Há certo modismo em falar sobre o futuro das profissões,
apontando para as que mais não existirão em pouco tempo. Entre elas são citadas
todas as que fazem trabalho repetitivo: cartórarios, advogados, bancários,
operadores de máquinas, etc.
Nesta esteira há estudos que apontam as habilidades
profissionais que serão valorizadas: controle emocional, capacidade relacional
e habilidade comunicacional. Privilegiar-se-á a capacidade de trabalhar em
equipe multidisciplinar, com características inclusivas, onde o diálogo entre
as diferenças e a busca do consenso será o objetivo.
A tomar-se estes dois elementos como norteadores (desaparecimento
de profissões e ênfase em habilidades antes não tanto valorizadas), preocupa-me
o futuro de muita gente, especialmente das gerações dos caras-pintadas,
globalizados e colaborativos (tomo por empréstimo terminologia do Volney
Faustini). Para eles, o tipo de relacionamento preferencial é o das redes
sociais, onde o contato face-a-face é trocado pelo virtual, o diálogo é
substituído pela discussão, o consenso pelo acirramento das posições pessoais.
É um tempo em que as pessoas se medem pelos likes que recebe, onde o chamar a
atenção, gerar comentários e ter seguidores é mais importante que ser ético. Um
mundo onde o vocabulário é exíguo, as frases são clichês, a profundidade dos
conceitos tem a profundidade de uma capa asfáltica feita por construtora da
lava-jato.
A informação é feita pelos titulares das notícias e não pela
leitura do conteúdo. O jornalismo sério é trocado pelas “notícias do Face, Instagram
e Twiter”, a verdade é o que pensa e acredita. Os jornalismos opinativo e
investigativo, as matérias de fundo, com substância e conceituais são
desvalorizadas e ridicularizadas. Os conceitos cabem nos memes com frases
feitas e de conteúdo questionável. Só leem o que cabe nos 140 caracteres do
Twiter. Mais que isto dá nó nos neurônios! Quando veem alguém lendo um livro de
300 páginas, assustados, perguntam se vai ler tudo! Para prender a atenção deles
por mais de 10 minutos o orador tem que usar palavras de baixo calão.
Porque não leem, não desenvolvem o vocabulário, não conhecem
conceitos, não sabem se expressar, a fala deles é um interminável repetir de
“tipo assim”, “veja bem”, “na verdade”, “mano”, ”realmente”, e quejandas. Não é
para menos que, no recente exame do Enem, a redação tenha sido o bicho-papão.
Ela exige mais que 140 caracteres!
Palavras menos comuns como consonância, sincronia, distonia,
entropia, beneplácito são grego para eles (cito exemplos de coisas que já
experienciei). Porque o vocabulário é curto, não conseguem acompanhar o
raciocínio mais elaborado. Na terceira frase mais elaborada já se perderam e
não há GPS para achar o caminho da rota a ser seguida. Eles não têm cabine
pressurizada: se levantar o voo, têm dor de cabeça e falta de ar. A função da
comunicação oral passou a ser digital: é melhor escrever que falar! Ao escrever
não demonstram conhecimento de pontuação e escrevem à maneira antiga: scripto continua.
Para estas gerações, quem concorda é amigo. Quem discorda,
ainda que seja de uma vírgula, é inimigo. Cria-se a atmosfera de beligerância.
Equipe é o grupo de trabalho de gente que concorda com o que pensa. Qualquer
dissonância é disruptiva e a equipe vai para o brejo. Mais vale o que pensa e
crê que o que se pode fazer em conjunto. A equipe passa a ser “eu mais eu”.
Isto redunda no muito falar e no pouco produzir. Talvez isto explique a alta
rotatividade destas gerações em seus trabalhos, com níveis de permanência média
de dois anos.
Parece que quem quiser se dá bem no futuro terá que se
desconectar das redes e se conectar nas bibliotecas; terá que consultar
dicionários mais que Instagram; terá que aumentar o vocabulário e praticar o
diálogo; terá que perceber e concluir que há gente que pensa diferente e que é
tão ou mais capacitada; terá que trocar o virtual pelo real; terá que aumentar
o seu capital relacional. Mais vale 10 amigos reais que milhares virtuais!
Marcos Inhauser
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