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quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

CONTROLE POPULAR DO PODER


Acabo de ler artigo publicado no El Pais explicando por que o povo elegeu Hitler. Voltei aos meus livros e leituras para ver o que mais poderia ler para fundamentar algumas das razões que o escritor do artigo elenca.
Encontrei este de William Godwin (Enquiry Concerning Political Justice and its Influence on Moral and Happiness, GG Robinson, London, 1796, Vol I, pg 108): “O grau de imaturidade ou maturidade da população se refletirá no sistema político, produzindo um regime ditatorial ou uma situação de liberdade. Fraqueza interna torna um povo presa fácil de um conquistador, ao passo que o esforço para oprimir um povo maduro na liberdade, provavelmente não será bem-sucedido”.
Isto foi alertado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos; “ ... as potestades constitucionais do Chefe de Estado, por ser tão numerosas, amplas e importantes, lhe outorgam um poder muito grande, sem os contrapesos significativos, que por sua natureza, não só abre as portas a uma aplicação abusiva do poder, mas também permite que se anule, limite ou distorça o exercício efetivo da representação política e da participação popular e, por conseguinte, a observância de outros direitos e garantias.” (Diez años de actividades” – 1971 a 1981, pg 270).
Para citar um pensador, o governo é um comitê com poder para gerir e facilitar os interesses da elite. Para tanto, ele deve acomodar as classes populares emergentes, domesticá-las em algum esquema bem ao gosto das classes dominantes. Lembro-me que, quando cursava o pós-graduação em Educação na UFSCAR, estudamos as reformas educacionais que o Brasil já teve. O professor centrou sua análise na exposição de motivos, situados no contexto histórico, social e econômico que a nação vivia. Ficava claro como as reformas educacionais foram feitas para prover às elites a mão de obra que necessitavam naquele momento. Lendo Bordieu e Passeron (A Repodução), percebi como a escola é a célula reprodutora do pensamento dominante e de domesticação das mentes.
As elites, ao perceberem que não podem resistir ao poder do povo que se rebela, começam a dar reputação e espaço para um dos seus elementos (do povo) e o fazem príncipe, para, sob sua sombra, ter seus apetites saciados. O povo, por sua vez, dá sustentação ao “príncipe do povo eleito”, pois acreditam que ele irá defender os seus interesses. Eles se equivocam pois, quem o elegeu, foi o poder econômicos dos ricos. O Brasil está cheio de exemplos desta natureza, tanto à direita como à esquerda.
É citada com frequência a frase atribuída ao governador mineiro Antônio Carlos de Andrada: “façamos a revolução antes que o povo a faça”. É a revolução dos poderosos para aplacar a ira do povo, vendendo como se a revolução viesse para satisfazer seu anseio. Assim foi com o Collor, com a Ditadura mal denominada de Regime Militar, com o plano Cruzado etc.
Quando se tenta unificar as coisas colocando juntos anjos, cosmos, Igreja, estruturas políticas, religiosos, religião e Deus como sendo a origem e o sustentador da integração das partes, a coisa assume aura de sagrado. Isto pode dar-se pelo uso de textos bíblicos fora de seus contextos, presença constante de religiosos ao redor do núcleo do poder, discursos com ares de sagrado, mantras religiosos repetidos à exaustão, pseudo-fundamentação em valores religiosos. Nada mais pernicioso e maléfico do que a ditadura religiosa. Que o diga Irã, Afeganistão, Guatemala sob a égide de Ríos Mont, Pinochet e seu messianismo. O governo assim concebido acha que está acima da lógica política (quer governar sem a política e os políticos), busca uma solidez ontológica (como se existisse de per se) e tudo passa a ter validade ética. Aos de fora do núcleo só cabe obedecer. Os desobedientes e contestadores são lançados ao fogo do inferno. Que o digam os defenestrados de Sarney, Collor, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro.
É o esquema de um poder que trabalha o povo, manipula seus sentimentos, fabrica comportamentos, tudo para fortalecer o poder econômico de poucos.
Alguma dúvida? Olhe os recentes dados de concentração de renda no Brasil. É indecente como nos últimos 50 anos a coisa foi feita para que os ricos sejam mais ricos.
Que os profetas (denunciadores do pecado do poder) não se calem. Quando não há profecia, a nação padece! Isto é bíblico!
Marcos Inhauser