Nenhum poder político é natural e inerente. Sempre é
concessão via votos, eleições ou, em casos extremos e recrimináveis, via
violência do golpe ou pelas “vias constitucionais” (vide exemplo da Venezuela e
Bolívia). Nenhum poder político é eterno. Mesmo os mais poderosos imperadores e
reis sucumbiram pela morte, deposição ou queda. O exercício do poder
democrático é o exercício do diálogo, ao contrário do poder autocrático que é o
monólogo de “um-que-tudo-sabe”. Na democracia se busca a maturidade cidadã (ao
menos é o que se espera), na autocracia se produz o paternalismo.
Por outro lado, já dizia Maquiavel, que não há posse mais
duradoura que a ruína. Quem se torna senhor de uma nação livre e não a destrói,
será destruído por ela. O desejo de liberdade não se esquece nunca e ele será o
motor para destronar os reis que arruínam a vida do seu povo.
O exercício do poder político se dá sobre um determinado
povo e espaço geográfico. Não há controle remoto nesta matéria. Quando os
poderosos deixam de cooperar para o bem do seu povo, mesmo que antes o tenham
feito, este mesmo povo, anteriormente beneficiado, se levantará contra para
recuperar o que lhe foi tirado ou para ampliar o que tem. Quando o povo tem os
benefícios e estes se mantêm iguais por um longo período, a insatisfação cresce
e o poder político está ameaçado. Eis, assim, o paradoxo: se não dá o que o
povo espera, é derrubado. Se dá e se mantém no mesmo nível, o povo se insurge
querendo mais.
Como todo poderoso tem o desejo de se tornar eterno no poder
e que seu reinado se perpetue na lembrança do povo, precisa ele ser hábil nas
concessões e na administração das insatisfações. Ser eterno, eis a questão.
Para que este projeto se realize, precisam conquistar o
poder, prometendo ao povo, aos mais necessitados, aquilo que anseiam porque
vital para eles: saúde, educação e segurança. Daí porque os discursos de
campanha se repetem a cada nova rodada.
Na história recente do Brasil viu-se projetos que esperavam
vinte ou mais anos de poder. Se inicialmente produziram alguns benefícios para
o povo, enveredam-se por caminhos os mais desastrados possíveis. Assim foi o
Sarney com o Plano Cruzado que redundou na hiperinflação (ainda que, dizem as
más línguas, ele se eternizou no poder); assim foi com o Collor e sua “caça aos
marajás”, que redundou na sua própria caçada e de seu tesoureiro. O FHC com sua
ambição produziu o advento da reeleição e, depois de terminar seu mandato,
muitos dos seus tinham vergonha de colocá-lo ao lado nas aparições públicas.
Assim foi com o PT: do “Fome Zero” para o Mensalão e Petrolão.
Muito se fala que o povo não sabe votar. Isto é verdade em
parte. Muitos dos corruptos, dos malandros, dos propineiros não conseguiram se
eleger ou se reeleger. Ficaram pelo caminho. Partidos há que encolheram,
perdendo votos, prefeituras e representação nas Câmaras Municipais. O PMDB
encolheu 12,5% e o PT bateu os 60,9%. Como toda regra tem sua exceção, o PP,
todo enrolado com a Lava Jato, manteve-se praticamente igual: -0,1%.
Houve significativa renovação nos quadros políticos, o que
dá certa esperança de que gente nova terá novos hábitos e nova forma de fazer
política. E assim deve ser, haja visto a alta taxa de abstenção, votos nulos e
em branco. Somados, pode-se entender como uma nota Zero para a classe política.
Marcos Inhauser