Segue texto do meu amigo e teólogo Paulo Rückert:
A dura lição do exílio na Babilônia provocou o
amadurecimento teológico dos judeus. O confronto com os deuses dos dominadores
ocasionou uma transição do Henoteísmo para o Monoteísmo.
O Henoteísmo afirma a adoração exclusiva de um Deus, que é
superior aos demais deuses (2 Cr 2,5; Ex 15,11; Sl 82,1). Os outros povos têm
os seus deuses, mas para os hebreus há somente um Deus, o verdadeiro. Os demais
deuses foram subordinados a Iahweh (Sl 82), o Deus dos hebreus. “Celebrai o
Deus dos deuses, porque o seu amor é para sempre!” (Sl 136,2).
No Sl 95,3 lemos: “Porque Iahweh é Deus grande, o grande rei
sobre todos os deuses”. O hebreu reconhecia a existência dos deuses dos outros
povos, mas declarava de modo enfático: Iahweh é superior a todos eles. Ele
controla toda a realidade. Ele é o grande Rei (Sl 77,13; 96,4-5; 97,9; 136,2-3;
145,1).
O Sl 96 declara: “Pois Iahweh é grande, e muito louvável,
mais temível que todos os deuses!” (v. 4). “Os deuses dos povos são todos
vazios” (v. 5). Diante de Iahweh, os demais deuses são inexpressivos. Iahweh é
o maior de todos (Sl 97,7; 115,4-8; 135,15-18; Is 40,18-19; 41,21-24).
“Graças te darei, de todo o coração; celebrar-te-ei perante
os deuses” (Sl 138,1). Ao povo hebreu compete adorar somente um: Iahweh. Não há
possibilidades para um sincretismo. Encontramos também declarações de
henoteísmo em Ex 15,11; Dt 3,24; Sl 77,14.
Por sua vez, o Monoteísmo declara que só existe o único Deus
verdadeiro com o qual todos os acontecimentos estão relacionados. Há um só Deus
e os ídolos são nulos e inexistentes (Is 43,10; 44,6; Dt 32,39; 1 Rs 8,60; Sl
18,31; Zc 14,9). Vejamos o Sl 86,10: “pois tu és grande e fazes maravilhas, tu
és Deus, tu és o único”. Vejamos também Is 45,21; Jr 10,6.
A partir da afirmação do Monoteísmo, o povo constatou que
Deus continua com o controle dos acontecimentos. O propósito divino se realiza.
Mais tarde, Isaías formulou o monoteísmo absoluto
(45,6.14-21), que é mais afirmativo do que o henoteísmo, pois declara a
nulidade e a inexistência dos ídolos. O profeta Zacarias radicalizou o
monoteísmo (Zc 14,9).
O monoteísmo ético significa que o único Deus compromete a
pessoa a orientar a sua vida mediante princípios éticos. A fé e a ética estão
interligadas.
“A evolução
intelectual e religiosa da antiga sociedade oriental tendia para o monoteísmo
ético e transcendental. Apenas os judeus, no entanto, foram capazes de levar
essa tendência a uma conclusão lógica e inequívoca” (William McNeill, História
Universal, p. 59).
Portanto, o monoteísmo não se restringe a uma crença teórica
e abstrata, contestada por Tiago (2,19). O monoteísmo ético implica um vínculo
entre fé e compromisso. “A definição de monoteísmo ético por esse povo foi,
portanto, uma das maiores e mais duradouras conquistas da antiga civilização
oriental” (William McNeill, p. 64).
Não se trata de uma contemplação esotérica de um disco solar
(como foi proposto pelo faraó Aquenáton), mas de um relacionamento pessoal com
o Deus vivo, que se reflete nas relações e na conduta com a totalidade dos
seres vivos.
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