Brasileira, filha de chineses e vivendo agora na China, eu a
conheci em Beijing. Estávamos visitando nossa filha e a acompanhamos à sua
loja. Cansado de ouvir tantas mulheres conversando, tinha me desligado do
entorno. A certa altura ouvi um papo animado em português. Era minha filha, minha
esposa e mais alguém que não reconheci a voz. Fui ver quem era e assim a
conheci.
Entrei na conversa e soube que ela vive há quase 10 anos em
Beijing. Casada com um alemão, já rodou pelo mundo. Quando estávamos em um
aniversário, alguns dias mais tarde, e todos falavam inglês e eu minha esposa
já estávamos sufocados de tanto ouvir e falar um idioma que não é o nosso. Chega
a Miranda e aí a conversa ficou entre nós três. Soube que foi criada em Igreja
Batista, pais severos. No dizer dela, “começou a viver quando saiu de casa e
foi para a faculdade”. Trocamos experiências, mas algo começou a me chamar a
atenção: a preocupação dela com os estrangeiros, especialmente os brasileiros
que vivem na China. Ela está envolvida com uma associação de brasileiros (Brapeq) e é quem, de certa forma, carrega as
coisas nas costas. Seu ministério é promover eventos para que os brasileiros possam
se reunir, se conhecer e estreitar os laços de amizade. Os almoços e eventos
organizados pelo Brapeq são, de certa maneira, a única maneira com que muitos
brasileiros que moram quase toda uma vida fora do Brasil, de manter as tradições,
falar sua língua e sentir saudades juntos.
Ela se dispõe a pegar suas próprias coisas, quando necessário, abrir sua
casa para eventos e passar horas organizando e preparando almoços e jantares,
simplesmente pelo prazer de ver a comunidade brasileira se reunir e celebrar
sua brasileiridade. Ela está envolvida nisto até o pescoço e o faz como ministério
e vocação.
No meio da conversa falamos sobre ser graça e benção na vida
dos outros. Há muito tempo não encontrava alguém que tivesse noção prática da
graça de Deus como ela. Não havia nela teologia, conceitos, mas prática.
Durante a festa, minha esposa mencionou o quanto a Miranda
estava linda e que tinha adorado sua blusa.
No dia seguinte, quando chegamos em casa, havia uma sacola com um
bilhete. Era a mesma blusa que minha
esposa tinha admirado no dia seguinte.
Quando perguntei à minha filha porque ela havia enviado tal presente, a
sua resposta foi simples: essa é a Miranda!
Alguns dias mais tarde, em outro evento, tinha a certeza de
que ela também estaria. Não veio. Perguntei à minha filha por ela e fui
informado de algo que me emocionou: a Miranda estava fazendo uma festa de
aniversário para uma pessoa que nunca tinha tido uma festa bem feita. Ela se
dispôs a pegar as suas coisas (cristais, taças e talheres), levar à casa da
pessoa e fazer para ela o que nunca tinha recebido. A minha filha completou:
essa é a Miranda!
Há muitas pessoas que fazem o que devem fazer, no entanto,
há poucas que fazem aquilo que ninguém quer ou se atreve a fazer. Não fazem para
aparecer, serem elogiadas, reconhecidas ou aduladas. Fazem, pelo prazer de ajudar e trazer um
pouco de felicidade aqueles ao seu redor. Fazem porque são canais da graça de
Deus.
Essa é a Miranda!!!
Marcos Inhauser