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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

RECOMEÇAR: A GRAÇA DE DEUS

Escrevi certa feita que deve ser chato ser Deus porque nada é novo ou diferente para Ele, nada pode maravilhá-Lo. Ele sabe de tudo, criou tudo.
Mas há outro elemento que tem me inquietado. Porque é Deus, não pode nem pôde recomeçar algo. Ele faz tudo tão certo que não há necessidade de refazer. Não precisa aprender com os erros porque, segundo definição, é impossível que erre.
Fiquei me imaginando no lugar de Deus e não gostei. Uma vida certinha, sempre fazendo tudo tão correto, certo e perfeito me cheirou algo meio cansativo, monótono, sem sentido.
Ficar a vida toda sem a possibilidade de recomeçar, sem a possibilidade de melhorar o que se fez imperfeito na primeira, de dar um toque especial.
O fato de fazer tudo certo já na primeira vez não exige que a vida tenha recomeços. Recomeçar é característica dos seres humanos e animais. A necessidade de recomeçar, de ter a esperança de que na próxima vez será melhor, é coisa tipicamente humana. Deus não precisa disto. Deus não tem esperança porque só espera quem não tem as condições de realizar o que espera que aconteça.
Deus não tem a limitação do tempo. Os entendidos e definidores de como Deus é dizem que Ele é um ser a-temporal, não sujeito às condições do tempo. Por isto o definem como eterno, sem princípio nem fim de dias. Não teve começo e não terá fim. Deus não se rege pelos meses, estações, luas, anos, séculos ou milênios.
Isto é coisa do “andar de baixo”. Nós precisamos de uma noite para descansar (Deus não descansa, ainda que a Bíblia diga que Ele descansou e mais tarde Jesus contradiz isto dizendo que Ele e o Pai trabalham até agora). Precisamos de uma noite para renovar forças e esperanças. O salmista, afirmando algo que todos gostamos de acreditar, diz: “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”.
Os dias terminam com a entrada da noite e isto é recomeço. A noite termina com a entrada do dia e isto é recomeço.
Recomeçamos com as trocas das luas, com a entrada das estações, com a mudança dos meses, com a entrada de um ano novo. Precisamos destes recomeços porque vivemos de esperança. E esperamos que amanhã seja melhor, que o próximo verão seja melhor, que no próximo Natal toda a família esteja reunida, que no próximo ano seja promovido ou ganhe mais, etc e tal.
A vantagem de ser humano é esta capacidade de recomeçar, de aprender com os erros e acertos da vida. A beleza da vida é a esperança, coisa típica e maravilhosamente humana. Quem não espera, morre.
E esperar contra toda a esperança foi a grande obra de Abraão, o pai da fé. E esperar dias melhores. Não houvesse esta esperança o mundo seria muito mais violento, um verdadeiro caos. Amadurecemos porque podemos recomeçar. Crescemos porque podemos avaliar e corrigir. E podemos corrigir infinitas vezes. Porque podemos recomeçar, Jesus ensinou que devemos perdoar ao próximo setenta vezes sete. Porque podemos recomeçar, os anabatistas são contra a pena de morte, porque ela retira a capacidade de se arrepender e recomeçar.
A benção de recomeçar é graça de Deus!
Marcos Inhauser

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

ALGUNS DIAS DEPOIS DO NATAL

Contrariamente à crença popular e de muitos “religiosos”, os magos não visitaram Jesus na estrebaria. O fato de que Herodes tenha pedido para matar as crianças com menos de três anos de idade é um indicativo de que, na conversa que teve com os magos, eles lhe disseram que o nascimento ocorrera há algum tempo.
No entanto, a história dos magos nos traz algumas lições para os dias subsequentes ao advento. A primeira é que eles estavam atentos aos sinais da presença de Deus na história. Perceberam que algo ocorrera e que isto tenha grande significado para eles e para a humanidade. Uma luz no céu entre tantas outras, foi suficiente para reconhecerem o sinal da ação de Deus. Esta mesma vigilância e atenção aos sinais da ação de Deus na história devem estar presentes nas nossas vidas. Como bem disse Karl Barth, o cristão dever ter em uma das mãos a Bíblia e na outra o jornal. Ler a Bíblia sem buscar no palco da história os atos de Deus é perder parte da revelação. G. Ernest Wright disse que a Bíblia, mais que Palavra de Deus, é a coleção dos “Atos de Deus”. Oscar Cullmann também chamou a atenção para a história como palco das ações divinas.
A segunda coisa a ser notada é que, apesar de estarem atentos para os sinais de Deus na história, eles foram ao palácio real na esperança de lá encontrar o Rei nascido. Ledo engano. Confundiram as bolas. Tiveram que corrigir a rota e ir ao local humilde onde Jesus morava. Na história da cristandade há uma infinita coleção de exemplos de pessoas que buscaram, ensinaram ou levaram outros a buscar Jesus não na manjedoura, não na casa simples, não no povoado humilde de Nazaré, mas na opulência dos palácios, das catedrais, dos “shows da fé”, das grandes concentrações, “Diante do Trono”, na boca das estrelas televisivas de um evangelho transformado em “gospel”, mais mercado que sacríficio, serviço e humildade.
A terceira lição que eles nos dão é que saíram de seus lugares, de suas casas, de seus povoados para ir adorar ao recém-nascido. Não há verdadeira adoração quando não há a disposição de se mover, de sair de onde se está, para, em companhia de outros (eram três), em comunhão, adorar ao Emanuel.
A quarta lição é que levaram do que de melhor tinham para ofertar. A excrecência apresentada nos templos da prosperidade trabalha o dar para receber, em uma negociata com o divino. Quando se dá, obriga-se Deus a retribuir na proporção do dado. Não se vê isto nos magos. Deram. Simplesmente deram. E deram com gratidão.
A quinta lição é que nem todos tem a verdadeira intenção de adorar ao Rei, mesmo que assim expressem. Herodes demonstrou desejo de também adorá-lo. Os magos foram alertados para a intenção perniciosa do rei. Ele queria reinar absoluto, sem conceder qualquer privilégio ao recém-nascido. Quando há pessoas que se apresentam em adoração e querem brilhar mais que o adorado, que trazem nas fachadas dos seus templos enormes fotos pessoais, que buscam estar na mídia para aparecer mais que o Rei, estão, como Herodes, mandando matar crianças menores de três anos para que seus brilhos não sejam apagados.
Marcos Inhauser

NÃO VI......

Já tinha me acontecido outras vezes. E mais uma agora. A primeira foi na final da Copa do Mundo em 2002. Estava em Lousiville em uma reunião de umas seis mil pessoas e no dia anterior eu disse que quem quisesse assistir ao Brasil ser campeão (como de fato foi) que fosse ao meu quarto do hotel que ali veria o jogo. Havia uma TV a cabo com mais de 150 canais, sendo uns 20 só para esporte. Na hora agá, rodo da esquerda para a direita, para cima e para baixo e não havia um só canal transmitindo a final da Copa do Mundo. Nos canais de esporte tinha até reprise de beisebol e nada de futebol. Subi nas tamancas e fui falar com a gerência e nada.
Em 2009 foi a vez de uma final do Campeonato Brasileiro. Estava na República Dominicana. Neste tempo já havia internet e achei que veria na televisão (transmitem até jogo de segunda divisão do futebol mexicano!) ou na internet. Fiquei a ver navios.
Agora outra vez. Estava na China, tinha três assinaturas de TV a cabo a meu dispor, mais internet. Esta começou a apresentar problemas já que cheguei, porque o governo chinês “monitora” (censura) o acesso a sites fora do país. Tinha acesso a um VPN e achei que o problema estava resolvido. Que nada!
Nos canais de esporte tinha de tudo, menos o jogo do Mundial de Clubes. Quando o Corinthians jogou contra o Al Ahly só consegui ouvir uma rádio pela internet e mesmo assim, a cada pouco cortava a ligação e eu ficava a imaginar o que estaria acontecendo.
Para a final, nada de novo. Sem transmissão, sem acesso à net. Tentei alguns sites e recebia a mensagem de que as imagens não podiam ser vistas fora do Brasil.
Sai de Beijing duas horas antes de começar a final e cheguei a Nova York umas 10 horas depois de terminado. Foi buscar acesso à internet e o único que consegui ler foi que o Curinga tinha vencido por um a zero. Nada mais! Não deu para saber quem marcou, como marcou, etc. Na segunda vez que consegui alguma coisa, li que o Cassio tinha sido eleito o melhor jogador do torneio. Imaginei que o Corinthians tinha passado sufoco para que o goleiro fosse o herói do jogo.
Na viagem de volta, o avião só tinha corintiano e uma são-paulina. Todos a rigor, com camisetas, bonés, faixas, etc. Era mano prá todo lado. Quando vi aquela gente toda, imaginei que o voo seria uma zona. Que nada. Silêncio.
Ao tocar o solo em Cumbica, houve uma explosão e o hino corintiano foi cantado com emoção. Para contrariar a fama de que corintiano é malandro, pela primeira vez em minha vida (e olha que já viajei um bocado), ouvi anunciar que um óculos de sol (de marca) havia sido encontrado no banheiro do avião e que o dono o procurasse junto aos comissários de voo.
Até uma camisa com o problemático logo verde da Fifa e autografada por todos os jogadores eu vi. Sinal dos tempos?
Marcos Inhauser

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

BIG DATA



Sem muito o que fazer fora de casa nestes dias de invernos que tem chegado aos dez graus abaixo de zero, o negócio foi ir a um museu aqui em Beijing. Fomos ao Museu da Capital, que tem a apresentação de objetos de um mesmo tema em ordem cronológica. Assim, a seção de cerâmica apresenta os mais antigos vasos de barro encontrados na área de Beijing, a evolução da técnica, até chegar à porcelana chinesa de primeiríssima qualidade. Esta concepção evolucionista está presente nas demais seções do museu (moradias, vida em sociedade, religião e suas obras de arte, etc.).
À medida que ia vendo os objetos e a evolução deles, eu tinha como pano de fundo um artigo que estava lendo na Harvard Business Review sobre informação (“Big Data”) que descreve a quantidade de informações que hoje temos à mão e como elas estão sendo direcionadas para promover os negócios, segmentando o público alvo e apresentando “oportunidades de negócios” segundo o perfil de casa usuário. Por que gastar propaganda de bebidas e cigarro comigo, se não bebo e não fumo? Melhor investir em quem fuma ou pode vir a fumar e beber. Por que gastar tempo tentando vender música rock, rap, hip-hop, axé a alguém como eu que detesto isto? Melhor me propor Bocelli, orquestras e música clássica.
E como eles sabem quais minhas preferências? Meu histórico de compras no cartão de crédito, minhas andanças pela internet, os restaurantes a que vou, etc.
Olhando as peças no museu e pensando neste mundo da informática e “data”, o que chama a atenção é a progressão geométrica do conhecimento humano. Se na antiguidade passavam-se séculos até desenvolver-se uma nova técnica cerâmica, hoje as inovações são do dia para a noite. Nunca se soube tanto sobre tanta coisa como hoje. O grande dilema da atualidade não é falta de informação, mas como selecionar o que se tem. Coloque-se no Google a palavra religião e se tem 52 milhões de resultados, Corinthians 74 mi, teologia 17 mi, Deus 248 mi, God 459 mi, Cristo 800 mi. Por aí vai.
Com esta quantidade de informação não é de se surpreender que haja tanta informação sobre a vida pessoal, sem que se tenha pedido licença ou autorizado. Fiquei assustado dia destes quando, ao pesquisar algo sobre a história da família Inhauser, descobri um site (pipl) que informa um monte de coisas a meu respeito, inclusive do tempo em que morei nos Estados Unidos e meu endereço em Chicago, onde vivi há mais de 20 anos. A privacidade foi para o espaço. Eu me senti como múmia em museu: mesmo depois de morto ainda tem gente me visitando e buscando informações sobre meu passado.
Por outro lado, fiquei pensando como é angustiante viver em tempos como o nosso. Se eu quiser saber se posso ou não comer ovo por causa do colesterol alto (622 mil artigos), vou achar um monte de informação, muitas se contradizendo, que chego à conclusão que pouco vão me ajudar a decidir, mas me ajudarão a conhecer o que se sabe sobre ovo.
A angústia está no saber e muito mais no decidir. Parece que o Coelet (pregador bíblico) é quem tinha razão: o muito saber é vaidade (Então vi toda a obra de Deus, que o homem não pode perceber, a obra que se faz debaixo do sol, por mais que trabalhe o homem para a descobrir, não a achará; e, ainda que diga o sábio que a conhece, nem por isso a poderá compreender. Ec 8:17; Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor. Ec 1:18).
Marcos Inhauser

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

UM TRÂNSITO SEM MOTOS NEM CAMINHÕES



É a segunda vez que venho à Beijing no inverno. O daqui não é tão duro quanto os que enfrentei quando vivi em Chicago (onde cheguei a sair de casa com -22º.C e sensação de frio de -43º.C). Nesta semana tivemos temperaturas de -8º.C. No domingo, o pior dia, às 10:00 da manhã estava -5º.C e um dia cinzento e feio. O que não vi até agora (apesar de estar aqui há quinze dias) foi o sol. Em parte pelo clima, mas em grande parte por causa da poluição.
Desta, assim como das outras vezes, tive a oportunidade de ir ao centro de Beijing (estou a uns 30 kms do centro, em um distrito). Uma coisa tem me chamado a atenção: o tráfego é pesado, mas até agora, não vi congestionamento, daqueles de ficar tudo parado. Comecei a pensar e a verificar algumas coisas do tráfego aqui.
A primeira constatação que fiz é que vi pouquíssimas motos. Aqui não há esta praga que tem infernizado a vida dos motoristas das grandes cidades e tem ceifado vidas em escala de guerra. Não há os costumeiros acidentes, com interdição de pista e ambulância buzinando para atender aos acidentados com as motos.
Outra coisa rara de se ver são caminhões. Já andei pelos cinco anéis que circundam Beijing, assim como semanalmente viajo pelo Rodoanel de São Paulo. A diferença é gritante. Em São Paulo, a concentração de trucks e biarticulados, com até nove eixos, é presença constante. Até agora não vi estes monstrengos por aqui. Mesmo os caminhões “normais” são em quantidade muito inferior ao que se vê em São Paulo, Rio e outras cidades brasileiras. Parece que aqui a opção foi pelo transporte ferroviário, mais barato e menos congestionador.
A terceira coisa que é raridade é ambulância com sirena aberta. Em um esforço de memória, não consigo me lembrar de alguma vez ter ouvido alguma sirena. Também não me lembro de ter visto carro de polícia de sirene ligada. Os carros existem, a polícia existe, mas sem espalhafato.
Ainda não vi helicóptero sobrevoando a cidade para levar endinheirados de um ponto a outro, nem para noticiar sobre condições de trânsito. Os carros quebrados ou com pane seca ainda não vi, em parte porque a gasolina tem preço acessível e as pessoas não ficam rodando no bafo. Os carros, na quase totalidade, têm menos de cinco anos. Não sei o que acontecerá quando a frota envelhecer.
Os ônibus são do tipo inglês (dois andares) e não vi os bi e triarticulados. Parece que preferiram verticalizar para levar mais gente em menor espaço ocupado. Os bi e triarticulados ocupam mais metros quadrados para levar gente.
Isto aqui não é o céu. Longe disto! Se o trânsito é melhor, a poluição é assustadora. Lembro-me que aa última vez quando estávamos indo ao aeroporto e ao longe uma nuvem escura pairava sobre Beijing. Meu neto perguntou o que era aquilo e a mãe respondeu: aquilo é poluição.
Se o trânsito tem alguns aspectos positivos, o mesmo não acontece com a internet. É lenta, irritante e não dá acesso a vários sites internacionais, tais como Google, Facebook, Blogs, Yahoo, Bing. Censura mesmo!
Marcos Inhauser