Por mais igrejas que existam e pessoas que são
frequentadoras delas, pedir aos pastores e membros que definam o que é a igreja
é colher uma enxurrada de definições diferentes e, muitas vezes, díspares. Digo
isto a partir da minha experiência como pastor que já viajou um bocado e
visitou inúmeras igrejas.
Por anos foi um estudioso delas, pesquisando e tabulando
dados sobre a membresia, tempo de permanência e várias outras condicionantes.
Achei que tinha um bom entendimento sobre o assunto, mas era conhecimento
cartesiano, racionalista e numérico.
Com o tempo percebi que a igreja é de uma natureza e dimensão
que não se pode buscar conhecê-la só pelos números. Acabei me envolvendo em reflexões
que me direcionavam à busca da essência da igreja, aquilo que ela é em uma
definição minimalista. Tomei como base o texto onde Jesus afirma que onde estiverem
dois ou três reunidos em seu nome, ele ali estaria. Cheguei à conclusão que
igreja é reunião de gente, em nome de Jesus. Igreja é comunhão, onde as pessoas
reunidas se conhecem e compartilham não só a fé, mas também a vida (incluindo
bens). Igreja é a agência divina para mostrar, de
forma concreta, o amor ao próximo e o amor de Deus por todos.
Nesta caminhada foi
surpreendido e fiquei estarrecido com algumas coisas que ouvi. Um casal,
frequentador de uma determinada igreja, estava enfrentando dificuldades financeiras,
porque ambos haviam perdido o emprego e eles tinham um bebê que precisava de um
leite especial. A água estava para ser cortada, bem assim a eletricidade e o
aluguel eles haviam recebido uma dose de paciência do proprietário. Foram ao
pastor da igreja pedir ajuda para o leite do bebê. O pastor disse que ia pensar
no assunto e, no outro dia, disse que a igreja não podia ajudá-los porque eles
tinham outras prioridades.
Outra, que foi ovelha
minha em Rio Verde, teve que mudar-se para São Paulo para arrumar emprego,
casou-se com um asiático, ele foi embora sem mais nem menos e ela ficou na rua
com quatro filhos. Colocou o que tinha no carro e, com os filhos estacionou no pátio
de uma enorme Catedral. Falou com um dos pastores, pediu ajuda e ele disse que a
ajuda que poderia dar era permitir que ela passasse a noite dentro do carro,
mas que, por razões de seguro, ela não poderia ficar mais tempo.
Outra é de um
casal, ambos pastores. Ela está com câncer há algum tempo, já passou por várias
cirurgias e não tem podido trabalhar. O marido tinha dois empregos e perdeu um.
Ela precisa fazer uma cirurgia para retirada de uma bolsa colostômica. Dada à
natureza das cirurgias anteriores, a retirada desta bolsa é complicada e o
anestesista cobra um bom dinheiro para fazer. Ninguém da igreja à qual eles
servem e nem a igreja se dispuseram a ajudá-la. A Igreja alegou que estão muito
focados na construção e que não podem desviar recursos.
Já há algum tempo
tenho pensado que uma forma de se conhecer uma igreja é ver onde ela aplica
seus recursos. Se o maior gasto que uma comunidade tem é com edifício,
manutenção, aparelhos de som, eletricidade, há algo de errado com esta igreja.
Igreja existe para
ser canal do amor de Deus, Se não faz isto para atender aos necessitados, tenho
dificuldades em reconhecê-la com igreja verdadeira.
Marcos Inhauser
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