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quarta-feira, 13 de julho de 2016

A FÉ TEMPLARIA

Vivemos há séculos com a vinculação estreita entre o templo e o culto, ao ponto de, para muitos, não haver culto sem ser realizado no templo. As reuniões cúlticas fora dos templos recebem nomes outros, mas não o de culto.
Esta herança a devemos à religiosidade do antigo Israel onde, com a construção do tabernáculo e depois do templo, se associou de tal forma as duas coisas que passou a fazer parte do DNA das religiões. O mesmo se pode dizer do islamismo, onde as mesquitas são elementos centrais na vida religiosa e há a preeminência de uma sobre as demais: Meca. O mesmo se aplica ao catolicismo, com a centralidade da Basílica de São Pedro na cidade do Vaticano.
Há, contudo, algumas considerações que devem ser feitas quando isto ocorre. Não se imagina um santuário sem sacerdotes ou uma casta de gente dedicada ao serviço religioso. Por serem os “mediadores” entre a divindade e os humanos, estes recebem alta consideração e respeito por parte dos adoradores. A palavra por eles proferida, a instrução por eles dada, o ensino por eles ministrado, passam a ter a chancela da superioridade, da infalibilidade, da inquestionabilidade. O que falam, fazem ou ensinam estão acima de qualquer suspeita. As suas mensagens são Vox Dei.
Esta concepção dos “dedicados ao serviço religioso” (seja lá qual o título que se queira a eles dar) facilita o surgimento de uma verticalização: Deus-sacerdote/bispo/apóstolo/pastor-povo. O Supremo se comunica com os fiéis pela intermediação de “vocacionados”. Estes, por gozar desta reverência e funcionalidade, não raro, assume ares de ditador espiritual e deixam o seu lado narcísico aflorar. Colocam fotos suas nas fachadas dos templos, sonham em ter um horário na televisão para serem vistos por milhares, querem ouvir sua voz na rádio. Sua visão teológica (quando as tem, o que é raro), suas doutrinas (quando não são coleção de podes e não-podes, o que é o mais comum), sua administração (quase sempre egóica), produz um ditador que invade a vida das pessoas e, para espanto, até os mesmo os quartos de casal, ditando o permitido e o pecado.
Porque vivem de manter e incrementar seu poder, fabricam leis e multiplicam pecados, produzindo o sentimento de culpa em massa. Passam a ter prazer quase orgásmico em ver os fiéis se sentirem pecadores, indignos, merecedores do castigo divino. Oferecem assim seus préstamos de mediadores da benção e da graça, sempre aliado à contribuição do dízimo e das “ofertas de amor”. Empreendem programas mirabolantes, alugam horários televisivos a peso de ouro e, quando chega a hora de pagar a conta, ao invés de reconhecerem que exageram no sonho, responsabilizam os fiéis pela manutenção de suas megalomanias narcísicas.
Para manter o poder e dar asas ao narciso, os fiéis precisam ir ao templo. Se em Israel todo judeu devia ir ao templo uma vez ao ano, se o muçulmano deve ir a Meca uma vez na vida, nos modernos templos-gazofilácio os fiéis devem ir tantas vezes quantos os dias da semana. Prestam a reverência ao ditador/espiritual, pedem orações, recebem a benção e, infalivelmente, são constrangidos a deixar a “ben$ão para o $ustento da obra do $enhor”.
Sem o templo não há culto, sem o templo não há “vocacionados”, sem o templo não há salvação. Quanto maior for o templo, mais benção há. Por isto, os narcisos/ditadores/arrecadadores, precisam construir seus palácios: o templo de Salomão, o Santuário para quinze mil pessoas, o maior templo do mundo, a Casa de Deus. Fora do templo não há fé, milagre ou livramento.
Todos ao templo é o lema. Quanto maior o templo, mais bonito você está na fita e mais gratificado está o ditador/arrecadador.
A religiosidade não-institucional, não mediatizada, de pequenos grupos caseiros não é expressão de culto e fé. É subversão. Sem guru não há edificação.

Chegamos ao tempo em que o Espírito Santo pode ser aposentado!
Marcos Inhauser