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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

SENTADOR GERAL DA REPÚBLICA

O Brasil é um país capaz de produzir figuras públicas exóticas. O aparecimento do Odorico Paraguassú e sua cidade Sucupira são o exemplo de que, imitando situações reais e criando as hipotéticas, no Brasil se tem de tudo.

Nos tempos do Fernando Henrique Cardoso havia o Geraldo Brindeiro que foi galgado ao posto de Procurador Geral da República. De tão leniente em investigar as denúncias que à Procuradoria chegavam, ganhou o apelido de “Engavetador Geral da República”. Barrou uma investigação sobre o Dossiê Caribe (que depois, afirma ele, revelou-se uma farsa) e mais onze inquéritos contra Antonio Palocci que, depois, se revelou um sujeito com muitas revelações para dar na delação premiada.

Como a produção não para, tivemos nos últimos anos o “Sentador Geral da República”, o deputado Rodrigo Maia, agora ex-presidente da Câmara. Recebeu sessenta pedidos de impeachment contra o presidente e, ao que se sabe, não leu nenhum deles e nunca deu seguimento a eles. Tenho para comigo que uma pessoa que tem sessenta pedidos de impeachment, vindo das mais variadas fontes da sociedade, alguma coisa o presidente da Câmara deve fazer. No mínimo devia explicações das razões pelas quais ele sentou em cima dos processos.

O Maia, sujeito ensaboado, me faz lembrar da brincadeira nos sítios em tempos de Festa Junina, quando se ensebava um porco e as pessoas saiam correndo para pegá-lo. Assim é o Maia: liso até não mais poder. De tão político e muralista, perdeu a credibilidade e não conseguiu eleger o seu sucessor. Sai apequenado da presidência.

Também balança as alianças que estavam sendo costuradas para 2022, especialmente na aliança do Maia com o Doria, com o apoio dos Democratas. A coisa implodiu. O presidente da sigla, ACM Neto. decidiu, em cima da hora, deixar-se cooptar (há informações de que lhe ofereceram o Ministério da Educação que tem um ministro anódino, que já afirmou que está lá para ser pastor e não político). Com isto, a confirmar-se o que alguns deputados do DEM andam dizendo (palavra de político é como água de rio, cada vez que se olha é uma novidade), tem gente que vai bandear para o PSDB. Isto fortaleceria o Doria no partido e lhe daria algum alento, mas, se entendo das coisas, vai perder o tempo de televisão que o DEM tem para que possa alavancar a sua candidatura.

O ato de Maia de aprovar o bloco depois do horário regimental e que foi anulado pelo primeiro ato do novo presidente, mostra a dimensão da guerra que será o parlamento nos próximos dois anos, quando todos estarão concorrendo à reeleição. Mais que interesses da nação, aflorarão e prevalecerão os interesses pessoais. Será um tanto de gente fazendo discurso e disputando os holofotes que ficaremos enojados com a hipocrisia.

Quando o atual Congresso foi empossado e com a quantidade de novos legisladores de primeiro mandato, acreditou-se que haveria mudança nos hábitos parlamentares brasileiros. Passados dois anos, algumas estrelas da nova legislatura se apagaram, novos líderes foram removidos, a velha guarda entrou em ação, o Centrão se vendeu uma vez mais (ou voltou ao poder onde está há bom tempo).

Isto me faz lembrar de um consultor que li em livro que escreveu. Ele afirma que a mudança de cultura, seja em empresa, instituição, igreja ou, aqui no caso, parlamento, não se faz por passe de mágica, nem com pó de pirlimpimpim. Toma tempo e muito compromisso com uma nova ordem de coisas. Os antigos caciques se apagaram (Jader Barbalho, Renan Calheiro, Paulo Maluf, Sarney, José Serra e muitos outros). Nem por isto o fisiologismo deixou de ter seu espaço e o Sentador Geral da República é um sucedâneo da velha política, com cara de novo. Só a pressão popular pode fazer mudar.

Marcos Inhauser