Segue texto enviado por Maria Luiza Rücket,
autora do livro "Capelania hospitalar e ética
do cuidado", amiga, que me autorizou a fazer pequenas edições no exto para
que o mesmo coubesse no espaço desta coluna.
“Um dos chefes da sinagoga, chamado
Jairo, prostrou-se aos pés de Jesus, pois sua filha estava à beira da morte.
Com insistência, suplicou que Jesus impusesse as mãos sobre a menina, para que
ela fosse salva e continuasse viva. Jesus o acompanhou, mas enquanto caminhavam
veio a notícia de que a menina havia morrido. Jesus então falou ao pai: “Não
temas, crê somente” (Marcos 5,36).
Jesus contrapõe a fé ao temor: o medo
deve ser vencido pela fé.
O medo é uma força atuante. O médico
francês Frederic Leboyer, que se notabilizou com o livro Nascer
sorrindo, constatou que o medo nos acompanha do nascimento à morte. Reflexões
já foram elaboradas a respeito de medo, temor, angústia, ansiedade,
preocupação. Essas emoções negativas causam malefícios à saúde e às relações
interpessoais.
Até uma determinada intensidade, o
medo pode nos ajudar a evitar certos perigos. Ele se torna em profilaxia para
não nos expormos a riscos desnecessários. Mas, nós não temos o controle sobre
essa dosagem do medo e ele se torna uma força muito poderosa e prejudicial em
nossa vida.
Nos dias atuais despontou mais um
tipo de temor: é o medo do anonimato. Para se diferenciarem das demais, as
pessoas recorrem cada vez mais às tatuagens e às técnicas de modelar o corpo.
Mesmo sabendo dos riscos, muitas pessoas recorrem ao implante de silicone
industrial. Recorre-se a uma enormidade de recursos para se tornar
diferenciado. O risco é grande, mas o medo do anonimato fala mais alto.
É desse temor nocivo e até patológico
que Deus quer nos libertar. A exortação de não temer perpassa a Bíblia toda –
desde Gênesis 15,1 até Apocalipse 1,17.
Em nossa existência, nos defrontamos
com duas forças poderosas: o medo e a fé. O medo tem dominado muitas vidas,
causando infelicidade e desgraça. Mas a fé é mais forte do que o medo. E
somente a fé pode vencer o medo. A declaração de Jesus mostra isso.
Como devemos proceder para substituir
o medo pela fé?
Para o salmista, fé é sinônimo de
confiança. O salmista confiava na intervenção de Deus, capaz de socorrer em
meio às angústias e perigos. Também Jesus interpelava as pessoas apontando para
a confiança. Para acontecer a cura, a pessoa precisa se posicionar. Portanto, a
confiança em Deus é uma força mais poderosa do que o temor – diante de doenças,
do anonimato, da calúnia, da desonra, da morte.
Precisamos sempre, de novo,
redimensionar a nossa fé. Muitas pessoas entendem a fé como sendo a adesão a um
conjunto de doutrinas. E a fé torna-se sinônimo de “acreditar”. Esforçam-se
para acreditar, mesmo percebendo que a realidade não cabe dentro dessa
doutrina. Mas, com essa insistência, continuam com medo, muito medo. Inclusive com
o medo de que a doutrina venha a ser ameaçada pelo ateísmo.
A confiança é diferente, pois ela
resulta do reconhecimento de que nós não temos o controle dos acontecimentos.
Portanto, só nos resta entregar a nossa existência ao poder que controla toda a
realidade. Confiança é entrega. Ela precisa ser exercitada diante de cada
circunstância que se apresenta.