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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

SUJEITO MEIA-BOCA

Comecei a prestar a atenção ao fato quando, em uma viagem, fui recebido no aeroporto e a pessoa que me esperava me disse que eu ficaria hospedado em um hotel recém-inaugurado. Lá chegando, percebi que o prédio era novo, mas que carecia de um bom acabamento na pintura, a recepção era pobre, a decoração de mau gosto. Quando entrei no quarto, as camas eram de metal, pobres, os colchões de espuma fina, o lençol, ainda que novo, era de terceira categoria, as toalhas mais pareciam lençóis recortados, o cobertor era puaia. Entrei no banheiro: a torneira era de plástico e rodava quando se tentava abrir ou fechar porque colocada de forma inapropriada. O chuveiro era dos mais baratos e jogava água para todo lado, menos onde devia molhar.
Conversando depois com o dono, percebi que ele era assim: meia-boca. O carro, a camisa, a calça, o sapato. Tudo nele era mal feito, torto, faltando botão, etc.
Em outra oportunidade, fui recebido na Rodoviária por um pastor. Ele pegou minhas malas, fomos ao estacionamento e o carro dele era um arremedo de alguma coisa que um dia tinha sido uma Belina. Abriu a tampa de trás no tranco. Colocou um cabo de vassoura para manter a tampa aberta. Para abrir a porta do motorista teve que colocar a mão e abrir por dentro. Eu pensei que aquele carro nunca tinha sido lavado. Ao andar parecia escola de samba: barulho por todo lado e o carro nas curvas rebolava. Perguntei como ele se sentia com um carro neste estado. Para surpresa minha, ele disse: este carro tá bom de mecânica, só tem umas coisinhas para acertar e vai ficar zero bala. Um ano depois, estava com o mesmo carro e sem ter acertado as coisinhas.
Em outra oportunidade, era uma S10. Estava aparentemente boa. A maçaneta da porta do passageiro estava quebrada. — Quando você vai arrumar isto? —Já fui ver. É barato. Três anos depois a coisa estava do mesmo jeito.
Estive em uma casa que tinha três aparelhos de televisão, um em cima do outro. Perguntei o porquê daquilo. A resposta: —Os de baixo estão queimados. —E por que você não descarta? —É o que pretendo fazer! Nunca fez.
Em uma casa que conheço, a caixa d’água fica no forro em cima do banheiro. A boia quebrou e vaza água. De preguiça de consertar, deixaram derramando. No máximo fechavam o registro até que água acabasse. Aí se lembravam de abrir e deixá-lo assim até que nova “inundação” ocorria. Havia goteira em cima da cama do casal quando isto acontecia. Mudaram a cama de lugar, mas nunca arrumaram a boia.
Estas pessoas meia-boca não pagam as coisas em dia, vivem com o nome sujo, trocam de operadora de celular cada vez que cortam a linha que estão usando. Não cozinham, mas vivem de comer “tranqueiras”: sanduiches, batata frita de saquinho, salgadinhos, frituras de bar de esquina. Um banquete é uma pizza pedida no delivery mais barato.
Há pessoas que não tem o cromossomo da coisa completa, terminada, da coisa limpa, arrumada. Elas se contentam com uma casa meia-boca, uma torneia pingando, uma porta sem maçaneta, uma janela que não fecha.
O pior é que algumas destas pessoas acham que tem a vocação para serem líderes, pastores ou ter seu próprio negócio ou se candidatarem para algum cargo. Não avançam nos negócios, não têm liderados, perdem a membresia das igrejas e acabam morando em casa construída com coisas roubadas.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

COBRADO A FORCEPS, GASTO A RODO

Não vivemos uma democracia. O modelo político brasileiro é a impostocracia. Não temos o poder de decidir o quanto podemos e devemos contribuir, mas ele é tirado a fórceps de nossos holerites e bolsos. No Brasil não se paga impostos: eles são roubados de nós. A carga tributária excessiva e o retorno pífio de benefícios advindos do seu uso é gritante.
Os políticos brasileiros são verdadeiros gigolôs: vivem a extorquir o sangue dos que se entregam ao trabalho árduo, como se o povo fosse a prostituta que eles dominam e escravizam. Somos escravizados pelos políticos que, na ânsia de sempre ganhar mais sem trabalho, mas de ter à custa do trabalho alheio, produzem mecanismos de escravização. Eles se chamam Imposto Retido na Fonte, Antecipação de Receita, Cadastro de Proteção ao Crédito, Serasa, Lista Negra, Certidão Negativa de Débito, Alíquota, ICMS, ISSQN, IR, IBTI, IPTU, IPVA, e a miríade de tributos e taxas e outras formas de extorquir o suor do povo.
As recentes elevações de impostos, taxas, contribuições previdenciárias, a proposta de criação do bilionário Fundo Eleitoral, mais a existência do Fundo Partidário, a quantidade e assessores, viagens, auxílios e quejandas que os políticos recebem, formam a trama escravizadora que se sustenta com o que os gigolôs tiram da sociedade. Tal como nas estruturas de trabalho escravo, onde os trabalhadores mal recebem salário e vivem a dever para os patrões, porque precisam comer e se vestir, tornando-se eternos devedores, assim também a sociedade brasileira. Trabalhamos arduamente e o que recebemos mal dá para se ter uma vida confortável. Duvido que algum trabalhador médio brasileiro (a grande maioria) tenha parte do luxo ou conforto que os salários dos políticos têm. Para eles o luxo, para o povo o lixo!
Neste emaranhado de comodidades e asseclas, ficamos sabendo esta semana que, no Congresso e gabinetes de Brasília há a figura de um Fiscal do Café. O que eles têm de graça precisa ser testado e controlado por um Fiscal que ganha salário de executivo. Fiscal de Café em um país onde muitos nem café tomam porque não podem adquirir o pó para fazê-lo.
A indústria e o comércio brasileiro vive às voltas com tantas leis, portarias, decretos e regulamentações que obedecer a todos é certeza de que, em algum momento, um fiscal poderá multar, porque conflitantes. Esta parafernália fiscal é feita para autuar. Sempre há um ponto ou outro em que um fiscal pode pegar alguma coisa e lascar uma multa milionária. O empregado brasileiro é refém de uma justiça trabalhista anacrônica e parcial, inventando indenizações a cada nova sentença.
Os financiadores extraoficiais dos gigolôs têm a certeza da impunidade se tiver um amigo ministro no STJ, como aconteceu com a Abdelmassih, Cassiola e recentemente com os empresários dos ônibus no Rio de Janeiro. Flagrados, tiveram o Habeas Corpus concedido pelo amigo ministro. Padrinho de casamento da filha, aquele que não se sente impedido nem para emitir juízo sobre si mesmo. É a imparcialidade absoluta!
Talvez a atitude de gigolô dos políticos, em parte, se deva à prostituição de eleitores. Eles se vendem por uma dentadura, uma consulta médica, uma receita oftalmológica, um par de óculos. Prostituição a baixo custo que garante o luxo na capital.
A política brasileira é um lixo! Fazem do povo a boca do lixo para viverem na boca do luxo!

Marcos Inhauser

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

HENOTEÍSMO E MONOTEÍSMO

Segue texto do meu amigo e teólogo Paulo Rückert:
A dura lição do exílio na Babilônia provocou o amadurecimento teológico dos judeus. O confronto com os deuses dos dominadores ocasionou uma transição do Henoteísmo para o Monoteísmo.
O Henoteísmo afirma a adoração exclusiva de um Deus, que é superior aos demais deuses (2 Cr 2,5; Ex 15,11; Sl 82,1). Os outros povos têm os seus deuses, mas para os hebreus há somente um Deus, o verdadeiro. Os demais deuses foram subordinados a Iahweh (Sl 82), o Deus dos hebreus. “Celebrai o Deus dos deuses, porque o seu amor é para sempre!” (Sl 136,2).
No Sl 95,3 lemos: “Porque Iahweh é Deus grande, o grande rei sobre todos os deuses”. O hebreu reconhecia a existência dos deuses dos outros povos, mas declarava de modo enfático: Iahweh é superior a todos eles. Ele controla toda a realidade. Ele é o grande Rei (Sl 77,13; 96,4-5; 97,9; 136,2-3; 145,1).
O Sl 96 declara: “Pois Iahweh é grande, e muito louvável, mais temível que todos os deuses!” (v. 4). “Os deuses dos povos são todos vazios” (v. 5). Diante de Iahweh, os demais deuses são inexpressivos. Iahweh é o maior de todos (Sl 97,7; 115,4-8; 135,15-18; Is 40,18-19; 41,21-24).
“Graças te darei, de todo o coração; celebrar-te-ei perante os deuses” (Sl 138,1). Ao povo hebreu compete adorar somente um: Iahweh. Não há possibilidades para um sincretismo. Encontramos também declarações de henoteísmo em Ex 15,11; Dt 3,24; Sl 77,14.
Por sua vez, o Monoteísmo declara que só existe o único Deus verdadeiro com o qual todos os acontecimentos estão relacionados. Há um só Deus e os ídolos são nulos e inexistentes (Is 43,10; 44,6; Dt 32,39; 1 Rs 8,60; Sl 18,31; Zc 14,9). Vejamos o Sl 86,10: “pois tu és grande e fazes maravilhas, tu és Deus, tu és o único”. Vejamos também Is 45,21; Jr 10,6.
A partir da afirmação do Monoteísmo, o povo constatou que Deus continua com o controle dos acontecimentos. O propósito divino se realiza.
Mais tarde, Isaías formulou o monoteísmo absoluto (45,6.14-21), que é mais afirmativo do que o henoteísmo, pois declara a nulidade e a inexistência dos ídolos. O profeta Zacarias radicalizou o monoteísmo (Zc 14,9).
O monoteísmo ético significa que o único Deus compromete a pessoa a orientar a sua vida mediante princípios éticos. A fé e a ética estão interligadas.
 “A evolução intelectual e religiosa da antiga sociedade oriental tendia para o monoteísmo ético e transcendental. Apenas os judeus, no entanto, foram capazes de levar essa tendência a uma conclusão lógica e inequívoca” (William McNeill, História Universal, p. 59).
Portanto, o monoteísmo não se restringe a uma crença teórica e abstrata, contestada por Tiago (2,19). O monoteísmo ético implica um vínculo entre fé e compromisso. “A definição de monoteísmo ético por esse povo foi, portanto, uma das maiores e mais duradouras conquistas da antiga civilização oriental” (William McNeill, p. 64).
Não se trata de uma contemplação esotérica de um disco solar (como foi proposto pelo faraó Aquenáton), mas de um relacionamento pessoal com o Deus vivo, que se reflete nas relações e na conduta com a totalidade dos seres vivos. 



quarta-feira, 2 de agosto de 2017

COM QUEM ANDAS?


Diz o ditado: “dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Sabedoria popular acumulada por séculos. Aplicada no dia-a-dia, nem sempre ela se aplica cabal e infalivelmente. Um exemplo disto é Jesus: andou com publicano, zelote, ladrão, esteve na casa de coletor de impostos odiado pelo povo, deixou-se lavar os pés por uma prostituta, teve um mentiroso em sua companhia. Nem por isto teve em sua vida uma destas características.

No entanto, se esta máxima popular for aplicada ao Temer, tenho a impressão de que a conclusão será outra. Ele está cercado de pessoas suspeitas, denunciadas por mais de um delator da Lava Jato (Padilha, Gedel, Jucá e Moreira Franco). Do seu círculo próximo de auxiliares, vários devem explicações à Justiça: Loures, Yunes, Filipelli. Do seu entorno político, o Marum, precisa explicar sua lealdade ao Eduardo Cunha, ao ponto de visitá-lo na cadeia em Curitiba, com viagem que ele cobrou da Câmara. O Perondi e o Vladimir Costa (aquele que tatuou Temer o ombro depois de ganhar cinco milhões em emendas parlamentares) são figuras histriônicas que se desacreditam cada vez que falam. O relator que apresentou a versão pró-Temer na CCJ, o Ackel, também foi agraciado com emendas parlamentares, assim como tantos outros, no festival de liberação que antecedeu a votação. Até o presidente da CCJ recebeu quinhentos mil para pagar dívida.

O presidente teve o apoio em sua campanha dos dez milhões da Odebrecht, acertados em reunião no Palácio do Jaburu, mesmo local da reunião com o Joesley, a quem agora ele chama de bandido e seus funcionários de capangas. Para se segurar no cargo, reúne-se com o Aécio, também no Palácio do Jaburu, outro enrolado com a delação da JBS e Furnas.

Dos seus ministros, Kassab, Bruno de Araújo, Aloisio Nunes, Marcos Antonio Pereira, Blairo Maggi e Helder Barbalho devem explicações às citações feitas pelos delatores. Os líderes André Moura e Aguinaldo Ribeiro não fogem à regra: estão sujos na Lava Jato.

Sobra quem? Esta é a pergunta que muitos se fazem.

Mas vamos adiante: um presidente que tem uma acusação com áudio gravado em que comete o crime de obstrução da Justiça e corrupção, que ouve de um cidadão que ele está corrompendo juiz e nada faz, pode governar um país? Merece credibilidade um presidente que compra votos de parlamentares abrindo as torneiras do erário para liberar emendas parlamentares, mesmo diante do rombo nas contas públicas? Tem autoridade um político que se sustenta no cargo pela compra de votos e chicanas regimentais, trocando peças na CCJ para que a votação lhe seja favorável?

Na América Latina vivemos dias ímpares: na Venezuela um presidente que se sustenta pela truculência, por histrionismos retórico e chicanas jurídicas para convocar uma constituinte a seu gosto e formato. No Brasil, um presidente que se sustenta com mudanças nos membros da CCJ, com compra de votos e Decreto Lei que agrada a bancada ruralista. Dois mandatos ilegítimos pelos atos praticados. Se na Venezuela há mortes nas manifestações, no Brasil há mortes pelo contingenciamento de verbas para a saúde. Se a Venezuela está falida, no Brasil estados estão falidos ou em estado pré-falimentar.

Neste momento parece que Venezuela e Brasil são nações gêmeas siamesas.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 26 de julho de 2017

COMUNICAÇÃO CANSATIVA


Ouvi hoje a entrevista do ex-jogador são-paulino que volta ao time, o Hernanes. Em quinze segundos de fala ele repetiu três vezes o advérbio “realmente”. Irritante!

Cada vez que ouço alguém falando e usa um dos cacoetes (serão mesmo cacoetes?) como “realmente”, “na verdade”, “neste momento”, “ entendeu?”, “né” passo a contar quantas vezes a pessoa vai repetir o irritante cacoete. Tem gente que diz que sofro de Transtorno Obsessivo Compulsivo, mas acho que é implicância com coisas que só fazem irritar.

Dou alguns exemplos: um repórter da CBN Campinas, quando do acidente com o barco na Lagoa do Taquaral e que lá estava para reportar o que estavam fazendo, falou em sua intervenção (que durou uns dois minutos) mais de quinze vezes a expressão “neste momento”. Uma repórter da mesma rádio, em uma fala de 30 segundos mais ou menos, repetiu o “realmente” sete vezes. Uma psicóloga dando uma entrevista na televisão, repetiu nada menos que 28 vezes o “realmente”.

Quando uma pessoa começa a frase com o “na verdade” eu me ponho na defensiva: ele quer me convencer de que está falando a verdade e que o que ele fala não pode ser questionado. Se ele começa com “na verdade” como posso duvidar do que diz? Como posso questionar? A melhor atitude para os que usam o “na verdade” é ficar quieto e engolir o que falam, mesmo que seja asneira. Digo isto porque já tentei questionar e me dei mal e quase perco um amigo.

Dependendo do que a pessoa fala, o “neste momento” é desnecessário. A descrição feita pelo repórter era feita em cima dos fatos e dizer “neste momento” era redundante. Só podia ser naquele momento. E pela redundância e pela repetição tornou-se cansativo. Já ouvi muitas vezes em igrejas esta expressão: “neste momento” vamos ter uma oração ... Desnecessário!

Mas o que me irrita e me coloca na defensiva é a repetição do “entendeu”. Para mim, o que a pessoa está me comunicando é que o que ela está dizendo é tão complicado ou profundo que ela precisa se certificar de que estou entendendo a sua colocação. No fundo, é uma forma de me depreciar. Se você disser para sacanear: “não, não estou entendendo” a pessoa se perde na sua fala ou, o que é pior, vai tentar explicar o óbvio que está dizendo. Mesmo porque, todas as vezes que vi alguém empregando com insistência o “entendeu” não estava dizendo nada mais que obviedades.

Acho que esta minha implicância e o contar as vezes que as coisas se repetem se deve a uma experiência da juventude. Tive um professor de química que abusava do “né”. Os alunos faziam um bingo para ver quem mais próximo chegava da quantidade de “né” que ele proferia em uma hora de aula. Três estavam encarregados de contar e se tirava a média das contagens porque a gente às vezes perdia um ou outro. Quem mais próximo chegasse do número aferido, ganhava a bolada das apostas feitas. A média era de 250 por hora!

Para mim o “né” é manipulador: é uma contração do “não e?” e o uso dele implica em me fazer concordar com o que a pessoa está falando, sem ter chances de questionar.

Na verdade, realmente fui chato neste momento, né? Perdão!

Marcos Inhauser

quarta-feira, 19 de julho de 2017

RECUPERANDO


Como não tenho feito outra coisa que ficar de molho, a cabeça tem trabalhado! E, por estar vendo notícias até não mais poder, o que tenho pensado e refletido tem conexão com o que escuto que está acontecendo, relacionando com meu estado de saúde.

Se há algumas semanas a palavra da semana foi “ilação”, a desta, ao que parece é “recuperação”. Nisto estou: em processo de recuperação de uma Trombose Venosa Profunda que me obstruiu cinco veias da perna esquerda. A cada dia é uma expectativa nova de que a coisa esteja melhor, a cada movimento mais ousado fico esperando a reação, se favorável ou não. Fui fazer os exames requeridos e a primeira coisa que fiz foi ver a data dos resultados. Frustrei-me com um que só deve sair em meados de agosto. É muita espera para saber com clareza o que aconteceu. Imagino que não me deixarão livre e solto até lá. Um martírio!

Fico entre o desejo e a consciência da gravidade. Ela me faz repousar (ainda que a contragosto). Ele me move a querer fazer coisas, trabalhar e ser o que sempre fui: elétrico. Os sinais de melhora, por mais imperceptíveis que possam ser, e alguns deles só eu sinto, são comemorados, a expectativa de pronto restabelecimento é aquecida e o desejo de voltar à normalidade é promovida.

Vendo os noticiários percebo que o Temer também está no mesmo. Acometido por várias tromboses incriminatórias, fruto de seu comportamento questionável no trato das questões políticas e republicanas e também pelo DNA da política brasileira que tem o cromossomo da corrupção, ele teve que entrar na UTI da CCJ e manobrar como pode para se safar e tentar voltar à normalidade. Trocou diagnósticos, médicos, remédio e, de uma forma bastante questionável, safou-se da UTI, ainda que haja um novo exame detalhado a ser feito pelo plenário da Câmara.

Ganhou uns dias de “aparente” recuperação que só ele e seus asseclas percebem e propagam aos quatro ventos. Sinais mínimos são hiperbolizados nas mídias sociais, meio escolhido para dizer o que quer e não ser questionado de pronto por jornalistas, tal como se dá nas coletivas. Os pronunciamentos pasteurizados e feitos sob encomenda, onde marqueteiros regiamente pagos cuidam da “imagem”, de forma a mostrar que o paciente está bem, quando está moribundo.

Um 0,001% em alguma coisa é vendido como se o trem estivesse voltando aos trilhos. A criação de alguns postos de emprego (desprezíveis diante da massa de desempregados) é anunciada como a recuperação do paciente e da economia. Faz-se um processo seletivo dos dados, uma vez que nada se fala da queda do PIB, das projeções que diminuem a cada semana. Uma recuperação desejada pelo paciente, mas não referendada pelos diagnósticos.

O Temer e eu estamos na mesma (guardadas as devidas proporções e natureza da enfermidade). Ambos queremos a recuperação imediata, como se ela viesse por um passe de mágica, num estalar dos dedos. Ambos aguardamos resultados de exames feitos e olhamos a cada dia para os indicadores para buscar sinais mínimos de melhora. As semelhanças param aqui. Eu tenho gente orando por mim e querendo que eu melhore. Ele tem gente querendo que seja comido pela enfermidade e que não se recupere. Eu não suborno médicos e não dou verbas extras para garantir diagnósticos favoráveis. Confio no meu Deus. Ele confia no Padilha, Moreira, Geddel, Marun, Perondi, etc. Eu tomo remédios. Ele, ao que me parece, está tomando veneno.

Mas, ao fim e ao cabo, pensando que o enfermo também é a nação brasileira, oro por mim e pela nação para que ambos nos recuperemos prontamente!

Marcos Inhauser

quarta-feira, 12 de julho de 2017

TROMBOSE POLÍTICA


Eu já tinha sido alertado, mas a coisa me pegou feio. Tenho uma mutação genética conhecida como Fator de Leiden ou Fator V que causa uma predisposição à hipercoagulabilidade e à trombose. Isto ocorre pela interferência na atuação da proteína C. A mutação é mais comum na população da Europa e nos descendentes. Dizem que 5% da população tem isto, mas que não é comum em latino americanos, africanos e asiáticos.

Na semana passada tive uma Trombose Venosa Profunda (TVP) com direito a UTI e hospital e recomendação de repouso absoluto. Um trombo se formou e se alojou na veia da perna esquerda. O sangue era bombado e levado até ela pela artéria, mas o retorno era prejudicado e obstaculizado pelo entupimento da veia, o que gerou um inchaço e dores decorrentes. Confesso que me assustei com a coisa, mais por ter que ficar em repouso.

Diante do repouso forçado, tive tempo para ver as notícias, ler coisas e refletir. Acabei por concluir que a política brasileira sofre do mesmo mal. O sangue cheio de oxigênio é enviado aos órgãos. Há o voto popular, o pagamento dos impostos e taxas, mas existem trombos que impedem que o resultado da oxigenação seja completo porque a corrupção entope os canais normais de funcionamento. Há o inchaço e a dificuldade de funcionamento pleno. No setor público a trombose se chama burocracia, propina, apadrinhamento, indicação política, esquemas, caixa dois, sobra de campanha, etc.

O remédio é tomar algo que vá “desfazendo” o trombo, para que a circulação volte ao normal. No meu leigo entendimento, este “desfazimento” precisa ser cauteloso e lento para que o processo não espalhe pedaços do trombo por outras partes. No caso da política brasileira, acho que o processo está se dando pela Lava Jato. Ela tem trabalhado constante e regularmente, com a velocidade que a complexidade amerita, retirando trombos da circulação e, especialmente recuperando o oxigênio que se perdeu durante os anos em que a trombose correu solta nos mais vários órgãos e segmentos da vida pública brasileira.

Ocorre que, a cada dia, somos alertados por mais um Ecodopler feito pela Polícia Federal ou PGR, dando conta de alguma outra artéria ou veia que está entupida ou com circulação dificultada. Os médicos/políticos charlatães vão dizer que há perseguição política, que os diagnósticos são obra de ficção, que se se retira o trombo todo o corpo pode sofrer, que o estado trombótico é antigo, que há uma trombofilia no DNA da política, que o diagnóstico é maluquice, que os remédios são amargos e com sérios efeitos colaterais, que se se viveu até agora assim, porque querer mudar o DNA do fator coagulante?

Estamos às voltas com mais um Ecodopler que mostra um trombo na artéria principal do corpo público: o trombo chamado Temer. Ontem, por causa do repouso, tive tempo e paciência para assistir toda a sessão da CCJ. Fiquei estarrecido com as manobras feitas para preservar o trombo que obstaculiza a livre circulação. Trocaram peças, feriram a ética, alegaram o escambau para dizer que o trombo da nossa aorta não é trombo, mas ficção de uma equipe médica desqualificada. Negaram a qualidade do aparelho que trouxe os indícios, que o exame é viciado e o diagnóstico é irreal. Trocaram os auditores por gente mais maleável, que mudou a visão porque colocaram à frente do diagnóstico alguns cifrões e cargos.

Esta trombose temerosa precisa ser tratada e o coágulo retirado o quanto antes, para que a oxigenação volte a ocorrer. Meu medo é que entre outro trombofílico no seu lugar. Aí seria de Maia para a minha cabeça!!!!

Marcos Inhauser


quarta-feira, 28 de junho de 2017

O DISCURSO NEM ... NEM


Você se convenceu com o pronunciamento do presidente?

Para mim foi um discurso “nem ... nem”. Ele nem explicou e nem convenceu.

O que me chama a atenção é que, cercado de assessores, ministros e asseclas, não conseguiu fugir do script típico da pessoa pilhada no flagrante: desqualificar o acusador.

Neste afã começou desqualificando o Procurador Geral da República, que hoje tem mais credibilidade perante a opinião pública que o presidente. Desqualificou o depoente da delação premiada, o até então interlocutor próximo a ponto de recebê-lo na calada da noite no Palácio do Jaburu. Desqualificou a gravação como prova ilícita. Desqualificou a perícia feita por técnicos especialistas, como se ele tivesse mais conhecimento que os que assim se especializaram e são reconhecidos. Indiretamente desqualificou a Polícia Federal. Só são qualificados os amigos do rei, o pessoal todo enrolado até o pescoço com as denúncias várias de crimes que estão sendo investigados.

Falou e repetiu ad nausean “ilação”, que tem o sentido de suposição, acusando o PGR de se basear em suposições e inverdades, fabricando uma ficção para incriminá-lo. No entento, não ficou vermelho ao fazer a ilação de que o PGR poderia ter se beneficiado financeiramente com a delação da JBS. E, para cúmulo dos disparates, disse que não acusaria porque tem responsabilidade.

Pode ser ficção a fala do Temer gravada, reconhecida por ele em pronunciamentos logo após a divulgação das gravações? É ficção a presença do Joesley depois das 22:00 horas no Palácio, quando já não havia imprensa para testemunhar o encontro que não podia ser de conhecimento púbico? É ficção que tenha delegado ao Loures a tarefa de conversar com o Joesley e que, depois disto, este amigo “da mais estrita confiança” tenha sido gravado acertando o percentual da mesada semanal? É ficção a gravação da mala de dinheiro? É ficção a viagem que fez no jatinho da JBS e que alega que não sabia de quem se tratava, mas que tem como prefixo PP-JBS, e que ligou depois para agradecer as flores dadas à esposa?

Ele não deu uma explicação sequer a nenhuma das acusações que lhe foram feitas. Típico discurso de quem tem medo de dizer a verdade. Por falar nisto, a sua forma de gesticular, de forma não natural e espontânea, alisando constantemente as mãos, para mim, é forma de desviar a atenção para as mãos, evitando ser visto nos olhos.

Deve-se dizer ainda que seu discurso de que, com ele, a economia está se recuperando, é apropriação indébita de obra alheia. Se alguém merece algum crédito nisto é o Meireles e a equipe que ele montou. Por mais que me esforce, não consigo ver nos mínimos avanços havidos o dedo do Temer, antes, acho que, se ele não mudasse de opinião a cada piscada e não cedesse às pressões, as reformas já estariam aprovadas.

Ele optou pela confrontação. Vai perder a guerra. Seus soldados estão com diarreia moral, vertendo podridão por onde passaram e passam. Ele não tem o apoio popular e o seu apoio parlamentar não leva os fisiológicos que o apoiam a saltar no precipício com ele. Há hora agá é o “salve-se quem puder”. Na hora de votar, com as câmeras filmando transmitindo para o país, só meia dúzia vai com ele para o cadafalso.

E no meio deste imbróglio está o muralista PSDB. Até quando os éticos de situação defenderão o Aécio e apoiarão o Temer. As urnas estão logo ali, sem muito tempo para que povo esqueça.

Temer, tema pela sua sorte! Tema Curitiba, São José dos Pinhais. Tema as delações do Funaro, Eduardo Cunha e Palocci.

Marcos Inhauser

quinta-feira, 22 de junho de 2017

INVESTIGAÇÕES, MANTRAS E CONDENAÇÕES

Muitos já disseram que, em nenhuma outra época da história do Brasil, houve tanta investigação policial como o que se tem feito nos últimos três anos. Desde o início da Lava Jato muita gente foi investigada, muita coisa foi descoberta, nunca se teve tanta gente contando o que sabe em troca de redução das penas, nunca se devolveu tanto dinheiro roubado aos verdadeiros donos como tem acontecido nestes tempos.
Por outro lado, não se pode deixar de reconhecer o sentimento de “quase-impunidade” que reina entre os delatores. Basta delatar e entregar as provas que os crimes mais escabrosos são abençoados com uma punição simbólica. Isto quando a coisa não é o perdão completo pelos crimes cometidos.
Os delatados, investigados e réus têm mantras que repetem incessantemente, como se a repetição deles exorcizasse a pena merecida: “todas as contribuições foram feitas segundo a legislação”; “as contas foram aprovadas pela Justiça eleitoral”; “provarei minha inocência nos autos”; “minha vida sempre foi ética, transparente e conhecida de todos”; etc. Este é o mantra da auto-absolvição!
Outro mantra repetido por um e que ganha alguns adeptos é “não vi, não sei, não pedi, não autorizei, não tenho, não sou, aquilo é tralha, etc.”. É o mantra da negação.
Há ainda o mantra da terceirização: “nunca perguntei para ele de onde vinha o dinheiro”, “ele me deu o presente e eu o recebi”, “achei que era afruto do seu trabalho”, “era o pagamento da pensão que eu tinha direito”, “as despesas da campanha foram de responsabilidade do Beltrano”, etc.
Outro ainda é o mantra da vitimização: “isto é intriga da oposição”, “perseguição política contra minha pessoa”, “é a oligarquia querendo acabar com as conquistas dos pobres”, “querem me atribuir um crime que só existe na cabeça do meu acusador”, “foi um empréstimo de um amigo para me ajudar em uma situação difícil”, etc.
Diante dos investigadores e juiz há outros mantras: “reservo-me no direito de permanecer em silêncio”, “nada a declarar”, “só responderei às perguntas feitas pelos advogados de defesa”, “não respondo perguntas capciosas”, “eu não sei onde vossa excelência quer chegar com estas perguntas”, “o que este juízo quer é encontrar algo para provar o que, a priori, já definiram como sendo a verdade”.
Já tivemos alguns julgamentos simbólicos e históricos nestes últimos tempos. Talvez o mais exemplar foi o do TSE que, fazendo-se de cego e surdo, rejeitou provas legalmente colhidas e que incriminavam a chapa Dilma-Temer. O (ex?) senador Aécio está sendo julgado no momento em que escrevo estas linhas. O Temer será denunciado e será também julgado pelo Senado e, se não conseguir se safar com os 172 votos, será também julgado pelo STF. Mas e o Renan, Collor, Padilha, Moreira Franco, Rodrigo Maia, Eunício, Guido Mantega, Palocci, Eduardo Cunha, Funaro, Sarney, e tantos outros? Quando serão julgados? Vão recitar os mesmos mantras ou vão assumir o discurso da delação, entregando o que sabem fizeram e ganharam?
Ou, para tentar escapar de vez, vão tramar nos corredores a anistia ao “caixa dois”, o “abuso de autoridade”, a impossibilidade de se investigar porque fere a privacidade dos criminosos, a acusação aos investigadores como torturadores emocionais de pobres vítimas, a recuperação de recursos ilícitos como sendo o abuso contra a propriedade privada?
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de junho de 2017

AUTORIDADE E PODER


“A autoridade é a força moral que impõe direitos e obrigações às pessoas sobre as quais exerce sua autoridade. Isto se estende ao plano social, incluindo a família, a cidade, o Estado, a Igreja, etc. E se faz uma distinção entre a autoridade puramente moral que se impões pelo prestígio ou dignidade da pessoa que a detém, livremente reconhecida e a autoridade política, onde a força moral e a força física andam juntas.” (Idigoras, J. L. Vocabulário Teológico para América Latina, Ed. Paulinas, 1983, pg 22).
A citação feita tem ampla aplicação, mas falha ao se aplicar à atual situação brasileira. Ela reconhece a imposição da autoridade pela força moral ou física, mas o que se vê aqui é a imposição pelo conchavo, pelas alianças espúrias, pelos atos inescrupulosos sacramentados pelo mantra de que “deve-se manter a governabilidade”, mesmo que para isto se mantenha corruptos em postos chaves do governo.
Como diria outro pensador (Gene Sharp): “Por causa da dependência que tem de outras pessoas para fazer funcionar o sistema, o governante está continuamente sujeito à influência e restrição, tanto por parte de seus auxiliares diretos, quanto da população”.
A autoridade se mede pela obediência que lhe é prestada. Quanto mais obediência (forçada ou voluntária), mais autoridade tem. Só que a obediência pela força promove não a autoridade, mas o autoritarismo, forma desviante e ilegítima de autoridade. A autoridade que se preze se vale da obediência voluntária, pelo reconhecimento das qualidades morais e administrativas que tem.
Daí um conceito-chave: “se os súditos negam ao governante o direito de governar e mandar, estão retirando a concordância geral ... que torna possível o governo em questão. A perda da autoridade desencadeia a desintegração do poder do governante” (Gene Sharp em Poder, Luta e Defesa, Ed. Paulinas, pg 23). Ainda, do mesmo pensador: “só florescem a tirania onde o povo por ignorância ou por desorganização, ou por real conivência e cumplicidade, apoia e estimula o tirano e o conserva no poder, permitindo que as pessoas sejam instrumentos de sua coerção” (idem, pg. 40).
Alguém já disse que as autoridades são mais susceptíveis à egolatria, à crueldade e à corrupção. A tomar-se a história brasileira dos últimos decênios veremos a acuidade desta afirmação. Parece que assuem certo messianismo quando em suas posições de autoridade. Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma e Temer podem ser enquadrados nestes quesitos.
Neste contexto, o império da lei é a única proteção contra a usurpação do ditador e do demagogo. Ocorre que, no Brasil de hoje, ainda que haja lampejos de esperança quanto ao império da lei e da justiça, somos sobressaltados e ficamos escandalizados com certos ministros tabajara que atuam nas altas cortes, por juízes nominados pelo réu e que votam sem impedimento ético, mesmo tendo sido advogado da parte, com sentenças prolatadas sem dar a mínima para as provas levantadas, pelo subterfúgio da tecnicalidade de que estava “fora da inicial”.
Em nome da governabilidade, decide-se pela ambiguidade: apoiar um governo corrupto para ter as reformas saneadoras. Fala-se e prega-se a ética, mas evita-se disciplinar o senador flagrado com a mão na botija.
Diderot, o filósofo francês tem uma frase lapidar que vou parafrasear. A frase é: ‘Há menos inconvenientes em ser louco entre loucos, do que ser sábio sozinho”.
Há menos inconvenientes em ser corrupto em meio de corruptos, do que ser honesto sozinho. Esta é a máxima da política e dos políticos brasileiros.
Marcos Inhauser