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quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

CONTROLE POPULAR DO PODER


Acabo de ler artigo publicado no El Pais explicando por que o povo elegeu Hitler. Voltei aos meus livros e leituras para ver o que mais poderia ler para fundamentar algumas das razões que o escritor do artigo elenca.
Encontrei este de William Godwin (Enquiry Concerning Political Justice and its Influence on Moral and Happiness, GG Robinson, London, 1796, Vol I, pg 108): “O grau de imaturidade ou maturidade da população se refletirá no sistema político, produzindo um regime ditatorial ou uma situação de liberdade. Fraqueza interna torna um povo presa fácil de um conquistador, ao passo que o esforço para oprimir um povo maduro na liberdade, provavelmente não será bem-sucedido”.
Isto foi alertado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos; “ ... as potestades constitucionais do Chefe de Estado, por ser tão numerosas, amplas e importantes, lhe outorgam um poder muito grande, sem os contrapesos significativos, que por sua natureza, não só abre as portas a uma aplicação abusiva do poder, mas também permite que se anule, limite ou distorça o exercício efetivo da representação política e da participação popular e, por conseguinte, a observância de outros direitos e garantias.” (Diez años de actividades” – 1971 a 1981, pg 270).
Para citar um pensador, o governo é um comitê com poder para gerir e facilitar os interesses da elite. Para tanto, ele deve acomodar as classes populares emergentes, domesticá-las em algum esquema bem ao gosto das classes dominantes. Lembro-me que, quando cursava o pós-graduação em Educação na UFSCAR, estudamos as reformas educacionais que o Brasil já teve. O professor centrou sua análise na exposição de motivos, situados no contexto histórico, social e econômico que a nação vivia. Ficava claro como as reformas educacionais foram feitas para prover às elites a mão de obra que necessitavam naquele momento. Lendo Bordieu e Passeron (A Repodução), percebi como a escola é a célula reprodutora do pensamento dominante e de domesticação das mentes.
As elites, ao perceberem que não podem resistir ao poder do povo que se rebela, começam a dar reputação e espaço para um dos seus elementos (do povo) e o fazem príncipe, para, sob sua sombra, ter seus apetites saciados. O povo, por sua vez, dá sustentação ao “príncipe do povo eleito”, pois acreditam que ele irá defender os seus interesses. Eles se equivocam pois, quem o elegeu, foi o poder econômicos dos ricos. O Brasil está cheio de exemplos desta natureza, tanto à direita como à esquerda.
É citada com frequência a frase atribuída ao governador mineiro Antônio Carlos de Andrada: “façamos a revolução antes que o povo a faça”. É a revolução dos poderosos para aplacar a ira do povo, vendendo como se a revolução viesse para satisfazer seu anseio. Assim foi com o Collor, com a Ditadura mal denominada de Regime Militar, com o plano Cruzado etc.
Quando se tenta unificar as coisas colocando juntos anjos, cosmos, Igreja, estruturas políticas, religiosos, religião e Deus como sendo a origem e o sustentador da integração das partes, a coisa assume aura de sagrado. Isto pode dar-se pelo uso de textos bíblicos fora de seus contextos, presença constante de religiosos ao redor do núcleo do poder, discursos com ares de sagrado, mantras religiosos repetidos à exaustão, pseudo-fundamentação em valores religiosos. Nada mais pernicioso e maléfico do que a ditadura religiosa. Que o diga Irã, Afeganistão, Guatemala sob a égide de Ríos Mont, Pinochet e seu messianismo. O governo assim concebido acha que está acima da lógica política (quer governar sem a política e os políticos), busca uma solidez ontológica (como se existisse de per se) e tudo passa a ter validade ética. Aos de fora do núcleo só cabe obedecer. Os desobedientes e contestadores são lançados ao fogo do inferno. Que o digam os defenestrados de Sarney, Collor, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro.
É o esquema de um poder que trabalha o povo, manipula seus sentimentos, fabrica comportamentos, tudo para fortalecer o poder econômico de poucos.
Alguma dúvida? Olhe os recentes dados de concentração de renda no Brasil. É indecente como nos últimos 50 anos a coisa foi feita para que os ricos sejam mais ricos.
Que os profetas (denunciadores do pecado do poder) não se calem. Quando não há profecia, a nação padece! Isto é bíblico!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

FAZENDO HISTÓRIA


Com certeza você já ouviu ou pronunciou a frase: “estamos realizando um marco histórico”. Pode também ser uma frase assemelhada a esta. Fico estarrecido com a facilidade com que as pessoas acham que o que fazem se tornará fato histórico.
No final do ano um jovem me pressionava para que eu me posicionasse quanto ao então futuro governo do Bolsonaro e a indicação do Moro para o Ministério da Justiça. Eu dizia que não se podia fazer avaliações a priori e que os fatos relacionados à vida política se inserem no campo da história e que estes devem ser avaliados com algum tempo passado. Não se avalia fatos em cima dos atos, mas só o tempo pode dar uma dimensão mais clara da sua importância.
Sem querer atropelar este meu entendimento (que, diga-se de passagem, não é meu, mas o aprendi com outros), quero chamar a atenção para alguns fatos recentes e que poderão e deverão ser objeto de análises futuras porque tem o condão de serem marcos históricos na política brasileira.
Refiro-me à eleição no Senado da República. O Senado sói ser uma casa mais moderada, sem grandes arroubos, mesmo porque formada por gente mais velha e experimentada na vida e na política. Há quem diga que é um poder moderador. No entanto, o que se viu nas duas sessões para a eleição do presidente foi o teatro do horror, com direito a coisas impensadas para a casa senatorial.
A começar pela disputa sobre quem tinha o direito de presidir a sessão. O que estava em jogo eram as pretensões políticas de um raposa da política e com extensa ficha de denúncias de corrupção. Do outro lado, um do baixo clero, sem brilho próprio no tempo em que no Senado está, que, sabe-se lá por que e como, estava candidato, apoiado pelo Ministro da Casa Civil. Havia nesta postulação interesses vários e temo que nem todos republicanos, tal como também se dava com o outro lado da disputa.
A atuação histriônica e infantil da senadora Kátia Abreu é algo digno de nota e que também merecerá avaliação futura, quando os historiadores se debruçarem para avaliar os fatos. Quais os interesses motivaram a ex-ministra do PT a se atirar sofregamente sobre os papeis da presidência?
Neste caldo de fatos inusitados, merecerá também a atenção o papel do ministro do STF, Toffoli, que, mesmo tendo afirmado em seu discurso de início do ano judiciário que deveria ser respeitada a autonomia dos poderes, sem a ingerência de um sobre o outro, profere sentença monocraticamente anulando a decisão plenária do Senado. Qual a motivação que ele tinha em se negar e influir em decisão de outro poder? A história dirá.
Os historiadores também deverão se debruçar sobre a fraude constatada com a presença de votos fora do envelope padrão e com um voto a mais do esperado e regulamentar. Fraude em votação do Senado? Bem, não é a primeira vez e há que se lembrar do problema do painel eletrônico, quando Jader Barbalho e ACM estiveram envolvidos. Quem fez e porque fez, é assunto para historiadores.
Mais estupefaciente foi a decisão do Renan de, iniciada a votação e perceber que seria derrotado, retirou a candidatura porque não queria ter no seu currículo uma derrota acachapante. É o caso do menino dono da bola que, porque não gostou do gol marcado contra a sua equipe, vai embora e leva a bola.
Acho que não preciso esperar para dar meu veredicto (ainda que temerário): há grande chance de termos nos livrado deste câncer da política fisiológica.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

UM ATO DE CONSTRUÇÃO COLETIVA


Dos mais variados espectros teológicos (presbiterianos de vários matizes, batistas de várias denominações, pentecostais, anabatistas e episcopais), de diversas correntes políticas (esquerda, centro esquerda, centro, centro direita e alguns que são rotulados como de direita), incluindo democratas, republicanos, monarquista, semianárquico, se reuniram, muitos sem mesmo se conhecer, para juntos pensar a realidade brasileira e produzir algo que refletisse o evangelho e os valores do Reino Deus.
Depois de mais de três mil mensagens trocadas, muita reflexão, contribuições as mais diversas, foi-se afunilando a redação e se chegou à Carta Pastoral à Nação Brasileira (disponível no https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=cartapastoral2018). Houve uma preocupação com a biblicidade das afirmativas, que não fosse academicamente teológica, mas acessível ao povo, de caráter essencialmente pastoral.
Lançada com uma centena de assinaturas e aberta para que, quem quisesse, também a assinasse, para surpresa dos redatores, em pouco tempo o número dos subscritores, entre os quais me incluo, cresceu exponencialmente.
Creio que, por vez primeira no Brasil, se produziu algo a partir da contribuição e colaboração coletiva. A Carta é um trabalho de muitas mãos e nenhum dono, nenhuma face, mas pretende ser as muitas faces de todos as que a subscreveram.
Seria ingenuidade da parte dos que a escreveram pensar que não haveria reação. Uma delas veio de quem se pretende e se arvora como porta-voz das igrejas evangélicas. Com suas malafalas, por não ter como criticar o conteúdo, passou a criticar os que a subscreveram, afirmando se tratar de esquerdopatas, termo generalizado para todos os que dissentem ao que o histriônico pensa.
Houve quem afirmou que o documento se tratava de algo para trazer de volta um determinado partido ao poder. A resposta que lhe foi dada é que, se atuar em favor dos pobres, viúvas e estrangeiros, isto é valor do Reino, ensinado por Jesus. Se isto é ser de esquerda, ele era esquerdista. Outro, na arrogância de ter mais de 200.00 seguidores no Face (quem me garante que não são seguidores impulsionados, estratégia muito comum), se arvorava mais fiel representante dos evangélicos que a meia dúzia que assinou (2.488 subscrições no momento em que escrevo esta coluna).
O que mais me chama a atenção destes pretensos porta-vozes dos evangélicos, enciumados com o surgimento de algo que teve repercussão na mídia e que não passou pela “benção” destas estrelas midiáticas, é que não criticam o conteúdo (será que porque é criticar a Bíblia), se preocupam em descobrir o redator da Carta, como se fosse fruto de uma única mão. Acostumados a serem os donos da verdade e únicos a dizer o que os outros devem pensar, não creem na possibilidade de haver algo que seja uma construção coletiva. Incorrem no grave erro de abandonar o conteúdo porque escrito por quem não gostam. Se quem escreveu é de direita, centro ou esquerda e isto não é seu perfil ideológico, não vão perder tempo lendo porque deve ser ruim.
Acabo de receber uma pesquisa do Ibope (fonte por mim conferida) que afirma que rejeição da parte dos evangélicos ao líder saltou de 32% a 41%, que o segundo saltou 26% a 33% (entre 11/09 e 24/09). Seria isto um indicativo de que os religiosos, sejam católicos, evangélicos ou outras religiões, estão tomando consciência de que a eleição busca um presidente para o Brasil e não um pastor para uma nação, que se quer seja uma democracia e não uma teocracia comandado por um “iluminado”.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 22 de março de 2017

FALTAM LÍDERES

Acho que nunca se falou tanto em formar líderes, nunca se deu tanto treinamento nas empresas para capacitar líderes e nunca estivemos tão necessitados deles. No que se refere ao político, a coisa fica ainda mais feia.
Se se toma uma das premissas básicas da liderança que a de que o líder deve ser exemplo, dá para entender porque estamos faltos de liderança. Depois de Tancredo, tivemos uma sucessão de pessoas investidas na mais alta posição da nação, mas que não puderam ser exemplos. Com a morte do Tancredo, tivemos ascensão de um especialista em surf: vivia na crista da onda e assim ficou até que não mais conseguiu se eleger pelo estado onde nunca morou: o Amapá. Era a sua mentira pública. Outros atos e fatos conspurcaram-lhe a biografia e só foi exemplo para gente do senado e Câmara que aprendeu com eles as patranhas da política. Como legado deixou o Plano Cruzado e uma inflação astronômica.
Sucedido pelo nada exemplar Collor, com sua altivez e arrogância, aliado às maracutaias de seu tesoureiro, foi defenestrado e impedido de se eleger por oito anos. Voltou, mas vive período em que deve muitas explicações ao judiciário brasileiro.
No seu lugar subiu o Itamar Franco quem, não tendo sido eleito, teve um mandato que, se não teve acusações, também não teve o brilho que se espera de uma liderança. Sucedido por Fernando Henrique Cardoso que tinha o brilho do acadêmico, mas não tinha o carisma da liderança. Governou, nunca explicou muito bem como foram feitas as privatizações que, segundo um ministro do seu governo, raiaram à irresponsabilidade. Dava sono quando se dirigia à nação.
Veio o Lula e a Dilma e ambos não são exemplos de liderança. O primeiro o foi no primeiro mandato, mas perdeu a legitimidade com o mensalão e mais tarde com a Lava Jato. A Dilma também não é exemplo de liderança. Veio o Temer que de líder não tem nada. Pusilânime, volúvel, nunca se sabe o que pensa. Como disse uma jornalista, quando perguntada sobre qual o posicionamento dele sobre um assunto: “antes da última piscada de olhos dele, ele era a favor”.
Estamos entrando na reta para as eleições de 2018. Ao olhar ao redor e as candidaturas que estão sendo sugeridas ou pleiteadas, me leva à conclusão de que teremos um cenário desolador. Mais uma vez teremos que optar pelo menos pior. As opções do mundo político (Lula, Ciro Gomes, Alckmin, Serra) são farinha do mesmo saco. Com a exceção do Ciro (ainda), todos os demais têm suas explicações a dar na Lava Jato.
Das figuras que estão correndo por fora do páreo (Doria e Meirelles), a ambos lhes falta o carisma da liderança. Podem estar fazendo (talvez) algumas coisas, mas isto não é o suficiente. É verdade que precisamos de um bom administrador, mas no tipo de presidencialismo brasileiro, um presidente sem base parlamentar é transformar o governo em balcão de negociatas. Vide Collor, Dilma e Temer.
Uma reforma política significativa e estrutural é milagre que não vai acontecer. A propalada reforma eleitoral, se algo fizer, será cosmética. No andar da carruagem, as alterações visarão proteger com o foro privilegiado os que devem muitas explicações. Como a “carne é fraca”, fizeram merenda eleitoral com carne podre e carcaça de cabeça de porco. Nem ácido ascórbico salva.
Ao povo cabe clamar aos céus para que algo aconteça e um verdadeiro líder apareça. Que no frigorífico das eleições não haja carne podre. Está é a minha oração.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

PERPETUAÇÃO POLÍTICA

Nenhum poder político é natural e inerente. Sempre é concessão via votos, eleições ou, em casos extremos e recrimináveis, via violência do golpe ou pelas “vias constitucionais” (vide exemplo da Venezuela e Bolívia). Nenhum poder político é eterno. Mesmo os mais poderosos imperadores e reis sucumbiram pela morte, deposição ou queda. O exercício do poder democrático é o exercício do diálogo, ao contrário do poder autocrático que é o monólogo de “um-que-tudo-sabe”. Na democracia se busca a maturidade cidadã (ao menos é o que se espera), na autocracia se produz o paternalismo.
Por outro lado, já dizia Maquiavel, que não há posse mais duradoura que a ruína. Quem se torna senhor de uma nação livre e não a destrói, será destruído por ela. O desejo de liberdade não se esquece nunca e ele será o motor para destronar os reis que arruínam a vida do seu povo.
O exercício do poder político se dá sobre um determinado povo e espaço geográfico. Não há controle remoto nesta matéria. Quando os poderosos deixam de cooperar para o bem do seu povo, mesmo que antes o tenham feito, este mesmo povo, anteriormente beneficiado, se levantará contra para recuperar o que lhe foi tirado ou para ampliar o que tem. Quando o povo tem os benefícios e estes se mantêm iguais por um longo período, a insatisfação cresce e o poder político está ameaçado. Eis, assim, o paradoxo: se não dá o que o povo espera, é derrubado. Se dá e se mantém no mesmo nível, o povo se insurge querendo mais.
Como todo poderoso tem o desejo de se tornar eterno no poder e que seu reinado se perpetue na lembrança do povo, precisa ele ser hábil nas concessões e na administração das insatisfações. Ser eterno, eis a questão.
Para que este projeto se realize, precisam conquistar o poder, prometendo ao povo, aos mais necessitados, aquilo que anseiam porque vital para eles: saúde, educação e segurança. Daí porque os discursos de campanha se repetem a cada nova rodada.
Na história recente do Brasil viu-se projetos que esperavam vinte ou mais anos de poder. Se inicialmente produziram alguns benefícios para o povo, enveredam-se por caminhos os mais desastrados possíveis. Assim foi o Sarney com o Plano Cruzado que redundou na hiperinflação (ainda que, dizem as más línguas, ele se eternizou no poder); assim foi com o Collor e sua “caça aos marajás”, que redundou na sua própria caçada e de seu tesoureiro. O FHC com sua ambição produziu o advento da reeleição e, depois de terminar seu mandato, muitos dos seus tinham vergonha de colocá-lo ao lado nas aparições públicas. Assim foi com o PT: do “Fome Zero” para o Mensalão e Petrolão.
Muito se fala que o povo não sabe votar. Isto é verdade em parte. Muitos dos corruptos, dos malandros, dos propineiros não conseguiram se eleger ou se reeleger. Ficaram pelo caminho. Partidos há que encolheram, perdendo votos, prefeituras e representação nas Câmaras Municipais. O PMDB encolheu 12,5% e o PT bateu os 60,9%. Como toda regra tem sua exceção, o PP, todo enrolado com a Lava Jato, manteve-se praticamente igual: -0,1%.
Houve significativa renovação nos quadros políticos, o que dá certa esperança de que gente nova terá novos hábitos e nova forma de fazer política. E assim deve ser, haja visto a alta taxa de abstenção, votos nulos e em branco. Somados, pode-se entender como uma nota Zero para a classe política.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

MUDANÇAS À VISTA?

Atribui-se a Churchill a frase de que a democracia é um péssimo sistema de governo, mas ainda é o melhor que conhecemos. Tenho que concordar com ele, especialmente quando se considera que a democracia é feita por eleições baseadas no poder aquisitivo dos candidatos, o que permite maior exposição e chance de ser lembrado na hora do voto.
Com as mudanças havidas na legislação brasileira impedindo a doação de empresas, estabelecendo teto de gastos segundo as cidades, fazendo o cruzamento dos dados de arrecadação com o CPF dos doadores, algo mudou na forma eleitoral brasileira. No entanto, ainda não são mudanças radicais, haja visto que o ex-prefeito de Campinas, que tem seus direitos políticos cassados, apresenta-se como candidato e consegue manter a candidatura sabe lá Deus como.
Neste novo modelo de arrecadação via contribuição de pessoas físicas, já se sabe que muitas maracutaias foram feitas e que mais ou menos 30% das contribuições são questionáveis: mortos doando, gente com bolsa família doando, funcionários de prefeituras doando o salário integral, um candidato do Paraná que deu para a sua campanha mais do que todo o seu patrimônio declarado.
Acredito que mais maracutaias aparecerão. Explico-me com este exemplo. Na minha declaração de Imposto de Renda do ano que vem não declaro nenhuma contribuição partidária ou para algum candidato. Se algum candidato, inescrupulosa e sorrateiramente, usou meu CPF para declarar alguma contribuição, a Receita virá por cima de mim. Como provar que não dei? Se fosse para provar que dei, teria um recibo. Como não tenho como provar a inexistência, corro o risco de ser tributado pelo que não doei.
Com estas que já apareceram e outras que aparecerão, com candidatos semi ficha suja (estão condenados em primeira instância), com verdadeiros 171 se apresentando como éticos e probos e com poder de fogo na mídia, com vereadores carregados de assessores pagos com dinheiro público, prefeitos com centenas de cargos comissionados a garantir votos próprios, dos familiares e na cabala, fica difícil haver uma mudança radical no cenário político municipal.
Há que considerar-se ainda que os deputados estaduais e federais se envolvem de cabeça nesta eleição, porque dependem dos vereadores e prefeitos para conseguir votos nas suas respectivas eleições.
É verdade que o terremoto que se abateu sobre a classe política, especialmente sobre o PT, PP e parte do PMDB, fez com que houvesse um rearranjo de forças, especialmente nas eleições dos prefeitos das capitais. Estas mudanças implicarão em um novo arranjo político na macro política, ainda que não se deve desprezar a capacidade dos profissionais do voto de se articularem para sempre estar por cima. São surfistas do poder: sempre pegando a onda.
Tenho esperanças, mas prefiro ser realista. Haverá mudança, mas não no tamanho que a população espera e nem na medida que se precisa ter. Mas, antes algo que nada!!
Marcos Inhauser

terça-feira, 18 de setembro de 2012

PALADINO DA TRANSPARÊNCIA

Já disse aqui, mais de uma vez, que há horas que me dou ao exercício do masoquismo, pois tomo tempo para ver coisas na televisão que me dão alergia. Nestes tempos de eleição, fiz isto para ver a propaganda dos candidatos. Mas, mesmo que não quisesse ver o horário eleitoral “gratuito”, sou forçado a ver certas coisas nos intervalos dos jornais ou jogos de futebol que assisto.
Há coisas que me chamam a atenção. A primeira é a qualidade das veiculações, especialmente dos candidatos a vereador. “Vote em mim”, “preciso do seu voto”, “conto com seu voto” são algumas das pérolas. Muitos usam expressões como “coragem”, “seriedade”, “compromisso”, “honestidade”. Há os que prometem ousadamente: “vou estabelecer políticas públicas para a saúde”, “o meu filho morreu, mas não vou permitir que façam o mesmo com o seu”, “vou trabalhar para acabar com as filas nos Pronto Socorros”, “vou fechar a torneira da corrupção”, e por aí vai a toada. Nas ruas, os cavaletes parecem sugerir que o voto se dá pela beleza do candidato: a foto, o nome e o número. O resto mal dá para ler. No quesito foto e imagem, esta propaganda via foto está gastando o que pode no Photoshop. Para o mim o campeão do botox via Photoshop é o Pedro Serafim. Uma carinha de adolescente estudioso!
Também surgiram algumas dúvidas. Não sou perito na legislação eleitoral, mas tenho a informação de que toda a propaganda veiculada na televisão, rádio ou cartazes deve trazer a legenda do partido ou a coligação. Vi nestes dias uma vinheta que fala da votação contrária do Jonas Donizetti nas propostas de aumento do salário mínimo, sem que houvesse qualquer menção do partido ou coligação que respalda a veiculação. Pode?
Também tenho a informação de que o uso de espaços públicos como jardim centrais nas avenidas e nas praças podem ser usados com cavaletes, que devem ser retirados depois das dez da noite e recolocados no dia seguinte. Não é o que vejo na Baden Powel, na saída do túnel em direção à Prestes Maia, para ficar em dois exemplos. Também tenho a informação de que os cavaletes não podem impedir a visibilidade dos motoristas. Não é o que acontece para quem vem na Magalhães Teixeira em direção ao túnel, no semáforo onde começa a mão dupla. Ali a visibilidade é prejudicada pela propaganda.
Mas o que mais me dá náuseas é o paladino da transparência: afirma que no seu governo as coisas são feitas às claras. E quando era Presidente da Câmara, por que aprovou o aumento do salário em 126% a toque de caixa e à sorrelfa? E a criação de cargos extemporâneos na Sanasa para acomodar os aliados? E o pedido para que os vereadores governassem com ele?
Parece que o cargo de prefeito o santificou! Ou será só propaganda tão superficial como a do vereador que pede “vote em mim”?
Marcos Inhauser

terça-feira, 5 de outubro de 2010

LULA, O GRANDE PERDEDOR

A opinião é pessoal e certamente não será endossada por muitos. Para mim, o grande perdedor desta eleição foi o gurumór. Ele insistiu em fazer uma eleição plebiscitária e não conseguiu. A terceira via veio de onde ele menos esperava, por uma pessoa que ele “engoliu” enquanto esteve no ministério e só não a colocou fora antes por causa da pressão internacional, dado o respeito que ela tinha. Uma ex-militante petista, que representa O PT não lambuzado com as mazelas de mensalão e Erenices, com um tema que não lhe agrada, vez que, vira e mexe ataca o Ibama por causa das licenças ambientais. Ele fez o PT de Minas engolir uma aliança esdrúxula com o PMDB para assegurar a vitória do Hélio Costa e deu no que deu. Nem o Senador conseguiu fazer. Perdeu de goleada. Ele investiu na candidatura do Mercadante, veio a público e usou da TV para pedir votos, mas não conseguiu fazê-lo passar dos 30% históricos que o PT tem no estado de São Paulo. Ele jogou as fichas na candidatura do Netinho e viu o candidato que estava na ponta, segundo as pesquisas, dançar e ficar em terceiro lugar. Ele jogou todas as fichas na candidatura da Ideli Salvati em Santa Catarina e ela amargou uma derrota acachapante. Investiu no Agnelo Queiroz no DF e, apesar dos escândalos envolvendo o Roriz e a renúncia deste e a substituição por uma candidata laranja, o candidato do PT vai a segundo turno. Pode-se afirmar que ele fez o governador do RS, mas lá, com o desastre da Yeda, qualquer poste falante ganharia a eleição. Ele fez o Jaques Wagner na Bahia, mas me pergunto se a eleição se deu pelo apoio do Lula ou tinha gravidade própria. No Maranhão (estranha aliança com a oligarquia mais longeva deste Brasil, que merece ser estudada por detetives), teve a eleição da Roseana na bacia das almas, assim como também o foi a do Tião Viana no Acre. A pergunta é por que o Lula, com tão alta popularidade, não conseguiu passar este apoio aos seus candidatos? Eu me pergunto: se o Lula estivesse concorrendo a um terceiro mandato, ele teria 80% dos votos. Toda a discussão sobre os Fichas Limpa tem levado mais gente a ficar atenta às denúncias de corrupção e o caso da Casa Civil foi emblemático. Mais do que isto, tenho para comigo que o que tirou votos foi a verborragia presidencial e o ódio destilado contra a imprensa. Foi um tiro no pé. Quero um país com liberdade de expressão e de imprensa e não um país a la Chavez e Castro que determinam o que deve ou não ser publicado. Pela liberdade de imprensa, tantas vezes ameaçada por este governo do PT, voto contra. Marcos Inhauser