Tinha acabado de assumir o pastorado e, por orientação da
Diretoria da Igreja, comecei a visitar as pessoas que, por enfermidade ou
idade, estavam impossibilitadas de vir ao templo para os cultos. Uma das
primeiras foi Dona Amélia. Logo que entrei no seu quarto, acamada que estava há
bom tempo, ela me recebeu com sorriso e elogio e logo percebi que se tratava de
uma pessoa alegre, de riso fácil, bastante comunicativa e brincalhona.
Disse a ela que tinha vindo para convidá-la para um jantar
de recepção e que queria que ela dançasse a valsa comigo. Foi uma gargalhada
só! De brincadeira em brincadeira o tempo foi passando e com ela estivemos, eu
e minha esposa, mais de uma hora. Ao final deste tempo, pedi licença para ler um
trecho bíblico, fiz uma oração e celebrei com ela a Ceia do Senhor, coisa que
ela não participava há bom tempo, dada as suas circunstâncias. Lágrimas
discretas rolaram pela sua face. Ela estava visivelmente emocionada quando me
despedi.
Estava saindo do quarto quando ela me chamou e pediu que me
acercasse. Tomou minha mão, olho nos meus olhos e disse: “quero pedir uma
coisa, que faça uma promessa para mim”.
“Qual?”, perguntei. “Que não deixe o pastorado desta igreja
antes que eu morra, porque quero que você faça o meu sepultamento”. Eu respondi
que não podia prometer isto porque a minha permanência na igreja não dependia
só de mim, mas era uma decisão colegiada, mas que eu sim prometeria que, não
importa onde estivesse, eu viria para o seu sepultamento. Ela abaixou os olhos
por alguns segundos, como que pensando, voltou a me olhar e disse: “eu vou orar
pedindo a Deus que você não deixe a igreja antes de me enterrar”.
Fiquei emocionado.
Depois de um ano na igreja, tive problemas com um grupo que
queria que eu deixasse o pastorado. Não conseguiram me tirar. Depois de três
anos fui convidado para outra igreja, aceitei o convite e não deu certo. Outra
igreja me chamou para uma visita, fizeram um convite formal, pedi tempo para
pensar, respondi afirmativamente depois de alguns dias e eles nunca mais
entraram em contato.
Eu tinha esquecido da oração da Dona Amélia!
Estava no final do meu sexto ano na igreja quando ela
faleceu. Fiz a cerimônia fúnebre tal como havia prometido. Neste tempo a igreja
havia renovado meu convite para mais três anos, estava na fase final de uma
grande reforma e tinha planos mil.
Uns vinte dias depois do falecimento da Dona Amélia recebi
um recado que estavam querendo falar comigo e que era uma ligação
internacional. Atendi e era um convite para eu ir para o Equador assumir uma
secretaria do Conselho Latino Americano de Igrejas. Eu não queria ir. Conversei
com alguns amigos e todos me aconselharam a aceitar. No domingo em que meu
compromisso de renovação por mais três anos era celebrado, eu comunicava à
igreja que estava deixando o pastorado.
Mudei para Quito. Uma noite acordei e foi como se estivesse
escutando a Dona Amélia: “eu orei e você ficou até o meu sepultamento; agora
você está liberado da promessa”.
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