Acaba mais uma celebração de Natal. Os
mais puristas dirão que lá se vão mais de dois mil anos de celebrações. Outros,
mais atentos e analíticos, questionarão, considerando que não há indícios de
celebração do Natal nos primórdios da Igreja e que mesmo a data do nascimento
nunca se conseguiu precisar e o que se celebra é uma convenção.
Há quem coloque o início das
celebrações no século IV, a partir da figura de Nicola, nascido em Pátara –
Ásia Menor, figura reverenciada por diferentes tradições cristãs. Com idas e
vindas na história de Nicolau, que acabou virando santo e bispo de Myra, a tradição de São Nicolau, que envolvia o distribuir
presentes na noite de natal, se expandiu pela Europa no século XII. Quinhentos anos
depois, os holandeses levaram esta tradição aos Estados Unidos, e também se
difundiu por toda a América Latina.
Inicialmente Papai Noel distribuía os
presentes montado em um cavalo. Mais tarde o escritor Clement Moore colocou
o São Nicolau em um trenó puxado por renas. Mas foi a Coca-Cola quem, em 1931,
fez uma campanha natalina, onde o personagem ganhou roupa vermelha, barba e
enorme barriga.
Muito se escreveu criticando esta
celebração do Natal onde o Papai Noel tem maior importância que o nascido, onde
os presentes falam mais alto que a mensagem do nascimento de Jesus, a comilança
toma espaço da fraternidade.
Há, no entanto, algumas coisas que
devem ser consideradas depois que a festa acaba. Não há na cultura brasileira
e, quiçá, na cultura ocidental, outro evento social que produza mais encontros
familiares e de conhecidos, que promova mais tempo à mesa, mais
confraternização, mais generosidade, mais perdão que o Natal. Que outro momento
se tem tanta gente saindo de suas casas para visitar pais e parentes, para ter
um tempo em família? Que outro evento provoca mais tempo à volta de uma mesa
para uma refeição comunal? Talvez alguns citem o Thanksgiving estadunidense,
mas ele tem um demérito: parte da tarde todos se sentam à frente da televisão
para ver o Super Bowl. No Brasil e América Latina nem futebol tem. A televisão
é de uma pobreza indescritível e o melhor é ficar conversando que ver o que
passam.
Que outro evento produz mais giro no
mercado, mais movimentação nas lojas, mais generosidade nos presentes, mais
empregos, mais desejos de felicidade mesmo expressos a desconhecidos? Que outro
evento produz mais gente engajada em solidariedade distribuindo presentes e
comida aos mais necessitados, cânticos corais com apresentações nos mais
variados espaços? Que outro evento inspirou tantos compositores a compor
músicas, algumas que são obras primas da humanidade, como, por exemplo, o
Aleluia de Haendel?
É verdade que houve quem bebeu e se
excedeu no Natal. É verdade que tem gente de ressaca hoje. É verdade que tem
gente que vai levar alguns meses para pagar os presentes que comprou e outros a
comida que colocou sobre a mesa. Mesmo assim, nunca vi alguém reclamar da
celebração do Natal. Há algo de mágico nele e sua comemoração. Tenho para
comigo que o mágico é a mesa. O comer juntos é a prática mais antiga da
humanidade. Já li o Yuval Harari, o Reza Aslam, o Domenico de Masi em suas
incursões sobre a história da humanidade. Não vi neles uma ênfase no comer
juntos como elemento formador da comunidade, ainda que isto seja tão antigo
como o ser humano. Comer juntos é compartilhar, é dar do que se tem, é
beneficiar o outro com o alimento. Isto também se faz no Natal e assim se
retoma a prática mais antiga da humanidade!
Marcos Inhauser