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quarta-feira, 15 de maio de 2013

PODER DIVINO?

Mal tinha enviado para a redação a coluna na semana passada, na qual fazia algumas reflexões sobre o poder, entre elas a de que “nada mais terrorista que o poder exercido em nome de Deus” e surge a notícia de que o “pastor” Marcos Pereira estava sendo preso por ter, supostamente, abusado sexualmente de fiéis da sua igreja. Segundo as notícias veiculadas, ele promovia cultos de exorcismo e dizia a algumas fiéis que o demônio só sairia delas se mantivessem relações com um homem santo, no caso, o próprio “pastor.”

O argumento, ao menos para mim, não é novo. Nos idos anos 80 ouvi de mais de uma testemunha, de uma profetisa na cidade de Jaú que revelava o tal “mandamento da carne”, onde fulano deveria transar com cicrana, porque esta era a vontade de Deus. A mesma coisa ouvi depois como prática em outros círculos “proféticos”, dando-me a sensação de ser algo usual em determinados círculos.
Já mencionei aqui há algum tempo (Desequilíbrio de Poder) que estudos feitos sobre os casos de violência sexual sempre mostram uma relação desigual de poder, onde os abusadores, no exercício de sua autoridade, impõe suas vontades sobre as partes mais fracas. Também afirmava que, no campo do religioso, esta desigualdade do poder se estabelece quando o religioso se apresenta como revestido de “autoridade espiritual”, o que facilita a investida sobre a presa de sua sanha sexual. Uma “cantada” de um religioso é mais efetiva que a de um cidadão normal. Há nisto a mística de estar se relacionando com o sagrado, com alguém mais próximo de Deus, uma elevação espiritual pelo sacrifício da entrega do corpo, de orgasmo mais pleno porque feito com a santidade. Há o caso (sem o mesmo destaque na mídia) de pastor que Deus revelou que as mulheres dos membros da Diretoria da Igreja deveriam ser acessíveis e acabou sendo flagrado no escritório pastoral com uma delas.
Neste contexto fica mais fácil entender como pais e familiares próximos são os maiores violadores das crianças e como a pedofilia ganhou níveis epidêmicos no seio da religião. Atendi certa feita uma pessoa que foi abusada pelo pai evangélico que usava o mandamento do “honra teu pai” e o texto “filhos, em tudo obedecei vossos pais, porque isto é justo” como forma de obrigar a família a ceder aos seus impulsos.
Há que lembrar-se que o agora acusado teve seus momentos de glória midiática quando apareceu no Fantástico, que lhe deu longos minutos de reportagem, apresentando-o como recuperador de viciados, negociador de rebeliões e salvador de pessoas condenadas à morte pelo tráfico. Talvez por causa disto, ele tenha conseguido as verbas públicas milionárias para seu “trabalho”.
Marcos Inhauser

terça-feira, 10 de agosto de 2010

PEDOFILIA EVANGÉLICA

Tenho constatado certa alegria disfarçada entre alguns pastores e membros de igrejas chamadas evangélicas com as recentes e crescentes denúncias de pedofilia por parte de clérigos católicos. Há na atitude uma ingênua avaliação de que tal não ocorre nos arraiais evangélicos porque grande parte destas igrejas prega a santidade e seus pastores são casados. Apontam ainda o fato de que, até agora, nenhum caso foi revelado e os que o foram não ganharam repercussão. Ledo engano. Sendo minha esposa alguém que atua na área do aconselhamento e terapia familiar há mais de vinte anos, posso afirmar que os casos são bem mais constantes do que faz supor o certo silêncio sobre o assunto que paira sobre tais igrejas. Resguardado pela ética do trabalho feito, só posso afirmar que, sim, há casos de pastores pedófilos, de membros de igrejas que são abusadores e estupradores. A igreja evangélica não está livre das estatísticas que mostram ser os familiares os principais abusadores. Neste sentido mostra-se significativo a convocação para o Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes para 18 de maio, no qual será feita uma marcha com o intuito de mobilizar as crianças, adolescentes, sociedade e governo, a combater essa violação de direitos. A convocatória é feita pela Comunidade do Estudante Universitário (CEU), como comunidade cristã que realiza projetos junto à comunidade universitária em Campinas, especialmente no distrito de Barão Geraldo, e a Makanudos de Javeh, ONG que atua nas escolas públicas realizando projetos que visam a reforma social pelo resgate de valores éticos. Em Campinas, os trabalhos foram iniciados na escola Hilton Federici, situada em Barão Geraldo. Também foi criado o site www.estaacontecendoagora.com. O principal objetivo da marcha em Campinas é impactar e alertar a população acerca da problemática, com finalidade de impulsionar discussões e ideias para que a sociedade e as igrejas evangélicas possam enfrentar e atacar essa realidade de maneira mais efetiva. A saída da marcha está prevista para as 10:00 horas no largo do Rosário. Além da marcha, as igrejas e pastores estão sendo convidados a introduzir o tema em suas prédicas e aulas de Escola Dominical. Marcos Inhauser

terça-feira, 6 de abril de 2010

PEDOFILIA E RELIGIÃO

Os recentes casos de pedofilia que vieram a público envolvendo sacerdotes são coisas que vão saindo das catacumbas do silêncio dos que sofreram, exigindo a abertura dos arquivos canônicos dos que se silenciaram. Quando o pedófilo é um religioso, seja ele sacerdote católico, pastor evangélico, pai-de-santo, ou seja lá o que qual título tenha em função de sua função religiosa, a figura do sagrado e o simbólico que se encarnam nestes líderes têm uma forte carga emocional e religiosa, desequilibrando as relações de poder entre estes e seus fiéis. As palavras dos religiosos, no imaginário dos fiéis, estão muito próximas de ser “vox Dei”. Eles falam em nome de Deus e muitos falam e agem como se deuses fossem. Esta aura do sagrado que acompanha a figura do religioso é também compreendida pelo imaginário popular associada à santidade dos atos, palavras e pensamentos. Por conseguinte, quando um religioso faz uma abordagem sensual ou uma investida sexual, há nesta sua ação um poder muito maior que a mesma ação feita por um leigo ou não religioso. A investida clerical tem a capacidade de apresentar-se como algo divino, sagrado, isento de culpa ou pecado. No imaginário de quem sofre a investida, pode ocorrer a idéia que aceder às insinuações ou investidas sexuais de um religioso é forma de agradar a Deus, porque se está agradando a um “servo de Deus”. Assim, o ato hediondo pode revestir-se de sacralidade e o pecado do abuso ser entendido como salvação. Um dado a ser considerado neste contexto é que muitas vezes os religiosos manejam informações passadas em confessionários, aconselhamentos ou sessões. Nos casos mais recentes que se conhece, havia a condição de internos em instituição ou de coralistas. As pessoas procuram religiosos para abrir a eles problemas, dificuldades, traumas, abusos. Elas se expõem a eles no desejo sincero de serem ajudadas, orientadas, ouvidas, entendidas, amadas. Muitas confessam suas fraquezas, tropeços, necessidades, carências. O uso indevido destas informações, especialmente para valer-se delas em uma investida sexual, é algo tão ou mais ignominioso que usar sedativo para entorpecer a vítima. Quando esta investida se dá com crianças ou adolescentes a coisa se torna monstruosa. Se no imaginário de pessoas adultas já há a possibilidade de confundir e misturar a pessoa humana com o sagrado que ela representa, o que não passará na cabeça de crianças que sofrem a investida de um “servo de Deus”? Elas foram ensinadas que os religiosos são pessoas sérias, confiáveis, que exigem certos comportamentos de seus fiéis, como não roubar, não matar, não mentir, honrar pai e mãe. Mas eles nunca ouviram de púlpito que não podiam ser abraçados, tocados ou beijados pelo sacerdote, pastor ou religioso, mesmo porque estes temas são proibidos nos púlpitos e nas classes de catequese ou estudo bíblico. Marcos Inhauser

terça-feira, 7 de julho de 2009

OBRIGADO, DEUS, PELOS DOIDOS

Acabo de assistir à parte final da cerimônia de despedida de Michael Jackson. Chamou-me a atenção a insistência em a chamar de “celebração à vida”. Confesso que o estilo de música do Michael Jackson não faz meu estilo. Brinco dizendo que meu gosto musical parou nos Beatles e nem conseguiu chegar aos Rolling Stones. Não gosto de rock, pop ou o que veio depois disto.
Admirava a flexibilidade do corpo nas coreografias de suas danças e nunca entendi como ele podia fazer o “moon walk”. Nunca assisti a um videoclipe dele e sempre o considerei excêntrico, meio doido, meio varrido. Lá nos meus botões eu atribuía isto a uma necessidade de ficar em evidência na mídia e a traumas de infância, denunciados pelo Michael, tendo a seu pai como agressor. Sempre achei a família Jackson disfuncional e o Michael um doido.
Quando o acusaram de pedofilia, estava mais propenso a acreditar que a defender. Certa vez pensei que ele ainda havia escapado da acusação de ser viciado em drogas, e o que se sabe agora é que sim o era, mas em analgésicos. Hipocondríaco? Talvez. Neurótico? Talvez. Gênio? Com certeza.
Ao ouvir o testemunho da Brook Shields sobre as brincadeiras de criança que ambos tinham mesmo sendo adultos, das gargalhadas que davam, da alegria que sentiam ao estarem juntos, confesso que tive que repensar um monte de coisas.
Comecei a pensar na quantidade de coisas que hoje temos, de descobertas feitas por cientistas totalmente devotados às suas pesquisas, do médico que descobriu a bactéria estomacal e que ninguém nele cria até que ele mesmo se infectou com ela, do Einstein mostrando a língua, do Stephen Hawkins em sua cadeira de rodas pensando o universo e a noção de tempo, do Aleijadinho e sua obra, apesar da enfermidade. Muitos outros eu poderia citar.
Há algo em comum nesta gente toda: eram meio doidos, meio malucos. Se o mundo fosse depender dos “certinhos”, de gente que é igual a relógio suíço (todo dia fazendo a mesma coisa nas mesmas horas) o mundo não teria avançado como avançou. As descobertas, as invenções, as grandes esculturas, pinturas e arquiteturas nós as devemos às pessoas que ousaram quebrar paradigmas, que se devotaram de corpo e alma ao que se propuseram, que vararam noites e mais noites a perseguir seus ideais.
Outra característica de muitos deles é que eram pessoas sofridas, solitárias, incompreendidas, doentes. Talvez por isto tenham falado tanto à alma humana, esta também cheia de dores e desilusões. E não é por menos que os Salmos da Bíblia, poemas na sua grande maioria falam do sofrimento e perseguição, sejam tão lidos.
O mundo precisa dos doidos e sofridos para que haja mais alegria e melhor qualidade de vida. E Michael foi um deles que trouxe para muitos alegria e exemplo de determinação.