O CULTO COMO EPIFANIA
A
epifania é usada no sentido religioso para as manifestações divinas, quando há
a consciência de estar na presença da divindade. Neste contexto, epifania seria
o momento ou a sensação de estar diante de Deus ou de alguma de suas
manifestações. Se o culto é o momento exclusivo dedicado ao encontro com a
Trindade, o culto é uma experiência epifânica, no sentido de que, ao dele
participar, a pessoa está aberta para a divindade e suas manifestações.
A
garantia da presença de Deus na reunião está nas palavras de Jesus: “onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20). Há algumas coisas nesta afirmação que devem
ser consideradas.
- 1.) A reunião deve ser
“em nome de Jesus”. Não é qualquer reunião, mas algo que tem como denominador
comum Jesus Cristo. Por isto o culto deve ser cristocêntrico.
- 2.) O número não é
importante. Deve ser uma reunião. Não há a garantia da presença se não houver a
reunião. O número é mínimo.
- 3.) O texto não faz
exigências como, por exemplo: reunidos no templo, reunião para estudo bíblico,
reunidos para orar etc. O importante é que haja reunião em nome de Jesus.
- 4.) A presença não
depende de oração de invocação. Jesus prometeu
estar. É a graça se fazendo concreta.
A presença é real,
mas não visível. Sabe-se e se pode ter certeza da presença de Cristo porque
esta é Sua promessa. Os que se reúnem em nome de Jesus o fazem na fé de que Ele
está no meio deles, ainda que Ele não seja visível.
No entanto, sente-se
a presença através dos cânticos, orações, abraços, comunhão, leitura da
Palavra, ensino, benção, Ceia, batismo, unção de enfermos, lavagem dos pés. Não
é uma experiência que se possa traduzir em dados concretos e quantificáveis,
mas é uma experiência “emocional, afetiva e pessoal”. O culto tem, então, uma
dimensão além do racional e das palavras proferidas nas orações, cânticos e ensino.
O Culto deve ser “sentido”.
É verdade que Paulo afirmou
que há uma racionalidade no culto (Rm 12:1), mas também é verdade que há
emoções no culto. Pode haver e haverá
pessoas emocionadas e que chegam às lágrimas. A emoção faz parte do culto, mas
não é nem obrigatória, nem evidência de que o culto foi mais abençoado porque
alguém se emocionou.
A presença real não
visível tem uma dimensão de visibilidade indireta. Não se vê a Cristo no culto
de forma direta. Ele é visto no próximo, a quem amo, toco, abraço, oro por ele
e ele por mim. Ele é criatura de Deus, feito à imagem e semelhança de Deus. Ver
o próximo, amar o próximo é a forma de ver ao Criador e amá-Lo. No encontro com
o próximo a visibilidade da presença de Jesus se faz concreta na comunhão dos
participantes.
Nos rituais próprios
do culto cristão (oração, cânticos, ensino, Ceia, batismo, lavagem dos pés,
leitura, unção dos enfermos e ensino da Palavra) há a concretude da
visibilidade da presença não visível, mas real. Pelos rituais eu vejo e
compartilho com o próximo. Na lavagem dos pés, eu toco o outro. No abraço eu
sinto o outro. Nas orações, intercedo pelo outro. O culto é cristocêntrico que
se faz concreto no próximo e na comunhão. É a epifania que se realiza. O outro
passa a ser Cristo para mim e eu Cristo para ele.
No culto não deve
haver espaço para o egoísmo, para os discursos onde o “eu” é a ênfase. O culto
deve transformar o eu, meu, em nós e nosso. Por isto, a “comunhão é a peça
central no culto.” O culto deve se estender para que, mesmo depois do encerramento
dele, a pessoa seja alguém voltado para o próximo e não egoísta.
PERGUNTAS PARA
REFLEXÃO
Quando
você participa de um culto, você tem a consciência de que se trata de um tempo
de encontro especial com Deus?
A
solenidade, o silêncio, a reverência, no seu entender, ajudam a ter esta
consciência?
A
presença de Jesus se deve às nossas orações para que Ele esteja presente, ou
Ele estará presente porque prometeu?
Uma reunião familiar
para aniversário, por exemplo, pode ser um culto?
Um almoço em família,
com oração é um culto?
A quantidade de participantes
influi na “qualidade” de um culto?
Por que muitos
acreditam que “quanto mais gente houver reunida, mais abençoado o culto e”?
Pode-se garantir a
presença quando há dois ou três, mas pode-se garantir a presença quando a quantidade
se torna importante?
Quando uma igreja,
por circunstâncias especiais, se reúne debaixo de uma árvore, na praça, nas
escadarias de um prédio, o culto é menos abençoado ou menos culto?
Podemos duvidar de
que, tendo o povo se reunido em nome de Jesus para culto, Jesus não se fará
presente?
Um culto no qual ninguém chora é menos culto?
Um culto onde todo
mundo chora é garantia da presença e ação de Deus?
É possível manipular
um culto para provocar lágrimas e emoções nos presentes?
Como se dá a
racionalidade no culto?
As emoções devem ser
produzidas, ou elas aparecem espontaneamente?
Você já teve alguma
experiência de ter sido Cristo na vida de outra pessoa?
Durante um culto,
você já sentiu que o irmão ou irmã que participava com você do culto, era Jesus
quem estava ao seu lado?
Se o culto é este
encontro com a divindade na concretude do próximo, pode ele ser irreverente?
É culto uma reunião em que
tem gente levantando a toda hora, indo beber água, mexendo no celular, mantendo
conversas paralelas, não participando dos cânticos e da leitura bíblica?
Marcos Inhauser
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