Tenho meus questionamentos com a forma de escolha dos
presidentes nas democracias, especialmente quando a mídia e o marketing jogam
papel preponderante. Os marqueteiros conseguem eleger postes e há inúmeros
exemplos brasileiros e fora do país em que tal se deu. A eleição do Trump, até onde
se sabe, tem grande chance de ter sido fruto de marketing político. Se antes
era o tempo de televisão e as técnicas de filmagem e enquadramento que interferiam
nas escolhas, com o advento das redes sociais, os memes entraram e jogaram pesado.
Neste sentido houve uma democratização da propaganda
eleitoral. Se antes meia dúzia de Dudas Mendonças faziam o trabalho ao ponto de
ser arriscado não utilizar seus serviços, hoje uma câmera razoável e um pequeno
estúdio podem fazer estragos. As recentes eleições nos EUA e Brasil alçaram ao
estrelato as fake news. O tempo de TV
perdeu vigência para o tempo de celular (que o diga o Alckmin e seu tempo de TV
que era maior que a soma de todos os outros e os pífios 4% de votos
conseguidos).
Mas o que me intriga nos eleitos é que eles pouco ou nadam
decidem sobre a vida da nação. Precisam escolher pessoas para ocupar cargos e
fazer o que precisa ser feito. No modelo tomá-lá-dá-cá que se convencionou
chamar de presidencialismo de coalizão, já vimos ministros saltando da cadeira
de Economia para a da Saúde, gente que mal sabia do que se tratava, assumindo
ministérios e fazendo suas inhacas. Haja visto o que aconteceu com o ministério
do Trabalho. A Cristiane Brasil, nomeada e nunca empossada, entendia de
conchavos e acertos espúrios.
No caso do recém-eleito presidente, vão surgindo figuras com
autonomia e liberdade para altos voos e que não receberam nenhum voto. A
Economia via ser comandada por alguém que nunca recebeu um voto, nem para
síndico do prédio. Ele vai comandar a economia e outras áreas da nação e parece
ter mais poder que o eleito. O mesmo se pode dizer do Sérgio Moro. Quando foi
que ele se submeteu ao escrutínio popular para galgar ao posto que lhe foi
oferecido? Muitos me dirão: mas ele foi escolhido por sua comprovada capacidade
como juiz federal. O fato de ser um prolatador de sentenças o habilita,
automaticamente, para assumir as mais variadas funções administrativas. O fato
de ser um bom juiz garante que será um bom administrador?
Quando ouço o Roberto Castello Branco dizendo que vai
privatizar parte da Petrobras, quem lhe deu este mandato e autonomia? Foi o
Paulo Guedes. Quantos votos o Guedes teve? Quem elegeu o Levy como presidente
do BNDES? Quantos votos ele teve para ter poder sobre o maior banco do Brasil? A
ministra da Agricultura foi eleita como deputada e alçada ao ministério. Foi
para isto que ela foi eleita?
Fica no ar uma pergunta: a democracia se faz através do
voto, pela escolha popular? Ou a democracia se faz elegendo alguém que recebe
uma carta em branco para colocar ao seu lado quem quiser, os quais, ser ter passado
pelo escrutínio, recebem autonomia para fazer o que quiserem ou as forças que o
pressionam desejarem.
Perguntado sobre algumas nomeações, o presidente disse que
deu “carta branca” para que escolhesse quem ele achasse que seria competente. Pelo
que vejo, o papel que resta ao presidente neste “presidencialismo de delegação”
é o de “porta-voz”, coisa que tem feito quase que a diário via Instagram e
outras redes sociais. E como falador do governo, já produziu o estrago dos Mais
médicos, a ira do mundo árabe com a pretendida mudança da embaixada brasileira
para Jerusalém. A continuar assim, nem porta-voz será, delegando a tarefa ao vice.
Um desastre anunciado.
Marcos Inhauser