Figura tão antiga quanto as religiões, o profeta teve status máximo na religião judaica. Durante séculos eles foram vistos, ouvidos, criticados e (per)seguidos. Há indícios e referências bíblicas para a existência de “escola de profetas”. Ao que tudo indica, a organizada por Samuel, (I Sm 10.5; 19.20) é a primeira. Elias e Eliseu foram responsáveis pela escola dos profetas, que funcionou como resistência à apostasia imperante no reino do norte (II Rs 2.3; 4.38; 6.1). Havia destas escolas em Ramá, Gibeá (I Sm. 19.20; 10.5,10) Gilgal, Betel e Jericó (II Rs. 4.38; 2.3,5,7,15; 4.1; 9.1). Uns cem estudantes faziam parte da escola dos profetas de Eliseu. Quando Elias e Eliseu foram ao Jordão, cinquenta da escola dos profetas estavam com eles (II Rs. 2.7,16,17).
Ser profeta não é uma questão de escolha pessoal, ainda que muitos assim decidam, indevidamente, devo dizer. Se olharmos para as histórias bíblicas dos profetas, constataremos que todos eles receberam um chamado e que foram relutantes em aceitar o mandato e a missão. Haja visto o exemplo de Jeremias que se sentiu chamada quando ainda era um “nah’ar” (imberbe, adolescente).
Percebe-se também que o profeta era alguém que tinha uma mensagem dura, denunciando os pecados do povo e especialmente dos governantes. Como disse Max Weber, em Israel havia uma classe social formada pelos reis e sacerdotes que explorava a segunda classe que era o povo. A terceira era a dos profetas que denunciava a exploração, se colocava ao lado do pobre, explorado, estrangeiro, órfão, e os defendia da tirania. Eles eram a oposição ao governo corrupto dos reis e sacerdotes!
Não é de estranhar que foram execrados. No dizer do escritor aos Hebreus, os profetas praticaram a justiça, da fraqueza tiraram forças, foram torturados, experimentaram escárnios, açoites, cadeias, prisões, foram apedrejados, serrados ao meio, morreram ao fio da espada, necessitados, aflitos e maltratados. Eram homens que o mundo não era digno!
Eles não alcançaram a promessa que anunciavam, mas nem por isto esmoreceram. Havia neles a consciência da vocação. Jeremias quis desistir e veja no que deu: “Seduziste-me, ó Senhor, e deixei-me seduzir; mais forte foste do que eu, e prevaleceste; sirvo de escárnio o dia todo; cada um deles zomba de mim. Pois sempre que falo, grito, clamo: Violência e destruição; porque se tornou a palavra do Senhor um opróbrio para mim, e um ludíbrio o dia todo. Se eu disser: Não farei menção dele, e não falarei mais no seu nome, então há no meu coração um como fogo ardente, encerrado nos meus ossos, e estou fatigado de contê-lo, e não posso mais. ... Mas o Senhor está comigo, tropeçarão os meus perseguidores, e não prevalecerão; ficarão muito confundidos, porque não alcançarão êxito, sim, terão uma confusão perpétua que nunca será esquecida. (Jr 20:7 ss).
Ser profeta é questão de vocação e não de opção. Ser profeta é ser chamado para ser questionado, odiado e viver em solidão porque os “amigos” fugirão na hora agá. Ser profeta é não ser o que gostaria de ser, mas é ser o que sente que deve fazer e o faz com um sentido de missão e obediência ao chamado. Ser profeta é ter experimentado o que Agostinho definiu como o chamado da “graça irresistível” e Calvino disse que “é “vocação eficaz, tão eficaz que não aceita o não!
Marcos Inhauser
Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
quarta-feira, 24 de abril de 2013
CONSERVADORISMO
Uma das características das igrejas é a confessionalidade,
determinada pelo conjunto de doutrinas que a denominação ou religião estabelece
como sendo a verdade. Esta doutrina teórica é ensinada através de Catecismos
que são ensinados e que os aprendizes devem memorizar, repetir e recordar. Ora,
ao fazer isto, a igreja conserva o mesmo, as mesmas verdades que foram
pronunciadas há séculos por algum iluminado, seja Agostinho, Aquino, Lutero,
Calvino, Zwinglio, Wesley ou qualquer outro.
A preeminência desta Confissão é tão grande que o Código de
Disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil, no Capítulo II, quando trata das
faltas, no Art.4º, Parágrafo Único – “Nenhum tribunal eclesiástico poderá
considerar como falta, ou admitir como matéria de acusação aquilo que não possa
ser provado como tal pela Escritura, segundo a interpretação dos Símbolos da
Igreja”. Percebe-se assim que só é falta (pecado) aquilo que é previsto nos
Símbolos da Igreja (Confissão de Fé, Catecismos Maior e Menor).
A memória, a recordação preservam o passado e este é
imutável. Não se muda o que já aconteceu. Ao fazer esta retro-oculatra, as
igrejas perdem o sentido de uma resposta ao presente, preferindo a saudade de
tempos idos. A recordação tem algo de opressora: ela não permite a novidade, a
descoberta, a criatividade. Ela congela o pensamento e nega o diferente. Ao
assim proceder, entroniza o passado como verdade absoluta e demoniza o presente
e os sonhos de futuro melhor como demoníacos.
Não é para menos que os profetas tenham sido mortos,
torturados, serrados ao meio. No dizer do escritor de Hebreus: “Todos esses
morreram cheios de fé. Não receberam as coisas que Deus tinha prometido, mas as
viram de longe e ficaram contentes por causa delas, declararam que eram
estrangeiros e refugiados, de passagem por este mundo. E aqueles que dizem isso
mostram bem claro que estão procurando uma ... Não ficaram pensando em voltar
para a terra de onde tinham saído. Se quisessem, teriam a oportunidade de
voltar. Mas, pelo contrário, estavam procurando uma pátria melhor, a pátria
celestial. E Deus não se envergonha de ser chamado de o Deus deles, porque ele
mesmo preparou uma cidade para eles.” (Hb 13:12-16).
Para a religiosidade ortodoxa, ciosa das verdades que
sustenta há séculos, os pregadores de alternativas, os promotores de perguntas,
os questionadores devem ser liquidados, taxados de hereges, queimados no fogo
da Inquisição.
Nada mais fácil que taxar alguém que pensa de herege,
apóstata. Não há lugar para os profetas! A função do ministério profético é
manter juntos o espírito crítico e a ação. É na dialética entre crítica e ação
que nos tornamos fiéis a Deus. Optar por um ou outro é cair nas armadilhas do
progressismo e do conservadorismo.
Marcos Inhauser
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