Ontem, às 10:00 da manhã, acenderam-se os holofotes para a visibilidade de narcisistas e pré-candidatos a governador e reeleição para o Senado. A CPI da Pandemia está instalada, depois de vários embates, inclusive jurídicos.
A julgar
pelos dois momentos iniciais, tem-se um dilema. Ela pode ser um circo, com
todos querendo falar ao mesmo tempo, um monte de pedidos de ordem e questões de
mérito, ou ser algo mais disciplinado que foi o que se viu nas primeiras
intervenções do presidente Omar Aziz, que, ao que parece, foi firme nas suas
primeiras intervenções.
Digo isto
porque, a julgar pelo que já aconteceu nestas duas primeiras horas e pelo que
aconteceu nesta CPI e outras CPIs e CPMIs, o que mais se busca é o tempo de
exposição na TV. Estranha-me também que nesta foi dada a palavra ao Flávio
Bolsonaro para que fizesse a sua peroração, quando nem membro dela ele é. Se
quem quiser falar lhe será facultada a palavra, o circo vai pegar fogo!
O uso desta
máquina pública e a evidência que esta CPI tem, dado o momento vivido pelo
Brasil, será oportunidade ímpar para que cada qual e, especialmente os
candidatos, busquem seus minutos de glória com as câmeras ligadas. Os dois do
Amazonas, um deles pré-candidato ao governo do Amazonas, não deixarão escapara
a oportunidade de se cacifar política e eleitoralmente. O mesmo se dará com os
demais pretendentes ao cargo de governador.
A questão
levantada sobre a natureza da CPI: ela é julgadora ou investigadora? A
definição é fundamental para o transcorrer dos trabalhos e para o veredicto
final. Em ambos os casos, haverá dano aos investigados, com o julgamento breve
ou mais demorado, a depender do Ministério Público que receberá a conclusão das
investigações e da Justiça que, ao longo da história tem-se mostrada leniente e
modorrenta no trato das questões relacionadas às personalidades públicas.
Há que
notar-se que nenhuma CPI teve tantos dados evidentes e públicos para chegar ao
seu ponto fulcral. Gravações, vídeos, notícias, declarações, relatórios do Ministério da Saúde e do Consórcio de Jornais e Meios de Comunicação, a
quantidade de mortos, a ilogística das vacinas, as asseverações e retratações
sobre que quantidade de vacinas, os enfermos levados para outros estados, a
crise do oxigênio, os fura-fila, o desvio de verbas pelo superfaturamento ou
compra e pagamento adiantado do que nunca chegou e quando chegou não atendia às
necessidades médicas, etc.
São tantas
as coisas que, se não houver foco, não se esclarecerá nada. A lógica milenar de
que investigar tudo é investigar nada pode ser aplicada a esta CPI. A tentativa
de fazer com que também investigue governadores e prefeitos está dentro desta
premissa: investiga-se tudo para concluir nada. E nada é o que menos interessa
ao povo brasileiro, pois, temos 400.000 mortes que pedem esclarecimentos e
justiça.
É papel da
CPI fazer justiça? Não! Isto é papel do judiciário. Mas ela tem o dever de
trazer à tona os dados claros e inequívocos para que o judiciário faça a sua
parte, dia a quem doer, ainda que nesta Brasil, a regra áurea de que “somos
todos iguais perante lei” me faz recordar a frase célebre de Orwell em sua obra
“Revolução dos Bichos”: todos somos iguais, mas alguns são mais iguais.
Recentes decisões me fazem crer que o Orwell está coberto de razões.
Marcos Inhauser