Eu tentei! E o fiz várias vezes. Confesso que não consegui
gastar muito tempo vendo televisão nestes dias de Carnaval. Mesmo para ler ou
ver o jornal foi problemático.
Há um abuso na quantidade de notícias parecidas e sem
importância nos destaques das coberturas. Coisas como: “fulana comeu um
cachorro quente”, “é maravilhoso estar aqui”, “gastei dois carros nesta
fantasia”, “aqui estão as celebridades....”, “como você se sentiu desfilando
pela ...”.
Dias destes, com a televisão ligada e tentando me interessar
pelo que apresentavam, cochilei e, quando acordei, pensei que não tinha dormido
ou que a imagem tinha congelado. Era a mesma imagem. Comecei a prestar atenção.
Estavam passando algo do Bloco Tal na Tijuca, aí o narrador/apresentador dizia:
“agora vamos ver como estão as coisas no Recife” e a coisa era igual. Mudava a
cor da roupa, a música era igual, o bando de gente com lata de cerveja na mão, levantando
as mãos e “sambando”. Mudava a cidade, o apresentador, mas as frases
descritivas do que se via eram as mesmas, numa enxurrada de obviedades.
Tentei, por várias vezes, ao longo dos últimos anos, ver os
desfiles das escolas de samba. Ou sou um analfabeto completo ou não vejo
diferenças entre uma ou outra. É verdade que os carros alegóricos são
diferentes, mas, para mim, a música dos sambas-enredo é parecidíssima. Parecem
ter a mesma toada, a mesma melodia e a mesma cansativa e repetitiva
interpretação. São 65 a 75 minutos com a mesma música que se caracteriza pela
repetição dos bordões.
Além do mais, ficar pendurado na TV para ouvir comentarista
esportivo e apresentadora de beldades apresentando o que posso ver, falando
óbvio e se embasbacando quando a Tuiuti fez a crítica à legislação trabalhista
e ao presidente vampiro, para mim é perda de tempo. Parece que a escola não
passou pela avenida dado o mutismo que imperou, com falas prá lá de óbvias. Ler
o que está escrito e que eu podia ler, é me xingar de analfabeto.
Não fosse o destempero do Segóvia com a entrevista em que
antecipou o não-indiciamento do Temer e as repercussões do fato, o final de
semana teria sido terrível. Não haveria o que ler e pensar neste fim-de-semana
prolongado. O diretor-geral da PF, o indicado pelo Sarney, nomeado no atropelo
pelo Temer, sem a anuência do Ministro da Justiça, sob quem deve trabalhar,
veio a público pagar a fatura da sua nomeação. Em fato que nunca antes ocorreu,
o Segóvia antecipou o resultado de uma investigação que não é dele, de um
delegado que é um desafeto seu, de algo ainda inconcluso. Deu no que deu.
Veio a público com a mesmice: culpa da imprensa que disse o
que ele não disse, que o que disse não é o que foi dito, que .... blá... blá...
blá. Neste episódio a celeridade do Ministro Barroso e pedir explicações e em
ordenar o “fecha a boca” se contrapõe à demora do STF em julgar o que se espera
há anos. Recordista em processos inconclusos o STF deve explicações sérias e
honestas por que o Renan, Jucá, Sarney, Maia, Padilha, Franco e outros, ainda
não foram julgados.
Se o Carnaval suspende a vida nacional por alguns dias, se
tudo parece ser cor-de-rosa nestes dias (ao menos para os carnavalescos), o
Segóvia entrou no ritmo de jogar confetes no Temer e suspender o inferno
criminal que o mesmo vive. A coisa melou. Ainda bem!
Marcos Inhauser