— Boa tarde irmã!
— Oh!
irmão. Boa tarde. Como vai o irmão?
— Tô
na bença. Só na bença. E a irmã?
— Eu
também. Bença pura!
— A
irmã ainda congrega naquela igreja?
— Sim
irmão, mas tô pensando em ir prá outra igreja.
— Por
que, irmã?
— O
“obrero” de lá é muito pidão. Todo dia pedindo dinheiro prá alguma coisa. É prá
pagar a luz, a água, a gasolina, o aluguel, o “pograma” de rádio. Se a gente
for dar “toda veis” que ele pede, a gente passava fome. Não ia sobrar prá nada!
— Tem
“obrero” que só pensa no “dinheiro”.
Demorei
para me afastar porque a senhora me impedia o acesso aos limões e eu estava
interessado na conversa. Depois de mais algumas perguntas e respostas, ele
perguntou:
— A
irmã tem notícia do irmão Antonio? Nunca mais soube nada dele.
— Não,
não tenho sabido de nada. E o irmão sabe do irmão Geraldo que andava com ele?
Ele também sumiu. Fiquei sabendo que ele foi mandado embora do trabalho. Ele
tinha muito tempo de empresa.
—
Pois é, irmã. O Geraldo foi mandado embora, pegou uma bolada e decidiu abrir um
ministério só prá ele. Alugou um salão, abriu uma igreja e a coisa tá indo bem.
—
Verdade irmão?
— Ele
tá com o ministério dele não faz um ano. Ele já conseguiu comprar uma casa prá
ele, só com o trabalho na igreja. Ele montou uma loja de CDs evangélicos na
igreja, vende Bíblias, adesivos de geladeira.
— O
irmão Geraldo é um homem espiritual, de oração. Ele fala “bunito” e prega só na
Bíblia. Deus tá abençoando ele!
— É
verdade irmã! Mas tem gente que tá fazendo muito dinheiro sendo pastor.
— O
da minha igreja já deve estar rico, ao menos pelo que ele pede e o povo dá. Só
que ele não mostra o que tem. É sabido! Anda com o mesmo carrinho velho, mora
na mesma casa. De repente a riqueza aparece!
—
Tenho que ir, irmã! Fica na bença!
— O
irmão também. Vai na bença. Um dia vou lá ver o ministério do irmão Geraldo.
Capaz até de mudar prá igreja dele.
Não
preciso fazer comentários. A conversa é autoexplicativa e revela o grau de
comercialização que a fé se transformou em segmentos bem identificados.
Foi-se
o tempo em que igreja era coisa séria, dirigida por gente capacitada, formada
em teologia sob a supervisão de um tutor, período experiencial e só então era
ordenado.
Marcos Inhauser