Na teoria sistêmica das relações há uma pergunta que se faz
com frequência e que norteia e ajuda a diagnosticar situações aparentemente
incongruentes: qual o ganho que a pessoa tem em se manter na atual situação?
Ela explica porque certos filhos são pacientes sintomáticos,
pois, por mais dolorosa que possa parecer a situação aos que de fora a veem, o
filho tem um ganho com seu comportamento, pois ele lhe garante a atenção dos
pais ou, em caso de separação, lhe dá a satisfação de ver os pais conversando
ou, até mesmo, estando juntos para tratar dos problemas do filho. Há filhos que
aprontam porque isto lhes dá a garantia da atenção dos pais, ou, pasmem, a
surra, única forma de ter um contato físico da parte deles.
Esta pergunta eu a tenho eito em relação ao Temer. Qual o
ganho que ele teve em manter a indicação da Cristiane Brasil, contra tudo e
todos? O que ele ganhou com tal insistência? A mesma pergunta eu a fiz com a
indicação do Segóvia para a Polícia Federal, indo contra o Ministro da Justiça,
a corporação e a opinião pública. O ganho teria sido agradar o Sarney? Só isto?
O que mais havia na história?
Mais evidente fica a motivação para a intervenção no Rio de
Janeiro. O ganho é a mudança do foco, saindo da reforma da previdência para uma
questão de certo consenso nacional? Qual o ganho real que está por trás disto?
Um aumento de popularidade? Uma possível candidatura à reeleição?
Qual o ganho do Jungman em deixar o Ministério da Defesa,
mais tranquilo, e aceitar a bucha da intervenção e do Ministério da Segurança
Pública?
Qual o ganho do Gilmar Mendes em soltar meio mundo? Qual o
ganho do Barroso em quebrar o sigilo fiscal e bancário do Temer? Qual o ganho
da Carmen Lúcia em antecipar a agenda do STF para os meses de março e abril,
não abrindo espaços para uma nova rodada de discursos longos, tedioso, eivados
de narcisismo, para debater o que, por duas vezes, já foi decidido?
Por que manter o Pezão como governador, no que pese as
sentenças que tem, a incompetência administrativa comprovada? Por que não se
cassou os direitos políticos da Dilma no impeachment, tal qual preceitua a
Constituição? Qual o ganho do Marco Aurélio em ser sempre do contra? Só
aparecer na mídia? Qual o ganho que está por trás da lentidão nos processos do
Padilha, Moreira Franco, Renan, Jucá, Maia, Eunício e outros mais?
Mas esta pergunta muitas vezes é acompanhada de outra: qual
o custo? No caso específico do Segóvia, porque o Temer teve que atropelar os
procedimentos e dar de presente ao defenestrado delegado um assento na
diplomacia, com o régio salário de R$50.000,00? Por que a saída dele custou tão
caro para o Temer e para o país? Que segredos ou favores o Temer está pagando
ao dar-lhe a função na embaixada da Itália? O que o Gilmar Mendes ganhou em
defender com unhas e dentes o mandato do Temer no julgamento de improbidade e
abuso do poder econômico da Chapa Dilma-Temer?
Há mais perguntas que respostas. Mas, espero, o tempo trará
as respostas às perguntas.
Marcos Inhauser
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