Quando morei em Chicago, ouvi a expressão algumas vezes. Sempre a tomei como adjetivo inofensivo. Estranhava a facilidade com que se dizia que o outro era um “idiot”. Isto, para mim, era pegar pesado.
Com o tempo
percebi que o termo “idiot” não tem o mesmo peso e negatividade que tem
no português. Da mesma forma a palavra “estupid”. Virou famosa a frase
de James Carville em 1992, dirigida aos trabalhadores da campanha de Clinton.
Um dia,
conversando com um executivo eu o ouvi, irado, chamar de looser a pessoa
que ele estava detonando. Meio embasbacado com a expressão, pedi a ele que a
refraseasse, para que eu a entendesse melhor e ele me disse: não há outra
melhor “looser, looser, looser.”, reiterou enfaticamente.
Percebi que
não tinha entendido o peso da expressão. Ao invés de pegar o sentido no
original, estava traduzindo. Mais tarde vi duas pessoas discutindo. Quando uma
delas se referiu à outra como looser, a ofendida partiu para as vias de
fato.
Nestes dias
ouvi a expressão aplicada ao Trump: ele perdeu a eleição, todas as ações
judiciais que impetrou, o apoio de parte do seu partido, a presidência, a pose,
o discurso, o Facebook, o Instagram, Twitter, o Parler, a votação do segundo
impeachment, vai perder no Congresso, perdeu a casa onde morava porque
despejado pelo voto, vai perder os holofotes e terá que enfrentar a enxurrada
de ações, algumas criminais
Ele é um looser.
Sem dar o
mesmo peso que a palavra tem no inglês, acho que a nosso Trump tupiniquim também
é um colecionador de derrotas. Disse que montaria um ministério de notáveis e
perdeu as estrelas da Justiça (Moro), da Saúde (Mandetta) e a outra (Guedes)
até agora não mostrou a que veio. Se notáveis são o das Relações Exteriores, do
Meio Ambiente, os três da Educação, o atual da Saúde, que me perdoe o idioma,
não sei o que é notável. Só se ela se refere à notabilidade pelos desatinos que
cometem.
Elencar as
perdas sofridas no embate com o STF é fazer lista parecida à do supermercado,
pela quantidade de itens. A investigação sobre a interferência na PF, a não
nomeação do Ramagem, o depoimento oral no caso da PF, e por aí vai. Perdeu ao
querer a possibilidade de reeleição do Alcolumbre. Viu seus apoiadores serem
investigados e com as contas escrutinadas (Luciano Hang é um exemplo), a
investigação do Gabinete do ódio está batendo à porta. Alguns bolsonaristas
ativistas virtuais foram presos, o Godoy também, o Wassef está enrolado, o
filho não explica as rachadinhas e ele não tem explicação para os depósitos na
conta de esposa.
Na
política, perdeu o apoio do Maia, não foi o responsável pela Reforma da
Previdência, não conseguiu emplacar o Major Hugo como líder na Câmara, está
tendo problemas para emplacar seu candidato à presidência da Câmara. Diante de
tantas perdas teve que mudar o discurso, se aliar ao Centrão e fazer o
fisiologismo que tanto atacou.
No caso das
vacinas, perdeu todas. E quem vai salvar a lavoura será a vacina chinesa do
Dória que ele execrou e disse que nunca a compraria. É a China, malhada por
alguns ministros e pelos filhos, quem veio dar um oxigênio a um governo
destrambelhado. Aquilo que era “vacina chinesa do Dória” agora “é vacina do
Brasil e não de algum governador”. Uma coisa ele tem: muda de posição a cada
troca de cueca, no que é imitado pelo Ministro da Saúde.
Marcos
Inhauser