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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O ROTO FALANDO DO RASGADO

O noticiário político/policial brasileiro tem revelado pérolas, babaquices e uma forte dose de cinismo. O “homem de Deus” ungido que foi para ser autoridade sobre a nação na qualidade de presidente da Câmara, também foi saudado como homem de fé e mão de Deus para operar transformações neste momento delicado. O deputado Marco Feliciano se referiu ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha com uma pergunta a Deus: até quando vais proteger Saul, proteger o que rejeitastes? (fazendo uma alusão a presidenta Dilma). Marco Feliciano se referiu ainda ao deputado Cunha como amigo, “eu fiz campanha para você e te defendo onde eu vou, porque você é um grande homem de Deus”.
Este mesmo senhor que se antecipou indo à CPI onde negou que tivesse contas não declaradas no exterior, pego na mentira, acusa, vê conspiração, faz manobras, manipula e acoberta provas. O leitor de Bíblia e participante das orações no bloco dos deputados evangélicos, saudado pela igreja, a envergonha com suas mentiras e desfaçatez e a usa para lavar seu dinheiro emporcalhado.
O jornal o Globo publicou em seu editorial que o legislativo precisa atuar porque a situação de Cunha o inviabiliza para continuar à frente da Câmara.
A mesma verdade deve ser aplicada ao Renan Calheiros, porque, mesmo não tendo sido flagrado em uma mentira, tem contra si várias acusações de se beneficiar do dinheiro da Petrobrás e de ter contas pessoais pagas por um lobista, referentes ao seu envolvimento extraconjugal. A máxima também se aplica à presidente, quem, por obra e graça da sua competência econômica, fabricou as pedaladas fiscais e as replicou durante 2015.
Neste contexto se entende que as averiguações feitas pelo MP e PF nos limites mais próximos ao Lula (especificamente ao seu filho, prodígio na área de marketing esportivo), não deve ser visto e diagnosticado pelos indigitados como trama para acabar com o PT e com a herança (sic) que o chefe do clã deixou.
Há consenso nacional de que os denunciados devem ser investigados e, comprovadas as falcatruas, devem pagar pelos seus erros. Todos concordamos quando se trata de figurões.
Quando a coisa desce a escada, os mesmos que usam o editorial do Globo para disseminar a ideia de cassação do Cunha, não explicam, fingem não entender, se fazem de mudos, dão explicações cantiflinianas aos pedidos de explicações de dinheiro que lhes foi confiado. Foram ávidos ao receber e lentos (diria lesmáticos) para se explicar. Há quem, como certos deputados e ministros que, em sendo inquiridos e tendo que prestar contas dos seus atos, acham que a verborragia e a acusação dos requerentes os salvarão.
A ética reivindicada do andar superior, precisa ser vivida no âmbito pessoal. As mentiras do Cunha são tão mentiras quanto as que se conta à esposa, filhos, ovelhas ou bispos, as que coloca em relatórios ministeriais ou em contabilidades fraudadas. O certo, o verdadeiro não pode ser sinônimo de útil.

Quem pede a saída do Cunha, Renan e Dilma, deve também sair se está mentindo ou enrolando para se manter em postos ou posições que lhe tragam vantagens e benefícios. É uma questão de coerência! Caso contrário será o roto acusando o rasgado, o mentiroso exigindo a verdade.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

CONHECEREIS A VERDADE

Minha coluna sobre a “Controvérsia sobre a verdade”, escrita há três semanas, me rendeu vários e-mails de crítica e pedidos de melhor posicionamento sobre o assunto. Minha impressão é que houve eleitores que confundiram a provocação à reflexão com uma posição teológica pessoal. Terminava minha coluna com este parágrafo: “Quem afirma que Jesus é a verdade e que ele, sendo a verdade, liberta, tem em si, no bojo desta afirmação, questionamentos sérios. Se a verdade é ele, conhecer a ele é ser liberto. Mas qual dos Jesus devemos conhecer? O descrito nos evangelhos sinóticos ou na teologia joanina? Ou o Jesus das pregações paulinas? Ou o Jesus da tradição eclesiástica? O Jesus da leitura teológica, instrumentalizada com aparato crítico e exegese nas línguas originais, ou o Jesus da leitura simplista? Qual deles é a verdade?”
Afirmar que Jesus é a verdade traz questionamentos. Ei-los: se Jesus é a verdade, ele é a verdade sobre qual assunto, evento, afirmação ou relação? Dizer que ele é a verdade no sentido de que é a verdade sobre tudo é negar a essência do ser verdade. Não existe uma verdade única que sirva para todos os assuntos. Toda verdade é relativa a um tema em particular e se Jesus é a verdade, devemos definir sobre qual assunto ele é a verdade. Há uma área específica sobre a qual ele é a verdade e isto não está definido pelos que afirmam dogmaticamente ser ele a verdade. Quando ele fala que é “o caminho, a verdade e a vida” estava afirmando a especificidade deste ser verdade: “ninguém vem ao Pai senão por mim”. No entanto, ao afirmar “conhecereis a verdade e ela vos libertará”, sobre qual tema estava se referindo?
Perceba-se que ele afirma “verdade” e não “verdades”. A singularidade é fundamental. Sobre qualquer assunto há uma verdade. Em tese, não pode haver mais de uma verdade sobre um mesmo assunto. Ocorre que, um mesmo assunto comporta mais de uma verdade, cada qual se referindo a um aspecto específico do assunto, a uma fatia do salame. Exemplifico: a afirmação de que “o Brasil vive uma crise” é uma verdade. “A crise brasileira é política”: também é verdade, mas não é toda a verdade, porque ela também é fiscal, moral, ética, social, etc. Assim, há uma verdade para cada área que se considere.
Se conhecer a verdade liberta, conhecer a Jesus liberta do quê? Muitos afirmarão que ele liberta do pecado, mas concordarão que quem o conhece, continua pecando. Outros dirão que ele liberta da escravidão do pecado, mas a vida diária mostra que ainda somos escravos do pecado, porque há áreas da vida nas quais pecamos e que, por mais esforço que se faça, não conseguimos deixar de pecar. Outros afirmam que ele é a verdade sobre Deus, uma coisa impossível visto ser Deus incognoscível na sua plenitude, sendo, portanto, impossível conhece-lo por uma única afirmação verdadeira. Nós o conhecemos parcialmente por uma somatória de verdades.

Para se ter melhor compreensão deste conceito de verdade que o evangelho de João traz, temos que nos aprofundar na teologia joanina e esquecer textos fora deste universo de pensamento. Buscar respaldo em teologias outras, mesmo que bíblicas (paulina, petrina, jesuânica, apolina, sinótica, etc.) é buscar nas afirmações da Dilma toda a verdade sobre Eduardo Cunha.
Marcos Inhauser 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

COBRANÇA E TERRORISMO

Toda vez que se repassa a alguém algum valor para que ele faça algo, ou se delega poder para fazer algo ou se investe alguém de alguma autoridade com um determinado cargo, esta pessoa deve prestar contas do que faz com o valor repassado, com o poder conferido ou com a posição atribuída, mesmo que tenha sido feita por eleição.
Eu não tenho o direito de pedir relatórios financeiros ao meu vizinho se não lhe passei qualquer recurso. Agora, caso eu tenha feito a ele uma doação, em função da sua necessidade financeira, para que reformasse o telhado da casa e, passado um mês do repasse, não vejo nenhum trabalho no telhado, tenho todo o direito de pedir a ele explicações sobre o fato e até de exigir que devolva o que lhe foi passado.
Este raciocínio se aplica à esfera federal, estadual, municipal, institucional e individual. Ao pagar impostos eu o faço na esperança da contrapartida dos serviços próprios do estado. Se estes serviços não são prestados ou se se tem evidências de uso indevido dos valores repassados, o cidadão tem o direito e o dever de exigir explicações e relatórios sobre tais repasses. Aí está a Lei da Transparência a exigir dos governantes relatórios claros e disponibilizados na internet.
É verdade que no âmbito federal, estadual e municipal há alguns requisitos para que isto se dê. Exemplo disto é o Tribunal de Contas da União, do Estado ou do Município, que devem fazer a análise se tais recursos estão ou foram devidamente aplicados. Posso provocar para que se manifestem e expliquem, mas devo obedecer certos ritos.
No caso de eu repassar uma verba para uma instituição de interesse público, tenho o direito e o dever de acompanhar a aplicação de tais recursos e cobrar a responsabilidade na pessoa de quem, estatutariamente, é a responsável.
Assim está acontecendo com o caso das “pedaladas fiscais”, do dinheiro em contas secretas do Cunha, da lisura nas campanhas políticas, é o que aconteceu com a ONG Refúgio de Amparo e Promoção Urbana, de Uberlândia e com o capelão Osvaldo Palópito, que é acusado de desviar dinheiro da igreja e de uma ONG. Isto se deu também com o Instituto Atlân­­­tico. Os sócios tiveram os bens indisponibilizados por decisão da Justiça, em ação em que a prefeitura de Londrina pede a devolução de R$ 6 milhões.
Nestes casos e em outros assemelhados, pedir relatório, chamar à responsabilidade quem tem este dever, não é terror psicológico, nem ato de terrorismo, mas ação condizente com os direitos e deveres da cidadania.
O que chama a atenção nos casos citados é que, no Plano Federal se acusa o TCU de fazer julgamento político e se denigre o presidente do Tribunal; o Cunha denigre o Procurador Geral da República; o capelão denigre o contador, o vizinho diz o pedreiro pediu dinheiro adiantado e sumiu e o que sobrou não dá para fazer nada. É a conhecida tática de acusar quem pede explicações, como se isto que produzisse algum efeito. Ainda que o ministro Nardes possa ter algum rabo preso em outras operações, isto não valida o erro de quem é chamado à responsabilidade por ele. Ele, por sua vez, deve explicações naquilo que é instado a esclarecer e se não o fizer, arcará com as consequências.
Por isto, não me venham dizer que pedir investigação na CBF, BNDES, Petrobrás, Câmara, Senado, Congresso, TSE, STJ, STF e chamar para depor quem deve explicações é ato terrorista, golpe ou terceiro turno. É, sim, exercício da cidadania plena.