A Palestina no período pré-advento estava sofrendo a “pandemia romana”, que assolava a quase totalidade do mundo então conhecido. Ela enviava seus vírus fardados a toda parte e estes, com o poder das armas, asfixiavam o povo, tirando-lhes o oxigênio via pesados tributos, arrancados, muitas vezes, à força e com a morte do infectado.
Todo o corpo da nação de Israel estava contaminado e havia quem,
no subterrâneo, buscava destruir os vírus-soldados, criando até exércitos
pequenos (zelotes).
Neste contexto de pandemia, com a sufocação de toda a nação,
sem nenhuma UTI para recuperação, havia quem, de outro lado, se aliava ao vírus,
numa atitude de negacionismo e desconsideração com as muitas mortes que estava
provocando. Coletores, religiosos/políticos, elite egoísta, formavam a corte
negacionista e desdenhavam as notícias que vinham das ruas e dos povos
distantes. Perguntados, respondiam: “E daí? Que os mortos enterrem seus mortos;
não somos coveiros”.
Havia, no fundo da alma dos sofridos, uma esperança: “vai
acabar, isto passa, Deus vai levantar uma vacina para nós.”
Sem convocar a mídia, sem estardalhaço, na privacidade de
uma virgem, o anúncio foi feito: você vai ficar grávida da vacina que salvará a
este povo e todos os outros”. O anúncio não se enquadrou nos protocolos e não
passaria nos testes de confrontação das fake News. A virgem e o noivo alegavam
que tinha sido um anjo, que só eles viram. Talvez, por isto mesmo, os dois guardaram
estas coisas nos seus corações.
Mais tarde, contra recomendações para gravidezes, o casal
foi visitar uns parentes: Isabel e Zacarias. O que os visitantes não sabiam era
que o casal que visitavam também haviam recebido uma notícia por meios não
usuais: Izabel seria a mãe de quem anunciaria publicamente a vacina salvadora.
A coisa andava tão polarizada que Izabel, depois de ter dado à luz, escondeu o
bebê por cinco meses. Era o medo da execração nas redes sociais das fofocas.
Quando Izabel viu Maria, ela sentiu o rebento no ventre se
mover e exclamou: “Bendita
és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!”. Sabe-se que, mais tarde, o ditador de plantão, preocupado com
as repercussões políticas que a vacina que vinha da periferia poderia trazer de
estrago político, pediu à agência reguladora que matasse a vacina. A decisão
não deu certo e ela, depois de 30 anos, apareceu dando sinais de eficácia e
segurança, curando a muitos e prometendo o Reino sem pandemias.
O plano de vacinação não passaria pelos
critérios científicos e nem mesmo pela ansiedade do povo querendo a vacina.
Tentaram aclamá-lo como Rei e até fizeram uma jumentada, forrando o chão com
palmas. O processo vacinal foi outro: lento, face-a-face, na base da persuasão,
pelo arrependimento e nova vida e comportamentos. Quando menos esperavam, a
vacina estava nos palácios e na sede do império, até ser reconhecida como a
vacina oficial do Império.
Até hoje ela não foi promulgada como
obrigatória por nenhum Supremo Tribunal, ainda que haja quem, como soldado
vacinal, use do terrorismo do inferno para quem não se vacinar. Outros,
aproveitando da vacina, extorquem o povo via ofertas, dízimo, contribuições
para a construção do templo ou manutenção do programa de televisão.
A celebração do nascimento desta vida que
traz salvação à pandemia do pecado, em um contexto de mortes mil (provavelmente
190.000 quando você estiver lendo esta coluna), é sinal de esperança e vida que
há mais de dois mil anos se repete. Que venha a vida e ela em sua plenitude!
Marcos Inhauser