Acabo de ler artigo publicado no El Pais explicando por que
o povo elegeu Hitler. Voltei aos meus livros e leituras para ver o que mais
poderia ler para fundamentar algumas das razões que o escritor do artigo
elenca.
Encontrei este de William Godwin (Enquiry Concerning
Political Justice and its Influence on Moral and Happiness, GG Robinson,
London, 1796, Vol I, pg 108): “O grau de imaturidade ou maturidade da população
se refletirá no sistema político, produzindo um regime ditatorial ou uma
situação de liberdade. Fraqueza interna torna um povo presa fácil de um
conquistador, ao passo que o esforço para oprimir um povo maduro na liberdade,
provavelmente não será bem-sucedido”.
Isto foi alertado pela Comissão Interamericana de Direitos
Humanos; “ ... as potestades constitucionais do Chefe de Estado, por ser tão
numerosas, amplas e importantes, lhe outorgam um poder muito grande, sem os
contrapesos significativos, que por sua natureza, não só abre as portas a uma
aplicação abusiva do poder, mas também permite que se anule, limite ou distorça
o exercício efetivo da representação política e da participação popular e, por
conseguinte, a observância de outros direitos e garantias.” (Diez años de actividades”
– 1971 a 1981, pg 270).
Para citar um pensador, o governo é um comitê com poder para
gerir e facilitar os interesses da elite. Para tanto, ele deve acomodar as
classes populares emergentes, domesticá-las em algum esquema bem ao gosto das
classes dominantes. Lembro-me que, quando cursava o pós-graduação em Educação
na UFSCAR, estudamos as reformas educacionais que o Brasil já teve. O professor
centrou sua análise na exposição de motivos, situados no contexto histórico,
social e econômico que a nação vivia. Ficava claro como as reformas
educacionais foram feitas para prover às elites a mão de obra que necessitavam
naquele momento. Lendo Bordieu e Passeron (A Repodução), percebi como a escola
é a célula reprodutora do pensamento dominante e de domesticação das mentes.
As elites, ao perceberem que não podem resistir ao poder do
povo que se rebela, começam a dar reputação e espaço para um dos seus elementos
(do povo) e o fazem príncipe, para, sob sua sombra, ter seus apetites saciados.
O povo, por sua vez, dá sustentação ao “príncipe do povo eleito”, pois
acreditam que ele irá defender os seus interesses. Eles se equivocam pois, quem
o elegeu, foi o poder econômicos dos ricos. O Brasil está cheio de exemplos
desta natureza, tanto à direita como à esquerda.
É citada com frequência a frase atribuída ao governador
mineiro Antônio Carlos de Andrada: “façamos a revolução
antes que o povo a faça”. É a revolução dos poderosos para aplacar a ira
do povo, vendendo como se a revolução viesse para satisfazer seu anseio. Assim
foi com o Collor, com a Ditadura mal denominada de Regime Militar, com o plano
Cruzado etc.
Quando se tenta unificar as coisas colocando juntos anjos,
cosmos, Igreja, estruturas políticas, religiosos, religião e Deus como sendo a
origem e o sustentador da integração das partes, a coisa assume aura de
sagrado. Isto pode dar-se pelo uso de textos bíblicos fora de seus contextos,
presença constante de religiosos ao redor do núcleo do poder, discursos com
ares de sagrado, mantras religiosos repetidos à exaustão, pseudo-fundamentação
em valores religiosos. Nada mais pernicioso e maléfico do que a ditadura
religiosa. Que o diga Irã, Afeganistão, Guatemala sob a égide de Ríos Mont,
Pinochet e seu messianismo. O governo assim concebido acha que está acima da
lógica política (quer governar sem a política e os políticos), busca uma
solidez ontológica (como se existisse de per se) e tudo passa a ter
validade ética. Aos de fora do núcleo só cabe obedecer. Os desobedientes e
contestadores são lançados ao fogo do inferno. Que o digam os defenestrados de
Sarney, Collor, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro.
É o esquema de um poder que trabalha o povo, manipula seus
sentimentos, fabrica comportamentos, tudo para fortalecer o poder econômico de
poucos.
Alguma dúvida? Olhe os recentes dados de concentração de
renda no Brasil. É indecente como nos últimos 50 anos a coisa foi feita para
que os ricos sejam mais ricos.
Que os profetas (denunciadores do pecado do poder) não se
calem. Quando não há profecia, a nação padece! Isto é bíblico!
Marcos Inhauser
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