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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

A SABEDORIA DA TEMPERANÇA


Já se disse que a sabedoria está no meio termo. Acho a afirmação questionável porque as mudanças e o desenvolvimento, no mais das vezes, exigem radicalidade, que implica em apegar-se a algo com unhas e dentes, até que a coisa se concretize. Não fosse a radicalidade de Sócrates, Copérnico, Thomas Edson, Einstein, Martin Luther King, Mandela, Steve Jobs e muitos outros, não teríamos hoje os benefícios que a radicalidade deles trouxe à luz. É verdade que a ela pode, em muitos casos, ser também chamada de obstinação que é o foco em uma só coisa, deixando de lado a visão de coisas conexas ou laterais.
Uma característica dos radicais mencionados, e outros, é que a radicalidade/obstinação deles teve benefícios sociais por adesão. Suas ideias, conquistas e invenções foram aceitas de forma espontâneas pelos que assim quiseram. No caso específico do Mandela, a sua radicalidade contra o apartheid o levou à prisão por quase três décadas. Como fruto disto houve a abolição do sistema que separava negros e brancos e a eleição do próprio Mandela. No cargo de presidente, a sua radicalidade foi substituída por um espírito pacificador e conciliador, vividamente apresentados no filme “Invictus” que trata da sua história.
A radicalidade dos governos Bush (pai e filho) deram lugar a governos mais conciliadores como foram os dois mandatos de Clinton e de Obama. A radicalidade estapafúrdia e inconsequente do Trump tem mostrado o perigo de alguém que, imbuído de um cargo democrático, deixa de buscar o consenso e a conciliação e parte para a radicalidade. O mesmo pode ser dito do ditador norte coreano Kin Jong Un, do ditador venezuelano Maduro, do protoditador nicaraguense Daniel Ortega, do facínora Bashar Al Assad. Se olharmos para o passado, muitos exemplos podem ser dados de radicais investidos de poder que foram tragédia, a começar por Hitler, Mao Tse Tung, Vargas, Idi Amin Dada, Papa Doc, Médici, Geisel, etc.
Na Bíblia a temperança é um dom do Espírito Santo. Há várias recomendações para o seu cultivo. Na orientação de Paulo, deve-se examinar de tudo e reter o que é bom, quem pensa que está em pé deve tomar cuidado para que não caia. Por outro lado, parece que há uma certa radicalidade em Jesus quando ele diz que a nossa palavra deve ser sim, sim e não, não, o que passar disto é de procedência maligna. Talvez por isto é que Paulo pede a Timóteo que, na escolha dos líderes da igreja, atente para fatos relacionados ao seu passado, à sua forma de viver e se posicionar na sociedade, a forma como se relaciona com a família. Escolher um líder com autocontrole é tarefa que exige olhar para os fatos anteriores. Ao fazer esta incursão na biografia do indivíduo perceber-se-á se ele tem a temperança como atributo reconhecido.
O falastrão, o agressivo, o violento, o egoísta, o narcísico, não têm autodomínio. A temperança é zero e, por isto, não devem ser guinados a postos onde o espírito conciliador, pacificador, de busca do consenso devem ser a tônica.
Nestes dias meus netos, por vez primeira, quiseram fazer caranguejo para que eu experimentasse. Foi um baita trabalho. Mas eles erraram no tempero: muito temperado com um tal de cajun. “Incomível” para o meu gosto. Depois do segundo pedaço não aguentava mais. Eles mesmos reconheceram isto. O excesso do tempero foi radical. Estragou o resultado.
Neste momento de escolha de líderes para a nação, nos mais variados níveis, a busca de pessoas com a sabedoria da temperança, com espírito pacificador e consensualista deve ser a tônica dos que se pautam pelo evangelho.
Marcos Inhauser

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