Já se disse que a sabedoria está no meio termo. Acho a
afirmação questionável porque as mudanças e o desenvolvimento, no mais das
vezes, exigem radicalidade, que implica em apegar-se a algo com unhas e dentes,
até que a coisa se concretize. Não fosse a radicalidade de Sócrates, Copérnico,
Thomas Edson, Einstein, Martin Luther King, Mandela, Steve Jobs e muitos
outros, não teríamos hoje os benefícios que a radicalidade deles trouxe à luz.
É verdade que a ela pode, em muitos casos, ser também chamada de obstinação que
é o foco em uma só coisa, deixando de lado a visão de coisas conexas ou
laterais.
Uma característica dos radicais mencionados, e outros, é que
a radicalidade/obstinação deles teve benefícios sociais por adesão. Suas
ideias, conquistas e invenções foram aceitas de forma espontâneas pelos que
assim quiseram. No caso específico do Mandela, a sua radicalidade contra o
apartheid o levou à prisão por quase três décadas. Como fruto disto houve a
abolição do sistema que separava negros e brancos e a eleição do próprio
Mandela. No cargo de presidente, a sua radicalidade foi substituída por um espírito
pacificador e conciliador, vividamente apresentados no filme “Invictus” que
trata da sua história.
A radicalidade dos governos Bush (pai e filho) deram lugar a
governos mais conciliadores como foram os dois mandatos de Clinton e de Obama.
A radicalidade estapafúrdia e inconsequente do Trump tem mostrado o perigo de alguém
que, imbuído de um cargo democrático, deixa de buscar o consenso e a
conciliação e parte para a radicalidade. O mesmo pode ser dito do ditador norte
coreano Kin Jong Un, do ditador venezuelano Maduro, do protoditador
nicaraguense Daniel Ortega, do facínora Bashar Al Assad. Se olharmos para o
passado, muitos exemplos podem ser dados de radicais investidos de poder que
foram tragédia, a começar por Hitler, Mao Tse Tung, Vargas, Idi Amin Dada, Papa
Doc, Médici, Geisel, etc.
Na Bíblia a temperança é um dom do Espírito Santo. Há várias
recomendações para o seu cultivo. Na orientação de Paulo, deve-se examinar de
tudo e reter o que é bom, quem pensa que está em pé deve tomar cuidado para que
não caia. Por outro lado, parece que há uma certa radicalidade em Jesus quando
ele diz que a nossa palavra deve ser sim, sim e não, não, o que passar disto é
de procedência maligna. Talvez por isto é que Paulo pede a Timóteo que, na
escolha dos líderes da igreja, atente para fatos relacionados ao seu passado, à
sua forma de viver e se posicionar na sociedade, a forma como se relaciona com
a família. Escolher um líder com autocontrole é tarefa que exige olhar para os
fatos anteriores. Ao fazer esta incursão na biografia do indivíduo perceber-se-á
se ele tem a temperança como atributo reconhecido.
O falastrão, o agressivo, o violento, o egoísta, o
narcísico, não têm autodomínio. A temperança é zero e, por isto, não devem ser
guinados a postos onde o espírito conciliador, pacificador, de busca do
consenso devem ser a tônica.
Nestes dias meus netos, por vez primeira, quiseram fazer
caranguejo para que eu experimentasse. Foi um baita trabalho. Mas eles erraram
no tempero: muito temperado com um tal de cajun. “Incomível” para o meu gosto. Depois
do segundo pedaço não aguentava mais. Eles mesmos reconheceram isto. O excesso
do tempero foi radical. Estragou o resultado.
Neste momento de escolha de líderes para a nação, nos mais
variados níveis, a busca de pessoas com a sabedoria da temperança, com espírito
pacificador e consensualista deve ser a tônica dos que se pautam pelo
evangelho.
Marcos Inhauser
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