Muitos já disseram que, em nenhuma outra época da história do
Brasil, houve tanta investigação policial como o que se tem feito nos últimos
três anos. Desde o início da Lava Jato muita gente foi investigada, muita coisa
foi descoberta, nunca se teve tanta gente contando o que sabe em troca de
redução das penas, nunca se devolveu tanto dinheiro roubado aos verdadeiros
donos como tem acontecido nestes tempos.
Por outro lado, não se pode deixar de reconhecer o sentimento
de “quase-impunidade” que reina entre os delatores. Basta delatar e entregar as
provas que os crimes mais escabrosos são abençoados com uma punição simbólica.
Isto quando a coisa não é o perdão completo pelos crimes cometidos.
Os delatados, investigados e réus têm mantras que repetem
incessantemente, como se a repetição deles exorcizasse a pena merecida: “todas
as contribuições foram feitas segundo a legislação”; “as contas foram aprovadas
pela Justiça eleitoral”; “provarei minha inocência nos autos”; “minha vida
sempre foi ética, transparente e conhecida de todos”; etc. Este é o mantra da
auto-absolvição!
Outro mantra repetido por um e que ganha alguns adeptos é
“não vi, não sei, não pedi, não autorizei, não tenho, não sou, aquilo é tralha,
etc.”. É o mantra da negação.
Há ainda o mantra da terceirização: “nunca perguntei para ele
de onde vinha o dinheiro”, “ele me deu o presente e eu o recebi”, “achei que
era afruto do seu trabalho”, “era o pagamento da pensão que eu tinha direito”, “as
despesas da campanha foram de responsabilidade do Beltrano”, etc.
Outro ainda é o mantra da vitimização: “isto é intriga da
oposição”, “perseguição política contra minha pessoa”, “é a oligarquia querendo
acabar com as conquistas dos pobres”, “querem me atribuir um crime que só
existe na cabeça do meu acusador”, “foi um empréstimo de um amigo para me
ajudar em uma situação difícil”, etc.
Diante dos investigadores e juiz há outros mantras:
“reservo-me no direito de permanecer em silêncio”, “nada a declarar”, “só
responderei às perguntas feitas pelos advogados de defesa”, “não respondo
perguntas capciosas”, “eu não sei onde vossa excelência quer chegar com estas
perguntas”, “o que este juízo quer é encontrar algo para provar o que, a
priori, já definiram como sendo a verdade”.
Já tivemos alguns julgamentos simbólicos e históricos nestes
últimos tempos. Talvez o mais exemplar foi o do TSE que, fazendo-se de cego e
surdo, rejeitou provas legalmente colhidas e que incriminavam a chapa
Dilma-Temer. O (ex?) senador Aécio está sendo julgado no momento em que escrevo
estas linhas. O Temer será denunciado e será também julgado pelo Senado e, se
não conseguir se safar com os 172 votos, será também julgado pelo STF. Mas e o
Renan, Collor, Padilha, Moreira Franco, Rodrigo Maia, Eunício, Guido Mantega,
Palocci, Eduardo Cunha, Funaro, Sarney, e tantos outros? Quando serão julgados?
Vão recitar os mesmos mantras ou vão assumir o discurso da delação, entregando
o que sabem fizeram e ganharam?
Ou, para tentar escapar de vez, vão tramar nos corredores a
anistia ao “caixa dois”, o “abuso de autoridade”, a impossibilidade de se
investigar porque fere a privacidade dos criminosos, a acusação aos
investigadores como torturadores emocionais de pobres vítimas, a recuperação de
recursos ilícitos como sendo o abuso contra a propriedade privada?
Marcos Inhauser