A máxima proferida por Jesus de que "conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará" é essencial para os dias que estamos vivendo.
Diferentemente do que dizem intérpretes afoitos e pregadores mal alfabetizados,
o texto se refere a qualquer verdade e não somente à verdade do Evangelho.
Esta diferenciação se faz necessária e importante porque a mentira
escraviza. Uma mentira produz a segunda mentira, gerando um círculo vicioso e
de escravidão em que o restabelecimento da verdade é a única forma de romper a escravidão.
Qualquer verdade é libertadora. Por mais difícil e cara que a verdade
seja, o preço dela é menor que o preço da mentira.
Quem viveu em cidades pequenas antes do advento da internet, quem viveu
em círculos fechados, tinha que lidar constantemente com os boatos e as
fofocas. As fofocas eram o prato diário das conversas e haviam pessoas
especializadas em criar e difundir fofocas. Até nome tinham: fofoqueiras ou
candinhas.
No mais das vezes, estas pessoas ficavam à espreita de vizinhos ou
conhecidos e interpretavam malevolamente qualquer sinal que viam: podia ser um
carro que parasse na frente da casa, o horário que chegava ou que saia, quem
visitava, quando compravam alguma coisa e o caminhão vinha entregar, a reforma
que faziam, ou a filha que estava engordando.
Muitas vezes, reputações ilibadas eram atiradas na lama de onde era
quase impossível sair. Muitas destas pessoas mudaram de cidade para salvar-se
do estigma que sobre elas as fofocas colocaram.
Os tempos mudaram. As candinhas modernas estão à espreita nas redes
sociais e na internet. Tal como nas pequenas cidades, não há a preocupação de
se verificar a veracidade das informações repassadas e cada qual aumenta a sua
versão, coloca o seu tempero e acrescenta fatos e dados à invencione.
Exemplos modernos de fofoca existem aos milhares. O FBI está
investigando o uso destas fofocas para influenciar a eleição presidencial,
gerando notícias falsas dirigidas à opositora na eleição e facilitando a
eleição do Trump.
Sabe-se hoje que as duas ou três últimas eleições presidenciais
brasileiras também tiveram este expediente. Busca-se acabar com as fake news
nas próximas eleições. Tarefa inglória e impossível. O máximo vai se conseguir
minimizar os prejuízos, nunca erradicar a fofoca.
O exemplo mais gritante é a recente onda de notícias relacionadas à
morte e às atividades e vida particular da vereadora Marielle. Há pessoas que
parecem justificar o assassinato alegando fraudulentamente que a assassinada
teria ligações com o narcotráfico, ou que teria sido engravidada aos 16 anos,
ou que teria sido esposa de um traficante. Levando a lógica às últimas
consequências, qualquer mulher grávida aos 16 ou que tenha se casado com alguém
posteriormente considerado bandido, pode ser morta porque o seu assassinato
está justificado.
No universo das fofocas virtuais o que assusta é que um ex-coronel, hoje
deputado e uma atual desembargadora tenham publicado notícias mentirosas. É
verdade que vieram a público se desculpar da insensatez de veicular o que não
haviam checado. É inadmissível que pessoas com estes cargos cometam tais
equívocos. Recebo todos os dias uma quantidade de e-mails, links de vídeos,
propostas de pauta de agenda para publicação que não me dão segurança de que
sejam verdade. Já recebi sobre a renúncia do Temer, sobre a morte do Lula,
sobre a vinculação do tráfico na biografia de várias pessoas. Ainda que as
pessoas que me enviaram tenham sido por mim ou por outras pessoas alertadas
para a disseminação de notícias falsas, parece que fazem ouvidos moucos e, no afã
de serem curtidos, continuam a espalhar fofocas.
Mais do que nunca é necessário que a verdade seja estabelecida. Estamos
vivendo em uma sociedade recheada pela mentira, disseminada pelos incautos com
pessoas feridas ou tombadas pelas calúnias. Há poucos dias um pai foi
inocentado da acusação de abuso sexual pelas próprias filhas que supostamente,
teriam sido abusadas. Elas alegavam que foram pressionadas e forçadas pela mãe
a denunciar o pai.
Emblemático na história noticiosa brasileira são os casos da Escola Base
e do ex-deputado que se sentiu destruído pelas inverdades e escreveu um livro
sobre o assassinato de reputações.
Credibilidade é coisa rara na sociedade atual. O que vale é receber
curtidas e visualizações nas redes sociais, não importa como obtê-las. Ainda
que os mecanismos de busca, os provedores, os sites de relacionamento e as
redes sociais estejam buscando diminuir o número de notícias falsas, não
podemos deixar de dizer que cada um deve assumir um compromisso com a verdade.
Se há violência armada, há violência verbalizada e fofocada. A verdade
pede espaço neste universo.
Marcos Inhauser
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