Acabei de ler a notícia do UOL de que as empresas de
transporte de valores não informam os valores roubados em seus carros-fortes.
Nunca vi também um banco vindo a público e afirmando que foram levados tantos
mil reais. Pensar nos centavos é utopia.
Como pode um carro de transporte de valores ser roubado e a
empresa não ter condições de dizer o quanto foi roubado? Não têm eles controle
sobre a quantia que carregam? Não assinam um documento de recebimento de
valores na hora que os pegam no comércio ou nos bancos? Custa fazer a soma o
cálculo e dar cifras exatas?
Não sabem os bancos o quanto de dinheiro havia no caixa
eletrônico explodido? Que controle eles tem sobre os valores que guardam se, a
cada assalto ou roubo, a notícia vem com a sempre presente afirmação: “os
valores roubados não foram informados”.
Conheço uma pessoa que foi contratada para trabalhar no
setor de controle de fraudes de um dos grandes bancos, isto lá no final dos
anos 70. Era a época em que começavam a ser utilizados os primeiros cartões
magnéticos que possibilitavam retirar dinheiro no caixa. Esta pessoa, que
estava encarregada de descobrir as fraudes, percebeu que o que acontecia era
algo que só se explicava se alguém de dentro do banco estivesse fazendo a falcatrua.
Juntou as evidências e foi a seu chefe, mostro o que havia coletado, o que
estes dados indicavam e pedia autorização para seguir adiante na investigação,
uma vez que se tratava de coisa interna
corporis.
Para surpresa, sua, dois dias depois foi demitido. A tentar
saber a razão teve a resposta clássica dos modelos hierárquicos: “ordem
superior”. Ele saiu de lá com a certeza de que a coisa era fabricada pelo
próprio banco para acobertar alguma coisa, ou para diminuir o lucro fiscal ou
para abastecer algum caixa dois.
Desde então tenho minhas barbas de molho. Acho que a não
publicação dos números, a não cobrança da polícia em saber com exatidão os
valores roubados, tem alguma coisa que cheira lona queimada.
Porque o Palocci não teve, até agora, a sua delação premiada
homologada? Nas entrelinhas das notícias, li que ele estava disposto a relatar
o papel dos bancos no propinoduto. Como pode ter acontecido o que aconteceu e
não ter um só banco envolvido até agora? O banco do mensalão teve seus
dirigentes penalizados, mas o banco mesmo passou incólume. Será que o setor que
mais liberdade teve para atuar, que ganhou fortunas cobrando o que quer de
taxas e juros, não irrigou campanhas políticas? Por que, toda vez que se fala
em fiscalizar mais profundamente o setor, vem a lenga-lenga do risco sistêmico?
Como podem a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil ter
diretores envolvidos em esquemas, ao ponto de, sob pressão o governo ter
demitido quatro deles, e nenhum dos bancos privados ter algo a “contribuir”?
Quem está por trás das transportadoras de valores? Alguém já
leu, alguma informação dando conta quem são, quanto cobram pelo transporte,
quanto pagam de seguro, se vale a pena transportar todo este dinheiro, quem
paga a conta destes brucutus de ar-condicionado rodando ruas e estradas?
Há algo de podre nesta salada de negócios. É daquelas coisas
que você cheira que há algo fedendo em casa, e vai para todos os cantos
buscando descobrir onde está. Às vezes, a melhor coisa e esperar para que a
apodreça de vez, para então eliminar. Outras, pela persistência, se logra
eliminar com o trabalho investigativo correto.
Marcos Inhauser