou. A pessoa que ligou disse: “Só que há um problema. A criança tem um ano e meio e é aidética. Setenta e cinco pessoas que estavam na lista de espera para adoção se recusaram a adotá-la.”
Imediatamente eles responderam que sim, que queriam adotar a criança mesmo sendo aidética. Saíram do norte do país, foram ao sul para ver a criança e iniciar o trabalho de familiarização para ver se a criança se adaptava com a família. O encontro foi mágico. Ao ver a Juliana, a criança estendeu os braços e se atirou, como se ela fosse a verdadeira mãe.
Dias depois, permitiram que o casal levasse a criança para casa, ainda no sul, para ampliar o processo. No processo de saída do orfanato o Bruno pergunto quais eram os remédios que le tomava e que deveria continuar tomando. Para seu espanto e da Juliana, eles lhe disseram que a criança estava há dois sem medicamentos porque o Estado não os entregava.
Ele saiu dali, foi ao consultório de uma médica amiga do casal, fez a consulta, pegou a receita e foi à farmácia comprá-los. O casal assumiu o compromisso de que, desse certo ou não o processo, aquela criança nunca mais teria a falta dos remédios.
Ainda não sei se a adoção deu certo. O processo está correndo esta semana. Decidi compartilhar a história para que que se saiba que há gente decente, bondosa e filhos exemplares. Há casais dispostos ao sacrifício para que uma criança tenha um lar, mesmo depois de ter sido recusada por setenta e cinco outros casais.

P.S. Depois de haver escrito e publicado esta coluna, recebi a notícia de que o casal conseguiu a adoção do menino aidético. Mas a história não para aí. No dia seguinte à adoção sacramentada descobriram que a Juliana está grávida do seu segundo/a filho/a.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

IMAGINE SE...

Estamos às voltas do imbróglio armado pelas revelações do Snowden sobre o amplo e, ao que tudo indica irrestrito, sistema de espionagem montado pelos Estados Unidos para bisbilhotar a vida de cidadãos comuns, governos e empresas.
Por trazer à luz parte do que fizeram (e ainda fazem), o antigo funcionário da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, foi considerado traidor e sua cabeça está a prêmio. Quando pediu e recebeu asilo político na Rússia, a concessão estremeceu as relações entre os dois países, pois agora, não só o Snowden era traidor, como também a Rússia traíra a confiança dos Estados Unidos.
Por causa dele, e baseado em “leve suspeita”, bloquearam o espaço aéreo da Europa para o avião presidencial da Bolívia, pois imaginavam que Evo Morales tinha ido à Rússia para trazer para sua terra o “traidor”.
O mesmo fizeram com o Assange, quem, em um ato de coragem e serviço público, publicou milhares de documentos secretos dos Estados Unidos. Para tentar colocar a mão nele até arrumaram uma prostitua sueca que alega que foi abusada por ele. Asilado na Embaixada Equatoriana na Inglaterra, não recebe o salvo-conduto para sair da Embaixada e ir ao aeroporto e assim chegar ao seu destino de asilado.
O soldado estadounidense, Bradley Manning que entregou os documentos foi identificado, julgado como traidor e pegou 35 anos de prisão.
Agora, imagine o reverso.
Imagine que um brasileiro tivesse conseguido entrar nos e-mails do Barack Obama e bisbilhotado a correspondência dele. Imagine que outro tivesse entrado nos computadores da IBM e roubado segredos industriais. Ou que uma Agência Brasileira ligada à Petrobrás tivesse entrado e obtido dados estratégicos sobre as reservas de petróleo dos Estados Unidos. Qual seria a reação deles?
Seria a de mandar um comunicado abominando as invasões cibernéticas? Mandariam um subchefe de alguma coisa para dizer que não gostaram? Esperariam uma semana para ter os esclarecimentos por escrito? Mandariam o Secretário de Estado para conversar e receber explicações de uma “sub alguma” coisa relacionada à inteligência?
Que nada!
De forma veemente e violenta retaliariam nas relações comerciais com o Brasil, sobretaxariam nossos produtos para o mercado estadounidense, fariam um auê dos infernos!
Mas, o lulo-dilmismo-petismo esbravejou para o público externo e mandou o Ministro das Relações Exteriores para Washington para ter uma conversa com a sub alguma coisa, e voltarão dizendo que as explicações dadas foram satisfatórias e que elas, por razões de segurança não podem ser explicitadas para o grande público.
E lá vamos nós. Engolindo sapos e arrotando presunto!

Marcos Inhauser

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

INTELIGÊNCIA E DIPLOMACIA BRASILEIRAS

Não é de hoje que me pergunto sobre o serviço de inteligência do governo brasileiro. Desde os tempos do mensalão eu me perguntava, diante das sucessivas e repetidas afirmativas do Lula dizendo que nunca soube nada e que não sabia de nada, para que serve um serviço de inteligência e, existindo um (regiamente pago), o que anda fazendo o pessoal dele encarregado.
A pergunta mais uma vez me veio à mente diante dos episódios de espionagem cibernética e telefônica desenvolvido pelos Estados Unidos (e não acredito que sejam os únicos a se dedicar a tais práticas). A cara de surpresa e o discurso do “nem desconfiávamos” que os ministros vêm apresentando, me fazem pensar que o serviço de inteligência só tem inteligência no nome. Será que não passou pela cabeça dos oficiais da inteligência que o grampo poderia atingir autoridades, mesmo com o aviso que o jornalista que tem os documentos fez meses atrás?
Veja também o episódio do senador boliviano que foi trazido ao Brasil por um funcionário de segundo escalão. Será que este funcionário nunca comunicou, falou com alguém, planejou o que faria? Se ele conseguiu mobilizar um senador brasileiro, uma empresa de jatos executivos que lhe “emprestou” um jatinho, se conseguiu ter dois guardas escoltando, se usou carro oficial, como não sabiam?
Quando um ministro é pego com a mão na botija, ou alguém é indicado para um cargo e vem a imprensa mostrar os descalabros já cometidos, será que a inteligência não vasculha a vida pregressa das pessoas a serem nomeadas e avisa o primeiro escalão que vão entrar em fria? Nos casos Renan, Padilha, o Romero Jucá, o Edison Lobão e tantos outros.
Por outro lado, parece que a diplomacia brasileira usa o mesmo serviço de inteligência. O imbróglio em que o lulo-petismo se envolveu no caso do Zelaya, em Honduras, no apoio ao Mahmoud Ahmadinejad (o analfabeto histórico que negava a existência do holocausto), o apoio incondicional ao Hugo Bolivariano Chaves, a interferência no processo político dando apoio à eleição do filhote do Chavez, o Maduro (só no nome), as relações obscuras com a ditadura da ilha, a contratação de médicos cubanos e a criação ex-tempore do Mais Médicos para justificar este acordo com a ditadura da ilha, são alguns poucos exemplos do muito que se poderia citar e da infinidade que deve haver por baixo dos panos. Como pode ter uma complacência bovina com o Evo e a Cristina, e entrar no radicalismo de uma sanção ao Paraguai no Mercosul? Se o Paraguai não podia por questões políticas, por que a Venezuela podia?
Passo qui meu atestado de abestalhamento diante de tanta inteligência.
Marcos Inhauser


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A QUARTA ONDA

No livro "A terceira onda" Alvin Tofler defende a ideia de que a humanidade passou por uma primeira representada pela civilização agrária; a segunda que foi a civilização industrial; e a terceira, que é a cibernética. Se Tofler está certo ou não, não é o meu desejo discutir aqui.
No entanto, esta colocação levou-me a pensar na história da Igreja. Também nela pude perceber "ondas".
A primeira está ligada à fase inicial da história da Igreja, desde o Pentecoste até o reconhecimento do cristianismo pelo império romano. Nesta fase, os cristãos, perseguidos que eram, quando se reuniam, o faziam com o risco da própria vida. Não podiam, por razões óbvias, promover grandes concentrações, nem podiam promover barulho, quer através dos cânticos ou da pregação. O ponto alto das reuniões era o "ágape", refeição que constituía o fator de unidade e comunhão na Igreja primitiva. Durante o ágape, havia o compartilhar das experiências, o doutrinamento, a oração, os salmos, o louvor. Mas o ponto alto, o ponto básico, o principal era a refeição.
A segunda onda está relacionada com o período da legalidade da Igreja. As comunidades até então subterrâneas, vieram à luz. As reuniões que eram familiares, feitas nas casas, passam a ter mais de frequentadores. Surgem os templos. Edifícios majestosos foram construídos. Grandes catedrais, templos suntuosos, requinte arquitetônico, obras de artes valiosíssimas pintadas nos seus tetos e vitrôs. Foi a época áurea da arquitetura e da arte.
Os prédios e as artes passaram a ocupar o lugar do "ágape". Ia-se ao templo, lugar agradável e bonito, que convidava á meditação. Foi o apogeu da arte sacra, enquanto a teologia se perdia nos labirintos das especulações que a escolástica produziu. As construções, a arte, as esculturas passaram a funcionar como elemento catalisador da cristandade. Um afresco, um vitrô pintado, uma escultura, comunicavam uma mensagem. Atraíam os fiéis.
Veio a Reforma, que trouxe a terceira onda. Se até então as cerimônias religiosas estavam muito mais voltadas para o visual, o plástico, os reformadores, por sua volta às Escrituras, passaram a colocar a exposição delas como o ponto alto do culto cristão. Ainda que tenham inovado com a introdução do canto congregacional, a liturgia reformada elevou o púlpito ao cume.
Assim, na tradição reformada, não se concebe um culto sem a leitura e exposição da Palavra. Isto levou a Igreja a produzir grandes oradores, filólogos e gramáticos, mas quase nenhum artista plástico. Para os reformados, a única via de edificação espiritual é a da razão, pela compreensão lógica e sistemática das Escrituras Sagradas.
Esta terceira onda começou a ser abalada pela entrada da civilização televisiva. Os grandes oradores começaram a sofrer a concorrência da televisão, com seus personagens, sempre bonitos, bem vestidos, voz empostada, nunca falando alto ou gritando, nunca errando, com fundo musical, velocidade de ação e temas atraentes. Acresce-se a isto o fato que, para ouví-los, não havia a necessidade de sair de casa, nem colocar o sapato apertado, nem a indumentária alienígena do terno e gravata. Tampouco precisava ficar sentado imóvel durante hora e meia, ou mais. Poderia conversar durante a programação, levantar-se, comer ou outra coisa qualquer.
A geração criada pela babá-eletrônica, aprendeu a prestar atenção durante um tempo superior a 8-10 minutos, que é o período de programação entre um comercial e outro. Esta geração "videologizada" tem dificuldade de adaptar-se ao esquema litúrgico das igrejas. Tampouco está acostumada a prestar atenção durante 30-35 minutos, num amontoado de palavras que não fazem parte do seu universo vocabular: redenção, propiciação, reconciliação, justificação, infalibilidade, imutabilidade, onipresença, ubiquidade, certamente não foram ouvidos por ele, e soam estranhas, esotéricas, acadêmicas e estéreis.

Há um abismo entre a tradição litúrgica e a vida do jovem.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

VOU ORAR!



Tinha acabado de assumir o pastorado e, por orientação da Diretoria da Igreja, comecei a visitar as pessoas que, por enfermidade ou idade, estavam impossibilitadas de vir ao templo para os cultos. Uma das primeiras foi Dona Amélia. Logo que entrei no seu quarto, acamada que estava há bom tempo, ela me recebeu com sorriso e elogio e logo percebi que se tratava de uma pessoa alegre, de riso fácil, bastante comunicativa e brincalhona.
Disse a ela que tinha vindo para convidá-la para um jantar de recepção e que queria que ela dançasse a valsa comigo. Foi uma gargalhada só! De brincadeira em brincadeira o tempo foi passando e com ela estivemos, eu e minha esposa, mais de uma hora. Ao final deste tempo, pedi licença para ler um trecho bíblico, fiz uma oração e celebrei com ela a Ceia do Senhor, coisa que ela não participava há bom tempo, dada as suas circunstâncias. Lágrimas discretas rolaram pela sua face. Ela estava visivelmente emocionada quando me despedi.
Estava saindo do quarto quando ela me chamou e pediu que me acercasse. Tomou minha mão, olho nos meus olhos e disse: “quero pedir uma coisa, que faça uma promessa para mim”.
“Qual?”, perguntei. “Que não deixe o pastorado desta igreja antes que eu morra, porque quero que você faça o meu sepultamento”. Eu respondi que não podia prometer isto porque a minha permanência na igreja não dependia só de mim, mas era uma decisão colegiada, mas que eu sim prometeria que, não importa onde estivesse, eu viria para o seu sepultamento. Ela abaixou os olhos por alguns segundos, como que pensando, voltou a me olhar e disse: “eu vou orar pedindo a Deus que você não deixe a igreja antes de me enterrar”.
Fiquei emocionado.
Depois de um ano na igreja, tive problemas com um grupo que queria que eu deixasse o pastorado. Não conseguiram me tirar. Depois de três anos fui convidado para outra igreja, aceitei o convite e não deu certo. Outra igreja me chamou para uma visita, fizeram um convite formal, pedi tempo para pensar, respondi afirmativamente depois de alguns dias e eles nunca mais entraram em contato.
Eu tinha esquecido da oração da Dona Amélia!
Estava no final do meu sexto ano na igreja quando ela faleceu. Fiz a cerimônia fúnebre tal como havia prometido. Neste tempo a igreja havia renovado meu convite para mais três anos, estava na fase final de uma grande reforma e tinha planos mil.
Uns vinte dias depois do falecimento da Dona Amélia recebi um recado que estavam querendo falar comigo e que era uma ligação internacional. Atendi e era um convite para eu ir para o Equador assumir uma secretaria do Conselho Latino Americano de Igrejas. Eu não queria ir. Conversei com alguns amigos e todos me aconselharam a aceitar. No domingo em que meu compromisso de renovação por mais três anos era celebrado, eu comunicava à igreja que estava deixando o pastorado.
Mudei para Quito. Uma noite acordei e foi como se estivesse escutando a Dona Amélia: “eu orei e você ficou até o meu sepultamento; agora você está liberado da promessa”.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

PAPÁ, PAPÁ!

Depois de 22 anos regressei a San Salvador, América Central, onde tinha vivido por um ano na minha adolescência. As lembranças daqueles tempos pululavam na minha mente e estava ansioso por rever certas coisas.
Uma pessoa me pegou no aeroporto e me levou à cidade, me deixou no hotel com a recomendação expressa de que não saísse do hotel sob nenhum pretexto, que fizesse minhas refeições no próprio hotel e que no outro dia cedo passariam para me pegar para algumas entrevistas e reuniões.
Perguntei à recepcionista se ela sabia onde ficava o Ginásio Nacional e do Parque Cuzcatlán (tinha morado em uma rua perto) ao que me informou que ficava a três quadras. Fiquei empolgado com a possibilidade de rever áreas que tantas recordações me traziam. Mal dormi. Bem cedo desci ao refeitório, tomei meu café e sai para rever coisas, no que pese a orientação expressa que me havia sido dada. Primeiro fui rever a casa. Desci até o Parque e fui surpreendido por mais de uma centena de soldados sentados na mureta que separava o Parque da avenida. Todos eles tinham uma de suas pernas amputadas, vítimas das minas quita-pié (arranca-pé). Era desfile de muletas, pernas com curativos, jovens com suas vidas limitadas por uma guerra estúpida. Estavam ali para curativos no Hospital Militar. Aquilo me embrulhou o estômago!. Voltei ao hotel sem rever o Parque e a ele não mais voltei.
À tarde tive uma reunião com um grupo de pessoas que trabalhavam com Direitos Humanos, entre elas uma senhora que me contou que havia conhecido uma família brasileira que vivera ali e que tinha o mesmo sobrenome e me perguntava se eu os conhecia. Disse eu era daquela família, o filho mais velho. Lágrimas rolaram pela sua face. Ela me contou quem era e dela recordei por ser a mãe de uma paquera que tivera e que ambas, mãe e filha vieram à nossa casa muitas vezes.
Ela era a Diretora de um Orfanato que recebia órfãos da guerra. Ela insistiu para que eu fosse conhecer o trabalho. Marcamos um dia de manhã. Para lá fui. Era uma pequena chácara fora da cidade. Mal o jipe parou, um bando de crianças veio correndo e gritando e tive que dar a mão e cumprimentar a todas elas. Uma delas, de uns três anos de idade, estava meio longe, meio desligada e não tinha vindo como as demais.
Em um certo momento ela olhou para mim, veio correndo, abraçou minha perna e começou a dizer: “papá, papá, papá”. A Diretora me explicou que ela era a mais recente, que seus pais haviam sido executados. Eu lhe perguntei por que a criança me chamava de papá e ela me disse: você tem uma aparência muito parecida ao pai dela e ela está achando que é o pai que voltou. Carreguei-a no colo por mais de uma hora. A cada pouco ela me acariciava o rosto e me puxava a face para olhar para ela. Voltei ao pátio, brinquei com ela. Não sabia como ir embora.
A despedida foi terrível. Sai dali em lágrimas. Pela segunda vez aquele criança perdia o seu “papá”. Naquele dia decidi que, com todas as minhas forças e inteligência iria combater a violência e a guerra. Por isto, entre outros motivos, estou em uma igreja pacifista!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 31 de julho de 2013

PROVIDENCIAL

Ainda seminarista, fui convidado para pregar em uma igreja na Vila Maria em São Paulo. Vivia numa pindaiúba de dar dó. Para lá fomos eu e um meu irmão, o Miltinho.
Tínhamos no bolso a passagem do ônibus para a ida e uns trocos a mais. Ele me perguntou como seria a volta e eu disse que, normalmente, as igrejas fazem uma pequena oferta que seria suficiente para comermos algo e para voltar.
Terminado o culto as pessoas vieram até nós, nos cumprimentaram e um a um foram embora e nada de alguém aparecer para entregar a esperada e necessária oferta. Fomos os últimos a sair, juntamente com um casal.
Já na rua, o mano me perguntou: “e agora? O que fazemos?”. O dinheiro que tínhamos não dava para comer algo e para voltar de ônibus. Disse isto a ele e ele me disse que estava morrendo de fome. Eu também estava. E quando chegássemos em casa não teríamos nada para comer. Naquela hora havia que tomar uma decisão: comer e voltar a pé para casa, em uma caminhada de uns 15 quilômetros ou pegar um ônibus e passar a noite com fome.
Conversamos, estudamos a situação e decidimos que iríamos comer algo e depois sair em caminhada até o centro da cidade. Sentamos em uma padaria, pedimos algo que os trocados podiam pagar e, terminada a “refeição”, criamos coragem para sair caminhando.
Mal havíamos saído da padaria, escutamos alguém nos chamar. Era a pessoa que me havia convidado para pregar que estava à nossa procura porque havia se esquecido de dar a oferta que o tesoureiro havia destinado.
Preocupadíssima, nos pediu mil perdões, sem saber que estávamos era gratos e surpresos com os fatos. Como ele tinha nos achado? Como sabia que podíamos ter parado em algum lugar para comer algo?
Um amigo que vive nos Estados Unidos, o Manelão, que me hospedava quando ia para as aulas do doutorado, me contou como sempre via a mão de Deus suprir suas necessidades, muitas vezes depois de vencer o prazo de pagar uma conta.  Ele, um dia, meio desesperado, pediu a Deus que Ele adiantasse a provisão para que viesse no dia que deveria pagar suas contas. Em lágrimas ele me confidenciou que desde aquele dia nunca mais havia atrasado uma conta.
Experiências de ver a mão de Deus suprindo cada necessidade, mesmo quando penso que nada mais ocorreriam. São muitas na minha vida e na vida de muitos que me contaram suas experiências de ser abençoados de maneira toda especial e inusitada.
Não gosto de transformar experiências pessoais em normas para outros. Esta eu vivi e o Manelão experienciou. De uma coisa tenho certeza: a providência de Deus vem quando necessitamos e da forma mais inesperada possível.

E Ele assim faz por pura graça, não por mérito que porventura tenhamos. Não é questão de fé. É questão de favor imerecido da parte de Deus.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 24 de julho de 2013

CÂNDIDO VAGGAREZA

O PT não tem sido muito feliz na composição dos seus quadros. Um partido que teve Delúbio, Zé Dirceu, Genoíno, José Mentor, João Paulo, Silvio Pereira, entre outros de menor expressão, tem agora uma figura emblemática: Cândido Vaccareza, que melhor seria identificado como Vaggareza.
Ele é um  ginecologista, filiado ao PT, eleito suplente de deputado estadual em São Paulo (1998). Reelegeu-se em 2002 e em 2006 elegeu-se deputado federal. Foi líder do partido de fevereiro de 2009 a 2012. Neste período protagonizou alguns episódios de fidelidade canina ao Lula e à Dilma.
Mas, desde que deixou a liderança, algo mudou nele. Indicado a fórceps como líder da comissão encarregada de apresentar proposta de reforma política, ele honrou seu nome: deu uma de vagareza.
No que pese o fato de que a Dilma, atabalhoada com as manifestações de rua, ter acelerado propostas e derrapado nas curvas da política, ela nunca deixou de afirmar que queria a reforma política para as eleições de 2014. O deputado, não lendo as manifestações contrárias à sua indicação pelo presidente da Câmara, nem atento aos anseios da sua bancada que queria outro deputado na condução dos trabalhos, insistiu em continuar. Sua renúncia foi pedida e ele se fez de ouvidos moucos.
Ele quer flexibilizar a utilização das redes sociais pelos candidatos. Para ele as “redes sociais são extensão do escritório. Só me aceita quem quer e só aceito quem eu quero. Portanto, está 100% liberado. Posso entrar na minha rede social e dizer que vou ser candidato e pedir que vote em mim. Não posso ser punido por isso”, alegou.
Também quer modificar dispositivo da Lei da Ficha Limpa que beneficiaria gestores reprovados pelos tribunais. Vaggareza afirmou que a proposta de lei complementar estava pronta e seria levada ao colégio de líderes. Depois de muitas críticas, deu uma recuada estratégica.
Algumas das propostas são: para a quitação eleitoral, o candidato precisará apenas comprovar que votou; havendo cassação, ocorrerá uma nova eleição para decidir quem assume a vaga; o político poderá dizer que é candidato a qualquer momento; poderá usar as redes sociais para fazer campanha.
O mais preocupante é que ele quer deixar a reforma política, tal como ocorreu em tantas outras oportunidades, para sabe Deus quando. Ao afirmar que não há tempo hábil para uma reforma, plebiscito, referendo ou consulta popular, ele dá marcha de vaggareza ao processo que as ruas pedem urgência.
A depender de um líder de comissão como ele, que não consegue se afinar com o seu partido, com os colegas, com a Dilma e com o povo, que reforma política pode vir?

Marcos Inhauser

quarta-feira, 17 de julho de 2013

ACUSAÇÕES LEVIANAS

Um amigo pastor, residente de em uma pequena cidade do interior paulista, muito dinâmico e carismático, em pouco tempo ganhou respeito e notoriedade. Como a cidade enfrentava sérios problemas de corrupção, especialmente na Câmara Municipal, convidado e instado por cidadãos e políticos, decidiu lançar-se candidato, crendo que poderia ter uma atuação ética e que contribuiria para uma mudança na política local.
Tão logo seu nome apareceu como candidato, começou a receber uma saraivada de críticas, especialmente de pessoas evangélicas e membros de sua própria igreja. Diziam que ele estava se vendendo, que tinha cedido à corrupção, que o que buscava era ficar rico, assim como os demais. Assustado com a reação pensou em abandonar, mas também pensou que seus atos, caso fosse eleito, mudariam a opinião dos seus detratores.
Foi eleito com expressiva votação, sendo o segundo mais votado na cidade. As críticas não diminuíram. Já no primeiro ano estourou um escândalo no qual ele não estava envolvido e isto estava fartamente demonstrado. As críticas se acentuaram, com pessoas dizendo que ele era muito esperto e por isto não o haviam flagrado. Tantas foram as críticas e denúncias infundadas que, mesmo tendo amplas chances de ser reeleito ou até mesmo concorrer para prefeito, desistiu da política.
Conheço outra pessoa, também pastor, que uma noite recebeu uma chamada telefônica de pessoa de sua relação, que lhe pedia/exigia que ele desse algumas informações, que o mesmo, naquele momento, estava impossibilitado de dar. Para sua surpresa, a pessoa começou a acusá-lo de coisas absurdas.
Ele confessava que a pessoa detratora nunca o havia ouvido pregar, nunca havia participado de sua comunidade e, talvez, nunca tivesse lido qualquer coisa que ele tivesse escrito. Mesmo assim se sentia no direito e em condições de emitir juízos severos sobre seu ministério e a coerência dele. Com lágrimas ele confidenciava: “como posso ser acusado por alguém que mal me conhece? E meus anos de ministério? E os frutos que já tive foram parar onde?”
A coisa não é nova. Em estudos que estamos fazendo em Atos dos Apóstolos, Paulo também foi vítima de acusações levianas. Tantas foram as críticas que ele escreveu algumas cartas à igreja de Corinto para se defender e defender seu ministério.
Ninguém há que seja inculpável. Paulo, escrevendo aos Gálatas disse “que se uma pessoa chegar a ser surpreendida em algum delito, os que são espirituais o corrijam com espírito de mansidão, olhando para si mesmos, para que também não sejam tentados.” O mesmo, escrevendo aos Corintos que o acusavam disse: “Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia”.
Estas considerações me fazem recordar o saudoso Rev. Joás Dias de Araújo em uma frase que costumava repetir: “o ministério pastoral é um mistério”. A partir dela cunhei outra: “o pastorado é a arte de levar pancadas e distribuir sorrisos”.
Agostinho disse que a vocação é irresistível. Calvino disse que a vocação é eficaz. Jeremias disse: “Não ... falarei mais no seu nome; mas isso foi no meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou fatigado de sofrer, e não posso mais” (Jr 20:9).
Só a graça de Deus nos mantém no ministério.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O QUE SOBE DESCE NA MESMA VELOCIDADE!

Já escrevi aqui mais de uma vez, sobre o sábio Cirilo. Negro, bóia fria, trabalhou com famílias alemãs na área de Indaiatuba e acabou aprendendo alemão. Sua maior virtude era a forma como via a vida e a julgava a partir de coisas corriqueiras.
Um dia, na porta da casa de sítio onde passávamos férias, ele me ensinou uma coisa que a levei por toda a vida: as coisas caem na mesma velocidade que sobem. Se subir muito rápido, a queda vai ser rápida também. Fui revisitado pelas lembranças do sábio nestes dias ao ler e sentir no bolso as consequências de um destes fenômenos.
Falo do Eike Batista, filho de Eliezer Batista da Silva, ex-presidente da Vale do Rio Doce (61-64; 79-86), ex-ministro de Minas e Energia. Depois de passar a infância no Brasil, foi morar na Suíça, Alemanha e Bélgica. Nunca terminou o curso de Engenharia Metalúrgica na Universidade Técnica de Aachen.
Com 18 anos, voltou ao Brasil e vendeu apólices de seguro de porta em porta.
No início dos 80, se dedicou ao comércio de ouro e diamantes. Fluente em cinco idiomas (português, alemão, inglês, francês e espanhol). Com 21 anos montou uma empresa de compra e venda de ouro e em um ano e meio, acumulou US$ 6 milhões. Aos 29 anos tornou-se o executivo da TVX Gold. De 1980 a 2000, criou US$ 20 bilhões com a operação de 8 minas de ouro no Brasil e Canadá e uma de prata no Chile. Entre 91 e 96, o valor da empresa triplicou. Em 2001, a TVX Gold foi vendida por 875 milhões de dólares canadenses.
Considerado o homem mais rico do Brasil, hoje amarga o fundo do poço. Eike está negociando com os bancos uma dívida de curto prazo de R$ 7,9 bilhões. A OGX (petróleo), MMX (minério), LLX (logística), OSX (estaleiro), MPX (energia) e CCX (carvão) precisam pagar ou renegociar R$ 7,9 bi até março de 2014. A LLX renovou com o Bradesco um empréstimo de quase R$ 590 milhões que venceu em abril.
As ações do grupo estão se esfarelando na Bolsa. No último ano caíram entre 24,6% (MPX) e 85% (OSX). Só na segunda-feira houve queda de 27%.
Vendeu sonhos e não entregou um centavo aos investidores: "São projetos de longa maturação, que exigem altos investimentos e não estão produzindo o que se imaginava" disse um analista.
A crise de confiança do grupo começou há um ano, quando um campo de petróleo da OGX frustrou as expectativas de produção. A partir daí, os investidores começaram a questionar a capacidade do empresário de "entregar".

Pelo jeito ele vai entregar uma manada de bezerros para a “vaca leiteira do governo”. E vamos virar sócios na dívida!!!.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O QUE ENVERGONHA O PAÍS

A presidente Dilma “Soucheff” veio a público, depois de um longo silêncio ante a gravidade das manifestações públicas, dizer mais do mesmo e fazer propaganda do seu governo. Depois de dez dias, ela gastou dez minutos para dizer nada. E no meio do nada tentou dar uma lição de moral: “a violência envergonha o Brasil”.
Acrescento coisas que, sim, envergonham o Brasil.
Envergonha o Brasil, dona Dilma, um governo com 37 ministérios incompetentes e um Ministro da Pesca que entende tanto disto quanto eu de física quântica.
Envergonha a prática de construir a base parlamentar na base de alianças com partidos, entregando ministérios de “porta fechada”.
Envergonha o Brasil um ministro da Economia que até o final de 2012 dizia que o PIB seria de 3% ou mais e deu 0,9%.
Envergonha o Brasil a quantidade de deputados e senadores, pagos a peso de ouro e com aposentadorias nababescas, para fazer quase nada.
Envergonha o ter coisas para serem votadas há anos, como é o caso do novo pacto federativo, que uma vez mais, no que pese o prazo dado pelo STF, não será votado.
Envergonha a depredação do patrimônio público seja por privatizações questionáveis, seja pelas licitações viciadas.
Envergonha o país a quantidade de dinheiro jogado fora em obras iniciadas e abandonadas.
Envergonha o dinheiro gasto com propaganda de governos federal, estaduais e municipais.
Envergonha a quantidade de escolas em péssimas condições.
Envergonha o salário de merreca dos professores.
Envergonha a qualidade do atendimento na saúde, a falta de médicos e de infraestrutura nos hospitais.
Envergonha o processo de aposentadoria e os salários pagos aos aposentados.
Envergonha a iqualidade dos orçamentos e contratos feitos com as empreiteiras, que sempre recebem aditivos aumentando significativamente os custos finais.
Envergonha que as obras de infraestrutura viária da Copa nunca tenham saído do papel.
Envergonha o despreparo deste governo da Dilma, que vem a público fazer um segundo discurso, orientada por marqueteiros, vendendo o seu programa de governo e propondo uma Constituinte restrita, coisa que, no dia seguinte, teve que voltar atrás, dizendo que não disse o que disse e que entenderam errado o que disse.
Envergonha a falta de estratégia em lidar com as manifestações públicas e as demandas populares. Dizer que o povo quer que as “reformas sejam mais rápidas” (sic). Quando se está parado, qualquer velocidade será mais rápida. E o governo da Dilma está parado há 30 meses.
Envergonha o eterno retorno da “reforma política” sem que nunca se faça nada de concreto desde o tempo do FHC.
Envergonha a classe de partidos políticos que temos, muitos comprados para dar sustentação política (sic) ao governo.
Envergonha que o partido da presidente tenha tentado, por várias vezes e diversas maneiras, cercear a livre expressão, a liberdade de imprensa, a autonomia de investigação do ministério público.
Envergonha ter mensaleiros condenados sendo parlamentares e recebendo como tais.
Envergonha ter o Maluf, condenado aqui e fora do país, como aliado deste governo.
Eu me envergonho do (des)governo que temos!!

 Marcos Inhauser

quinta-feira, 20 de junho de 2013

NÃO UMA QUESTÃO DE CENTAVOS, MAS DE DIREITOS

Este é um país sui generis. Não há igual. Já contei aqui que em uma visita que fazia à Guatemala, a capital estava em pé de guerra com pneus queimando, barricadas e manifestações porque haviam subido o preço do ônibus em alguns poucos centavos (algo em torno de R$ 0,05). No Equador, onde vivi, um aumento de centavos na gasolina fazia o país parar.
Durante bom tempo fiquei a me perguntar por que os brasileiros são lenientes e coniventes com a enorme quantidade de fatos que vêm à tona a toda hora, dando conta de sobrepreços, propina, desvios de recursos. Por que não há uma revolta social de magnitude com esta corrupção toda?
Hoje tenho que dizer que me dou por satisfeito. E mais que satisfeito: uma manifestação sem a comandância dos focos de podridão que são os partidos e os sindicatos.
Ademais, a mobilização foi possível por causa da terrível incapacidade da Polícia Militar em lidar com manifestações. Depois de vinte anos sem ter que fazer frente à mobilização das massas, a PM (talvez por herança do período da ditadura ou por nunca ter se afastado dos métodos de outrora), achou que acabaria com a coisa com gases lacrimogênio e pimenta, com cassetete e truculência. Deu no que deu. Mais gente saiu à rua e tudo indica que o movimento crescerá.
A repercussão internacional e as manifestações de solidariedade havidas em várias partes do mundo, com a imprensa internacional reverberando os fatos aqui ocorridos, colocou o governo central em alerta de que a coisa está feia e pode piorar. Como o lulo-petismo quer a todo custo a reeleição da sua camarilha, um movimento destes pode botar água no chopp.
Por outro lado, se a cada denúncia há uma convulsão nacional, qual o grau de maturidade do povo brasileiro? A pessoa e a nação maduras se conhecem pelo equilíbrio em lidar com as emoções e em dosar as reações diante dos fatos desagradáveis ou trágicos. Reações desproporcionais, emocionalizadas, são evidência de imaturidade. Ao ter uma reação de espera, de cobrar explicações via meios comunicação, ao usar a rede social para manifestar sua indignação e irritação, ao assistir aos telejornais com vívido interesse, ao ler os jornais e analisar os fatos, a nação mostra maturidade. Maturidade está na manifestação pacífica e ordeira. Imaturidade está na ação de uns poucos radicais que usam do momento para extrapolar.
Gostaria de ver incluída na pauta destas reivindicações a indignação do brasileiro com a tentativa de golpe que o petismo está pretendendo dar no Ministério Público, ao impedi-lo de investigar, uma vez que, na história recente, os deputados e senadores levados à barra dos tribunais o foram por obra do MP.
Marcos Inhauser


quarta-feira, 12 de junho de 2013

RUTE

Estava saindo de Rio Preto quando o celular tocou. Passei para minha esposa atender porque estava dirigindo. Percebi que ela falava com alguém que, no momento, não estava reconhecendo e eu também estava curioso para saber quem era. Depois soubemos se tratar de um grande amigo.
À medida que a conversa se desenrolava, percebi tratar-se de uma notícia triste e o nome que se falava era Rute. Rodei meu banco de dados mental e só encontrei uma Rute. E era dela que estavam falando. Falecera na sexta-feira e o enterro seria no domingo à tarde e a pessoa, gentilmente nos avisava da morte, pois sabia do carinho que tínhamos por ela e ela por nós.
No momento em que comecei a juntar as peças da conversa que ouvia e me certificava de que se tratava da Rute, uma profunda tristeza foi invadindo meu coração. Era como se estivesse perdendo alguém muito importante na vida
Rute era uma pessoa especial no duplo sentido do termo. Era especial porque sempre (e este sempre tem valor absoluto), quando me via, abria um sorriso e vinha me abraçar. Queria saber estava bem. Eu, do meu jeito, brincava com ela e também me interessava em saber como ela estava.
Rute era especial porque, Deus, na Sua vontade e soberania, permitiu que ela tivesse algumas necessidades especiais, que lhe obrigaram a terapias e doses maciças de remédio. No que pese as suas características, ela sempre foi um estímulo para meu ministério. Quando ela vinha à igreja, sentia-me amado e apoiado.
A notícia da Rute me fez revisar meu passado como pastor. Conclui que em quase todas as igrejas pelas quais passei e pastoreei, Deus me deu uma pessoa especial para, de maneira sincera e honesta, me dar as boas-vindas, me abraçar e se interessar por mim. Também conclui que estas pessoas especiais tem o dom divino de serem honestas e transparentes. Elas, quando gostam de alguém, realmente gostam. E se não gostam, não fazem esforço nenhum para passar a gostar. Percebi também que, em todos os casos, quando ia para a igreja, tinha o desejo consciente de encontrar a estas pessoas para ser cumprimentado, abraçado. Era como se precisasse de uma injeção da graça para iniciar os trabalhos.
Encontrei também estas pessoas especiais em quase todas as igrejas que já visitei. Na Church of the Brethren, nos Estados Unidos, há um jovem negro que faz questão de cumprimentar cada um dos mais de quatro mil participantes da Conferência Anual. Ele dá a mão e diz: Deus te abençoe e te dê a paz. Às vezes ela volta à mesma pessoa algumas vezes e quando se diz que ele já havia cumprimentado, ele repete a sua benção.
A Rute me ajudou no ministério e fez falta no tempo em que se ausentou e fará falta com a sua partida. Por tudo o que foi para mim, obrigado Deus e Rute.
Marcos Inhauser


quarta-feira, 29 de maio de 2013

É IXTRANHO!

Lembrei da frase do Zagalo, no seu peculiar jeito de falar, ao ouvir as lambanças ocorridas com a Caixa e o Bolsa Família: “é ixtranho, muito ixtranho.”
É estranho que um banco do porte da Caixa, que administra o Bolsa Família, que tem impacto sobre milhões de pessoas, decida fazer o depósito antecipado da parcela mensal. Que me perdoem os ingênuos, nunca vi banco favorecer a vida de ninguém, muito menos dar dinheiro antes da hora.
É estranho que o depósito tenha sido feito sem notificação aos interessados e sem que se prevesse a comoção que isto poderia causar.
É estranho que se diga que foi boato o fato de que beneficiários tenham acessado na sexta o seu extrato e tenham visto o depósito antecipado e não tenham acreditado em um “presente da Dilma”, pois certamente estavam acreditando que no dia determinado, uma nova parcela seria depositada. Lógica simplista de quem vive das migalhas do governo.
É estranho que uma ministra do governo tenha atribuído à oposição a onda de boatos, sem ter em mãos a mais mínima informação, sendo obrigada a desdizer o que disse, alegando que o que disse não queria dizer o que foi dito.
É estranho que o vice-presidente da Caixa tenha vindo a público dizer que havia determinado a antecipação das parcelas para fazer frente à onda de saques que houve, como forma de aliviar a tensão social que o fato gerou. Mais tarde veio com a história de que, quando determinou a antecipação, ele não tinha a informação de que ela já havia sido feita.
É estranho que o presidente da Caixa venha a público afirmar que não era do seu conhecimento a antecipação das parcelas e que, por isto, demorou uma semana para trazer explicações, uma vez que precisava levantar todas as informações necessárias para o esclarecimento.
É estranho que dois bilhões de reais (que é o total conhecido do Bolsa Família) seja antecipado, sem que o vice-presidente e o presidente da Caixa tomassem conhecimento do fato inusitado.
É estranho, muito estranho, que a razão para tal antecipação seja a atualização do sistema feita entre março e abril deste ano e que, de acordo com Hereda, a Caixa identificou 700 mil a 1 milhão de beneficiários portadores de mais de um Número de Identificação Social (NIS). Com a atualização, essas pessoas passaram a ter apenas o número mais antigo do NIS, o que poderia gerar confusão na hora do pagamento, segundo o presidente.
É estranho que ele não tenha explicado se a duplicidade do NIS implica e duplicidade de pagamentos. Se assim for, dizer que o Bolsa Família seria cortado não é boato. Por outro lado, como pode um banco que administra estas contas permitir que no mínimo 700 mil inscrições tenham sido feitas em duplicata?
É estranho que a presidente Dilma tenha dito que era “desumano e criminoso” o que estava acontecendo e que, agora, se sabe, foi gente do seu governo que aprontou a lambança.

É ixtranho, muito ixtranho.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 22 de maio de 2013

NÃO UM ZÉ: O ZÉ


Eu o conheci há mais de 30 anos. Estávamos em um encontro e um dos preletores faltou. Foi quando ele disse que tinha um texto que poderia ser lido. Nunca me esqueço: O Primeiro De(s)maio, um trocadilho sobre as condições do trabalho e o dia primeiro de maio, dia do Trabalhador.
Depois disto nos encontramos incontáveis vezes, seja em reuniões, conferências, seminários ou tomando um chopp. Cada vez que eu o ouvia falar e compartilhar suas ideias minha admiração por ele crescia.
Por duas vezes eu tive a honra de apresenta-lo como conferencista. Falei o que pensava dele: uma cabeça brilhante, um poeta, um artista das palavras e dos conceitos, hábil no uso das metáforas, etc.
Certa feita eu o convidei para falar sobre a história do pensamento humano (não podia dizer que era história da filosofia porque o auditório religioso era extremamente conservador). No caminho para o salão encontramos uma senhora e eu o apresentei como Doutor José. Ela mal tinha se afastado ele me deu uma bronca: “Marcão, não quero mais que você me apresente do jeito que você faz. Quando você for me apresentar, diga que sou o Zé. Nada mais.” “Mas Zé...” tentei retrucar e ele foi enfático: “Só Zé. Nada mais. Entendido?”
Eu já tinha preparado o discurso de apresentação. Ia dizer que era autor do livro Corpoética, Cosquinhas no Umbigo da Filosofia, Papo de Boteco e outras coisas mais. Fiquei mudo. Fiz o que ele me pediu: “aqui está o Zé”.
O grupo cantou um hino que dizia: “é mui certo que a gente tropeça, por isso Senhor, eu preciso de ti./Bem sei que nas preces eu posso buscar-te / Jamais dessa bênção na vida eu descri, / Contudo, é possível que eu dela me aparte / Por isso Senhor eu preciso de ti.”
Ele começou dizendo: “este sou eu. Já tropecei, já me apartei. Peço a vocês para não acreditarem no que vou dizer, mas que examinem e só aceitem aquilo que entenderem ser certo.”
Começou com os pré-socráticos e veio desfilando até o existencialismo. Eu estava abismado porque o auditório, que eu tinha certeza teria resistências, estava participando, fazendo perguntas, etc.
No período da tarde veio o segundo preletor. Começou dizendo que queria fazer algumas observações sobre o que o Zé havia dito, porque podia dar lugar a interpretações heréticas. E começou a desfilar um rosário de certezas e jactância.
Uma hora de palestra do segundo orador, o presidente do grupo veio até mim e perguntou: “Não dá para fazer este cara calar e colocar o Zé no lugar dele?”
Perguntei ao Zé, depois, porque não queria que o apresentasse da forma como queria. Ele me disse duas coisas que me marcaram: “primeiro que você exagera. E quando você exagera as pessoas ficam esperando a fala de um gênio. E eu não o sou. Dizendo que sou o Zé, qualquer coisa que vier depois disto é lucro.”
Não vou dar o nome completo dele para não levar outra bronca. Mas quem quiser saber quem é, me escreva que eu conto. Isto o Zé não pode me proibir....... E o faço como gratidão pelo muito que com ele aprendi e tenho aprendido. 
Marcos Inhauser

quarta-feira, 15 de maio de 2013

PODER DIVINO?

Mal tinha enviado para a redação a coluna na semana passada, na qual fazia algumas reflexões sobre o poder, entre elas a de que “nada mais terrorista que o poder exercido em nome de Deus” e surge a notícia de que o “pastor” Marcos Pereira estava sendo preso por ter, supostamente, abusado sexualmente de fiéis da sua igreja. Segundo as notícias veiculadas, ele promovia cultos de exorcismo e dizia a algumas fiéis que o demônio só sairia delas se mantivessem relações com um homem santo, no caso, o próprio “pastor.”

O argumento, ao menos para mim, não é novo. Nos idos anos 80 ouvi de mais de uma testemunha, de uma profetisa na cidade de Jaú que revelava o tal “mandamento da carne”, onde fulano deveria transar com cicrana, porque esta era a vontade de Deus. A mesma coisa ouvi depois como prática em outros círculos “proféticos”, dando-me a sensação de ser algo usual em determinados círculos.
Já mencionei aqui há algum tempo (Desequilíbrio de Poder) que estudos feitos sobre os casos de violência sexual sempre mostram uma relação desigual de poder, onde os abusadores, no exercício de sua autoridade, impõe suas vontades sobre as partes mais fracas. Também afirmava que, no campo do religioso, esta desigualdade do poder se estabelece quando o religioso se apresenta como revestido de “autoridade espiritual”, o que facilita a investida sobre a presa de sua sanha sexual. Uma “cantada” de um religioso é mais efetiva que a de um cidadão normal. Há nisto a mística de estar se relacionando com o sagrado, com alguém mais próximo de Deus, uma elevação espiritual pelo sacrifício da entrega do corpo, de orgasmo mais pleno porque feito com a santidade. Há o caso (sem o mesmo destaque na mídia) de pastor que Deus revelou que as mulheres dos membros da Diretoria da Igreja deveriam ser acessíveis e acabou sendo flagrado no escritório pastoral com uma delas.
Neste contexto fica mais fácil entender como pais e familiares próximos são os maiores violadores das crianças e como a pedofilia ganhou níveis epidêmicos no seio da religião. Atendi certa feita uma pessoa que foi abusada pelo pai evangélico que usava o mandamento do “honra teu pai” e o texto “filhos, em tudo obedecei vossos pais, porque isto é justo” como forma de obrigar a família a ceder aos seus impulsos.
Há que lembrar-se que o agora acusado teve seus momentos de glória midiática quando apareceu no Fantástico, que lhe deu longos minutos de reportagem, apresentando-o como recuperador de viciados, negociador de rebeliões e salvador de pessoas condenadas à morte pelo tráfico. Talvez por causa disto, ele tenha conseguido as verbas públicas milionárias para seu “trabalho”.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O PODER

Somo seres quer buscamos incessantemente o poder. Em todas nossas relações estabelecemos “nosso território” e buscamos ampliá-lo com negociações e artimanhas. A busca pelo poder é inerente ao ser humano e o altruísmo, quando acontece, pode ser que seja um investimento no longo prazo.
Há certas circunstâncias em que cedemos certo espaço de poder. Há povos que, vivendo em liberdade, quiseram ver a ordem estabelecida e esta superou e a liberdade e poder de exercê-la foi parcialmente suplantado.
Ninguém consegue viver sem um espaço de poder. A autonomia é necessária para que haja a individualidade. A ausência total do poder pessoal é a completa despersonalização. No entanto, como seres humanos, somos a somatória das obediências que prestamos a quem não podíamos e não podemos desobedecer. No fundo, sobrevivemos porque cedemos algo do nosso poder para figuras ditatoriais patriarcais, matriarcais, avunculares, professores, chefes, etiqueta, moda, etc.
Neste contexto deve-se ver a política. O império político tem o objetivo de manter a massa no limite mínimo da satisfação e abafar o clamor dos pobres e sofridos. Deputados, senadores, vereadores, governadores e quejandas não são deserdados. São eleitos porque têm cacife, tem poder anterior para lá chegar. E quando lá chegam buscam ampliar o seu espaço de poder.
A política existe para congelar o status quo. Daí porque, as Câmaras Municipais mais concedem honrarias que legislam mudanças. E quando elas ocorrem são cosméticas. Um governo sem atribulações, azeitado, sem greves, sem reclamações é o que todo governo quer. Ele busca manter e aumentar seu poder, usando de todos os artifícios disponíveis, não importa se éticos. E para legitimar esta sua ânsia, usa do processo educativo e da propaganda oficial para persuadir os dominados a aceitar a dominação, via consenso ideológico. É um processo de acomodação e domesticação das classes, especialmente as emergentes. Talvez com isto se possa entender porque no Brasil não se permite a “educação em casa” (home schooling). Seria ter gente pensando fora do consenso ideológico.
Nada mais terrorista que o poder exercido em nome de Deus. O fanatismo religioso, na história da humanidade, é o responsável pela maioria das mortes violentas. Se o poder do monarca vem de Deus, nada nem ninguém irá suplantá-lo ou diminui-lo. O “poder divino” cria messias, iluminados, fazedores de milagres e ladrões do povo via ofertas religiosas e dízimos. Cobra vidas como é o caso dos fanáticos muçulmanos. Quem tem olhar crítico sobre estes “poderosos divinos” é tachado, até mesmo pelos domesticados, de herege.
No âmbito da sociedade são tachados de revolucionários, antissociais, guerrilheiros, esquerdistas. Usam dos meios de comunicação (que está nas mão dos poderosos) para vender esta ideia aos dominados que, consensualmente, aceitarão a versão oficial e a outra como subversão.
Marcos Inhauser

FERVENDO
As relações entre os poderes da República não andam nada harmônicas e estão ferevendo. Soube-se, dias antes do início do julgamento do mensalão, que o ex-presidente da República tentou chantagear um dos integrantes do STF. Mais tarde, soube-se também do périplo do ministro Fux em suas visitas a autoridades, no objetivo de conseguir a sua indicação para o Supremo e que o fizeram na esperança de que seu voto fosse favorável aos mensaleiros. Não sendo, foi xingado e execrado pelos filiados ao partido governante. Os votos do Toffoli não convenceram ninguém da imparcialidade que um juiz deve ter.
O Planalto andou tendo algumas derrotas no Congresso e a sua base de articulação, qual centroavante irregular, tem errado o gol na hora agá. Em outras, jogo com o rolo compressor e arranca vitórias que evidenciam interesses nada republicanos. Nos últimos dias vimos esta máquina de votação passar o rodo e levar ao plenário a limitação (ou a criação de obstáculos mil) para a criação de novos partidos, naquilo que se pode definir como animus legendi, quando uma lei é feita com o objetivo de alcançar alguém específico, no caso a Marina da Silva e sua Rede de Sustentabilidade. Também limita as articulações do Eduardo Campos, provável candidato do PSB à presidência.
O PSDB bateu às portas do STF e conseguiu liminar para suspender a tramitação do projeto, por entender ser inconstitucional. O Gilmar Mendes (que deve ganhar por liminares e habeas corpus que expede), concedeu e a grita no legislativo foi grande: o judiciário está se metendo nas atribuições do legislativo. Veio a desforra: o legislativo propôs que algumas questões votadas pelo STF, mesmo pelo seu pleno, sejam referendadas pelo Congresso. Em outras palavras, o STF estaria sub judice do legislativo. A grita foi geral pois, inclusive assim acho também, isto cheira a golpe.
Agora vêm os impolutos Calheiros e Alves com a conversa iniciada pelo Maia quando presidente da Câmara, de que o que se quer é delimitar com precisão as atribuições de cada poder, para que as relações sejam mais harmônicas e a coisa pública ande com mais celeridade. Isto me cheira raposa se candidatando a xerife do galinheiro. A continuar assim, vão propor a extinção da Procuradoria Geral da República, dos Tribunais de Contas e a Controladoria Geral da União porque andam “criando problemas”para a aplicação das verbas parlamentares.
Aliado a isto está a proposta da votação em listas feita pelo partido e não mais em candidatos. Só vamos poder votar no bloco! Não me assustaria que um iluminado viesse com a proposta de acabar com as eleições em função dos altos níveis de popularidade do Lula e Dilma, o que evidencia a aceitação popular e a efetividade de seus governos.
Seria a realização do sonho do companheiro Zé Dirceu e seus aspones.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 24 de abril de 2013

CONSERVADORISMO

Uma das características das igrejas é a confessionalidade, determinada pelo conjunto de doutrinas que a denominação ou religião estabelece como sendo a verdade. Esta doutrina teórica é ensinada através de Catecismos que são ensinados e que os aprendizes devem memorizar, repetir e recordar. Ora, ao fazer isto, a igreja conserva o mesmo, as mesmas verdades que foram pronunciadas há séculos por algum iluminado, seja Agostinho, Aquino, Lutero, Calvino, Zwinglio, Wesley ou qualquer outro.
A preeminência desta Confissão é tão grande que o Código de Disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil, no Capítulo II, quando trata das faltas, no Art.4º, Parágrafo Único – “Nenhum tribunal eclesiástico poderá considerar como falta, ou admitir como matéria de acusação aquilo que não possa ser provado como tal pela Escritura, segundo a interpretação dos Símbolos da Igreja”. Percebe-se assim que só é falta (pecado) aquilo que é previsto nos Símbolos da Igreja (Confissão de Fé, Catecismos Maior e Menor).
A memória, a recordação preservam o passado e este é imutável. Não se muda o que já aconteceu. Ao fazer esta retro-oculatra, as igrejas perdem o sentido de uma resposta ao presente, preferindo a saudade de tempos idos. A recordação tem algo de opressora: ela não permite a novidade, a descoberta, a criatividade. Ela congela o pensamento e nega o diferente. Ao assim proceder, entroniza o passado como verdade absoluta e demoniza o presente e os sonhos de futuro melhor como demoníacos.
Não é para menos que os profetas tenham sido mortos, torturados, serrados ao meio. No dizer do escritor de Hebreus: “Todos esses morreram cheios de fé. Não receberam as coisas que Deus tinha prometido, mas as viram de longe e ficaram contentes por causa delas, declararam que eram estrangeiros e refugiados, de passagem por este mundo. E aqueles que dizem isso mostram bem claro que estão procurando uma ... Não ficaram pensando em voltar para a terra de onde tinham saído. Se quisessem, teriam a oportunidade de voltar. Mas, pelo contrário, estavam procurando uma pátria melhor, a pátria celestial. E Deus não se envergonha de ser chamado de o Deus deles, porque ele mesmo preparou uma cidade para eles.” (Hb 13:12-16).
Para a religiosidade ortodoxa, ciosa das verdades que sustenta há séculos, os pregadores de alternativas, os promotores de perguntas, os questionadores devem ser liquidados, taxados de hereges, queimados no fogo da Inquisição.
Nada mais fácil que taxar alguém que pensa de herege, apóstata. Não há lugar para os profetas! A função do ministério profético é manter juntos o espírito crítico e a ação. É na dialética entre crítica e ação que nos tornamos fiéis a Deus. Optar por um ou outro é cair nas armadilhas do progressismo e do conservadorismo.
Marcos Inhauser