Dos mais variados espectros teológicos (presbiterianos de
vários matizes, batistas de várias denominações, pentecostais, anabatistas e
episcopais), de diversas correntes políticas (esquerda, centro esquerda, centro,
centro direita e alguns que são rotulados como de direita), incluindo
democratas, republicanos, monarquista, semianárquico, se reuniram, muitos sem
mesmo se conhecer, para juntos pensar a realidade brasileira e produzir algo
que refletisse o evangelho e os valores do Reino Deus.
Depois de mais de três mil mensagens trocadas, muita
reflexão, contribuições as mais diversas, foi-se afunilando a redação e se
chegou à Carta Pastoral à Nação Brasileira (disponível no https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=cartapastoral2018).
Houve uma preocupação com a biblicidade das afirmativas, que não fosse
academicamente teológica, mas acessível ao povo, de caráter essencialmente
pastoral.
Lançada com uma centena de assinaturas e aberta para que,
quem quisesse, também a assinasse, para surpresa dos redatores, em pouco tempo
o número dos subscritores, entre os quais me incluo, cresceu exponencialmente.
Creio que, por vez primeira no Brasil, se produziu algo a
partir da contribuição e colaboração coletiva. A Carta é um trabalho de muitas
mãos e nenhum dono, nenhuma face, mas pretende ser as muitas faces de todos as
que a subscreveram.
Seria ingenuidade da parte dos que a escreveram pensar que
não haveria reação. Uma delas veio de quem se pretende e se arvora como
porta-voz das igrejas evangélicas. Com suas malafalas, por não ter como
criticar o conteúdo, passou a criticar os que a subscreveram, afirmando se
tratar de esquerdopatas, termo generalizado para todos os que dissentem ao que
o histriônico pensa.
Houve quem afirmou que o documento se tratava de algo para
trazer de volta um determinado partido ao poder. A resposta que lhe foi dada é
que, se atuar em favor dos pobres, viúvas e estrangeiros, isto é valor do Reino,
ensinado por Jesus. Se isto é ser de esquerda, ele era esquerdista. Outro, na
arrogância de ter mais de 200.00 seguidores no Face (quem me garante que não
são seguidores impulsionados, estratégia muito comum), se arvorava mais fiel
representante dos evangélicos que a meia dúzia que assinou (2.488 subscrições
no momento em que escrevo esta coluna).
O que mais me chama a atenção destes pretensos porta-vozes
dos evangélicos, enciumados com o surgimento de algo que teve repercussão na
mídia e que não passou pela “benção” destas estrelas midiáticas, é que não
criticam o conteúdo (será que porque é criticar a Bíblia), se preocupam em
descobrir o redator da Carta, como se fosse fruto de uma única mão. Acostumados
a serem os donos da verdade e únicos a dizer o que os outros devem pensar, não
creem na possibilidade de haver algo que seja uma construção coletiva. Incorrem
no grave erro de abandonar o conteúdo porque escrito por quem não gostam. Se
quem escreveu é de direita, centro ou esquerda e isto não é seu perfil
ideológico, não vão perder tempo lendo porque deve ser ruim.
Acabo de receber uma pesquisa do Ibope (fonte por mim
conferida) que afirma que rejeição da parte dos evangélicos ao líder saltou de
32% a 41%, que o segundo saltou 26% a 33% (entre 11/09 e 24/09). Seria isto um
indicativo de que os religiosos, sejam católicos, evangélicos ou outras
religiões, estão tomando consciência de que a eleição busca um presidente para
o Brasil e não um pastor para uma nação, que se quer seja uma democracia e não
uma teocracia comandado por um “iluminado”.
Marcos Inhauser