No entanto, a história dos magos nos traz algumas lições
para os dias subsequentes ao advento. A primeira é que eles estavam atentos aos
sinais da presença de Deus na história. Perceberam que algo ocorrera e que isto
tenha grande significado para eles e para a humanidade. Uma luz no céu entre
tantas outras, foi suficiente para reconhecerem o sinal da ação de Deus. Esta
mesma vigilância e atenção aos sinais da ação de Deus na história devem estar presentes
nas nossas vidas. Como bem disse Karl Barth, o cristão dever ter em uma das
mãos a Bíblia e na outra o jornal. Ler a Bíblia sem buscar no palco da história
os atos de Deus é perder parte da revelação. G. Ernest Wright disse que a
Bíblia, mais que Palavra de Deus, é a coleção dos “Atos de Deus”. Oscar Cullmann
também chamou a atenção para a história como palco das ações divinas.
A segunda coisa a ser notada é que, apesar de estarem
atentos para os sinais de Deus na história, eles foram ao palácio real na
esperança de lá encontrar o Rei nascido. Ledo engano. Confundiram as bolas.
Tiveram que corrigir a rota e ir ao local humilde onde Jesus morava. Na
história da cristandade há uma infinita coleção de exemplos de pessoas que
buscaram, ensinaram ou levaram outros a buscar Jesus não na manjedoura, não na
casa simples, não no povoado humilde de Nazaré, mas na opulência dos palácios, das
catedrais, dos “shows da fé”, das grandes concentrações, “Diante do Trono”, na
boca das estrelas televisivas de um evangelho transformado em “gospel”, mais mercado
que sacríficio, serviço e humildade.
A terceira lição que eles nos dão é que saíram de seus lugares,
de suas casas, de seus povoados para ir adorar ao recém-nascido. Não há
verdadeira adoração quando não há a disposição de se mover, de sair de onde se
está, para, em companhia de outros (eram três), em comunhão, adorar ao Emanuel.
A quarta lição é que levaram do que de melhor tinham para
ofertar. A excrecência apresentada nos templos da prosperidade trabalha o dar
para receber, em uma negociata com o divino. Quando se dá, obriga-se Deus a retribuir
na proporção do dado. Não se vê isto nos magos. Deram. Simplesmente deram. E
deram com gratidão.
A quinta lição é que nem todos tem a verdadeira intenção de
adorar ao Rei, mesmo que assim expressem. Herodes demonstrou desejo de também
adorá-lo. Os magos foram alertados para a intenção perniciosa do rei. Ele
queria reinar absoluto, sem conceder qualquer privilégio ao recém-nascido.
Quando há pessoas que se apresentam em adoração e querem brilhar mais que o
adorado, que trazem nas fachadas dos seus templos enormes fotos pessoais, que
buscam estar na mídia para aparecer mais que o Rei, estão, como Herodes,
mandando matar crianças menores de três anos para que seus brilhos não sejam
apagados.
Marcos Inhauser
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