O argumento, ao menos para
mim, não é novo. Nos idos anos 80 ouvi de mais de uma testemunha, de uma profetisa
na cidade de Jaú que revelava o tal “mandamento da carne”, onde fulano deveria
transar com cicrana, porque esta era a vontade de Deus. A mesma coisa ouvi
depois como prática em outros círculos “proféticos”, dando-me a sensação de ser
algo usual em determinados círculos.
Já mencionei aqui há algum
tempo (Desequilíbrio de Poder) que estudos feitos sobre os casos de violência
sexual sempre mostram uma relação desigual de poder, onde os abusadores, no
exercício de sua autoridade, impõe suas vontades sobre as partes mais fracas.
Também afirmava que, no campo do religioso, esta desigualdade do poder se
estabelece quando o religioso se apresenta como revestido de “autoridade
espiritual”, o que facilita a investida sobre a presa de sua sanha sexual. Uma
“cantada” de um religioso é mais efetiva que a de um cidadão normal. Há nisto a
mística de estar se relacionando com o sagrado, com alguém mais próximo de
Deus, uma elevação espiritual pelo sacrifício da entrega do corpo, de orgasmo
mais pleno porque feito com a santidade. Há o caso (sem o mesmo destaque na
mídia) de pastor que Deus revelou que as mulheres dos membros da Diretoria da
Igreja deveriam ser acessíveis e acabou sendo flagrado no escritório pastoral
com uma delas.
Neste contexto fica mais
fácil entender como pais e familiares próximos são os maiores violadores das
crianças e como a pedofilia ganhou níveis epidêmicos no seio da religião.
Atendi certa feita uma pessoa que foi abusada pelo pai evangélico que usava o
mandamento do “honra teu pai” e o texto “filhos, em tudo obedecei vossos pais,
porque isto é justo” como forma de obrigar a família a ceder aos seus impulsos.
Há que lembrar-se que o
agora acusado teve seus momentos de glória midiática quando apareceu no
Fantástico, que lhe deu longos minutos de reportagem, apresentando-o como
recuperador de viciados, negociador de rebeliões e salvador de pessoas
condenadas à morte pelo tráfico. Talvez por causa disto, ele tenha conseguido
as verbas públicas milionárias para seu “trabalho”.
Marcos Inhauser
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