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quarta-feira, 28 de novembro de 2018

MEME: A PALAVRA HUMILHADA


Virou febre. Ao invés de escrever, de expressar sentimentos, de pensar, refletir e se posicionar, busca-se memes para passar adiante algo com o qual a pessoa concorda. Ele é uma unidade de informação que tem a habilidade de se multiplicar, através das ideias e informações que se propagam de indivíduo para indivíduo. Na internet, ele tem a capacidade de viralizar.
O termo foi cunhado por Richard Dawkins, em 1976, em seu livro “O Gene Egoísta” e a palavra vem do grego mimeme que tem o sentido de imitação, e podem ser ideias, músicas, sons, desenhos, modas, valores ou qualquer coisa que possa ser apreendida com facilidade. É uma forma simplificada de informação, que não exige muito do emissor e quase nada do receptor.
A narrativa bíblica coloca a comunicação como ato primeiro do ser humano. Assim que Adão viu a Eva disse: é carne da minha carne, osso dos meus ossos. O interessante é que, antes disto, de acordo com a segunda narrativa da criação, o homem havia sido solicitado a dar nomes aos animais e, ao final do processo, Deus afirma não haver entre eles quem estivesse à sua altura. Isto se deu porque houve monólogo e não diálogo. Era um “eu” que falava e não havia um “tu” para responder à altura. Com a criação da companheira, Eva, se criou o diálogo, elemento fundante das relações e construção da sociedade.
Quando o diálogo se esvazia e cede a outras formas de interação, paga-se alto preço social. É o diálogo que constrói a convivência, que estabelece bases para a convivência na diversidade, que incrementa o espírito da tolerância. O esvaziamento do diálogo é, em última análise, o empobrecimento do ser humano. Ele foi feito para se comunicar, para pensar, refletir, trabalhar conceitos, expressar sentimentos, negociar, buscar consenso, ver no outro a “carne da sua carne e o osso dos seus ossos”. Ao empobrecer o diálogo, empobrece-se o próximo e, por consequência, a si próprio.
Quando o diálogo cede espaço aos memes, quando a conversa se resume em uma imagem ou símbolo (ainda que eles façam parte da comunicação), a palavra é humilhada. Não se fala, se desenha. Não se expressa sentimentos, manda-se emojis.
O diálogo pressupõe o falar e o ouvir na mesma intensidade e qualidade. Quando alguém se comunica por memes e emojis, há emissão da comunicação, há recepção da mensagem pelo outro, mas a coisa para aí ou, na melhor das hipóteses, outro meme ou emoji é devolvido. É uma conversa de tartamudos!
O meme é a humilhação da palavra (tomo o termo emprestado do Jacques Ellul). Ela é jogada fora como elemento essencial da comunicação. Seu poder de articular ideias, de expressar sentimentos, de trocar conhecimento, de ensinar, de cativar, de seduzir é trocado pela forma mais básica de comunicação: desenhos. Esta era a forma primitiva de se comunicar via hieróglifos, ideogramas, gravuras. É o retorno à era das cavernas.
Isto talvez explique o nível de violência que as redes sociais têm revelado. Pessoas que não conseguem ouvir o diferente, que só sabem usar meia dúzia de palavras ofensivas, que não sabem ouvir, têm dificuldades em articular três ou mais frases encadeadas pela lógica. Não cultuaram o hábito de ler e, por isto, não sabem escrever. Não lerão esta coluna até o fim, mas vão me espinafrar com afirmações ridículas.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

GOVERNADOS POR NÃO-ELEITOS


Tenho meus questionamentos com a forma de escolha dos presidentes nas democracias, especialmente quando a mídia e o marketing jogam papel preponderante. Os marqueteiros conseguem eleger postes e há inúmeros exemplos brasileiros e fora do país em que tal se deu. A eleição do Trump, até onde se sabe, tem grande chance de ter sido fruto de marketing político. Se antes era o tempo de televisão e as técnicas de filmagem e enquadramento que interferiam nas escolhas, com o advento das redes sociais, os memes entraram e jogaram pesado.
Neste sentido houve uma democratização da propaganda eleitoral. Se antes meia dúzia de Dudas Mendonças faziam o trabalho ao ponto de ser arriscado não utilizar seus serviços, hoje uma câmera razoável e um pequeno estúdio podem fazer estragos. As recentes eleições nos EUA e Brasil alçaram ao estrelato as fake news. O tempo de TV perdeu vigência para o tempo de celular (que o diga o Alckmin e seu tempo de TV que era maior que a soma de todos os outros e os pífios 4% de votos conseguidos).
Mas o que me intriga nos eleitos é que eles pouco ou nadam decidem sobre a vida da nação. Precisam escolher pessoas para ocupar cargos e fazer o que precisa ser feito. No modelo tomá-lá-dá-cá que se convencionou chamar de presidencialismo de coalizão, já vimos ministros saltando da cadeira de Economia para a da Saúde, gente que mal sabia do que se tratava, assumindo ministérios e fazendo suas inhacas. Haja visto o que aconteceu com o ministério do Trabalho. A Cristiane Brasil, nomeada e nunca empossada, entendia de conchavos e acertos espúrios.
No caso do recém-eleito presidente, vão surgindo figuras com autonomia e liberdade para altos voos e que não receberam nenhum voto. A Economia via ser comandada por alguém que nunca recebeu um voto, nem para síndico do prédio. Ele vai comandar a economia e outras áreas da nação e parece ter mais poder que o eleito. O mesmo se pode dizer do Sérgio Moro. Quando foi que ele se submeteu ao escrutínio popular para galgar ao posto que lhe foi oferecido? Muitos me dirão: mas ele foi escolhido por sua comprovada capacidade como juiz federal. O fato de ser um prolatador de sentenças o habilita, automaticamente, para assumir as mais variadas funções administrativas. O fato de ser um bom juiz garante que será um bom administrador?
Quando ouço o Roberto Castello Branco dizendo que vai privatizar parte da Petrobras, quem lhe deu este mandato e autonomia? Foi o Paulo Guedes. Quantos votos o Guedes teve? Quem elegeu o Levy como presidente do BNDES? Quantos votos ele teve para ter poder sobre o maior banco do Brasil? A ministra da Agricultura foi eleita como deputada e alçada ao ministério. Foi para isto que ela foi eleita?
Fica no ar uma pergunta: a democracia se faz através do voto, pela escolha popular? Ou a democracia se faz elegendo alguém que recebe uma carta em branco para colocar ao seu lado quem quiser, os quais, ser ter passado pelo escrutínio, recebem autonomia para fazer o que quiserem ou as forças que o pressionam desejarem.
Perguntado sobre algumas nomeações, o presidente disse que deu “carta branca” para que escolhesse quem ele achasse que seria competente. Pelo que vejo, o papel que resta ao presidente neste “presidencialismo de delegação” é o de “porta-voz”, coisa que tem feito quase que a diário via Instagram e outras redes sociais. E como falador do governo, já produziu o estrago dos Mais médicos, a ira do mundo árabe com a pretendida mudança da embaixada brasileira para Jerusalém. A continuar assim, nem porta-voz será, delegando a tarefa ao vice. Um desastre anunciado.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

SOLIDÃO NA MULTIDÃO

Talvez você viva isto ou conhece alguém que o experimente: morar em um condomínio e não conhecer o vizinho. No máximo há um cumprimento formal de “bom dia” ou “boa noite”.
Aristóteles, em sua obra Política fez a declaração que se tornou célebre e paradigmática: somo seres políticos. Ele fez tal afirmação a partir da constatação de que a cidade é uma comunidade, formada com vistas ao bem-comum, onde as ações dos habitantes visam um bem. Portanto, todos participam da vida da polis (cidade) e a atuação deles na comunidade é política. Logo, esta atuação se dá no contexto social e comunitário, nunca na atuação isolada e solitária. Viver em sociedade exige interação e integração com os demais.
Isto era verdade nas sociedades rurais, onde o sistema cooperativo era fundamental para que se alcançassem os objetivos do grupo: boas colheitas ou cuidado excelente do rebanho. Adicione-se a isto a diminuta rede de contatos que a vida rural permitia. Os encontros nas festas ou aos domingos nos eventos religiosos eram a única forma de expandir os contatos, o que era valorizado.
Com a gradativa transferência para o ambiente urbano, os contatos extrafamiliares foram se intensificando e, inversamente, a qualidade deles foi sendo comprometida. Cada vez se conhece mais gente com as quais se têm um relacionamento formal. Trabalha-se em empresas e corporações, em um ambiente competitivo, onde cada qual precisa mostrar suas habilidades e talentos e onde o colega pode ser uma ameaça ao desenvolvimento ou crescimento profissionais. São as “amizades profissionais”. Evidência disto é o surgimento dos networks, redes de relacionamentos profissionais onde, na medida do possível e conveniência, há algum tipo de ajuda comunitária.
Os meios de comunicação tiveram sua contribuição. A mesma notícia é vista por milhões, a mesma piada ouvida por toda a rede de relacionamentos, os mesmos programas são assistidos por expressiva maioria dos conhecidos. Esta massificação torna as conversas problemáticas porque é difícil trazer algo novo ou diferente. No mais das vezes, as conversas acrescentam algo para alguém que não teve a oportunidade de ver o que as mídias trouxeram. Com a recente customização da programação, onde cada qual pode ver o que lhe interessa na hora em que está disponível, sem a necessidade de estar à frente do televisor no horário predeterminado pela emissora, se produz a massificação pela audiência do que interessa.
Este processo de tornar-se um entre milhões gerou, no meu entender, alguns comportamentos típicos da geração solidão. O primeiro deles é a necessidade de postar selfies todos os dias, forma um tanto patológica de pedir que as pessoas olhem para a pessoa. Isto me faz lembrar da Elaine, quando criança, que pedia: “tio, olha prá mim!” A cada post uma ansiedade para saber quantos likes teve.
Outro comportamento é a onda das tatuagens. Acho que isto é uma forma de busca de identidade pelo diferencial que os desenhos ou símbolos afixados ao corpo pode dar. É uma forma de dizer: olha como sou diferente! Quanto mais tatuagem, mais garantia de chamar a atenção e ser notado.
As competências da vida em sociedade, do relacionamento, do olhar no olho, das leituras facial e corporal estão caindo em desuso. O que vale são os ícones, carinhas das mais variadas formas que até dicionário já exigem para saber o que querem dizer. Não mais se precisa ter palavras: basta uma coleção de carinhas (emojis)!
Salvo engano de alguém que se coloca pessimista, estamos regredindo para os tempos da caverna quando, por falta de vocabulário, se sentavam à volta da fogueira para contemplar as labaredas.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

CAPITAL RELACIONAL


Há certo modismo em falar sobre o futuro das profissões, apontando para as que mais não existirão em pouco tempo. Entre elas são citadas todas as que fazem trabalho repetitivo: cartórarios, advogados, bancários, operadores de máquinas, etc.
Nesta esteira há estudos que apontam as habilidades profissionais que serão valorizadas: controle emocional, capacidade relacional e habilidade comunicacional. Privilegiar-se-á a capacidade de trabalhar em equipe multidisciplinar, com características inclusivas, onde o diálogo entre as diferenças e a busca do consenso será o objetivo.
A tomar-se estes dois elementos como norteadores (desaparecimento de profissões e ênfase em habilidades antes não tanto valorizadas), preocupa-me o futuro de muita gente, especialmente das gerações dos caras-pintadas, globalizados e colaborativos (tomo por empréstimo terminologia do Volney Faustini). Para eles, o tipo de relacionamento preferencial é o das redes sociais, onde o contato face-a-face é trocado pelo virtual, o diálogo é substituído pela discussão, o consenso pelo acirramento das posições pessoais. É um tempo em que as pessoas se medem pelos likes que recebe, onde o chamar a atenção, gerar comentários e ter seguidores é mais importante que ser ético. Um mundo onde o vocabulário é exíguo, as frases são clichês, a profundidade dos conceitos tem a profundidade de uma capa asfáltica feita por construtora da lava-jato.
A informação é feita pelos titulares das notícias e não pela leitura do conteúdo. O jornalismo sério é trocado pelas “notícias do Face, Instagram e Twiter”, a verdade é o que pensa e acredita. Os jornalismos opinativo e investigativo, as matérias de fundo, com substância e conceituais são desvalorizadas e ridicularizadas. Os conceitos cabem nos memes com frases feitas e de conteúdo questionável. Só leem o que cabe nos 140 caracteres do Twiter. Mais que isto dá nó nos neurônios! Quando veem alguém lendo um livro de 300 páginas, assustados, perguntam se vai ler tudo! Para prender a atenção deles por mais de 10 minutos o orador tem que usar palavras de baixo calão.
Porque não leem, não desenvolvem o vocabulário, não conhecem conceitos, não sabem se expressar, a fala deles é um interminável repetir de “tipo assim”, “veja bem”, “na verdade”, “mano”, ”realmente”, e quejandas. Não é para menos que, no recente exame do Enem, a redação tenha sido o bicho-papão. Ela exige mais que 140 caracteres!
Palavras menos comuns como consonância, sincronia, distonia, entropia, beneplácito são grego para eles (cito exemplos de coisas que já experienciei). Porque o vocabulário é curto, não conseguem acompanhar o raciocínio mais elaborado. Na terceira frase mais elaborada já se perderam e não há GPS para achar o caminho da rota a ser seguida. Eles não têm cabine pressurizada: se levantar o voo, têm dor de cabeça e falta de ar. A função da comunicação oral passou a ser digital: é melhor escrever que falar! Ao escrever não demonstram conhecimento de pontuação e escrevem à maneira antiga: scripto continua.
Para estas gerações, quem concorda é amigo. Quem discorda, ainda que seja de uma vírgula, é inimigo. Cria-se a atmosfera de beligerância. Equipe é o grupo de trabalho de gente que concorda com o que pensa. Qualquer dissonância é disruptiva e a equipe vai para o brejo. Mais vale o que pensa e crê que o que se pode fazer em conjunto. A equipe passa a ser “eu mais eu”. Isto redunda no muito falar e no pouco produzir. Talvez isto explique a alta rotatividade destas gerações em seus trabalhos, com níveis de permanência média de dois anos.
Parece que quem quiser se dá bem no futuro terá que se desconectar das redes e se conectar nas bibliotecas; terá que consultar dicionários mais que Instagram; terá que aumentar o vocabulário e praticar o diálogo; terá que perceber e concluir que há gente que pensa diferente e que é tão ou mais capacitada; terá que trocar o virtual pelo real; terá que aumentar o seu capital relacional. Mais vale 10 amigos reais que milhares virtuais!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

HÁ QUE SE TEMER O MESSIANISMO


Existiram vários movimentos messiânicos no Brasil, do norte ao sul do país. “O Reino Encantado”, (1836-1838, em Pernambuco), “Povo do Velho Pedro” (década de 1940, no interior da Bahia), “Guerra Santa do Contestado (1912-1916, Santa Catarina); Canudos (1893-1897, Bahia); “Beato do Caldeirão” (sucessor do Padre Cícero), para citar alguns. 
Estudiosos afirmam que os líderes messiânicos nascem em meio a uma desorganização social, especialmente demonstrada pela insatisfação com a situação reinante, onde se apresentam como salvadores pela instalação de um novo modelo social, político e econômico. A vinculação do novo ideário ao simbolismo religioso e sacro ajuda na formulação do agente messiânico, quase sempre com a promessa de melhores dias e a afirmativa de voltar a tempos mais “puros e perfeitos” vividos em algum tempo no passado. É a mítica dos velhos tempos.
Neste sentido, o messianismo de Jesus dever ser entendido em uma categoria separada, uma vez que sua aparição e pregação não se deveram a um retorno ao passado, mas à instauração de algo novo, uma nova aliança. Reza Aslam, no seu livro Zelotes, traz estas indicações. 
Outro elemento distintivo do messianismo jesuânico dos outros que surgiram é que, no mais das vezes, os messias utilizaram o uso de armas, da violência e da revolução como forma de alcançar os fins que propunham. Daí porque, a violência pregada ou disseminada pelos messias se afasta do modelo jesuânico, que pregou a paz, a pacificação e o amor ao próximo.
No período em que viajei pela América Latina pelo Conselho Latino Americano de Igrejas, me deparei com alguns autoproclamados ou denominados messias. Lembro-me de haver escrito sobre o messianismo de Augusto Pinochet, tomando por base dados do sociólogo chileno, Humberto Lagos. Pinochet cria que Deus o havia chamado para a missão de salvar o povo do comunismo. Também acompanhei de perto a ascensão do Ríos Mont na Guatemala, o presidente que se achava ungido de Deus e que tinha um programa em cadeia nacional de televisão, quando orava pela nação e, ao mesmo tempo, as tropas aniquilavam indígenas ao norte do país. Houve certos traços de messianidade no Lula presidente e no Temer, quem acreditou que sua ascensão se deveu à vontade de Deus para resgatar a nação do caos econômico. Messianismo pode se ver no venezuelano Maduro, em alguns comandantes sandinistas (em especial Ortega). Ainda que sem forte apelo religioso, o mesmo se pode dizer de Che Guevara.
Na perspectiva religiosa, os messias (exceção feita a Jesus) se caracterizam por soluções simplistas, teologia superficial e rasa, afirmações genéricas de cunho religioso, a identificação com o grupo pela participação em um rito e, no caso dos messianismos cristãos, pela interpretação fundamentalista e literalista das Escrituras, quase sempre expressas na frase: “obediência à Palavra de Deus”. Mostram com isto que a tomam como manual de conduta, onde a hermenêutica se ajusta à conveniência. No dizer de Vinhas de Queiroz, estudioso dos messianismos e especialmente do Condestado, a fundamentação religiosa, expressa uma “falsa consciência da realidade, alienada, autista e mórbida”.
Colocou-me na defensiva as duas primeiras aparições do presidente eleito. Na alocução feita aos seguidores, via rede social, afirmou que seu governo se pautará pela “caixa de ferramenta para consertar o homem e a mulher que é a Bíblia Sagrada” e “seguindo ensinamentos de Deus”. A segunda aparição, que me causou constrangimento e desconforto, foi a sessão pública de oração do Magno Malta, quem, sabe-se lá baseado em quê, afirmou que o presidente era o “ungido de Deus”!
Estão aí os elementos básicos para que o messianismo prospere. Só espero que ele não acredite no Messias do seu nome!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

CRIME, CASTIGO E INJUSTIÇAS


Percebo que há interrogações na cabeça de muita gente, inclusive na minha. Elas dizem respeito ao judiciário e aos processos tramitados e julgados. A primeira e mais comum é: a justiça precisa ser tão lenta para ser justa, ou a lentidão pode se transformar em injustiça? Parece que há certo consenso de que a justiça célere corre o risco de julgar mal. Os processos sumários estão aí para provar a porcentagem de erros que foram cometidos quando não se deu devido tempo de “decantação”. Processos acelerados tem cheiro de injustiça ou de impunidade. Se há certa sabedoria em trâmites mais pausados, o mesmo não se pode dizer dos que demoram décadas para serem concluídos. Há inúmeros casos que exemplificam que a demora na proclamação da sentença gera injustiças, com gente que faleceu sem nunca ter se beneficiado da causa pleiteada e finalmente ganha. Há outros, criminosos notórios que se beneficiaram da prescrição da pena, muitas vezes pelo uso das chicanas protelatórias. Crimes cometidos que tiveram a borracha do apagão, por causa da demora na proclamação da sentença. Isto é injustiça.
Outra área que percebo inquietação e perguntas é referente à conceituação da gravidade do crime. Uma pessoa pega em flagrante roubando um frango em um supermercado é preso. Um deputado ou secretário de governo, seja municipal, estadual ou federal, que desviou milhões da merenda escolar, por não ser pego em flagrante, responde em liberdade. Não seria a gravidade do crime proporcional ao número de pessoas prejudicadas com os desvios ou crimes cometidos? Um ladrão de galinha ofende o proprietário dela. Um corrupto que desvia verbas da saúde, educação ou dos fundos de previdência deveria ter seu crime amplificado na proporção das pessoas prejudicadas pelos seus atos. Se um assassino da namorada é julgado por feminicídio, por que o que rouba da saúde, condenando inúmeras pessoas à morte por falta de recursos no sistema de saúde, não tem sua pena classificada como genocídio? O primeiro matou uma pessoa. A segunda matou dezenas, talvez centenas ou milhares.
Causa inquietação também a facilidade com que, notórias personalidades públicas, acusadas de desvio, corrupção, peculato, seja lá o que for, tem seus processos sumariamente encerrados por “falta de provas”. Neste quesito entram os Habeas Corpus concedidos a granel, mesmo para gente notoriamente corrupta, criminosa, lavadores de dinheiro, ao ponto de um ministro dizer, ironicamente, que há gabinete no STF que dá senha para atender aos pedidos.
É justa a progressão da pena para todos os tipos de crimes? Um pedófilo contumaz deve ter o mesmo benefício de alguém preso por não pagar a pensão do filho por estar desempregado? Uma pessoa esclarecida e ciente da gravidade do crime que comete deveria ter a mesma regalia de alguém que cumpre pena por crime menor?
Se roubou, desviou recursos públicos, fraudou a previdência de funcionários crédulos quanto à idoneidade dos gestores, não se deve tirar deles até o último centavo? Como pode um sujeito que tinha mais de dez milhões de dólares na Suiça, fazer delação premiada, ser solto e ficar gozando na casa de praia as benesses que o dinheiro desviado propicia? É pena ter prisão domiciliar em casa comprada e sustentada com dinheiro do crime? É castigo poder sair o dia todo e só ter que voltar para casa às 22:00 horas? É castigo ter que usar uma tornozeleira que pode ser camuflada?
Tenho para comigo que a justiça brasileira nem sempre é cega e imparcial. Acho mesmo que muitos juízes e ministros julgam atentando para a capa dos autos, onde aparece o nome do réu. Muitas vezes fico com a impressão de que, no Brasil, o crime compensa.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

INTOLERÂNCIA


Segue mais um texto da minha amiga Maria Ruckert: “Os israelitas tiveram a experiência do Êxodo, receberam os Dez Mandamentos, e estavam atravessando o deserto, rumo à Terra Prometida. O povo então se rebelou contra a liderança de Moisés, lembrando a comida que tinham no Egito, pois estavam saturados de comer somente o maná. Moisés se queixou diante de Deus, alegando que essa liderança era demasiadamente pesada.
Deus ordenou que Moisés separasse setenta homens dos anciãos do povo, posicionando-os ao redor da Tenda. Deus tirou do Espírito que estava sobre Moisés e o pôs sobre os setenta anciãos, os quais profetizaram.
No arraial permaneceram Eldade e Medade. Eles estavam entre os inscritos, mas não saíram à Tenda. No entanto, o Espírito pousou também sobre os dois e eles profetizaram. Um jovem correu e comunicou a Moisés que Eldade e Medade estavam profetizando no arraial. Josué, ajudante de Moisés e o seu futuro sucessor, disse: “Moisés, meu senhor, proíbe-os”. Moisés lhe respondeu: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor desse a todos o seu Espírito” (Nm 11).
A rebelião do povo é uma contestação à liderança de Moisés, mas também significa uma afronta a Deus, pois o Senhor deu os Mandamentos, apresentando-se como aquele que tirou os israelitas do Egito. Des queria ser reconhecido como o Libertador do povo. Com sua revolta e com saudade da comida do Egito, o povo não estava confiando nas promessas de Deus. Eles estavam se rebelando contra o intermediário Moisés e rompendo a aliança com o Senhor. Moisés ora a Deus e intercede pelo povo. É uma queixa audaz, pois ele não havia ambicionado esse cargo. Deus responde: codornizes para o povo e colaboradores para Moisés. Para liderar o povo, Moisés havia recebido o Espírito.
Dessa plenitude do Espírito, Deus retira uma parte proporcional à responsabilidade dos colaboradores de Moisés. Os setenta anciãos também passam a ter a responsabilidade de levar a carga do povo. Ao receberem o Espírito, os anciãos passam a profetizar. O Espírito também pousou sobre Eldade e Medade, que não estavam presentes na cerimônia. Esse detalhe mostra que o Espírito é livre e não pode ser controlado por regras cerimoniais. Josué sente ciúmes. No seu entender, Moisés precisa impor sua autoridade, ou seja, proibir a manifestação dos dois que não participaram na cerimônia. Ele entende que a atuação do Espírito deve permanecer restrita ao grupo que foi convocado por Moisés. O Espírito deve estar sob o controle da consagração de Moisés.
A declaração de Josué é uma clara manifestação de intolerância. Moisés responde com tolerância, manifestando o desejo de que todo o povo profetizasse. A única maneira de enfrentar a intolerância é com a tolerância. A intolerância não deve ser combatida com outra intolerância.
Outro episódio de intolerância foi protagonizado pelos discípulos de Jesus. Disse-lhe João: “Mestre, vimos alguém que não nos segue, expulsando demônios em teu nome, e o proibimos porque não nos seguia”. Jesus, porém, disse: “Não o proibais, pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós” (Mc 9:38-40). Atuar em nome de Jesus não é monopólio dos que estão geograficamente próximos a ele. Com sua proibição, os discípulos representam a autarquia eclesiástica que pretende deter o monopólio da salvação. Eles falam como representantes de uma igreja estabelecida, que se considera o coroamento da missão.
O olhar de Jesus vai mais longe: ele visa o Reino de Deus. Quando uma igreja se considera um fim em si, ela se torna intolerante em relação às demais entidades. Despontam então comportamentos de exclusão; os diferentes são excluídos. Anunciando e realizando a proximidade do Reinado de Deus, Jesus ensina a tolerância. A partir da tolerância de Jesus, nós podemos compreender o que significa: “Sede misericordiosos como o vosso Pai celeste é misericordioso”. O importante não é o monopólio e o controle da administração da religiosidade humana, mas entender que o sábado (o valor sagrado) está em função do ser humano. O que importa é a libertação da pessoa. Que o exorcista continue libertando pessoas em nome de Jesus.”
Maria Ruckert, editado por Marcos Inhauser

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

REMANESCENTE FIEL

Quem me lê nesta coluna que escrevo há mais de 17 anos, já leu esta minha afirmação, feita mais de uma vez: “o senso comum é a expressão da idiotice, porque é a somatória das afirmações feitas pelos que não pensam, mas repetem o que ouviram sem refletir no que ouviram ou repetem”. Também já devem ter lido que tenho minhas dificuldades com acreditar naquilo que a maioria acredita, pois, aprendi muito cedo na minha vida, graças à professora Margot Proença, que devo sempre perguntar sobre tudo o que ouço. Acredito no efeito manada, que faz com que alguns touros saiam correndo e a manada toda, sem saber porque, também corre. É o processo de indução comportamental em grandes aglomerações, onde, sem razões, todos se apavoram e passam a ter comportamentos até autodestrutivos.

Decorre disto a minha dificuldade em ver filmes premiados com o Oscar, ler best-sellers, duvidar de pesquisas que dão uma grande margem de diferença entre o primeiro e o segundo e, em segunda opção, duvidar do que está melhor colocado nas pesquisas. A lição da Margot está sempre na minha mente: questione tudo! E é isto que procuro fazer.

Levando para o campo da teologia e da eclesiologia, tenho minhas dificuldades com as estrelas midiáticas do mundo gospel, com os aplaudidos e idolatrados cantores, com pregadores incensados, com igrejas monumentais onde a maior virtude é ser grande. Conheço muitas delas em alguns países da América e Ásia e constatei in loco a minha suspeita. Minha definição para igreja é: “qualquer comunidade que tenha alguém que os demais não sabem o nome e nem quem é, deixou de ser igreja”. Não acredito que uma reunião de 1.000 ou mais seja igreja. Pode ser plateia. O essencial do ser igreja é a comunhão e isto implica em “comum+união” e não é igreja onde as pessoas entram e saem e não conhecem e nem são conhecidas. Para mim, a promessa de Jesus de Ele estaria onde estivessem dois ou três é altamente significativa.

O conceito de remanescente fiel, presente no AT e o Apocalipse tem sido descartado porque atenta para a onda do tamanho, do gigantismo, do efeito manada onde todos correm e aplaudem as estrelas. Em várias ocasiões este conceito está presente. Veja-se o cântico de Débora (Jz 5), a família de Noé (Gn 5 em diante), Elias e os profetas de Baal (IRs 18 ss), o profeta Micaías que, chamado por Acabe, disse oi contrário de todos os outros profetas (IICr 18, ss), Jeremias quem foi o único e predizer a desgraça e orientou no sentido de se entregar. Saliente-se que Deus sempre manteve para si um remanescente fiel, formado por aqueles que não dobraram seus joelhos diante de Baal (1 Reis 19.18). Esse remanescente incluía Davi, Joás, Isaías e Daniel, Sara, Débora e Ana.

Tome-se esta promessa feita através do profeta Miqueias: “E da que coxeava farei um resto (remanescente) ... (Mq 4:7. Deve-se também considerar a explicação para a escolha de Israel: “Se Iahweh se afeiçoou a vós e vos escolheu, não é por serdes o mais numeroso de todos os povos – pelo contrário: sois o menor dentre os povos! – e sim por amor a vós e para manter a promessa que ele jurou aos vossos pais.” (Dt 7,7-8)

O compromisso de Deus é com o pequeno, o órfão, a viúva, o estrangeiro, o menor, o marginalizado, explorado, escravizado, violentado, abusado, etc. Prefiro estar deste lado da história que formando as grandes massas que apoiam e aplaudem sem critério.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

A SABEDORIA DA TEMPERANÇA


Já se disse que a sabedoria está no meio termo. Acho a afirmação questionável porque as mudanças e o desenvolvimento, no mais das vezes, exigem radicalidade, que implica em apegar-se a algo com unhas e dentes, até que a coisa se concretize. Não fosse a radicalidade de Sócrates, Copérnico, Thomas Edson, Einstein, Martin Luther King, Mandela, Steve Jobs e muitos outros, não teríamos hoje os benefícios que a radicalidade deles trouxe à luz. É verdade que a ela pode, em muitos casos, ser também chamada de obstinação que é o foco em uma só coisa, deixando de lado a visão de coisas conexas ou laterais.
Uma característica dos radicais mencionados, e outros, é que a radicalidade/obstinação deles teve benefícios sociais por adesão. Suas ideias, conquistas e invenções foram aceitas de forma espontâneas pelos que assim quiseram. No caso específico do Mandela, a sua radicalidade contra o apartheid o levou à prisão por quase três décadas. Como fruto disto houve a abolição do sistema que separava negros e brancos e a eleição do próprio Mandela. No cargo de presidente, a sua radicalidade foi substituída por um espírito pacificador e conciliador, vividamente apresentados no filme “Invictus” que trata da sua história.
A radicalidade dos governos Bush (pai e filho) deram lugar a governos mais conciliadores como foram os dois mandatos de Clinton e de Obama. A radicalidade estapafúrdia e inconsequente do Trump tem mostrado o perigo de alguém que, imbuído de um cargo democrático, deixa de buscar o consenso e a conciliação e parte para a radicalidade. O mesmo pode ser dito do ditador norte coreano Kin Jong Un, do ditador venezuelano Maduro, do protoditador nicaraguense Daniel Ortega, do facínora Bashar Al Assad. Se olharmos para o passado, muitos exemplos podem ser dados de radicais investidos de poder que foram tragédia, a começar por Hitler, Mao Tse Tung, Vargas, Idi Amin Dada, Papa Doc, Médici, Geisel, etc.
Na Bíblia a temperança é um dom do Espírito Santo. Há várias recomendações para o seu cultivo. Na orientação de Paulo, deve-se examinar de tudo e reter o que é bom, quem pensa que está em pé deve tomar cuidado para que não caia. Por outro lado, parece que há uma certa radicalidade em Jesus quando ele diz que a nossa palavra deve ser sim, sim e não, não, o que passar disto é de procedência maligna. Talvez por isto é que Paulo pede a Timóteo que, na escolha dos líderes da igreja, atente para fatos relacionados ao seu passado, à sua forma de viver e se posicionar na sociedade, a forma como se relaciona com a família. Escolher um líder com autocontrole é tarefa que exige olhar para os fatos anteriores. Ao fazer esta incursão na biografia do indivíduo perceber-se-á se ele tem a temperança como atributo reconhecido.
O falastrão, o agressivo, o violento, o egoísta, o narcísico, não têm autodomínio. A temperança é zero e, por isto, não devem ser guinados a postos onde o espírito conciliador, pacificador, de busca do consenso devem ser a tônica.
Nestes dias meus netos, por vez primeira, quiseram fazer caranguejo para que eu experimentasse. Foi um baita trabalho. Mas eles erraram no tempero: muito temperado com um tal de cajun. “Incomível” para o meu gosto. Depois do segundo pedaço não aguentava mais. Eles mesmos reconheceram isto. O excesso do tempero foi radical. Estragou o resultado.
Neste momento de escolha de líderes para a nação, nos mais variados níveis, a busca de pessoas com a sabedoria da temperança, com espírito pacificador e consensualista deve ser a tônica dos que se pautam pelo evangelho.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

UM ATO DE CONSTRUÇÃO COLETIVA


Dos mais variados espectros teológicos (presbiterianos de vários matizes, batistas de várias denominações, pentecostais, anabatistas e episcopais), de diversas correntes políticas (esquerda, centro esquerda, centro, centro direita e alguns que são rotulados como de direita), incluindo democratas, republicanos, monarquista, semianárquico, se reuniram, muitos sem mesmo se conhecer, para juntos pensar a realidade brasileira e produzir algo que refletisse o evangelho e os valores do Reino Deus.
Depois de mais de três mil mensagens trocadas, muita reflexão, contribuições as mais diversas, foi-se afunilando a redação e se chegou à Carta Pastoral à Nação Brasileira (disponível no https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=cartapastoral2018). Houve uma preocupação com a biblicidade das afirmativas, que não fosse academicamente teológica, mas acessível ao povo, de caráter essencialmente pastoral.
Lançada com uma centena de assinaturas e aberta para que, quem quisesse, também a assinasse, para surpresa dos redatores, em pouco tempo o número dos subscritores, entre os quais me incluo, cresceu exponencialmente.
Creio que, por vez primeira no Brasil, se produziu algo a partir da contribuição e colaboração coletiva. A Carta é um trabalho de muitas mãos e nenhum dono, nenhuma face, mas pretende ser as muitas faces de todos as que a subscreveram.
Seria ingenuidade da parte dos que a escreveram pensar que não haveria reação. Uma delas veio de quem se pretende e se arvora como porta-voz das igrejas evangélicas. Com suas malafalas, por não ter como criticar o conteúdo, passou a criticar os que a subscreveram, afirmando se tratar de esquerdopatas, termo generalizado para todos os que dissentem ao que o histriônico pensa.
Houve quem afirmou que o documento se tratava de algo para trazer de volta um determinado partido ao poder. A resposta que lhe foi dada é que, se atuar em favor dos pobres, viúvas e estrangeiros, isto é valor do Reino, ensinado por Jesus. Se isto é ser de esquerda, ele era esquerdista. Outro, na arrogância de ter mais de 200.00 seguidores no Face (quem me garante que não são seguidores impulsionados, estratégia muito comum), se arvorava mais fiel representante dos evangélicos que a meia dúzia que assinou (2.488 subscrições no momento em que escrevo esta coluna).
O que mais me chama a atenção destes pretensos porta-vozes dos evangélicos, enciumados com o surgimento de algo que teve repercussão na mídia e que não passou pela “benção” destas estrelas midiáticas, é que não criticam o conteúdo (será que porque é criticar a Bíblia), se preocupam em descobrir o redator da Carta, como se fosse fruto de uma única mão. Acostumados a serem os donos da verdade e únicos a dizer o que os outros devem pensar, não creem na possibilidade de haver algo que seja uma construção coletiva. Incorrem no grave erro de abandonar o conteúdo porque escrito por quem não gostam. Se quem escreveu é de direita, centro ou esquerda e isto não é seu perfil ideológico, não vão perder tempo lendo porque deve ser ruim.
Acabo de receber uma pesquisa do Ibope (fonte por mim conferida) que afirma que rejeição da parte dos evangélicos ao líder saltou de 32% a 41%, que o segundo saltou 26% a 33% (entre 11/09 e 24/09). Seria isto um indicativo de que os religiosos, sejam católicos, evangélicos ou outras religiões, estão tomando consciência de que a eleição busca um presidente para o Brasil e não um pastor para uma nação, que se quer seja uma democracia e não uma teocracia comandado por um “iluminado”.
Marcos Inhauser