Se não errei na conta, estou escrevendo a 1004ª. coluna para o Correio Popular. Já são quase 20 anos de escrita contínua, com um único período de férias, quando fui muito bem substituído pela Rute Salviano Almeida, pesquisadora e autora de vários livros sobre o papel da mulher na história da Igreja.
Comecei a
escrever por indicação da jornalista Maria Tereza Costa. O meu compromisso era
que não receberia nada em troca pelo meu trabalho semanal (nem mesmo uma
assinatura do jornal!), para que eu pudesse ter liberdade. E assim está sendo
até agora: nunca recebi um centavo e faço isto com dedicação e
orgulho. Há quem me perguntou se era assalariado do PT, se era comissionado na
Prefeitura, se ganhava do PSDB. Tais insinuações se deviam a mentes tacanhas
que julgam que não posso ter opinião própria: tudo o que penso e escrevo deve
ter um pagamento por trás.
Nesta
relação tive muitos contatos com os editores para sentir como estava sendo
recebida minha coluna, umas duas ou três vezes fui alertado de que o que eu
escrevi poderia me trazer problemas judiciais e, em comum acordo, troquei
a mensagem escrita, pois vi sabedoria no conselho que o redator me dava.
Umas poucas
vezes falhei em escrever. Houve um tempo, logo no início que eu tinha que levar
para a redação um disquete com o arquivo. Com o advento da internet as coisas
foram facilitadas. Algumas vezes não consegui enviar o arquivo e isto se deveu
a viagens. Onde estava não tinha internet para mandar o arquivo (isto ocorreu
com mais frequência há vários anos, quando a internet era produto de luxo e não
se achava em qualquer lugar). Em outras ocasiões eu ligava para a redação e
pedia prazo estendido para enviar, porque, em viagem, só chegaria em casa
depois das sete da noite. Sempre fui atendido com a gentileza das pessoas que
me atendiam.
Já escrevi
aqui que colunista não pode ter medo das críticas. É virar vidraça. Quando o
colunista coloca em público e ao público as suas opiniões políticas e
religiosas, fatalmente haverá quem discorde. Há os que discordam e o fazem
saber em termos polidos. Há os que, discordando, julgam que atacar e ofender é o
meio mais eficaz de ser ouvido.
Recebi
muitos e-mails. Alguns concordando e muitos discordando. Entre os que discordavam,
lembro-me de um que me escreveu uma série de e-mails. Ele lia e não entendia o
que eu havia escrito, ou deduzia maniqueisticamente o que eu havia escrito.
Quando critiquei o Bush pela guerra contra o Talibã, ele me chamou de comunista
e terrorista, como se criticar a decisão do presidente me colocasse
necessariamente como favorável à outra parte. A lógica dele era: se ele é
contra A, só pode ser a favor de B. Silogismo falso.
Certa feita
fiz um comentário en passant sobre o Foucault. Um leitor me escreveu
criticando a citação e me enviou um compêndio, de sua lavra, com críticas ao filósofo.
Por se tratar de um estudioso e mestrando na área eu o li e, diferentemente do
que ele pretendia, eu fui ler mais coisas do Foucault e hoje sou um fã dele.
Tenho pessoas que me enviam coisas que acham interessantes e que podem ser
subsídio. A todos que me escrevem, eu respondo.
Desde o
início assumi que escreveria sobre política internacional, nacional, local, sobre religião e igrejas. Assim tenho procurado fazer.
Das coisas
que hoje faço, a que me tem dado mais alegria e satisfação é escrever esta
coluna semanal. Em abril, na Semana Santa, completo 20 anos. Sinto-me
realizado! À Tereza, os meus agradecimentos por ter me indicado.
Marcos
Inhauser