Minha coluna sobre a “Controvérsia sobre a verdade”,
escrita há três semanas, me rendeu vários e-mails de crítica e pedidos de
melhor posicionamento sobre o assunto. Minha impressão é que houve eleitores
que confundiram a provocação à reflexão com uma posição teológica pessoal. Terminava
minha coluna com este parágrafo: “Quem afirma que Jesus é a verdade e que
ele, sendo a verdade, liberta, tem em si, no bojo desta afirmação,
questionamentos sérios. Se a verdade é ele, conhecer a ele é ser liberto. Mas
qual dos Jesus devemos conhecer? O descrito nos evangelhos sinóticos ou na
teologia joanina? Ou o Jesus das pregações paulinas? Ou o Jesus da tradição
eclesiástica? O Jesus da leitura teológica, instrumentalizada com aparato
crítico e exegese nas línguas originais, ou o Jesus da leitura simplista? Qual
deles é a verdade?”
Afirmar que Jesus é a verdade traz questionamentos. Ei-los:
se Jesus é a verdade, ele é a verdade sobre qual assunto, evento, afirmação ou
relação? Dizer que ele é a verdade no sentido de que é a verdade sobre tudo é
negar a essência do ser verdade. Não existe uma verdade única que sirva para
todos os assuntos. Toda verdade é relativa a um tema em particular e se Jesus é
a verdade, devemos definir sobre qual assunto ele é a verdade. Há uma área específica
sobre a qual ele é a verdade e isto não está definido pelos que afirmam
dogmaticamente ser ele a verdade. Quando ele fala que é “o caminho, a verdade e
a vida” estava afirmando a especificidade deste ser verdade: “ninguém vem ao
Pai senão por mim”. No entanto, ao afirmar “conhecereis a verdade e ela vos
libertará”, sobre qual tema estava se referindo?
Perceba-se que ele afirma “verdade” e não “verdades”. A singularidade
é fundamental. Sobre qualquer assunto há uma verdade. Em tese, não pode haver
mais de uma verdade sobre um mesmo assunto. Ocorre que, um mesmo assunto
comporta mais de uma verdade, cada qual se referindo a um aspecto específico do
assunto, a uma fatia do salame. Exemplifico: a afirmação de que “o Brasil vive
uma crise” é uma verdade. “A crise brasileira é política”: também é verdade,
mas não é toda a verdade, porque ela também é fiscal, moral, ética, social,
etc. Assim, há uma verdade para cada área que se considere.
Se conhecer a verdade liberta, conhecer a Jesus liberta do
quê? Muitos afirmarão que ele liberta do pecado, mas concordarão que quem o
conhece, continua pecando. Outros dirão que ele liberta da escravidão do
pecado, mas a vida diária mostra que ainda somos escravos do pecado, porque há
áreas da vida nas quais pecamos e que, por mais esforço que se faça, não
conseguimos deixar de pecar. Outros afirmam que ele é a verdade sobre Deus, uma
coisa impossível visto ser Deus incognoscível na sua plenitude, sendo,
portanto, impossível conhece-lo por uma única afirmação verdadeira. Nós o
conhecemos parcialmente por uma somatória de verdades.
Para se ter melhor compreensão deste conceito de verdade que
o evangelho de João traz, temos que nos aprofundar na teologia joanina e
esquecer textos fora deste universo de pensamento. Buscar respaldo em teologias
outras, mesmo que bíblicas (paulina, petrina, jesuânica, apolina, sinótica,
etc.) é buscar nas afirmações da Dilma toda a verdade sobre Eduardo Cunha.
Marcos Inhauser
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