Wolfhart Pannenberg, teólogo alemão, afirmou certa feita
algo que outros já haviam dito com outras palavras “todos os movimentos
revolucionários se tornam, de repente, conservadores, assim que fazem a
revolução. Então, a estrutura estabelecida de poder se identifica muito
facilmente com o bem supremo”. Traduzindo: quando os revolucionários chegam ao
poder, a aura de messianismo e superioridade sobe à cabeça.
Lembrei disto nestes dias em que o Maduro (que maduro só é
no nome), andou fazendo mais algumas trapalhadas, seguindo as pegadas do mestre
Chávez. Mas neste saco também se pode enfiar a Cristina Kirchner e o Evo
Morales.
Mas, a bem da verdade, o que me chamou mesmo a atenção foi o
discurso atravessado da represidente, dizendo que a culpa da corrupção na
Petrobrás é do FHC, porque, se tivessem investigado a coisa no início, a
santidade dos nomeados do PT na PTrobrás não teria acontecido.
É melhor ouvir isto que ser surdo. Assim como prefiro ouvir
o Maduro acusando os EUA do desabastecimento na Venezuela e de financiar a
oposição que pede comida, e a Cristina suicidando o promotor antes de qualquer
laudo pericial.
Na visão dos petralhas, eles são santos e o que fazem o
fazem para o bem do povo, ainda que o povo não tenha visto centavos da
dinheirama locupletada na estatal e em outras maracutaias. O projeto de governo
do PT é o bem maior, um dogma político inquestionável e quem ousa falar contra
é ameaçado com o “controle social da mídia”.
Neste contexto de “revolucionários” que se tornaram o bem
supremo, a função profética da denúncia nunca é bem vista. Os ex-revolucionários
agora conservadores têm a tendência em achar que nada deve ser mudado porque o
que fizeram e fazem é o bem supremo. Exemplo disto é a dificuldade da
represidente em destituir o Mantega e a Graça Foster, em negociar com o Eduardo
Cunha e em flexibilizar o valor do reajuste do Imposto de Renda. Ela sabe o que
é certo e bom para o governo e para o povo.
Os revolucionários autênticos têm a tendência em ser
excelentes em diagnósticos e fracos em propostas. Parecem máquina de RX. Só dizem
onde está o problema, mas as soluções são anêmicas. Estes também não gostam da
função profética por explicitar a carência que têm em propor soluções.
A função profética trabalha na dialética da crítica e da
ação, com o objetivo de ser fiel ao Reino de Deus. Se o profeta tende à crítica
ou à ação, ele peca por ser conservador (ação engessada) ou de progressismo
(crítica exagerada). No entanto, tanto um como outro se atordoam quando a voz
profética diz que o “rei está nu”, que isto não é o que estão dizendo que é,
que os revolucionários se transformaram em deuses promotores do bem supremo,
que as propostas do progressismo são inviáveis. Não é para menos que os
profetas devem ser mortos. Eles perturbam a direita e a esquerda.
Os pregadores de certezas detestam os profetas, porque
lançam perguntas e questionam a segurança medíocre que passam à plateia. Os
sacerdotes institucionais se arrepiam diante do profeta porque os desmascara
como usurpadores do povo, movidos pela ganância e pelo engodo de que podem
abençoar porque são mediadores entre Deus e os homens, tendo assim um status
superior.
Fecho esta reflexão com uma citação do Alvin Gouldner: “a
velha sociedade se mantém através de teorias e ideologias que estabelecem sua
hegemonia sobre as mentes humanas, as quais, por isto mesmo, se submetem a ela
voluntariamente, sem cruzar os dedos”.
Talvez seja aqui que se entende o comportamento passivo da sociedade
brasileira.
Marcos Inhauser