Com certeza você já se deparou com uma espécie destas que abunda na fauna das coisas incompletas. Aliás, tenho me surpreendido com a quantidade de pessoas que se enquadram neste quesito.
O sujeito gerúndio é aquele que, quando perguntado sobre uma delegação, atribuição dada, expectativa que ele passou acerca dele mesmo, nunca conjuga o verbo no passado perfeito. Sempre vem com o gerúndio: “estou fazendo”, “estou pensando”, “estou buscando”, “estou planejando”, “estou vendo”, e por aí vem a infinidade de gerúndios que ele devolve toda vez que é cobrado ou instado a dar relatório sobre suas atividades.
Ele nunca termina nada! É um começa tudo, terminada nunca. Ele tem a capacidade de se empolgar instantaneamente com qualquer coisa, ideia, novidade, produto, trabalho, missão, mas, pouco tempo depois, o entusiasmo vai embora com a mesma velocidade com que chegou.
Estes me fazem lembrar do sábio Cirino, boia fria negro, com quem aprendi, na infância, algumas lições que jamais esqueci. Ele dizia: “tem gente que é como fogo no canaviá: quando pega fogo é uma beleza, uma ilumiação que se vê de longe. Mas o fogo dura pouco e quando apaga é só sujeira que deixa.” Outra do Cirino: “árvore que cresce rápido tem madeira fraca: quebra no primeiro vento”.
Tive um colega, pastor, que era um tipo diferente de gerúndio: ele sonhava em fazer alguma coisa, pensava um pouco e depois saia contando para todo mundo que estava fazendo o que havia sonhado. Só que não havia movido uma palha para implementar o que havia sonhado. Quando perguntado, via-se a madeira fraca: alegava dificuldades, falta de tempo, falta de recursos, mas sempre na forma gerúndica, nunca na terminativa.
Tive um aluno que era outro espécimen desta galera: ele imaginava fazer coisas grandiosas. Ao invés de sentar e detalhar o que iria fazer, ele me ligava dos Estados Unidos querendo me convencer a levar adiante o que estava sonhando. Eu dizia: “porque você mesmo não faz?” Ele me respondia: “você tem mais habilidade para gerenciar estas coisas”. Ele nunca realizou nada e na andropausa está depressivo porque não tem nada para mostrar aos filhos e netos.
Tive outro aluno que era tão detalhista que passava horas e dias trabalhando no detalhamento de um plano que tinha em mente. Ele vinha com um monte de papel, desenhos, gráficos, planilhas, cronograma, etc. Explicava em detalhes e tinha resposta para tudo. Nunca o vi realizando nada e quando o encontrei algum tempo depois, ainda era o mesmo. Sonhador, perfeccionista, sem ser realizador ou mesmo realista.
Há os que vêm com todo o arroubo possível, falando maravilhas das coisas que quer fazer e tentando convencer a entrar com ele na empreitada. A melhor técnica é pedir que ele elabore um projeto completo, com etapas, cronograma e custos. Você diz: “quando você tiver isto pronto, volte para conversarmos”. Há alguns que estou esperando há décadas.
Há os que, empolgados com qualquer novidade, abraçam tudo o que aparece. Como se diz no espanhol: “abrazan mucho, apretan poco”. Atiram em todos os pássaros e erram quase todos os tiros. Têm dificuldades em estabelecer prioridades, eleger o que importa, o que é factível. Ichak Adizes, consultor renomado, diz que são os Incendiários: sonhadores, imaginários, inventores de coisas e métodos, cada dia tem uma ideia nova que vai resolver todos os problemas da família, da igreja, da empresa ou do mundo. Ele bota todo mundo para correr atrás das suas pirotecnias. Ao novo dia as ideias de ontem serão abandonadas por outra melhor que acabou de ter. É especialista em criar de úlceras em todos. Acredita que será reconhecido pelas ideias geniais que tem.
Falei e disse! (não vou usar o gerúndio, mas “vai ter gente me criticando”!)
Marcos Inhauser
Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
Leia mais
Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira
quarta-feira, 24 de julho de 2019
quarta-feira, 17 de julho de 2019
IGREJA QUE É IGREJA
Por mais igrejas que existam e pessoas que são
frequentadoras delas, pedir aos pastores e membros que definam o que é a igreja
é colher uma enxurrada de definições diferentes e, muitas vezes, díspares. Digo
isto a partir da minha experiência como pastor que já viajou um bocado e
visitou inúmeras igrejas.
Por anos foi um estudioso delas, pesquisando e tabulando
dados sobre a membresia, tempo de permanência e várias outras condicionantes.
Achei que tinha um bom entendimento sobre o assunto, mas era conhecimento
cartesiano, racionalista e numérico.
Com o tempo percebi que a igreja é de uma natureza e dimensão
que não se pode buscar conhecê-la só pelos números. Acabei me envolvendo em reflexões
que me direcionavam à busca da essência da igreja, aquilo que ela é em uma
definição minimalista. Tomei como base o texto onde Jesus afirma que onde estiverem
dois ou três reunidos em seu nome, ele ali estaria. Cheguei à conclusão que
igreja é reunião de gente, em nome de Jesus. Igreja é comunhão, onde as pessoas
reunidas se conhecem e compartilham não só a fé, mas também a vida (incluindo
bens). Igreja é a agência divina para mostrar, de
forma concreta, o amor ao próximo e o amor de Deus por todos.
Nesta caminhada foi
surpreendido e fiquei estarrecido com algumas coisas que ouvi. Um casal,
frequentador de uma determinada igreja, estava enfrentando dificuldades financeiras,
porque ambos haviam perdido o emprego e eles tinham um bebê que precisava de um
leite especial. A água estava para ser cortada, bem assim a eletricidade e o
aluguel eles haviam recebido uma dose de paciência do proprietário. Foram ao
pastor da igreja pedir ajuda para o leite do bebê. O pastor disse que ia pensar
no assunto e, no outro dia, disse que a igreja não podia ajudá-los porque eles
tinham outras prioridades.
Outra, que foi ovelha
minha em Rio Verde, teve que mudar-se para São Paulo para arrumar emprego,
casou-se com um asiático, ele foi embora sem mais nem menos e ela ficou na rua
com quatro filhos. Colocou o que tinha no carro e, com os filhos estacionou no pátio
de uma enorme Catedral. Falou com um dos pastores, pediu ajuda e ele disse que a
ajuda que poderia dar era permitir que ela passasse a noite dentro do carro,
mas que, por razões de seguro, ela não poderia ficar mais tempo.
Outra é de um
casal, ambos pastores. Ela está com câncer há algum tempo, já passou por várias
cirurgias e não tem podido trabalhar. O marido tinha dois empregos e perdeu um.
Ela precisa fazer uma cirurgia para retirada de uma bolsa colostômica. Dada à
natureza das cirurgias anteriores, a retirada desta bolsa é complicada e o
anestesista cobra um bom dinheiro para fazer. Ninguém da igreja à qual eles
servem e nem a igreja se dispuseram a ajudá-la. A Igreja alegou que estão muito
focados na construção e que não podem desviar recursos.
Já há algum tempo
tenho pensado que uma forma de se conhecer uma igreja é ver onde ela aplica
seus recursos. Se o maior gasto que uma comunidade tem é com edifício,
manutenção, aparelhos de som, eletricidade, há algo de errado com esta igreja.
Igreja existe para
ser canal do amor de Deus, Se não faz isto para atender aos necessitados, tenho
dificuldades em reconhecê-la com igreja verdadeira.
Marcos Inhauser
Marcadores:
ajuda ao próximo,
Essência da igreja,
igreja e recursos
quarta-feira, 10 de julho de 2019
NÃO SE AJUDA ...
Uma máxima das relações de ajuda é que “não se ajuda quem não quer ser ajudado”. Parece óbvio, mas me assusto com a quantidade de vezes que perdi meu tempo tentando ajudar quem não queria ajuda ou, pelo menos, achava que não precisava de ajuda.
Devo reconhecer que querer ajudar é uma forma que pode ser demonstração de poder ou superioridade. Eu me disponho a ajudar porque acho que sei fazer melhor ou simplesmente sei fazer o que a pessoa não sabe. Ao assim proceder, estabeleço uma relação desigual de um que sabe e que ajuda quem não sabe.
Por outro lado, há que se reconhecer que as pessoas têm habilidades diversas. Quando peço para a contadora fazer o meu Imposto de Renda, eu peço a ajuda dela em algo que não sei fazer com a mesma maestria que ela faz, nem com a mesma velocidade. Eu demoro, me perco, tenho que ler as instruções várias vezes e, mesmo assim, corro o risco de não fazer certo. Ao pedir a ajuda dela, eu digo que ela sabe mais que eu, mas isto não significa que ela é melhor que eu. Ela o é no campo específico em que tem suas habilidades e competências. Reconhecer isto é sinal de, com o perdão da presunção, sabedoria.
Todos precisamos saber o que sabemos fazer e o fazemos bem, o que fazemos com certa dificuldade e o que não sabemos fazer. Reconhecer isto é sinal de maturidade. Pedir ajuda nas coisas em que tropeçamos pela falta de habilidade é mostrar que se conhece, é cumprir com o mandamento filosófico do “conhece-te a ti mesmo”.
Há algumas situações que devemos reconhecer que, embora tenhamos habilidades e conhecimento sobre o assunto, pelo fato de estarmos envolvidos no processo ou na crise, não temos a “iluminação” necessária para um bom desempenho. Uma metáfora disto é um jogo de futebol que tem, no seu tempo normal, muito desgaste físico. Pelo regulamento há uma prorrogação de mais trinta minutos, findo os quais as pernas já não mais obedecem aos comandos. Mas há pênaltis para serem batidos. Escolhem-se os melhores e os que estão em melhores condições. Lá vão eles e, não raro, ainda que saibam fazer, ainda que já tenham feito muitas vezes, chutam mal, chutam fora ou de forma que o goleiro possa defender. Isto aconteceu com o Cavani, do Uruguai, na Copa América, o melhor jogador do time. Isto aconteceu milhares de vezes. Os melhores se enrolam na hora de desempenhar, porque devem fazê-lo em situação de estresse.
Aceitar ajuda em situações em que estamos emocionalmente envolvidos, onde há estresse, onde decisões devem ser tomadas e afetam toda a vida, em empregos que exige a realização de uma tarefa que vai além da capacidade ou que se está emocionalmente envolvido é sabedoria.
Acho que foi por isto que Deus, na Sua sabedoria, deu à igreja dons, equipando pessoas para ministérios específicos. Paulo, ao fazer comentários sobre a atuação deles, disse que o pé não pode dizer à mão “não preciso de você” e nem vice-versa. Há habilidades específicas no corpo e buscar a ajuda de pessoas habilitadas segundo a necessidade que estou sentindo é demonstração de pertencimento ao corpo.
Devemos estar disponíveis para exercer nossos dons diante da necessidade do próximo, mas não devemos nos impor, querendo ajudar quem não quer ser ajudado. Muitas vezes, tropeço, a queda, o fracasso, ensina mais e melhor.
Marcos Inhauser
Devo reconhecer que querer ajudar é uma forma que pode ser demonstração de poder ou superioridade. Eu me disponho a ajudar porque acho que sei fazer melhor ou simplesmente sei fazer o que a pessoa não sabe. Ao assim proceder, estabeleço uma relação desigual de um que sabe e que ajuda quem não sabe.
Por outro lado, há que se reconhecer que as pessoas têm habilidades diversas. Quando peço para a contadora fazer o meu Imposto de Renda, eu peço a ajuda dela em algo que não sei fazer com a mesma maestria que ela faz, nem com a mesma velocidade. Eu demoro, me perco, tenho que ler as instruções várias vezes e, mesmo assim, corro o risco de não fazer certo. Ao pedir a ajuda dela, eu digo que ela sabe mais que eu, mas isto não significa que ela é melhor que eu. Ela o é no campo específico em que tem suas habilidades e competências. Reconhecer isto é sinal de, com o perdão da presunção, sabedoria.
Todos precisamos saber o que sabemos fazer e o fazemos bem, o que fazemos com certa dificuldade e o que não sabemos fazer. Reconhecer isto é sinal de maturidade. Pedir ajuda nas coisas em que tropeçamos pela falta de habilidade é mostrar que se conhece, é cumprir com o mandamento filosófico do “conhece-te a ti mesmo”.
Há algumas situações que devemos reconhecer que, embora tenhamos habilidades e conhecimento sobre o assunto, pelo fato de estarmos envolvidos no processo ou na crise, não temos a “iluminação” necessária para um bom desempenho. Uma metáfora disto é um jogo de futebol que tem, no seu tempo normal, muito desgaste físico. Pelo regulamento há uma prorrogação de mais trinta minutos, findo os quais as pernas já não mais obedecem aos comandos. Mas há pênaltis para serem batidos. Escolhem-se os melhores e os que estão em melhores condições. Lá vão eles e, não raro, ainda que saibam fazer, ainda que já tenham feito muitas vezes, chutam mal, chutam fora ou de forma que o goleiro possa defender. Isto aconteceu com o Cavani, do Uruguai, na Copa América, o melhor jogador do time. Isto aconteceu milhares de vezes. Os melhores se enrolam na hora de desempenhar, porque devem fazê-lo em situação de estresse.
Aceitar ajuda em situações em que estamos emocionalmente envolvidos, onde há estresse, onde decisões devem ser tomadas e afetam toda a vida, em empregos que exige a realização de uma tarefa que vai além da capacidade ou que se está emocionalmente envolvido é sabedoria.
Acho que foi por isto que Deus, na Sua sabedoria, deu à igreja dons, equipando pessoas para ministérios específicos. Paulo, ao fazer comentários sobre a atuação deles, disse que o pé não pode dizer à mão “não preciso de você” e nem vice-versa. Há habilidades específicas no corpo e buscar a ajuda de pessoas habilitadas segundo a necessidade que estou sentindo é demonstração de pertencimento ao corpo.
Devemos estar disponíveis para exercer nossos dons diante da necessidade do próximo, mas não devemos nos impor, querendo ajudar quem não quer ser ajudado. Muitas vezes, tropeço, a queda, o fracasso, ensina mais e melhor.
Marcos Inhauser
Marcadores:
Ajuda,
competências,
habilidades,
relações de ajuda
quinta-feira, 4 de julho de 2019
ABUSO DA FOLGA
Li,
com irritada avaliação, a decisão recente do plenário
do Senado que
aprovou nesta semana o projeto conhecido como “dez medidas da corrupção”, mas com um aditivo
preocupante: a punição ao abuso de autoridade de magistrados e integrantes
do Ministério Público. A proposta retornará à Câmara, porque modificada pelos
senadores.
As “dez medidas contra a corrupção” tiveram a iniciativa do
Ministério público em 2015, receberam amplo apoio popular, sendo encaminhada
com milhões de assinaturas, mas teve sua tramitação desacelerada pelos nobres
legisladores, mais afeitos às suas férias e finais de semana prolongados que ao
trabalho para o qual são regiamente pagos. As dez medidas foram desfiguradas
pela Câmara em votação no final de 2016.
Depois de mais de dois anos parada no Senado, eis que
ressurge, concidentemente quando apareceram as aludidas conversas entre o
ex-juiz Moro e integrantes do Ministério Público, no desenvolvimento da Lava
Jato.
A
inclusão do “abuso de autoridade” foi feita, há duas semanas, a pedido do
presidente Davi Alcolumbre. Ela não entrou na pauta da CCJ e havia a intenção
de votá-la direto no plenário, sem passar pela CCJ. Não houve acordo e a
votação foi feita esta semana.
O
projeto prevê que juízes e membros do Ministério Públicos ficam sujeitos a penas,
inclusive de prisão se atuarem com "evidente motivação
político-partidária" ou participarem em casos em que sejam impedidos por
lei.
Também
se restringe comentários públicos sobre processos em andamento, sendo mais
rígida para juízes, a quem se proíbe "opinião" sobre processos. Também
ficam proibidos de emitir um "juízo depreciativo" sobre decisões de
colegas.
Adoraria
ver estes parâmetros aplicados aos ministros do STF, especialmente os mais
verborrágicos como o Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Levandovsky, useiros e
vezeiros na arte de se pronunciar fora e antes dos autos.
Mas
o que mais me irrita é que, os mesmos que assim legislam, também deveriam
legislar sobre o “trabalho” dos deputados e senadores. Eles ganham para
trabalhar, como qualquer funcionário. Só trabalham nas terças, quartas e
quintas e no final da quinta já estão de volta às suas bases. São três dias por
semana, mais os recessos e férias que chegam a mais de dois meses por ano. As
faltas são abonadas.
Também
mostram extrema habilidade na arte de enrolar e empurrar com a barriga a
decisão de temas importantes, como agora se dá na análise da Reforma da
Previdência. Doutores na arte de falar sem dizer nada, gastam todo o tempo que
podem para, ao menos, aparecer nas telas das TVs legislativas, como se isto
garantisse votos, uma vez que a audiência destas TVs é traço.
Porta
vozes de interesses corporativos, o presidente Rodrigo Maia se abespinhou
quando o ministro Guedes disse que a proposta original tinha sido desfigurada
pela pressão dos servidores legislativos. Agora a Bancada da Bala, por não ver
atendido o pleito de se dar aos policiais e relacionados a mesma deferência
dada aos militares, afirma que, ao menos 27 votos do PSL (partido do presidente),
não votarão com o governo.
Eleitos
pelo povo, trabalham pouco e defendem os interesses de uma minoria
privilegiada. Quem paga seus salários e aposentadorias rala todos os dias da
semana para sustentar uma nata de folgados e braços-curtos.
Uma
lei de “abuso da folga” deveria ser editada para colocar esta gente nos trilhos
e trabalhando.
Marcos
Inhauser
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